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AS INDULGÊNCIAS

As indulgências são um ponto controvertido entre católicos e protestantes. Eis como se explicam :

1) Todo pecado acarreta consigo a necessidade da expiação depois de ter sido perdoado. Com outras palavras:

O pecado não é somente a transgressão de uma lei, mas é a violação de uma ordem de coisas estabelecidas pelo Criador; é sempre um dano infligido tanto ao indivíduo que peca, como à comunidade dos homens. Por conseguinte, para que haja plena remissão do pecado não somente é necessário que o pecador obtenha de Deus o perdão, mas requer-se também que repare a ordem violada. Assim, por analogia, quem rouba um relógio violando a ordem da propriedade, não precisa apenas pedir perdão a quem foi prejudicado, mas deve também restaurar a ordem ou devolver o relógio ao respectivo proprietário. A reparação da ordem há de ser sempre dolorosa, pois significa mortificação do velho homem pecador ou das concupiscências desregradas que o pecador só faz aguçar. A própria S. Escritura atesta tal doutrina. Por exemplo, Davi recebeu o perdão dos pecados de homicídio e adultério, mas teve que sofrer a pena de perder o filho do adultério (cf. 2Sm 12, 13s). Moisés e Aarão foram privados de entrar na Terra prometida, embora a sua culpa lhes tenha sido perdoada (cf. Nm 20, 12; 27;12-14; Dt 34, 4s. Ver também Tb 4,11s;Dn 4, 24; Jl 2, 12s).

2) Consciente disto, a Igreja antiga ministrava a reconciliação dos pecadores em duas fases. Sim, o pecador confessava seus pecados a um ministro de Deus. Este não absolvia imediatamente (cf. Jo 20, 20-22), mas impunha-lhe uma satisfação adequada, correspondente à gravidade das suas faltas; este exercício de penitência devia proporcionar ao cristão o domínio sobre si, a vitória sobre as paixões e a liberdade anterior. A satisfação assim imposta, para ser realmente medicinal, costumava ser penosa: assim, por exemplo, uma quaresma de jejuns, em que o penitente se vestia de peles de animais (para praticar tal penitência, o cristão tinha que excitar dentro de si um vivo amor a Deus e um profundo horror de pecado). Somente depois de terminar a respectiva satisfação, era o pecador absolvido. Julgava-se então que estava isento não apenas da culpa, mas também de toda expiação devida aos seus pecados; estaria livre não só da culpa do pecado, mas também das raízes e das conseqüências deste. Esta prática penitencial conservou-se até fins do século VI. Tornou-se, porém, insustentável, pois exigia especiais condições de saúde e acarretava conseqüências penosas para todo o resto da vida de quem a ela se submetera. Eis por que aos poucos foi sendo modificada.

3) No século IX a igreja julgou oportuno substituir certas obras penitenciais muito rigorosas por outras mais brandas; a estas a Igreja associava os méritos satisfatórios de Cristo, num gesto de indulgência. Tais obras foram chamadas "Obras indulgenciadas", porque enriquecidas de indulgências: podiam ser assim indulgenciadas orações, esmolas, peregrinações... Está claro, porém, que estas obras mais brandas enriquecidas pelos méritos de Cristo só tinham valor satisfatório se fossem praticadas com as disposições interores que animavam os penitentes da igreja antiga a prestar uma quarentena de jejum ou outras obras rigorosas. Não bastava, pois, rezar uma oração ou dar uma esmola para se libertar das conseqüências do pecado, mas era preciso fazê-lo com amor a Deus e o repúdio ao pecado que encorajavam os penitentes da Igreja antiga. Mais: ninguém podia (ou pode) ganhar indulgência sem que tivesse anteriormente confessado as suas faltas e houvesse recebido o perdão das mesmas. A instituição das indulgências não tinha em vista apagar os pecados, mas contribuir (mediante a provocação de um ato de amor) para eliminar as conseqüências ou resquícios do pecado. Por conseguinte, a Igreja nunca vendeu o perdão dos pecados nem vendeu indulgências. O perdão dos pecados sempre foi pré-requisitado para as indulgências. Quando a Igreja indulgenciava a prática de esmolas, não tencionava dizer que o dinheiro produz efeitos mágicos, mas queria apenas estimular a caridade ou as disposições íntimas do cristão para que conseguisse liberta-se das escórias remanescentes do pecado. Não há dúvida, porém, de que pregadores populares e muitos fiéis cristãos do século XV e XVI usaram de linguagem inadequada ou errônea ao falar de indulgências aos protestos de Lutero e dos reformadores. 4) As indulgências podem ser adquiridas também em favor das almas do purgatório. Estas precisam se libertar das escórias do pecado com as quais deixaram a vida presente; para tanto, necessitam da graça de Deus, que os fiéis viventes neste mundo podem solicitar mediante a prática de boas obras indulgenciadas. Todos os fiéis que foram enxertados em Cristo pelo Batismo e vivem em plena não perde não peca comunhão com a igreja, constituem uma grande família, solidária e unida em si pela caridade. Em conseqüência, os méritos de uns redundam em benefício de outros; os atos satisfatórios que as almas retas prestam a Deus, podem auxiliar a outros cristãos que precisem de expia, seja aqui na terra, seja no purgatório. Em outros termos: pelas nossas preces, pelas nossas boas obras e pelos nossos atos de mortificação, unidas aos méritos de Cristo, podemos ser úteis não só a nós mesmos, mas também a nossos irmãos, que devem prestar satisfação a Deus por seus pecados. É esta solidariedade que se chama "Comunhão dos Santos". Esta expressão designa a comunhão de bens espirituais ou coisas santas segundo a qual vivem os filhos da Igreja. "Uma alma que se eleva (que se enriquece de Deus), eleva o mundo inteiro" (Elizabeth Leseur). Eis como se deve entender a prática das indulgências, até hoje recomendada pela S. Igreja, mas freqüentemente mal entendida.

O texto foi cedido pela Paróquia N. S. da Glória.

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