WIZARD # 86 (outubro de 1998)

PROJETO "MANHATTAN"
Moore e Gibbons abalaram os quadrinhos com a estréia de sua lendária mini-série Watchmen, 12 anos atrás - por Patrick Sauriol

    É a melhor história em quadrinhos jamais contada.
  
Quando publicada em 1986, a revolucionária mini-série da DC Comics Watchmen fez uma fenda nos quadrinhos. Ela desconstruiu os super-heróis tradicionais, apresentando-nos como indivíduos complexos em uma elaborada sociedade onde suas decisões tinham profundas conseqüências. Em resumo, Watchmen provou que os quadrinhos podiam oferecer drama.
    Em meados dos anos 80, os super-heróis viviam em universos estéreis; as incertezas e os horrores da vida real nunca transgrediam para um quadro de uma HQ. Querendo mudar esta situação, Alan Moore e Dave Gibbons fizeram uma história onde os personagens e o mundo em que eles existiam podiam ser ambíguos. "Nossa idéia era dar uma olhada diferente no super-herói", Moore explica. "O que aconteceria se você pegasse o mundo deles e aplicasse valores do mundo real nele? A idéia de ver isso me fascinava".
    Watchmen situava-se num mundo à beira de uma guerra nuclear, onde campiões fantasiados eram considerados fora-da-lei. Quando um desagradável agente do governo chamado Comediante foi assassinado, vários heróis se reuniram para solucionar a conspiração que eventualmente colocaria o destino do mundo em suas mãos. Originalmente, Moore e Gibbons planejavam usar os super-heróis da Charlton Comics que a DC havia adquirido, já que "havia um bocado de personagens com os quais as pessoas pouco se importavam e com os quais Dave e eu poderíamos nos divertir", lembra Moore. Quando a DC decidiu que queria aqueles personagens em outros títulos, Moore e Gibbons criaram novos personagens na mesma veia, incluíndo o quase onipotente Dr. Manhattan, o indeciso herói Coruja e o tragicamente psicótico Rorschach.
    Moore percebeu que o potencial da história para romper noções pré-existentes sobre o que os quadrinhos de super-heróis eram quando ele viu a arte de Gibbons para a primeira edição. "Ela o forçava a considerar diferentes possibilidades. Juntos nós poderíamos levar Wachmen bem além das fronteiras do que já existia e dar à história um diferente grau de realismo para os quadrinhos de super-heróis. O quão radical poderíamos fazer isso?"
    Moore descobriu a resposta quando enviou seu roteiro para Watchmen # 6. Recebendo "completo silêncio", Moore finalmente perguntou se havia algum problema. Pelo contrário, o impacto da história tinha deixado seu editor sem falas. Watchmen recebeu futuramente vários elogios de publicações como a Rolling Stone, e ajudou a indústria dos quadrinhos a alcançar um novo rumo. Moore tinha sempre buscado dignidade aos quadrinhos, e estava bastante satisfeito com a publicidade.
    Aquela vitória não veio sem efeitos colaterais. Watchmen é uma das causas da aflição de hoje por quadrinhos mais escuros e sombrios. "(Watchmen) é responsável, em certo nível, pelo mal-estar nos quadrinhos em geral atualmente", reconhece Moore. "Em algum ponto dos anos 80 os quadrinhos alcançaram o objetivo que queriam e agora (a indústria) se descobriu sem direção. É como quando alguém deixa uma garrafa de refrigerante aberta - a efeverscência vai embora".
    Em um sentido bem real, os quadrinhos de hoje são o resultado de viverem na sombra de Watchmen. Isso pode significar que eles são sombrios, mas também significa que os melhores deles podem estar lado-a-lado com qualquer coisa na literatura.

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