Brindando a Heróis Ausentes

Alan Moore discute a conexão Charlton-Watchmen

Conduzido por & © Jon B. Cooke

Transcrito por Jon B. Knutson

De Comic Book Artist #9

Para admitir que me senti decididamente deslocado ao ligar para um do melhores escritores de quadrinhos para discutir - ugh! com tanto assunto existente - personagens de HQs é algo drástico, mas a frieza absoluta de se bater um papo com o sr. Alan Moore facilitou o prospecto consideravelmente. O auto-declarado anarquista é claramente um cara legal e nós gastamos mais tempo falando sobre um personagem da vida real - Steve Ditko - que, por exemplo, o relacionamento entre Judomaster e Tiger. Alan atualmente dita as regras do mercado com sua linha aclamada pela crítica e pelo público America's Best Comics, sua série com Eddie Campell Do Inferno está sumindo das prateleiras, e a vida parece muito boa para o escritor inglês. E, sim, bom leitor, há realmente uma conexão com o popular escriba e a Charlton Comics. Esta entrevista foi realizada por telefone em 16 de junho de 2000 (agradecimentos especiais a JBK pela rápida transcrição).

 


Camiseta desenhada por Dave Gibbons adaptada pelo Who's Who # 5 da DC estrelando o elenco de Watchmen.
©2000 DC Comics.

Você lia os quadrinhos da Charlton quando era criança?
Sim, eu lia. Era um tipo de situação de "pecking order", com a distribuição de todos os quadrinhos americanos sendo instável na Inglaterra. Eu acredito que eles foram originalmente trazidos como cascalhos em naves, o que significava que às vezes havia um mês inteiro de uma determinada revista, ou mesmo um monte de revistas que eu perdia. Então, conseqüentemente, eu comprava meus preferidos no começo do mês, e pouco tempo depois, eu comprava provavelmente meus segundos favoritos (risos) ...e no fim do mês, eu pegava coisas como Gasparzinho, o Fantasminha Camarada, apenas para manter meu hábito de ler. Em algum ponto do caminho, eu leria os quadrinhos de super-heróis da Mighty, ou Archie, ou MLJ, os quadrinhos da Tower que circulavam...

A Charlton estava no topo da lista pra você?
Isso variava, dependia de muitas coisas. A Charlton estaria em certos momentos em baixa na lista, mas de repente, houve uma época maravilhosa em que eu percebi depois que quando Dick Giordano estava vivendo um período altamente criativo nas revistas da Charlton, elas estiveram no topo da minha lista. Ainda há um dos títulos, Charlton Premiere - algo como uma Showcase da Charlton - e eu lembro que na segunda ou terceira edição dele, havia uma coisa maravilhosa chamada "Children of Doom" de Pat Boyette, que morreu recentemente. Ele estava obviamente, eu imaginava, olhando artistas como Steranko que estavam embromando com a forma e o tipo de experimentação. Pat decidiu arremessar seu próprio chapéu para dentro do anel, aparentemente.

Antes do período dourado em que Dick era editor, eu gostava muito do material de Steve Ditko - Capitão Átomo e os quadrinhos de monstros da Charlton - logo a principal razão pela qual eu gostava da Charlton era provavelmente por causa de Steve Ditko, originalmente. Sem mencionar que não havia outros grandes artistas e escritores, mas o principal de tudo era que Ditko era o único em quem eu realmente reparei, até o período no qual Dick assumiu.

Eu me lembro que havia uma tira que teve uma vida curta que eu acho que foi provavelmente baseada em "Repent, Harlequin! Said the Tick-Tock Man", de Harlan Ellison, que era sobre um tipo de palhaço futurista desenhado por Jim Aparo. O personagem da tira devia se chamar Harlequin ou algo assim, mas eu me lembro que era desenhado pelo Jim Aparo, e durou uns dois episódios, provavelmente escritos por Steve Skeates ou outra pessoa.

Havia umas tiras muito boas, e é claro, houve o grande retorno da Charlton, onde nós conhecemos o novo Besouro Azul, o novo Capitão Átomo, e por aí vai, o que foi um estímulo a mais. Todas essas coisas contribuíram para colocar a Charlton num nível mais alto na minha lista de quais revistas comprar primeiro. Eles nunca removeram completamente a Marvel ou a DC, mas durante a era de ouro, a Charlton estava lá com os melhores deles.

Você se lembra do Questão?
Sim, eu me lembro. Era outro personagem muito interessante, e era quase um personagem do Steve Ditko puro, nisso ele tinha um aspecto estranho. "O Questão" não se parecia com qualquer outro super-herói do mercado, e além disso parecia ser um tipo de versão quadrinística do "Mr. A", um personagem de Ditko bem mais radical. Eu lembro que naquela época - mais ou menos quando eu comecei a me envolver com os quadrinhos ingleses - havia um fanzine inglês que era publicado aqui por um cavalheiro chamado Stan Nichols (que desde então vem escrevendo livros de fantasia). No fanzine de Stan, Stardock, havia um artigo chamado "Propaganda, ou Porque o Besouro Azul Votou em George Wallace" (risos). Isso era no fim dos anos 60, e os quadrinhos ingleses ainda tinham um forte elemento hippie. Apesar de que Steve Ditko era obviamente um herói para os hippies com seu psicodélico trabalho em "Dr. Estranho" e para a adolescência angustiada com seu Homem-Aranha, a política de Ditko era obviamente muito diferente da dos fãs. Sua visão era aparentemente um retrato de Mr. A e dos manifestantes e pacifistas que ocasionalmente apareciam em seu outro trabalho. Eu acho que esse artigo foi o primeiro que realmente mostrou que, sim, Steve Ditko tinha uma postura de direita (o que ele, claro, é completamente designado a fazer), mas naquela época, era bem interessante, e isso provavelmente me conduziu a retratar Rorschach [personagem de Watchmen] como um indivíduo extremamente direitista.

Quando você lia algumas das críticas de Ditko em "O Questão" e em algumas edições do Besouro Azul, você as lia confuso ou com desgosto?
Bem...

Uma mistura de ambos?
Bem, não Eu posso olhar para o trabalho de Salvador Dali e ficar maravilhado, apesar do fato de que eu acredito que Dali era provavelmente um ser humano completamente nojento (risos) e fascista, mas isso não diminui a genialidade de sua arte. Com Steve Ditko, eu pelo menos sentia que apesar de sua postura política ser muito diferente da minha, ele tinha uma postura política, e isso de certa forma o coloca acima da maioria dos seus contemporâneos. Durante os anos 60, eu aprendi bem rápido qual o princípio das idéias de Steve Ditko, e percebi muito cedo que ele era um grande apreciador do estilo da escrita de Ayn Rand.

Você explorou sua filosofia?
Eu tive que olhar na Fonte. Eu tenho que dizer que achei a filosofia de Ayn Rand muito engraçadas. Era uma coisa do tipo "sonhos da supremacia branca da raça mestre", antecipada numa forma do início do século 20. Suas idéias não me atraíam realmente, mas pareciam ser o tipo de idéias que as pessoas sustentariam, pessoas que talvez acreditariam secretamente ser parte da elite, e não parte da maioria excluída. Eu basicamente iria descordar de todas as idéias de Ditko, mas ele tem que ganhar algo crédito por ter expressado essas idéias políticas. Eu acredito que alguns feministas observam Dave Sim com a mesma luz; eles podem descordar com tudo o que ele fala, mas pelo menos há algum tipo de debate sexual-político acontecendo. Então eu tenho que respeitar Ditko.

Alguns anos atrás, eu fazia parte de uma banda de rock local chamada "The Emperors of Ice Cream" ("Os Imperadores do Sorvete"), e um dos nossos números que mais davam certo ao vivo era uma coisa chamada "Mr. A". A batida e a melodia foram completamentes roubados da canção "Sister Ray" do Velvet Underground, mas a letra era toda sobre Steve Ditko.

“Certo/errado, preto/branco"? (risos)
Um dos versos era: "Ele pega um cartão e oculta metade na escuridão, para poder demonstrar a você o que ele significa / Ele diz 'Há o certo e há o errado, há o preto e há o branco, e não há nada, nada no meio.' Isso é o que Mr. A diz" (risos). E então vem o refrão. É, era uma porrada no Velvet Underground, mas com a letra sobre Steve Ditko, que era muito simpática, porque naquela época, eu ouvi que Steve Ditko era bem inofensivo, vivendo no YMCA (Associação de Jovens Cristãos) ou algo assim. Isso foi, eu acho, durante o ano do primeiro aniversário do Homem-Aranha, e eu achei que era criminoso.

Steve Ditko está completamente oposto politicamente a mim. Eu não diria que era da extrema esquerda em termos de comunismo, mas eu sou um anarquista, o que é 180° distante da posição de Steve Ditko. Mas eu tenho bastante respeito pelo homem, e certo respeito pelo seu trabalho, e o fato de que há algo com sua atitude inflexível pela qual que eu tenho grande simpatia. É só que as coisas que eu não aceitaria ou que ele não aceitaria são provavelmente muito diferentes.

Mesmo que ela tenham morais com as quais você não concorda, uma pessoa com um forte código moral é uma pessoa que tem grande vantagem no mundo de hoje.

Você escreveu na introdução da edição especial de Watchmen que você alcançou um ponto fazendo a série, que você estava apto a limpar você mesmo da nostalgia pelos super-heróis, em geral, e o seu interesse em seres humanos reais começou a aflorar. Você acha que o trabalho de Steve Ditko retém conteúdo comparado com qualquer outra coisa que foi produzida naquela época com a Charlton?
Eu não gostaria de afirmar que havia qualquer tipo de filosofia profunda ou digna naquelas tiras da Charlton; é só que eu sempre tive afeição por Ditko por causa de sua linha - independente do que ele estava desenhando - e Steve Ditko não desenhou sempre super-heróis. Meu trabalho favorito dele era o material que ele fez para Warren, "Collector's Edition". Ele estava usando tons limpos e cinzentos, e isso era maravilhoso. Mas sim, Steve Ditko, não importa o que ele estava desenhando, se era uma tira de horror, ou um super-herói tipo Atlas, era sempre um ótimo material.

Eu sempre suspeitei que havia um elemento dos personagens da MLJ - "The Hangman", "The Shield", etc. - dentro de Watchmen, e lendo recentemente sua introdução para a edição especial de Watchmen, eu descobri que minhas suspeitas estavam corretas. Você foi exposto aos personagens da MLJ, como os "Mighty Crusaders", e por aí vai?
Certo. Essa era a idéia inicial de Watchmen - e isso não é nada parecido com o que Watchmen se tranformou - que era bem simples: Não seria legal se eu tivesse uma linha inteira, um universo, uma continuidade, um mundo cheio de super-heróis - preferivelmente de alguma linha que tivesse sido descontinuada e não estivesse mais sendo publicada - com a qual eu pudesse apenas trabalhar de uma maneira diferente? Você tem que se lembrar que isso foi pouco depois de eu ter feito um material semelhante, com o Marvelman, onde eu usei um personagem pré-existente, e apliquei um amargo, talvez mais realista tipo de visão do mundo àquele personagem e aos arredores onde ele existia. Então eu comecei a pensar em usar os personagens da MLJ - os super-heróis da Archie - apenas porque eles não estavam sendo publicados naquela época, e de acordo com o que eu sabia, deviam estar disponíveis. O conceito inicial deve ter sido nos anos 60-70 quando foi publicada uma história do Shield sendo encontrado morto num porto, e então você tinha vários outros personagens, incluindo o "Private Strong" de Jack Kirby, tentando descobrir o mistério do assassinato. Suponho que comecei a pensar, "Essa seria uma boa maneira de se começar uma história em quadrinhos: um super-herói famoso ser encontrado morto". Conforme o mistério fosse sendo revelado, nós seríamos conduzidos mais e mais profundamente ao verdadeiro coração do mundo deste super-herói, e mostrar uma realidade bem diferente da imagem pública geral de um super-herói. Essa era a idéia.

Quando Dick Giordano adquiriu a linha Charlton, Dave Gibbons e eu estávamos falando em fazer algo juntos. Nós tínhamos trabalhados juntos em umas duas histórias para a 2000 A. D., que a gente adorava, e nós queríamos trabalhar em algo para a DC. (Nós estávamos no meio da primeira onda dos ingleses que foram trabalhar nos EUA, depois de Brian Bolland, Kevin O'Neil, e eu fui o primeiro escritor, e nós queríamos trabalhar juntos). Uma das primeiras idéias foi que talvez nós devêssemos fazer uma mini-série com os Desafiadores do Desconhecido, e em algum lugar eu recebi uma capa desenhada para uma mini-série do Ajax, o Marciano, mas eu acho que foi a coisa habitual: Outras pessoas estavam desenvolvendo projetos relativos a esses personagens, por isso a DC não queria que a gente os usasse. Nesse ponto, eu sugeri essa idéia relativa aos personagens da MLJ/Archie, e era um tipo de idéia que poderia ser aplicada a qualquer grupo pré-existente de super-heróis. Se fosse com os personagens da Tower - os agentes da T.H.U.N.D.E.R. - eu não poderia ter feito a mesma coisa. A história era sobre super-heróis, e não importava quais super-heróis eram, e sim se eles tinham algum tipo de ressonância emocional, com a qual as pessoas os reconheceriam, e então haveria o choque e a surpresa de quando você vê o que a realidade desses personagens era.

Então, Dick tinha comprado os personagens da Charlton para a DC, e estava procurando alguma maneira de usá-los, e Dave e eu produzimos essa proposta que originalmente foi designada em volta de um número de personagens da Charlton. Eu não sei quanto da idéia foi utilizada, mas eu lembro que começaria com um assassinato, e eu sabia bem quem seria o culpado pelo assassinato, e eu tinha uma idéia do motivo, e a linha básica da trama - tudo isso depois terminou sendo a coisa menos importante em Watchmen. Os elementos mais poderosos na história final era mais a maneira de contar a história e todo o material no meio, mais alguns pedaços da trama. Quando nós estávamos apenas planejando fazer uma extrema e pouco comum história de super-herói, nós achamos que os personagens da Charlton poderia nos fornecer uma grande linha que teria muita nostalgia emocional, com assossiações e ressonância para os leitores. Então, foi por isso que nós colocamos adiante essa proposta de dar um novo rumo aos personagens da Charlton.  

Então você mandou a proposta para Dick?
Algo assim, e eu não me lembro dos detalhes - foi há muito tempo - mas eu lembro que, em certo ponto, nós ouvimos de Dick que sim, ele gostou da proposta, mas não queria realmente usar os personagens da Charlton, porque a proposta deixaria um bocado deles numa situação ruim, e a DC não os poderia ter usado novamente depois do que nós faríamos com eles sem diminuir o poder do que nós estávamos planejando.

Se nós tivéssemos usado os personagens da Charlton em Watchmen, depois da edição #12, mesmo que o Capitão Átomo ainda estivesse vivo, a DC não poderia realmente fazer uma revista sobre aquele personagem sem tirar do que se tornou Watchmen. Então, em primeiro lugar, eu não achava que nós poderíamos fazer a história com simples personagens fabricados, porque eu achava que perderia toda a ressonância emocional que aqueles personagens tinham para o leitor, o que eu achava que era uma parte importante da história. Eventualmente, eu percebi que se eu escrevesse os personagens substitutos bem o bastante, eles pareceriam familiares de certas formas para o leitor, então poderia funcionar.

Então, nós começamos a reformular o conceito - usando os personagem da Charlton como base, porque foram eles que nós submetemos a Dick - e é com isso que a trama era envolvida. Nós começamos a mudar os personagens, e eu comecei a perceber que as mudanças me permitiam muito mais liberdade. A única idéia do Capitão Átom como um super-herói nuclear - que tinha a sombra da bomba atômica pairando sobre ele - tinha sido parte da proposta original, mas com Dr. Manhattan, o tornando um tipo de super-herói quântico, levou isso a toda uma nova dimensão, não era apenas a sombra da ameaça nuclear sobre ele. As coisas que nós poderíamos fazer com a consciência do Dr. Manhattan e a maneira que nós víamos o tempo não seriam apropriadas para o Capitão Átomo. Então, essa era a melhor decisão, apesar de me levar um tempo pra perceber isso.

Quando você estava escrevendo a série, mais ou menos na época do # 4, você percebeu que tinha mais liberdade?
Oh, antes do #1, uma vez que eu comecei realmente a escrever a série, eu pensei, "Realmente, isso é legal!". Na época em que eu estava escrevendo a primeira edição, eu estava imerso na idéia. A série estava em preparação quando eu tive minhas dúvidas. Mas uma vez que nós decidimos a direção da ação, e uma vez que ouve um feedback entre eu e Dave, e eu estava começando a ver os esboços e idéias dele, sim, na época que eu comecei a escrever o #1, eu já tinha pego os personagens e eles pareciam sólidos e fortes em minha cabeça. Eu estava apto a começar a trabalhar no roteiro, e foi com a primeira página do #3 que eu percebi que nós realmente ganhamos mais do que havíamos pechinchado. Eu de repente percebi, "Hey, eu posso fazer algo aqui onde eu tenho esse símbolo de radioatividade sendo pregado no muro do outro lado da rua, o que vai sublinhar a ameaça nuclear que paira; e eu posso ter esse jornaleiro apenas falando alto, da maneira que as pessoas nas esquinas com bastante tempo vago às vezes fazem; e eu posso ter a narrativa desse quadrinho pirata que o menino está lendo; e eu posso ter todos eles completando uns aos outros; e eu posso pegar essa coisa realmente estranha onde o que é mencionado na história pirata parece se relacionar com as imagens no quadro, ou com o que o jornaleiro está dizendo"... E aí foi quando Watchmen decolou; foi quando eu percebi que havia algo muito importante acontecendo ou um take mais escuro no super-herói, o que apesar de tudo, eu tinha feito antes com Marvelman.

Foi um elemento na gênese de Watchmen a aparição da Liga da Justiça em Monstro do Pântano, onde o leitor nunca via os rostos dos super-heróis, eles nunca os chamavam pelos nomes, com aquele sentimento ameaçador, sinistro?
Como eu disso, Marvelman - posteriormente Miracleman - tinha sido minha primeira tentativa de reestruturar o super-herói, e de fazer algo que era bastante adulto e um pouco forte em certas partes. Ao mesmo que tempo que eles admiravam Marvelman, e era óbvio que eu podia fazer uma boa história de super-herói, quando a DC me trouxe à tona a primeira vez, eu acho que a razão pela qual eles me deram o Monstro do Pântano foi provavelmente porque eles ficaram um pouco contidos em me fazer perder um de seus personagens tradicionais, (risos) com medo de que ele terminaria como Marvelman, com linguagem forte e nascimentos em todo lugar (risos).

O horror! (risos)
A DC sentiu que, com o Monstro do Pântano, eu iria trabalhar bem, porquê era uma revista de horror de qualquer maneira com uma aura um pouco mais adulta em volta dela. Quando eu estava escrevendo o Monstro do Pântano, me ocorreu que "Bem, realmente o Monstro do Pântano existe no mesmo universo que todos os outros personagens DC, então eu posso deixar isso ser um obstáculo, ou algo do qual eu sempre me afaste, ou ver se eu posso meter um grupo grande e colorido de super-heróis como a Liga da Justiça no Monstro do Pântano, e fazer funcionar sem afetar a atmosfera do título". Então, sim, nós não mostramos muito seus rostos porque eu queria que os leitores pensassem, "Eu sei quem é esse!" (risos). Nós não os deixávamos chamarem-se pelos seus nomes, apenas tirando aqueles enfeites familiares fora, e nossa intenção era fazer os leitores olharem para os super-heróis de uma maneira diferente. Eu estava gostando como tudo estava indo, e isso mostrou a mim que, sim, eu poderia pegar super-heróis estabilizados e escrevê-los de uma maneira que não violaria seu caráter essencial, e ainda eu os daria um vigor maior. Mas, em termos de Watchmen, onde os personagens são inteiramente criados homogêneos, Marvelman tem mais a ver com isso do que aquela edição específica do Monstro do Pântano.


Arte de Dave Gibbons para a revista não-realizada da DC "Comics Cavalcade Weekly", estrelando o take inglês do artista nos heróis da Charlton (mais o Super-Homem!). Cortesia do artista. ©2000 DC Comics.

Apenas para organizar: a base do Rorschach foi o Questão, certo?
O Questão era o Rorschach, certo. Dr. Manhattan e Capitão Átomo era obviamente equivalentes. Coruja e o novo Besouro Azul - quer dizer, o Besouro Azul Ted Kord - eram equivalentes. Porque havia um Besouro Azul original na cosmologia da Charlton, eu achei que seria legal ter um Coruja original. Não posso dizer realmente que a Sombra da Noite foi uma grande inspiração. A Espectral era apenas uma personagem feminina porque eu precisava ter uma heroína ali. Já que não estávamos usando os personagens da Charlton mais, não havia razão para eu me prender à Sombra da Noite, eu poderia pegar um outro tipo de super-heroína, algo como a Lady Fantasma, a Canário Negro, geralmente o meu tipo de super-heroína. A Espectral, ali ela é a garota do grupo, mais ou menos equivalente à Sombra da Noite, mas realmente, não há outra grande conexão com ela. O Comediante era o Pacificador, nós tínhamos um grau de liberdade maior, e decidimos fazê-lo como o tipo de cara de direita, patriótico, e misturamos um pouco de Nick Fury na concepção do Pacificador, e provavelmente um pouco da base do Capitão América (herói-patriota). Então, sim, esses personagens começaram assim, para preencher as lacunas da história deixada pelos heróis da Charlton, mas nós não tínhamos que nos prender estritamente à fórmula da Charlton. Em alguns lugares, nos prendemos mais, e em outros, não.

Adrian Veidt era Peter Cannon: Thunderbolt; eu sempre gostei do Thunderbolt de Pete Morisi... havia algo com o estilo da arte, quase limitando-se com o estilo de Alex Toth, apesar de que aquilo nunca foi tão bom como Toth, mas às vezes tinha uma prazerosa sensibilidade e um bom senso de design sobre aquilo que eu fui quase pêgo. E eu gostava da idéia de que seu personagem usava 100% de se cérebro e tinha completo controle físico e mental. Adrian Veidt realmente cresceu diretamente paralelo ao personagem de Peter Cannon: Thunderbolt.

Quando eu era criança, eu cresci de uma maneira bastante de esquerda, e eu lembro de ver o Pacificador com a frase embaixo "Ele gosta tanto de paz que está doido para brigar por ela". Eu pensei, "Ugh. Muito reacionário para mim", e passei por cima.
Quando eu li isso pela primeira vez, eu pensei, "Bem, isso é idiota!" (risos) Eu tinha apenas 10 anos ou algo assim, e eu não tinha realmente crescido em uma família de esquerda - minha família votava no partido trabalhista, e isso era quando o partido trabalhista era socialista - mas era uma família de classe trabalhadora, provavelmente uma não muito bem-educada, e então suas opiniões políticas não eram muito profundas, mas mesmo assim, sim, a idéia de que "Ele gosta tanto de paz que está doido para brigar por ela", (risos) eu poderia ver os buracos naquilo imediatamente.

Keith Giffen modificou a frase para "Ele gosta tanto de paz que está doido para matar por ela" (risos)
Bombas, mortes, assassinatos! Porque nós não estávamos fazendo o Pacificador ou o Questão, nós poderíamos ser bem mais extremos com todos aqueles personagens. Nós provavelmente não poderíamos ter o Questão vivendo em um apartamento sujo da favela e sendo um mentalmente desequilibrado, que tinha um problema pessoal de odor, e ter sido uma criança feia - você não poderia ter Vic Sage, bem-sucedido comentarista de TV, sendo isso.

Eu percebi, quando era adolescente, que Ditko tinha alguma fixação com a letra K, provavelmente porque ela aparece em seu nome. Algo como "Kafka", e "Ditko", e parecia haver um bocado de personagens de Ditko começando com K... Ted Kord... Ditko parecia gostar muito daquele som, e essa observação me influenciou na escolha do nome de Rorschach como sendo Walter Kovacs.

Com o nosso Pacificador, Dave e eu falávamos, "Taí um cara que é um comediante", e acredito que peguei o nome do livro de Graham Greene "The Comedians". Naquele ponto, eu tinha feito bastante pesquisa sobre vários tipos de truques sujos da CIA e da comunidade inteligente, então Dave e eu o víamos como um tipo de Gordon Liddy, apenas maior e mais durão (risos).

(risos) Gordon Liddy "maior e mais durão?" (risos)
Claro, Gordon Liddy é um cara durão, mas não é tão grande e imponente fisicamente. Mas se Liddy tivesse músculos de quadrinhos... e com Liddy sustentando toda aquela filosofia de Nietchze, e aquela coisa de colocar sua mão numa vela acesa e não sentir dor, mesmo se estivesse queimando. Então sim, alguns pontos de Liddy foram usados na hora de criar o Comediante.

Você ainda vai trabalhar com personagens de outras pessoas novamente?
Eu não quero realmente, pra dizer a verdade. Mas eu posso mudar de opinião, você sabe.

Você está escrevendo super-heróis novamente.
Meus quadrinhos de super-heróis são bem diferentes, eu acho. Depois que eu terminei de fazer Watchmen, eu disse que eu tinha ficado um pouco cansado de super-heróis, e eu não tinha o mesmo interesse nostálgico neles, e isso ainda é bem verdadeiro em certo nível. Mesmo eu escrevendo para a DC Comics novamente (e eu freqüentemente leio Super-Homem), eu não tenho nenhum interesse pelo Super-Homem agora. Eu teria interesse no personagem quando eu o escrevesse, mas isso não vai funcionar para mim agora - os personagens estão diferentes, o mundo todo está diferente. (risos)

Mas você foi capaz de se purificar bem rápido, certo? Você não escreveu tantas, talvez quatro ou cincos histórias do Super-Homem?
E foi o bastante. Aquelas histórias eu quis fazer, mas desde elas, a maioria dos personagens mudou tanto que eu não sinto que eles são os mesmos personagens que eu conhecia. Então, eu não teria aquele tipo de interesse nostálgico naqueles personagens mais. Naquela época, eu também estava dizendo que não sentia que se havia uma forte mensagem política que eu queria dar continuidade, provavelmente os quadrinhos de super-heróis não eram o melhor lugar para fazê-lo. Se eu quisesse fazer material sobre o meio-ambiente, não havia necessidade de se ter um monstro do pântano ali, por exemplo. Quando eu fiz Brought to Light, sobre as atividades da CIA na II Guerra Mundial, aquela história não teria sido muito aprimorada por um cara com as cuecas pra fora das calças, você sabe. E também, ali parecia ter o começo dos quadrinhos de super-heróis pesados, deprimentes e evidentemente pretensiosos que apareceram no rastro de Watchmen, e eu me senti responsável em certo grau por trazer uma Idade das Trevas bastante mórbida. Talvez eu sobrecarreguei o super-herói, o fiz carregar muito mais significado do que ele tinha sido planejado para tal. Então, por um momento, eu comecei a fazer materiais que eram bastante não-super-heróis, e a ir a outras áreas nas quais eu estava interesado.

Os super-heróis que estou escrevendo agora não estão ali para passar fortes mensagens políticas, e isso é intencional. Eles são entretenimento, e eu acho que há poucos gêneros atualmente que entretêm tanto quanto o de super-heróis. E entretenimento pode ser emocionalmente comovente e inteligente, mas eu não queria realmente "dar uma aula" da mesma maneira que eu fazia quando eu era mais jovem. Eu não estou tentando quebrar ou transcender as barreiras dos quadrinhos mainstream, porque os mainstream vêm em pedaços, você sabe?

Bem, você é praticamente o único que restou, eu pensaria. [risos]
Não há propósito em tentar transcender as barreiras de algo que já está rompido, sabe? [risos] O negócio a tentar e fazer é certamente tentar e propor uma forte forma de quadrinhos mainstream, com alguns elementos transcedentes ocasionalmente, mas não "Vamos esmagar o envelope!". Talvez eu tenha mais aspectos construtivos que destruidores.

Seu trabalho atual na America's Best Comics, no rastro daquela "mórbida Idade das Trevas" que você mencionou, é uma reação a Watchmen?
Não é tanto uma reação a Watchmen porque eu tenho o maior respeito pela série possível - foi um grande trabalho - e Dave e eu fizemos um bom trabalho ali, e eu estou orgulhoso dela.

Ela ainda está em impressão, não está?
Ah, claro, e vai haver uma grande edição do 15o aniversário chegando ano que vem (risos). Eu não sei por que 15o. Em termos de casamento, quero dizer, isso é algo como suas bodas de papel-marché, ou algo assim. Vai haver um tipo de grande edição de recordação, e Mr. Gibbons vai vir à pequena e velha Northampton no começo da próxima semana, e nós vamos fazer um tipo de vídeo, porque eles não podem me tirar de Northampton para aparecer em convenções, e eles vão me ver se eu realmente aparecer no filme (risos). Nós vamos tentar e filmar Dave e eu juntos.

Watchmen é um trabalho pelo qual eu tenho uma grande afeição; havia várias técnicas que Dave e eu desenvolvemos especificamente para a série, mas na época em que eu terminei Watchmen, elas já me pareciam um clichê. Você sabe o que eu quero dizer? Eu não queria que meu trabalho seguinte tivesse as mesmas técnicas de narrativa, e é por isso que Big Numbers, Lost Girls e Do Inferno não tinham textos explicativos, nem mudanças de cenas planejadas ou inteligentes. Eram apenas cortes duros, o que me pareceu uma maneira mais natural de fazer isso. Quer dizer, eu adoro a convulsão de Watchmen - é um amável relógio suíço, um mecanismo, sabe?

Watchmen não foi exaustivo de se escrever?
Foi, absolutamente exaustivo. Fazer algo com aquele nível de complexidade - e onde a complexidade está na superfície - eu pensei, "Bem, eu nunca mais quero fazer isso de novo". Eu tenho feitos coisas que são complexas; Do Inferno, à sua maneira, é tão complexo quando Watchmen, mas as complexidades de Do Inferno são mais na narrativa. Não é tão ofuscante, e eu não queria fazer nunca mais algo tão ofuscante quanto Watchmen. Eu acho que o outro projeto que eu fiz na mesma época, Batman: a Piada Mortal, sofreu. A arte de Brian [Bolland] é linda, mas esse é provavelmente um dos meus trabalhos menos preferidos em termos de escrita. Foi muito parecida com as técnias de narrativa que eu usei em Watchmen, e se eu a tivesse escrito dois anos antes ou depois - quando eu não estava tanto sob o feitiço do que eu estava fazendo em Watchmen - teria sido provavelmente uma história diferente e, talvez, melhor, ao menos na escrita.

O material da ABC no momento não é uma negação de Watchmen, é apenas um reconhecimento de que, ei!, Watchmen foi em 1986, há quase 15 anos, e hoje é uma época completamente diferente. Com a ABC, eu quero fazer histórias com uma sensação de alegria, um tipo de vigor e eferverscência, um sentimento que as pessoas o fazendo estão adorando.

Divertimento!
Exatamente, e eu acho que isso mostra. Eu não tenho certeza o quando isso mostra, mas o entusiasmo sempre faz a diferença. A razão pela qual Watchmen foi boa foi porque Dave e eu a estávamos adorando, fazendo coisas que nunca tínhamos feito antes, e isso era realmente excitante. Nós estávamos conversando um com o outro, estávamos fardados, e isso é o mesmo na maioria das revistas da ABC. Em seu sentido, elas são bastante similares a Watchmen, mesmo se parecem diferentes. Elas são bastantes similares naquele nível de comprometimento dado a elas e a quantidade de divertimento que estamos tendo com ela.

Você está dizendo que os quadrinhos da ABC são primariamente entretenimento para o objetivo de entretenimento. Você pode se ver voltando a fazer algo de mais substância?
Ah, claro! O lance é, quadrinhos não é tudo o que eu faço. Eu escrevi um romance há poucos anos, e quando eu tiver tempo, eu vou fazer outro. Eu tenho dois ou três CDs falados gravados, que são cheios de substância, sem super-heróis. Em termos de quadrinhos, no momento nós estamos terminando Lost Girls, o que eu acredito ser um trabalho de substância - é uma pornografia, [risos] mas é o meu e de Melinda tipo de pornografia, e eu acho que tem significado, carga social, e valor político.

Então você pode fazer seu bolo e comê-lo, também!
Ah, totalmente! [risos] Claro, e com isso ainda acontecendo, outro CD, eu acabei de ir ao estúdio fazer a mixagem final em um CD que eu acho que Dave Severin vai lançar no fim do ano, o cara que costumava estar no Siouxie and the Banshees.

Você sabe, os leitores não chamam suas histórias de "histórias de super-heróis"; eles a chamam de "as histórias de Alan Moore". [risos] Isso é bem legal.
As histórias de Alan Moore, sim, eu estou feliz com isso. Você sabe, eu espero que no futuro nós estaremos prontos para fazer o material mais estranho de todos. Eu gostaria de fazer histórias de faroeste e todos esses velhos gêneros que costumavam aparecer nos quadrinhos e nós subitamente decidimos nos livrar deles. Eu lembro quando havia quadrinhos de guerra e de faroeste e de adolescentes e de fantasminhas camaradas e coisas como essas. Ou Herbie - Herbie foi uma das minhas grandes paixões quando eu estava crescendo, e você não poderia ter um personagem como esse nos quadrinhos de hoje. É tão excêntrico, tão original! Então, aquela parte de Jack B. Quick está meio que tentando preencher o espaço deixado por Herbie na indústria dos quadrinhos.

Eu suponho que os quadrinhos da ABC são meio que uma tentativa de construir uma arca, onde todos os meus conceitos favoritos, coisas que eu acho que deveriam ser incluídas nos quadrinhos, você sabe, possam talvez sobreviver ao dilúvio.

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