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Sobre a Solidão
Sobre
a solidão nada se instala, nada se equilibra.
Porque
ela é como líquida noite e como mar profundo,
Que
nos envolve e aterroriza.
Nela
o céu naufraga e o sol afunda,
Vontades
desmoronam, cai o mundo,
Melhores
intenções perdem o rumo,
Desejos
se esvaem, esperanças choram.
Sobre
a solidão nada se constroi, tudo desliza...
A solidão
é terrrível, a solidão é pesada.
A solidão
é imensa, esmagadora e gelada.
Sobre
a solidão muitas palavras e nenhuma fuga
Porque
ela nos é íntima como nossa própria natureza,
Com
a qual se enlaça e funde de forma permanente.
Pois
certa vez, um velho deus intransigente
Nos
expulsou do Éden e rompeu a comunhão.
Não
foi maçã, foi ela, e presa na garganta
Atravessando
o tempo até hoje nos devora.
Sobre
a solidão, o medo, nosso denominador comum.
A solidão
assusta, a solidão paralisa,
A solidão
nos cega, a solidão afoga.
Sob
a solidão e dela apenas uma coisa nasce,
E,
estendendo sua teia silenciosamente cresce,
E,
apesar da solidão e por causa dela vive,
Semente
esquecida em nós, a nós também inerente,
Capaz
de emergir das águas, capaz de romper a noite.
E sem
se firmar em nada, nos puxa, arrasta e levanta,
Arrancando
nossas vendas, criando uma luz estranha
Revela
o segredo impossível. A solidão estremece.
Podemos
sentir o outro. Pela primeira vez.
Sob
a solidão apenas o sonho.
Permanece.
LUA
NEGRA
1999
Pintura original de Dika Wolf