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Dedos do Silêncio
Vem...
Me toma à
beira da noite,
caminha por mim
com seus passos molhados,
despeja seu rio no
meu cálice
pois minha emoção
é só água.
Vem...
Que eu lhe dou um
trago
deste meu vinho guardado,
destas minhas uvas
frescas de inverno...
Que eu derramo em
gotas meu perfume
pelos quatro cantos
do seu corpo,
vestindo sua pele
com a camurça
da nudez e do silêncio.
Vem...
Deita e me canta,
sente meu desejo
se esgueirando pelos
seus dedos,
veleja sem bússola
pelos meus sentidos,
me olha como quem
pede lua...
Deixa eu sussurrar
minhas folhas,
soprar minhas pétalas
pelo seu peito de
relva,
pelo seu solo macio.
Vem... Não
volta,
esquece a hora morta
do cotidiano de sempre.
Me toca feito música
e deixa eu cantar
meu bolero
pelas suas curvas
de carne...
Sinto-me inocência
passeando por suas
alturas,
por seus andares
cheios
da mais noturna noite
densa.
Desvenda essa face
molhada
e me mostra a sua
vertente original
de emoção-fêmea
pura...
Que eu o espero na
branca paz
do meu ventre adormecido,
dos meus braços
plenos
de fogueiras e cantigas.
Vem...
Que eu desfolho
toda essa sua vontade
nua,
que eu desperto
todo esse seu lado
cigano...
pois o meu leite
é morno
e é rosa franca
meu sorriso.
Deixa seu barco
navegar pelo meu
leito,
que eu carrego no
peito a ânsia
de hastear a bandeira
do infinito...
Vem...
Deita... Me namora...
Me afoga no espelho
de luz
dessa madrugada afora,
me diz que no nosso
tempo
não há
tempo nem hora,
que eu não
agüento
a flor do sexo que
arde
nas entranhas de
mim...
Deixa que eu amanheça
na espuma dessa sua
onda quente,
deixa sua emoção
fluir
da garganta num repente...
Que eu carrego nos
olhos de relento
a voz que lhe pede
a terra
e que lhe entrega
o mar.
Rosy
Feros
Pintura original de Boris Vallejo