A CIDADE
A cidade em suas garras
Arranha céus
Arrasta-me em tal vácuo
Me afasto de deus
A cruel me evacua
Nas ruas ri de mim
Desnuda a máscara
Me quer máquina
Me açoita com cimentos
E me ignora
Ó cidade surda
Meus fortes passos deslizam
Por entre úmidos becos
Doce divagar
Por entre sóis sem saída
Sem êxito escuta!
Ó cidade assassina
Um selvagem anjo
Em suas mãos oxida-se
Ó cinza
Que em sua anemia
Me descolore
Eu anêmona alucinada
Perdida da minha raça
Fisgo minha bagagem no asfalto
Visto-me de humanidade
Sussurro bom dia
Atravesso a ponte rachada
Enquanto o sol consome
A calçada cínica
Nesta saga
Nesta sexta-feira
Aguardo um novo dia
Que insiste no sempre vir
No bem-te-vi
Na sempre-viva
Rosália Milsztajn
Do livro "Luminosidades"
Ed. 7 Letras, 1999
Direitos Autorais Reservados
®1999