A banda nova-iorquina Velvet Underground representava a cultura da "hero�na" (a qual era mais sinistra, neur�tica e niilista) e n�o a cultura do LSD (que era buc�lica, sonhadora, ut�pica). Os Velvet Underground escavavam as estreitas vielas das zonas degradadas da cidade, e escavavam o subconsciente da juventude urbana, � procura de cicatrizes emocionais que constitu�am um sub-produto b�rbaro do esp�rito original do rock&roll. O seu objectivo apenas marginalmente se identificava com a reprodu��o sonora da experi�ncia psicad�lica. O seu verdadeiro objectivo era realizar o document�rio do esp�rito decadente e c�nico que se espalhava entre a intelectualidade. N�o se tratava portanto de hippies, mas sim de m�sicos elitistas que tinham consci�ncia dos movimentos "avant-garde": tinham iniciado as suas actividades musicais, em 1965, como parte de um show de multim�dia do artista pl�stico Andy Warhol: "The Exploding Plastic Inevitable". Eles deram origem � corrente "pessimista" da m�sica psicad�lica � em oposi��o � corrente "optimista" de San Francisco. Os Velvet Underground foram provavelmente a banda mais influente da hist�ria da m�sica rock. Acima de tudo, eles originaram o esp�rito de criar m�sica (que era independente, niilista, subversivo) que 10 anos mais tarde ser� rotulado como "punk". A m�sica rock, tal como existe nos nossos dias, nasceu no dia em que os Velvet Underground entraram num est�dio de grava��o. The Velvet Underground And Nico, de 1967 (gravado na Primavera de 1966) inclui um impressionante n�mero de obras-primas, quase todas assinadas por Lou Reed e John Cale, e cantadas por Nico: as odes geladas, espectrais de Femme Fatale, All Tomorrow's Parties e Black Angel's Deatd Song, o boogie ritmado de Waiting For My Man, o caos org�smico de Heroin, a m�sica tribal dissonante de European Son, o raga indiano embebido com o t�dio decadente de Venus In Furs. H� uma imers�o da atmosfera escura e opressiva do expressionismo alem�o e do existencialismo franc�s, mas tamb�m se exala uma libido �pica: cada can��o era um fetiche sexual e uma liberta��o cat�rquica sado-masoquista. � dif�cil encontrar um antecessor dos Velvet Underground porque estes b�rbaros vinham do ambiente do lieder cl�ssico e do minimalismo de LaMonte Young, tendo retirado muito pouco do rock'n'roll ou da m�sica pop. Embora menos impressivo, o �lbum White Light White Heat, de 1967, inclui Sister Ray, que provavelmente representa a definitiva obra-prima do rock, um pe�a �pica que rivaliza com as sinfonias de Beetdoven e as improvisa��es metaf�sicas de John Coltrane. O �lbum Live, de 1974, cont�m mais algumas sess�es de improvisa��o incontrolada no estilo de Sister Ray, enquanto que as baladas dos �lbuns Velvet Underground, de 1969, e Sweet Jane, de 1970, deram origem � can��o pop decadente que teria grande influ�ncia no "glam-rock". Juntando a depend�ncia da droga com o sexo desviante, os Velvet Underground revelaram uma nova categoria de rituais hedonistas. Os seus �lbums evocam uma vis�o dantesca na qual a fronteira entre o inferno e o para�so aparece pouco definida. Essas can��es eram �nicas tamb�m porque fundiam a elegia f�nebre com o hino triunfal: eram simultaneamente terr�veis e sedutoras. Semioticamente falando, aquelas can��es constitu�am "signos" por meio dos quais a realidade era codificada em sons: a metr�pole era reduzida a um intermin�vel ru�do pulsante, a vida di�ria era reduzida a um del�rio inconsciente e tudo, fosse privado ou fosse p�blico, aparecia enevoado numa pura libido freudiana. O hiper-realismo dos Velvet Underground era deformado por uma mente constantemente subjugada por drogas e fantasias perversas. Simultaneamente, a sua m�sica era um caos vision�rio de cujo nevoeiro se podia elevar a miragem de um mundo melhor. A m�sica era sempre majest�tica, mesmo quando mergulhava nas profundezas da abjec��o.
Discografia
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