Formados em 1969, em pleno auge do Rock Progressivo, os Gentle Giant estavam muito pr�ximos de bandas como os Yes e os King Crimson, mas n�o tanto de outras bandas como os Emerson, Lake And Palmer ou os Nice. Nascidos das cinzas da banda de Rithm'n'Blues Simon Dupree & The Big Sound, os Gentle Giant tiveram na sua origem tr�s irm�os Shulman: Derek, Ray e Phil. Da forma��o da banda faziam tamb�m parte Kerry Minnear, Gary Green e Martin Smith. Ap�s abandonarem o estilo R&B, passaram a dedicar-se ao psicadelismo e a sons mais sinf�nicos, mudando o nome para Gentle Giant. Em 1970 assinam contrato discogr�fico com a editora Vertigo e gravam o LP "Gentle Giant" que mistura algum Hard-Rock com elementos de m�sica cl�ssica. No ano seguinte lan�am "Acquaring The Taste" que continha temas mais acess�veis a outro tipo de p�blico. O seu terceiro LP "Three Friends", com um novo baterista (Malcom Mortimore) foi o primeiro da banda a conseguir ser editado nos EUA. Ap�s a sa�da de Mortimore, os GG contratam como membro permanente John Weathers ( ex-Graham Bond Organization" e gravam "Octupus". Phil Shulman abandona a forma��o e torna-se professor . Com a forma��o reduzida a um quinteto gravam um novo LP, em 1973. Este disco intitulado "In A Glass House" foi o mais pesado que a banda gravaria, o que levou a que a editora recusasse a sua edi��o na Am�rica do Norte, alegando que n�o seria comercial. "The Power And The Glory", o novo LP sairia em 1974, atrav�s de um novo contrato discogr�fico, desta feita com a Capitol Records. Em 1975 gravam e editam "Free Hand", o seu registo mais comercial, a que se seguiu um mais experimental "Interview". Ainda gravariam "The Missing Piece" (77) e "Giant For A Day"(78), at� se decidirem p�r termo � carreira, em 1980, n�o sem que tenham tentado, sem sucesso, uma aproxima��o ao "mainstream" e , inclusive, ao Disco-Sound. Ap�s o fim da carreira Ray Shulman passou a produtor de nomes como os Sugarcubes e The Sundays e Derek Shulman tornou-se um executivo de uma companhia discogr�fica norte-americana. Para a hist�ria fica um punhado de bons discos e alguma da boa m�sica produzida pelos "progressivos", nos anos 70 e 80 do s�culo XX. Aristides Duarte
Os Gentle Giant foram uma das grandes bandas de rock progressivo da d�cada de 70. Criaram 12 �lbuns num per�odo de 10 anos,
cheios de m�sica complexa e maravilhosa que ainda cativam novos admiradores at� hoje.
Membros da banda Todos os membros da banda tocavam m�ltiplos instrumentos, apenas se referem os principais.
Derek Shulman - vocais principais, saxofone. Nascido em 11/02/1947, em Glasgow.
Quando se fala dos Gentle Giant � bom ter presente que se trata de um grupo que sempre cuidou do Rock com a mesma devo��o que o Jazz, a M�sica Sinf�nica, a M�sica Barroca e a M�sica Eletr�nica. Esta controvertida banda criou um dos estilos mais peculiares da M�sica Progressiva, pois englobaram e fundiram, na sua obra, elementos de M�sica Medieval, Renascentista, Barroca, Jazz, Rock e Eletr�nica de forma jamais vista, e tudo isso apoiado em sofisticadas e complexas t�cnicas de contraponto e harmonia, al�m de dissonantes arranjos vocais.
Thierry Chatain, na sua Pequena Hist�ria do Rock'n'Roll (na Hist�ria da M�sica Ocidental, de Jean & Brigitte Massin, editora Nova Fronteira), escreveu que os Gentle Giant s�o uma "esp�cie de orquestra de c�mara el�ctrica". Foram respons�veis por uma m�sica de mais dif�cil digest�o e de mais dif�cil consumo, que exige algumas atentas audi��es para habituar o ouvido e para que se "adquira o gosto" pela mesma, ou ent�o, para que se forme uma opini�o quanto a gostar ou n�o gostar; o contr�rio do que fizeram os Yes, os Genesis e os Emerson, Lake & Palmer, grupos mais sinf�nicos e autores de obras "um tanto mais 'acess�veis'" dentro do universo progressivo (principalmente os Yes).
Por tudo isso os Gentle Giant s�o um dos mais perfeitos exemplos da m�xima: "ou voc� o ama ou voc� o odeia".
A hist�ria deste ecl�tico grupo � basicamente a hist�ria dos irm�os Shulman e seus amigos, tendo o seu in�cio em Portsmouth, Inglaterra, local esse que veio a ser a resid�ncia da fam�lia Shulman quando se mudou de Glasgow. Os dois irm�os mais velhos, Phil e Derek Shulman, nasceram nos Gorbals de Glasgow, Esc�cia. O pai era um trompetista de Jazz que tocava � noite e actuava como representante de vendas durante o dia para sustentar a fam�lia. Os brothers Shulman contavam que a vida nos Gorbals era horr�vel, o que fez com que eles se mudassem para Portsmouth. Moravam em Eastney Road, Southsea, local onde o pai come�ou a dar aulas de m�sica. Devido ao magist�rio musical do Sr. Shulman, a casa vivia repleta de m�sicos. Foi nesse ambiente que nasceu o terceiro ter�o da semente do Gentle Giant, Ray Shulman.
Com a idade de cinco anos Ray come�ou a aprender a tocar trompete, passando ao violino aos sete. Quando tinha uns dez anos, ele e Derek j� tinham uma dupla caseira (Derek � cerca de tr�s anos mais velho que Ray). Nessa dupla, Ray era o violinista e Derek o guitarrista. O primeiro contato de Derek com o Rock aconteceu em 1963, quando os Beatles tocaram em Portsmouth. Derek faltou �s aulas no dia do espect�culo, escrevendo um bilhete falso em nome da sua m�e, dizendo que precisava de sair mais cedo porque estava doente. Ele teve tanta falta de sorte que a reportagem da TV apresentou-o em primeiro plano no notici�rio noturno daquele dia... A primeira experi�ncia musical semi-profissional dos dois ocorreu em 1965, com um grupo chamado "The Howling Wolves", que tentava tocar Rhythm & Blues, como os Stones. Como eles n�o tinham empres�rio, convidaram o irm�o Phil (cerca de dez anos mais velho que Derek) para a tarefa. Nessa �poca ele estava na escola preparando-se para o Magist�rio. O primeiro show que conseguiu para o grupo foi na sua pr�pria escola, pela cifra de dezoito libras. O grupo mudou ent�o seu nome para "Road Runners Rhythm And Blues" e conseguiu realizar uma s�rie de espect�culos. Phil entrou em cena como m�sico quando perceberam que, para ser um grande grupo de Rhythm & Blues, precisavam de um saxofonista. Phil concordou e comprou um sax e come�ou a aprender a tocar. Com o desenvolvimento de Phil como m�sico, decidiram arranjar outro empres�rio. Procuraram um sujeito em Portsmouth que tinha a fama de ser o "tal". O sujeito prometeu que os transformaria em super-estrelas se mudassem o nome do conjunto para "Simon Dupree & The Big Sound". Para assegurar as suas promessas, arranjou espect�culos em Southampton e Bournemouth. Mas os Shulmans come�aram a sentir que o melhor caminho a seguir era o Pop. Nessa altura tinham como empres�rio um produtor da BBC, John King. John levou-os para Bristol afim de realizarem uma modesta grava��o, uma fita "demo" de demonstra��o. John mostrou essa "demo" � EMI. Continha a m�sica I See The Light, dos Five Americans. A EMI por sua vez convidou o grupo para um espect�culo ao vivo. Derek conta que eles tocaram em frente de tr�s produtores, sentindo-se muito embara�ados. Mesmo assim a EMI assinou com eles um contrato de cinco anos. Com o contrato nas m�os, uma verdadeira fa�anha, procuraram uma ag�ncia de neg�cios. Arthur Howes os empresariou e conseguiu uma tourn� com Helen Shapiro e os Beach Boys. Nessa altura, I See The Light j� era um single tocando nas r�dios. Dois outros se seguiram: Reservations e Daytime Nightime.
Como essas m�sicas, de sua autoria, pareciam n�o resulta, pediram ao John King que arranjasse uma boa can��o. John conseguiu numa denominada Robbins Music uma m�sica chamada Kites. Derek conta que a m�sica era t�o ruim que quase anularam o neg�cio por causa do "grava/n�o grava". Conclus�o: fizeram um espect�culo no programa "Top Of The Pops" (da BBC), partiram para a Su�cia e quando voltaram Kites fazia sucesso. Chegou at� ao quinto lugar das tabelas inglesas.
Tentando fugir dessa situa��o, Derek e Ray gravaram secretamente um compacto com a m�sica We Are The Moles. Embora a inten��o da dupla Moles fosse atingir o sucesso, n�o conseguiram passar do 20� lugar nas tbelas inglesas. Isso fez com que continuassem tentando com o "Big Sound" at� ao fim do ano de 1969.
Mesmo depois de conseguirem um relativo �xito numa temporada realizada no clube Stockton Fiesta, resolveram dissolver a banda e fizeram um espect�culo de despedida, totalmente maluca, na Universidade de Bath. Esse espect�culo foi coroada com um bouqu� de rosas entregue por Adrian Henri, um poeta badalado no cen�rio de Liverpool.
De acordo com Derek, eles dissolveram a banda porque n�o estavam satisfeitos com os m�sicos que os acompanhavam e tamb�m porque se aborreceram com o nome "Simon Dupree". Por outras palavras, j� estava na hora de passar a limpo essa situa��o. E para passar a limpo alguma coisa em termos de vida, nada melhor do que um per�odo de reflex�o.
Embora o "Big Sound" n�o trouxesse satisfa��o musical e pessoal aos Shulmans, quando a banda acabou eles tinham dinheiro suficiente para descansarem um ano e formarem uma nova banda. Essa banda seria nada mais, nada menos que os Gentle Giant.
O "Simon Dupree" era um grupo pop, sem gra�a, e os Shulmans logo perceberam que com ele estavam insistindo numa tecla desafinada, principalmente quando analisavam o contexto ingl�s da �poca e sentiam o crescimento dos grupos progressistas. E assim decidiram criar os Gentle Giant.
Iniciaram os seus ensaios durante o ano de 1970 e segundo eles pr�prios, tiveram a sorte de serem apresentados por um amigo de Phil a um teclista de nome Kerry Minear. Kerry tinha uma excelente forma��o, recebida na Academia Real de M�sica, por onde tamb�m passou outro tecldista, Rick Wakeman (Strawbs, Yes).
Kerry acabara de voltar de uma malfadada viagem � Alemanha. Tinha ido l� com uma banda chamada Rust, cujo insucesso foi total e fez com que ficasse na mis�ria, ao ponto de precisar ser repatriado pelos pais. Essa brincadeira de mau gosto angustiou Minear durante cerca de quatro meses (em territ�rio alem�o) e quando os Shulmans o encontraram parecia um refugiado.
Kerry Minear, um dos m�sicos mais eruditos que o rock j� conheceu, come�ou a tocar piano aos sete anos de idade e antes de chegar � Academia Real teve algumas experi�ncias musicais em conjuntos. No primeiro deles tocava bateria, passando pouco depois � guitarra. Em casa gostava muito de cantar em dueto com seu pai. Na adolesc�ncia, achou que devia estudar m�sica cl�ssica, escrever, compor. Essa aspira��o fez com que ele chegasse a obter o grau em composi��o e reg�ncia na Academia, um t�tulo pouco comum e tamb�m dif�cil de ser conquistado, com conhecimento suficiente para comandar uma orquestra sinf�nica.
Com a forma��o jazz�stica que os Shulmans tinham recebido do seu pai, aliada � forma��o barroca e cl�ssica de Kerry Minear, nascia o n�cleo dos Giant. Quando Kerry veio a Portsmouth pela primeira vez, para ensaiar, trouxe consigo um guitarrista. Os Shulmans gostaram muito de Kerry, mas n�o sabiam como lhe dizer que o guitarrista n�o servia. Quando se encheram de coragem, Minear confessou que tamb�m n�o gostara dele. Atrav�s de an�ncios no jornal Melody Maker contrataram o guitarrista Gary Green e o baterista Martin Smith. Gary vinha de Stroud Green e foi um dos vinte e tantos guitarristas que eles ouviram atrav�s do an�ncio.
Com os tr�s Shulmans - Derek (guitarra, baixo, sax, violino e vocais), Phil (sax, trompete e vocais principais) e Ray (baixo, guitarra, violino e vocais) mais Gary Green (guitarras, sopros, percuss�o e vocais), Kerry Minnear (teclados, violoncelo, sopros, percuss�o e vocais) e Martin Smith (bateria), os Gentle Giant gravaram o seu primeiro LP, pela Vertigo. O produtor era o c�lebre Toni Visconti. O LP n�o fez o merecido sucesso na �poca, mas serviu para o grupo estabelecer um certo padr�o musical. Esse padr�o afirmar-se-ia ainda mais no segundo LP.
Um detalhe � que todos os membros cantavam, com os solos vocais a cargo principalmente de Derek (a voz hard-rock, de rock mais pesado, voz mais grave), Kerry (a voz suave, et�rea) e Phil (cuja voz se situa a meio das duas anteriores).
Quase todos os m�sicos que passaram pelos Gentle Giant eram virtuosos e grandes compositores. Kerry Minear, o teclista, � um dos melhores do mundo (tamb�m como melodista), apesar de subestimado, assim como acontece com Tony Banks, dos Genesis.
Este primeiro trabalho demonstrou claramente que o grupo valia tudo. Embora tingido com elementos de blues e soul brit�nico dos anos 1960, a m�sica � surpreendentemente original, oscilando entre o conjunto de rock e o conjunto de cordas. A
faixa de abertura, Giant, j� fala de um gigante (que est� na capa do �lbum), mas ainda n�o h� o nome deste personagem, defini��o esta que s� ocorre na primeira faixa do disco seguinte. O ouvinte atento perceber� uma cita��o de 'Liebestraum n� 3' de Franz Liszt (pianista e compositor h�ngaro do per�odo rom�ntico, que viveu entre 1811 e 1886) no meio de Nothing At All, e notar� que o efeito de reverbera��o, de tr�s para a frente, em Alucard, combina com o t�tulo da can��o ("Dracula" escrito de tr�s para a frente).
Logo nesta obra inicial o grupo registou um dos maiores hinos do Rock Progressivo: Funny Ways,
que conta com um quarteto de cordas. N�o existe show do Gentle Giant sem Funny Ways, assim como n�o existe show do Jethro Tull sem Aqualung.
The Queen � o hino ingl�s executado com ironia, evidenciando a tremenda
conota��o pol�tica (recorde-se que dois deles s�o escoceses, os irm�os Ray e
Phil Shulman). Este lan�amento trouxe ao grupo um certo reconhecimento,
principalmente nos pa�ses do continente europeu.
Este �lbum, assim como o anterior, tamb�m possui duas capas diferentes, sendo uma delas da autoria de Roger Dean, conhecido pelas capas que fez para os Yes.
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