Chico Xavier
Tocastes a época da desolação, em que os homens não mais
se compreendem uns aos outros. A morte de todos os
vossos ideais de concórdia, a falência dos vossos
institutos pró-paz requerem a atenção acurada da
Sociologia e esta somente poderá solucionar os problemas
que vos assoberbam, cheios de complexidades e
transcendência, com o estudo do Evangelho do Cristo,
porém, não segundo os ditames da convenção social, que
há muitos séculos vem transformando o ideal de perfeição
do Crucificado num acervo de exterioridades, que os
homens adotaram por questões de esnobismo ou de acordo
com os interesses da facção ou da personalidade.
Novos sistemas políticos, sobre as bases dos
nacionalismos que vêm criando no seio dos povos a
terrível autarquia, ou sobre os alicerces frágeis desse
comunismo que objetiva a extinção do sagrado instituto
da família, apenas correrão o orbe com a sua feição de
ideologias ocas, envenenando os espíritos e intoxicando
as consciências.
Os psicólogos, os pedagogos, os formados das novas
gerações, para entrarem na arena da luta a prol do
aperfeiçoamento de cada individualidade sobre a Terra,
terão de buscar a sua norma de ação dentro do próprio
Cristianismo, em sua simplicidade inicial, se não
quiserem que a Humanidade atinja a culminância dos
arrasamentos e das destruições.
As religiões literalistas passaram, desdobrando com as
suas filosofias, sobre a fronte da Humanidade, um manto
rico de fantasias e de concepções variadas, mas baldas
de essência e de espírito que lhes vivificassem os
ensinamentos.
A Igreja Católica, amigos, que tomou a si o papel de
zeladora das ideias e das realizações cristãs, pouco
após o regresso do Divino Mestre às regiões da Luz,
falhou lamentavelmente aos seus compromissos sagrados.
Desde o concílio ecumênico de Niceia, o Cristianismo vem
sendo deturpado pela influenciação dos sacerdotes dessa
Igreja, deslumbrados com a visão dos poderes temporais
sobre o mundo. Não valeu a missão sacrossanta do
iluminado da úmbria, tentando restabelecer a verdade e a
doutrina de piedade e de amor do Crucificado para que se
solucionasse o problema milenar da felicidade humana.
As castas, as seitas, as classes religiosas, a
intolerância do clericalismo constituíram enormes
barreiras a abafarem a voz das realidades cristãs. A
moral católica falhou aos seus deveres e às suas
finalidades. A Espanha atual, alimentada de catecismo
romano desde a sua formação, é bem, com os seus
incêndios e depredações de tudo o que fora feito, um
atestado da falência dos ensinamentos ou da orientação
de Roma para alcançar o desiderato do progresso coletivo
e da ética social.
Não nos é lícito influenciar os homens e as suas
instituições. Todavia, podemos apreciar a influência das
ideias sobre as massas, apreciando-lhes os resultados. É
o que desejamos evidenciar, solicitando vossa atenção
para o complexo de fenômenos dolorosos, de ordem social
e política, que vindes observando há alguns anos.
Fazendo-o, temos o objetivo de vos demonstrar a que
resultado conduziu os povos a deturpação da palavra do
Cristo, e a necessidade de voltar-se o raciocínio
individual e coletivo para a compreensão dos deveres que
dela decorrem.
O nosso propósito, na atualidade, é cooperar convosco
pela obtenção da paz e da concórdia no seio da
coletividade humana.
Agora, filhos, já não são mais os homens os donos do
trabalho, os senhores absolutos da tarefa. Tomando por
seus companheiros os de boa vontade que se acham aí no
planeta, buscando o aprimoramento anímico e psíquico
onde aí se encontrem, são os gênios do Espaço que, sob a
égide do Divino Mestre, vêm proclamar, por entre as
sociedades terrenas, as consoladoras verdades, as
grandiosas verdades.
Já agora, não mais se poderá abafar o ensinamento no
silêncio escuro dos calabouços, porquanto uma nova
concepção do direito e da liberdade felicita as
criaturas.
É em razão disso que os túmulos falam, que os mortos
voltam da sombra e do amontoado das cinzas, para
dizer-vos que a vida é o eterno presente e que a
imortalidade, dentro dos institutos da justiça
incorruptível, que nos observa e julga, é um fato
incontestável.
Conclamando os homens, nossos irmãos, trazemos a todos o
fruto abençoado de nossas penosas existências,
asseverando a cada um que o problema da paz e da
felicidade está solucionado no estatuto divino. Todas as
nossas atividades objetivam a revivescência do
Cristianismo na Terra, de modo que um templo se levante
em cada lar e um hostiário em cada coração.
Auxiliai-nos, trazendo-nos o concurso da vossa boa
vontade, de vosso querer; ajudai-nos em nossos
propósitos benditos de reedificação do Templo de Jesus,
de cujos altares os maus sacerdotes se descuidaram,
levados pelos cantos de sereia da vaidade e dos
interesses do mundo.
Que o Mestre abençoe a cada um de vós, fortalecendo-vos
a fé, para que possamos com Ele, com a sua proteção e a
sua misericórdia, vencer na luta em que nos achamos
empenhados.