Chico Xavier
Nos últimos tempos, a sede humana de saber o que existe
além da Terra tem feito com que o homem engendre as mais
fantasiosas teorias concernentes aos mistérios do ser e
do destino, sobre o orbe terreno; no afã de estraçalhar
os véus espessos que cobrem os enigmas da sua evolução,
muitos foram os que descambaram para terrenos perigosos,
onde encontram apenas os espinhos do ateísmo
dissolvente. Esses Espíritos que, torturados com os
problemas da vida, aí se entregam à criação de
engenhosos sistemas, afiguram-se-nos desesperados à
porta da sabedoria, orgulhosos na sua impotência e na
sua incapacidade.
Muitos deles, anos e anos, persistem no mesmo trabalho e
no mesmo esforço, alegando não terem encontrado o
espírito em suas indagações científicas, abandonando a
vida material com um passado que os encobre pela
atividade, bem-intencionada, por eles despendida, mas
desolados, em reconhecendo infrutuosos os seus esforços,
que outra coisa não conseguiram senão lançar a descrença
e a confusão nas almas.
Reconhecem, então, a insuficiência sensorial que lhes
obstava a compreensão do verdadeiro panorama da vida, no
seu desdobramento universal; sentem a exiguidade dos
sentidos do homem carnal e a relatividade de suas
funções, ao penetrarem no domínio de vibrações que se
lhes conservaram inacessíveis, chegando à conclusão de
que as filosofias não podem ser substituídas pelas
ciências positivas, e que sobre o mundo físico e
objetivo paira uma região transcendente, onde a
investigação não se pode fazer sentir, à falta de
elementos de ordem material.
É inútil a tentativa de afastamento do Espírito na obra
da evolução terrena. É ele, desde os primórdios da
Civilização, a alma de todas as realizações; e
indestrutível é a doutrina biológica do vitalismo,
porque o sistema do monismo e o mecanicismo da seleção
natural, se satisfazem a algumas questões insuladas, não
resolvem os problemas mais importantes da vida.
O princípio das espécies, a origem dos instintos, as
organizações primitivas das raças, das sociedades e das
leis, só as teorias espiritualistas explicam
satisfatoriamente.
Já não nos referindo aos poderes plásticos do Espírito,
no tocante às questões fisiológicas, quais sejam as dos
fenômenos osmóticos, a autonomia de certos órgãos que
parecem independentes na sua ação dentro do organismo, o
trabalho da célula que fabrica a antitoxina apta a
destruir o micróbio que a ataca, a estrutura do
princípio fetal, os sinais de nascença que a Ciência tem
negado, baseando-se na ausência de ligação nervosa entre
o feto e o organismo materno, desçamos ao mundo
zootécnico. Somente a intervenção do princípio
espiritual explica as metamorfoses dos insetos, o
mimetismo, como o embrião dos instintos e das
possibilidades do futuro. Tudo, nos domínios da matéria,
se concatena e se reúne, sob a orientação de um
princípio estranho às suas qualidades amorfas.
A matéria não organiza, é organizada. E não representa
senão uma modalidade da energia esparsa no Universo. Os
seus elementos não fazem outra coisa senão submeter-se
às injunções do Espírito; e é a soberana influência
deste último que elucida todos os problemas intrincados
dos seres e dos destinos, É ao seu apelo, cedendo aos
seus desejos, que todas as matérias brutas se vêm
rarefazendo, oferecendo aspectos novos e delicados. A
Civilização, as conquistas científicas e as concepções
religiosas representam o fruto dos labores dos Espíritos
que, na Terra, se iniciaram nos trabalhos que regeneram
e aperfeiçoam. O que lhes compete, na atualidade é o não
estacionamento nos domínios conquistados, laborando para
que os ideais de justiça, de verdade e de paz se
concretizem na face do orbe. É nessa tarefa bendita que
devem concentrar os seus esforços para que o planeta
terrestre não veja sucumbir, na aluvião de insânias das
guerras, o seu patrimônio de progressos obtidos à custa
de trabalhos penosos e ingentes sacrifícios.