Chico Xavier
Felizes daqueles que, saturados de boa vontade e de fé,
laboram devotadamente para que se espalhe no mundo a Boa
Nova da imortalidade. Compreendendo a necessidade da
renúncia e da dedicação, não repararam nas pedras e nos
acúleos do caminho, encontrando nos recantos do seu
mundo interior os tesouros do auxílio divino. Acendem
nos corações a luz da crença e das esperanças, e se, na
maioria das vezes, seguem pela estrada incompreendidos e
desprezados, o Senhor enche com a luz do seu amor os
vácuos abertos pelo mundo em suas almas, vácuos feitos
de solidão e desamparo.
Infelizmente, a Terra ainda é o orbe da sombra e da
lágrima, e toda tentativa que se faz pela difusão da
verdade, todo trabalho para que a luz se esparja
fartamente encontram a resistência e a reação das trevas
que vos cercam. Dai nascem as tentações que vos
assediam, e partem as ciladas em que muitos sucumbem, à
falta da oração e da vigilância apregoada no Evangelho.
Os médiuns, em sua generalidade, não são missionários na
acepção comum do termo; são almas que fracassaram
desastradamente, que contrariaram, sobremaneira, o curso
das leis divinas, e que resgatam, sob o peso de severos
compromissos e ilimitadas responsabilidades, o passado
obscuro e delituoso. O seu pretérito, muitas vezes, se
encontra enodoado de graves deslizes e de erros
clamorosos. Quase sempre, são Espíritos que tombaram dos
cumes sociais, pelos abusos do poder, da autoridade, da
fortuna e da inteligência, e que regressam ao orbe
terráqueo para se sacrificarem em favor do grande número
de almas que desviaram das sendas luminosas da fé, da
caridade e da virtude. São almas arrependidas que
procuram arrebanhar todas as felicidades que perderam,
reorganizando, com sacrifícios, tudo quanto esfacelaram
nos seus instantes de criminosas arbitrariedades e de
condenável insânia.
As existências dos médiuns, em geral, têm constituído
romances dolorosos, vidas de amargurosas dificuldades,
em razão da necessidade do sofrimento reparador; suas
estradas, no mundo, estão repletas de provações, de
continências e desventuras. Faz-se, porém, necessário
que reconheçam o ascetismo e o padecer, como belas
oportunidades que a magnanimidade da Providência lhes
oferece, para que restabeleçam a saúde dos seus
organismos espirituais, combalidos nos excessos de vidas
mal orientadas, nas quais se embriagaram à saciedade com
os vinhos sinistros do vício e do despotismo.
Humilhados e incompreendidos, é preciso que reconheçam
todos os benefícios emanantes das dores que purificam e
regeneram, trabalhando para que representem, de fato, o
exemplo da abnegação e do desinteresse, reconquistando a
felicidade perdida.
Todos os médiuns, para realizarem dignamente a tarefa a
que foram chamados a desempenhar no planeta, necessitam
identificar-se com o ideal de Jesus, buscando para
alicerce de suas vidas o ensinamento evangélico, em sua
divina pureza; a eficácia de sua ação depende do seu
desprendimento e da sua caridade, necessitando
compreender, em toda a amplitude, a verdade contida na
afirmação do Mestre: “Dai de graça o que de graça
receberdes”.
Devendo evitar, na sociedade, os ambientes nocivos e
viciosos, podem perfeitamente cumprir seus deveres em
qualquer posição social a que forem conduzidos, sendo
uma de suas precípuas obrigações melhorar o seu meio
ambiente com o exemplo mais puro de verdadeira
assimilação da doutrina de que são pregoeiros.
Não deverão encarar a mediunidade como um dom ou como um
privilégio, mas sim como bendita possibilidade de
reparar seus erros de antanho, submetendo-se, dessa
forma, com humildade, aos alvitres e conselhos da
Verdade, cujo ensinamento está, frequentemente, numa
inteligência iluminada que se nos dirige, mas que se
encontra igualmente numa provação que, humilhando,
esclarece ao mesmo tempo o espírito, enchendo-lhe o
íntimo com as claridades da experiência.
O problema das mistificações não deve impressionar os
que se entregam às tarefas mediúnicas, os quais devem
trazer o Evangelho de Jesus no coração. Estais muito
longe ainda de solucionar as incógnitas da ciência
espírita, e se aos médiuns, às vezes, torna-se preciso
semelhante prova, muitas vezes os acontecimentos dessa
natureza são também provocados por muitos daqueles que
se socorrem das suas possibilidades.
Tende o coração sempre puro. E com a fé, com a pureza de
intenções, com o sentimento evangélico, que se podem
vencer as arremetidas dos que se comprazem nas trevas
persistentes, é preciso esquecer os investigadores
cheios do espírito de mercantilismo!…
Permanecei na fé, na esperança e na caridade em Jesus
Cristo, jamais olvidando que só pela exemplificação
podereis vencer.
Médiuns, ponderai as vossas obrigações sagradas! Preferi
viver na maior das provações a cairdes na estrada larga
das tentações que vos atacam, insistentemente, em vossos
pontos vulneráveis. Recordai-vos de que é preciso
vencer, se não quiserdes soterrar a vossa alma na
escuridão dos séculos de dor expiatória. Aquele que se
apresenta no Espaço como vencedor de si mesmo é maior
que qualquer dos generais terrenos, exímio na estratégia
e tino militares. O homem que se vence faz o seu corpo
espiritual apto a ingressar em outras esferas e,
enquanto não colaborardes pela obtenção desse organismo
etéreo, através da virtude e do dever comprido, não
saireis do círculo doloroso das reencarnações.