HÁ MUITAS MORADAS NA CASA DE MEU PAI
Diferentes estados da alma na erraticidade.
- Diferentes categorias de mundos habitados. - Destinação da
Terra. Causas das misérias terrenas. - Instruções dos
Espíritos: Mundos superiores e mundos inferiores. - Mundos de
expiações e de provas. - Mundos regeneradores. - Progressão
dos mundos.
1. Não se turbe o vosso coração. - Credes em Deus, crede
também em mim. Há muitas moradas na casa de meu Pai; se assim
não fosse, já eu vo-lo teria dito, pois me vou para vos
preparar o lugar. - Depois que me tenha ido e que vos houver
preparado o lugar, voltarei e vos retirarei para mim, a fim de
que onde eu estiver, também vós aí estejais. (São João, CAP.
XIV, v. 1 a 3.)
Diferentes estados da alma na erraticidade
2. A casa do Pai é o Universo. As diferentes moradas são os
mundos que circulam no espaço infinito e oferecem, aos
Espíritos que neles encarnam, moradas correspondentes ao
adiantamento dos mesmos Espíritos.
Independente da diversidade dos mundos, essas palavras de
Jesus também podem referir-se ao estado venturoso ou
desgraçado do Espírito na erraticidade. Conforme se ache este
mais ou menos depurado e desprendido dos laços materiais,
variarão ao infinito o meio em que ele se encontre, o aspecto
das coisas, as sensações que experimente, as percepções que
tenha. Enquanto uns não se podem afastar da esfera onde
viveram, outros se elevam e percorrem o espaço e os mundos;
enquanto alguns Espíritos culpados erram nas trevas, os
bem-aventurados gozam de resplendente claridade e do
espetáculo sublime do Infinito; finalmente, enquanto o mau,
atormentado de remorsos e pesares, muitas vezes insulado, sem
consolação, separado dos que constituíam objeto de suas
afeições, pena sob o guante dos sofrimentos morais, o justo,
em convívio com aqueles a quem ama, frui as delícias de uma
felicidade indizível. Também nisso, portanto, há muitas
moradas, embora não circunscritas, nem localizadas.
Diferentes categorias de mundos habitados
3. Do ensino dado pelos Espíritos, resulta que muito
diferentes umas das outras são as condições dos mundos, quanto
ao grau de adiantamento ou de inferioridade dos seus
habitantes. Entre eles há-os em que estes últimos são ainda
inferiores aos da Terra, física e moralmente; outros, da mesma
categoria que o nosso; e outros que lhe são mais ou menos
superiores a todos os respeitos. Nos mundos inferiores, a
existência é toda material, reinam soberanas as paixões, sendo
quase nula a vida moral. A medida que esta se desenvolve,
diminui a influência da matéria, de tal maneira que, nos
mundos mais adiantados, a vida é, por assim dizer, toda
espiritual.
4. Nos mundos intermédios, misturam-se o bem e o mal,
predominando um ou outro, segundo o grau de adiantamento da
maioria dos que os habitam. Embora se não possa fazer, dos
diversos mundos, uma classificação absoluta, pode-se contudo,
em virtude do estado em que se acham e da destinação que
trazem, tomando por base os matizes mais salientes,
dividi-los, de modo geral, como segue: mundos primitivos,
destinados às primeiras encarnações da alma humana; mundos de
expiação e provas, onde domina o mal; mundos de regeneração,
nos quais as almas que ainda têm o que expiar haurem novas
forças, repousando das fadigas da luta; mundos ditosos, onde o
bem sobrepuja o mal; mundos celestes ou divinos, habitações de
Espíritos depurados, onde exclusivamente reina o bem. A Terra
pertence à categoria dos mundos de expiação e provas, razão
por que aí vive o homem a braços com tantas misérias.
5. Os Espíritos que encarnam em um mundo não se acham a ele
presos indefinidamente, nem nele atravessam todas as fases do
progresso que lhes cumpre realizar, para atingir a perfeição.
Quando, em um mundo, eles alcançam o grau de adiantamento que
esse mundo comporta, passam para outro mais adiantado, e assim
por diante, até que cheguem ao estado de puros Espíritos. São
outras tantas estações, em cada uma das quais se lhes deparam
elementos de progresso apropriados ao adiantamento que já
conquistaram. É-lhes uma recompensa ascenderem a um mundo de
ordem mais elevada, como é um castigo o prolongarem a sua
permanência em um mundo desgraçado, ou serem relegados para
outro ainda mais infeliz do que aquele a que se veem impedidos
de voltar quando se obstinaram no mal.
Destinação da Terra – Causas das misérias humanas
6. Muitos se admiram de que na Terra haja tanta maldade e
tantas paixões grosseiras, tantas misérias e enfermidades de
toda natureza, e daí concluem que a espécie humana bem triste
coisa é. Provém esse juízo do acanhado ponto de vista cm que
se colocam os que o emitem e que lhes dá uma falsa ideia do
conjunto. Deve-se considerar que na Terra não está a
Humanidade toda, mas apenas uma pequena fração da Humanidade.
Com efeito, a espécie humana abrange todos os seres dotados de
razão que povoam os inúmeros orbes do Universo.
Ora, que é a população da Terra, em face da população total
desses mundos? Muito menos que a de uma aldeia, em confronto
com a de um grande império. A situação material e moral da
Humanidade terrena nada tem que espante, desde que se leve em
conta a destinação da Terra e a natureza dos que a habitam.
7. Faria dos habitantes de uma grande cidade falsíssima ideia
quem os julgasse pela população dos seus quarteirões mais
íntimos e sórdidos. Num hospital, ninguém vê senão doentes e
estropiados; numa penitenciária, veem-se reunidas todas as
torpezas, todos os vícios; nas regiões insalubres, os
habitantes, em sua maioria são pálidos, franzinos e
enfermiços. Pois bem: figure-se a Terra como um subúrbio, um
hospital, uma penitenciaria, um sítio malsão, e ela é
simultaneamente tudo isso, e compreender-se-á por que as
aflições sobrelevam aos gozos, porquanto não se mandam para o
hospital os que se acham com saúde, nem para as casas de
correção os que nenhum mal praticaram; nem os hospitais e as
casas de correção se podem ter por lugares de deleite.
Ora, assim como, numa cidade, a população não se encontra toda
nos hospitais ou nas prisões, também na Terra não está a
Humanidade inteira. E, do mesmo modo que do hospital saem os
que se curaram e da prisão os que cumpriram suas penas, o
homem deixa a Ferra, quando está curado de suas enfermidades
morais.