Chico Xavier
Minhas palavras de hoje são dirigidas aos que ingressam
nos estudos espiritistas, tangidos pelos azorragues
impiedosos do sofrimento; no auge das suas dores,
recorreram ao amparo moral que lhes oferecia a doutrina
e sentiram que as tempestades amainavam... Seus corações
reconhecidos voltaram-se então para as coisas
espirituais; todavia, os tormentos não desapareceram.
Passada uma trégua ligeira, houve recrudescência de
prantos amargos.
Experimentando as mesmas torturas, sentem-se vacilantes
na fé e baldas do entusiasmo das primeiras horas e é
comum ouvirem-se as suas exclamações: – “Já não tenho
mais fé, já não tenho mais esperanças”… Invencível
abatimento invade-lhes os corações tíbios e
enfraquecidos na luta, desamparados na sua vontade
titubeante e na sua inércia espiritual.
Essas almas não puderam penetrar o espírito da doutrina,
vogando apenas entre as águas das superficialidades.
O moderno Espiritualismo não vem revogar as leis
diretoras da evolução coletiva. As suas concepções
avançadas representam um surto evolutivo da Humanidade,
uma época de mais compreensão dos problemas da vida, sem
oferecer talismãs ou artes mágicas, com a pretensão de
derrogar os estatutos da Natureza. Desvenda ao homem um
fragmento dos véus que encobrem o destino do ser imortal
e ensina-lhe que a luta é o veículo do seu progresso e
da sua redenção.
Traz consigo o nobre objetivo de enriquecer, com as suas
benditas claridades, os homens que as aceitam, longe da
vaidade de prometer-lhes fortunas e gozos terrestres,
bens temporais que apenas servem para fortificar as
raízes do egoísmo em seus corações, agrilhoando-os ao
potro das gerações dolorosas.
Pergunta-se, às vezes, por que razão não obstam os
Espíritos esclarecidos, que em todos os tempos
acompanham carinhosamente a marcha dos acontecimentos do
orbe, as guerras que dizimam milhões de existências e
empobrecem as coletividades, influenciando os diretores
de movimentos subversivos nos seus planos de gabinete;
inquire-se o porquê das existências amarguradas e
aflitas de muitos dos que se dedicam ao Espiritismo,
dando-lhes o melhor de suas forças, e sempre torturados
pelas provas mais amargas e pelos mais acerbos
desgostos. Daqui, contemplamos melancolicamente essas
almas desesperadas e desiludidas, que nada sabem
encontrar além das puerilidades da vida.
Em desencarnando, não entra o Espírito na posse de
poderes absolutos. A morte significa apenas uma nova
modalidade de existência, que continua, sem milagres e
sem saltos. É necessário encarar-se a situação dos
desencarnados com a precisa naturalidade. Não há forças
miraculosas para os seres humanos, como não existem
igualmente para nós. O livre-arbítrio relativo nunca é
ab-rogado em todos nós; em conjunto, somos obrigados, em
qualquer plano da vida, a trabalhar pelo nosso próprio
adiantamento.
Faz-se preciso que o homem reconheça a necessidade da
luta, como a do pão cotidiano.
A crença deve ser a bússola, o farol nas obscuridades
que o rodeiem na existência passageira e a prece deve
ser cultivada, não para que sejam revogadas as
disposições da lei divina, mas a fim de que a coragem e
a paciência inundem o coração de fortaleza nas lutas
ásperas, porém necessárias.
A alma, em se voltando para Deus, não deve ter em mente
senão a humildade sincera na aceitação de sua vontade
superior.
Almas enfraquecidas, que tendes, muitas vezes, sentido
sobre a fronte o sopro frio da adversidade, que tendes
vertido muitos prantos nas jornadas difíceis em estradas
de sofrimentos rudes, buscai na fé os vossos
imperecíveis tesouros.
Bem sei a intensidade da vossa angústia e sei de vossa
resistência ao desespero. Ânimo e coragem! No fim de
todas as dores, abre-se uma aurora de ventura imortal;
dos amargores experimentados, das lições recebidas, dos
ensinamentos conquistados à custa de insano esforço e de
penoso labor, tece a alma sua auréola de eternidade
gloriosa; eis que os túmulos se quebram e da paz cheia
de cinzas e sombras dos jazigos, emergem as vozes
comovedoras dos mortos. Escutai-as!... Elas vos dizem da
felicidade do dever cumprido, dos tormentos da
consciência nos desvios das obrigações necessárias.
Orai, trabalhai e esperai. Palmilhai todos os caminhos
da prova com destemor e serenidade. As lágrimas que
dilaceram, as mágoas que pungem, as desilusões que
fustigam o coração, constituem elementos atenuantes da
vossa imperfeição, no tribunal augusto, onde pontifica o
mais justo, magnânimo e íntegro dos juízes. Sofrei e
confiai, que o silêncio da morte é o ingresso para uma
outra vida, onde todas as ações estão contadas e
gravadas as menores expressões dos nossos pensamentos.
Amai muito, embora com amargos sacrifícios, porque o
amor é a única moeda que assegura a paz e a felicidade
no Universo.