Chico Xavier
Somente fora da existência material podeis refletir
acertadamente sobre a verdade.
Apenas a vida espiritual é verdadeira e eterna.
E estais certos de que, com a satisfação dos menores
caprichos sobre a face do mundo, poderíeis adquirir
elementos meritórios para a existência real? O gozo
reiterado não vos enlaçaria, mais ainda, na trama da
carne passageira? Sabeis se poderíeis suportar a riqueza
sem os desregramentos, a mesa lauta sem os desvios da
gula, a posse sem o egoísmo, o bem-estar próprio com o
interesse caridoso pela sorte dos outros seres?
Ponderai tudo isso e descobrireis o motivo pelo qual a
quase totalidade dos seres humanos escolheu o cenário
obscuro e triste das dores para argamassar o tesouro de
suas felicidades imorredouras e o patrimônio de suas
aquisições espirituais.
Várias vezes já têm sido repetidos os ensinamentos que
estou transmitindo sobre as provações terrenas de cada
indivíduo.
Muito antes da encarnação, o Espírito faz o cômputo de
suas possibilidades, estuda o caminho que melhor se lhe
afigura na luta da perfectibilidade e, de acordo com as
suas vocações e segundo o grau de evolução já alcançado,
escolhe, em plena posse de sua consciência, a estrada
que se lhe desenha no porvir, fecunda de progressos
espirituais.
Dentro do infinito do Universo e com as faculdades
integrais do seu próprio “eu”, reconhece a alma que
somente a luta lhe oferta inúmeras possibilidades de
evolução, em todos os setores da atividade humana; e,
daí, a preferência pelos ambientes de dor e privação,
abençoados corretivos que a Providência lhe oferece para
a redenção do passado ou para o desenvolvimento das suas
forças latentes e imprecisas; cada Espírito,
voluntariamente, escolhe as suas sendas futuras,
conforme o seu progresso e de acordo com os desígnios
superiores.
Na existência corporal, todavia, a alma sente a memória
obscurecida, num olvido quase total do passado, a fim de
que os seus esforços se valorizem; a consciência então é
fragmentária, parcial, porquanto as suas faculdades
estão eclipsadas pelos pesados véus da matéria, os quais
atenuam ao mínimo as suas vibrações, constituindo,
porém, esses poderes prodigiosos, mas ocultos, as
extraordinárias possibilidades da vasta subconsciência,
que os cientistas do século estudam acuradamente.
Tais forças e progressos adquiridos, o Espírito jamais
os perde; são parte integrante do seu patrimônio e, na
vida material, podem emergir no exercício da
mediunidade, nas hipnoses profundas, ou em outras
circunstâncias que facilitam o desprendimento temporário
dos elementos psíquicos.
Isoladamente, cada um tem no planeta o mapa das suas
lutas e dos seus serviços. O berço de todo homem é o
princípio de um labirinto de tentações e de dores,
inerentes à própria vida na esfera terrestre, labirinto
por ele mesmo traçado e que necessita palmilhar com
intrepidez moral.
Portanto, qualquer alma tem o seu destino traçado sob o
ponto de vista do trabalho e do sofrimento, e, sem
paradoxos, tem de combater com o seu próprio destino,
porque o homem não nasceu para ser vencido; todo
espírito labora para dominar a matéria e triunfar dos
seus impulsos inferiores.
É dessa verdade que necessitais convencer-vos. Existe a
provação e faz-se mistér não se entregar inteiramente a
ela. O espírito ordena e o corpo obedece. A luta é o
meio para o êxito na conquista da vida. E a vida
integral não é a existência terrena, repleta de
vicissitudes sem conta; é a glorificação do amor, da
atividade, da luz, de tudo quanto é nobre e belo no
Universo; e a consciência é o laço que liga cada
espírito a esse “nec plus ultra” que denominamos – a
Eternidade.