Chico Xavier
A Civilização Ocidental está em crise; os observadores e
os sociólogos trazem, para o amontoado de várias
considerações, o resultado dos seus estudos. Alguns
proclamam que toda civilização tem a fragilidade de uma
vida; outros aventam hipóteses mais ou menos aceitáveis,
e alguns apelam para a cristianização dos espíritos.
Estes últimos estão acertados em seus pareceres;
todavia, não no sentido de um retorno à Idade Média, à
preponderância da fradaria, à disseminação dos
princípios católico-romanos; mas no de se organizar, de
fato, no mundo, um espírito cristão sobre a base do
Evangelho. As novas experiências da Europa, em matéria
de política administrativa, não poderão conduzi-la senão
aos movimentos armados, inevitáveis. Dentro das
vibrações antagônicas do fascismo e do bolchevismo,
fórmulas transitórias de atividades políticas do Velho
Mundo, todos os que falam em decadência do liberalismo
estão errados. Os governos fortes da atualidade, tenham
eles os rótulos de nacionalismo ou internacionalismo,
hão de voltar-se, do círculo de suas experiências, para
as conquistas liberais do espírito humano, caminhando
com essas conquistas na sua estrada evolutiva,
progredindo e avançando para o socialismo cristão do
porvir.
Terminada a última guerra, todos os povos ponderaram a
necessidade de paz, dentro de uma política regeneradora.
Esgotadas e empobrecidas, as nações europeias
idealizaram tratados, conferências e institutos que
equilibrassem o continente, prevenindo-se contra a
possibilidade de futuros arrasamentos. Alterou-se a
carta geográfica do mundo europeu repartindo-se
colônias, criou-se uma literatura antibélica e
iniciaram-se novas experiências políticas com a formação
das repúblicas soviéticas. Mas a verdade é que cada país
multiplicou os seus organismos de guerra; cada qual
pensou na paz, trabalhando na sombra para as lutas do
porvir. E quando, depois de anos a fio de conversações
diplomáticas e de citações de determinados artigos dos
supostos estatutos da tranquilidade coletiva, caíram os
sonhos de um desarmamento geral e diminuíram em eficácia
os processos da Sociedade de Genebra, o mundo viu
aterrado, aumentar os efetivos das forças armadas de
todas as nações.
Vê-se, mais que nunca, que toda a vida do Ocidente
depende da guerra. Milhares de operários têm suas
atividades postas ao serviço da manufatura das armas
homicidas. Milhares de homens estão empregados no
trabalho de militarização. Milhares de criaturas se
movimentam e ganham o pão cotidiano nas indústrias
guerreiras.
A civilização está em crise porque conheceu a sua
sentença de destruição. A guerra, no seu mecanismo
industrial, econômico e político, é imprescindível e
inevitável.
Comunismo e fascismo, nas suas oposições ideológicas, só
poderão apressá-la.
Ainda há pouco tempo, um jovem europeu exclamava para um
colega americano: “Ai de nós! se nos prepararmos pelo
estudo para a luta de nossas próprias edificações! Bem
sabemos que o Estado exigirá, amanhã, as nossas vidas.
Temos de rir e beber para esquecer essas fatalidades
irremediáveis”.
Essa observação caracteriza, de fato, as calamidades
morais da sociedade moderna.
A ausência de um apoio espiritual estabelece a vacilação
moral das criaturas. O sentimento dos homens requer uma
base religiosa, e a transformação de quase todos os
valores religiosos do Velho Mundo, em forças de política
transitória, deu causa às fundas inquietações
contemporâneas. As criaturas vivem a sua tragédia de
pessimismo e descrença, à sombra dos governos de
experiências tão penosas às coletividades e
encaminham-se, com indiferença, para a subversão e para
a desordem.
A Civilização está em crise, repetimos com os
observadores do mundo. Pode-se apontar como uma das
causas desse estado caótico a defecção espiritual da
Igreja Católica, negando-se a cumprir as determinações
divinas para disputar um lugar de dominação, no banquete
dos poderes temporários do mundo. Se houvesse mantido a
sua posição espiritual, fortificando as almas no seu
longo caminho evolutivo, como mediadora entre o Céu e a
Terra, as transições sociais, inevitáveis, não seriam
tão penosas para as gerações do século XX. A
estabilidade da Civilização Ocidental, sua evolução para
o socialismo de Jesus, dependiam da fidelidade da Igreja
Católica aos princípios cristãos.
Mas, a Igreja negou-se ao cumprimento de sua grandiosa
missão espiritual e o resultado temo-lo na desesperação
das almas humanas, em face dos problemas transcendentes
da vida.
A luta está travada.
A Civilização em crise, organizada para a guerra e
vivendo para a guerra, há de cair inevitavelmente; mas o
futuro nascerá dos seus escombros, para ver o novo ciclo
d Humanidade, sem os extremismos antirracionais, na
época gloriosa da justiça econômica.
Não duvidemos, dentro da nossa certeza incontestável. O
porvir humano pertence à vitória do Evangelho.