Chico Xavier
Grande é a tortura dos seres racionais que, no mundo
terráqueo, buscam guarda para as suas aspirações de
progresso, porquanto, do berço ao túmulo, suas
existências representam grande soma de esforços
combatendo com a Natureza inconstante, com as mais
diversas condições climatéricas, arrasadoras da saúde e
causas de um combate acérrimo da parte do homem, porque
não lhe é possível viver em afinidade perfeita com a
natureza submetida às mais bruscas mutações, sendo
obrigado a criar a sua moradia, organizar a sua
habitação, que representa, de fato, a sua escravidão
primeira, impedindo-lhe uma existência cheia de harmonia
e espontaneidade.
O vosso mundo vos obriga a uma vida artificial, já que
sois obrigados a buscar, cotidianamente, o sustento do
corpo que se gasta e consome nessa batalha sem tréguas.
Nele, as mais belas faculdades espirituais são
frequentemente sufocadas, em virtude das mais imperiosas
necessidades da matéria.
Que se calem os que puderem descobrir a vida apenas em
vossa obscura penitência de náufragos morais.
Por que razão a Vontade Divina colocaria na amplidão
essas plagas longínquas?
Enxergar nesses mundos distantes somente objetos de
estudo da vossa Astronomia é um erro; eles estão, às
vezes, regulados por forças mais ou menos idênticas às
que controlam a vossa vida. Em sua superfície
observam-se os fenômenos atmosféricos e outros, cuja
explicação é inacessível ao vosso entendimento. Por que
os formaria o Criador para o ermo do silêncio e do
deserto? Podereis conceber cidades bem construídas,
abarrotadas de tesouros e magnificências, apodrecendo
sem habitantes?
Há mundos incontáveis e muitos deles formados de fluidos
rarefeitos, inatingíveis, na atualidade, pelos vossos
instrumentos de ótica.
A terra não representa senão um detalhe obscuro no
ilimitado da Vida, região da amargura, da provação e do
exílio; constituindo, porém, uma plaga de sombras,
varrida, muitas vezes, pelos cataclismos do infortúnio e
da destruição, deve representar, para todos quantos a
habitam, uma abençoada escola, onde se regenera o
Espírito culpado e onde ele se prepara, demandando
glorioso porvir.
Significa um dever de todo homem o trabalho próprio, no
sentido de atenuar as más condições do seu meio
ambiente, aplainando todas as dificuldades de ordem
material e moral, porquanto a evolução depende de todos
os esforços individuais no conjunto das coletividades.
Forças ocultas, leis desconhecidas, esperam que a alma
humana delas se utilize e, à medida que se espalhe o
progresso moral, mais os homens se beneficiarão na fonte
bendita do conhecimento.
Para a Humanidade terrestre a revelação de outras
pátrias do firmamento, fragmentos da Pátria Universal,
não deve constituir uma razão para desânimo de quantos
se entregam aos labores profícuos do estudo. Os
desequilíbrios que se verificam no orbe terreno obedecem
a uma lei de justiça, acima de todas as coisas
transitórias; e, além disso, a primeira obrigação de
todo homem é colaborar, em todos os minutos de sua
passageira existência, em prol da melhoria do seu
próximo, consciente de que trabalhar a benefício de
outrem é engrandecer-se.
O conhecimento das condições perfeitas da vida em outros
mundos, não deve trazer abatimento aos extremistas do
ideal. Semelhante verdade deve encher o coração humano
de sagrados estímulos.
Saudai, pois, o concerto da vida, do seio dos vossos
combates salvadores!...
Sóis portentosos, luzes policrômicas, mundos
maravilhosos, existem embalados pelas harmonias que a
perfeição eleva à Entidade Suprema!...
Além do Grande Cão, da Ursa, de Hércules, outras
constelações testam a grandeza divina. Os firmamentos
sucedem-se ininterruptamente nas amplidões etéreas, mas
Humanidade, para Deus, é uma só e o laço do seu amor
reúne todos os seres.