Chico Xavier
Vários autores não têm visto, na extensa bibliografia
dos escritores mediúnicos, senão reflexos da alma dos
médiuns, emersões da subconsciência, que impelem os mais
honestos a involuntárias mistificações.
Excetuando-se alguns casos esporádicos, em que abundam
os elementos prestantes à identificação, as mensagens
mediúnicas são repositórios de advertências morais, cuja
repetição se lhes afigura soporífera. Todavia, erram os
que formulam semelhantes juízos.
Diminuta é a percentagem dos intrínsecos, já que todo o
mediunismo, ainda que na materialização e no automatismo
perfeitos, se baseia no Espiritismo e Animismo
conjugados.
Os desencarnados não podem imiscuir-se na vida material
com a plenitude das faculdades readquiridas e o médium,
por sua vez, frequentemente, em vista das suas condições
e circunstâncias, está impossibilitado de corresponder à
potencialidade vibratória daqueles que o procuram para
veicular o seu pensamento. A alma, emancipada dos liames
terrestres, integra a comunidade do outro mundo, que não
é o da carne, e, daí, a necessidade imprescindível de
submeter-se às condições de ordem material para se
manifestar; esse fato constitui uma dificuldade
extraordinária à consciência depurada, que já desferiu o
voo altíssimo aos denominados planos felizes do
Universo, dificuldade que essa adaptação à materialidade
implica.
A comunhão dos dois mundos, o físico e o invisível,
está, pois, baseada nos mais sutis elementos de ordem
espiritual. Por essa razão, as luminosas mensagens dos
grandes mentores da Humanidade são inspiradas aos seres
terrenos através de processos inacessíveis ao seu
entendimento atual, e a maioria das entidades
comunicantes são verdadeiros homens comuns, relativos e
falhos, porquanto são almas que conservam, às vezes
integralmente, o seu corpo somático e cujo habitat é o
próprio orbe que lhes guarda os despojos e as vastas
zonas dos espaços que o cercam, atmosferas do próprio
planeta, que poderíamos classificar de colônias terrenas
nos planos da erraticidade.
Aí se congregam os seres afins e, nesse meio, vivem e
operam muitas elites espirituais, constituídas por
Espíritos benignos, mas não aperfeiçoados, os quais, sob
ordens superiores, laboram pelo seu próprio adiantamento
e a prol da evolução humana, volvendo novamente à carne
ou trabalhando pelo progresso no seio das coletividades
terrestres.
Dos motivos expostos, infere-se que a suposta
vulgaridade dos ditados mediúnicos é um fato
naturalismo, porque emanam das almas dos próprios homens
da Terra, imbuídos de gosto pessoal, já que o corpo das
suas impressões persiste com precisão matemática, e
somente os séculos, com o seu consequente aglomerado de
experiências, conseguem modificar as disposições
cármicas ou perispirituais de cada indivíduo. Procuram
agir no plano físico unicamente para demonstração da
sobrevivência além da morte, levantando os ânimos
enfraquecidos, porque dilatam os horizontes da fé e da
esperança no futuro, porém, jamais serão portadores da
palavra suprema do progresso, não só porque a sua
sabedoria é igualmente relativa, como também porque
viriam anular o valor da iniciativa pessoal e a
insofismável realidade do arbítrio humano.
Assim como o Infinito é uma lei para os estados das
consciências, temos o infinito de planos no Universo e
todos os planos se interpenetram, dentro da maravilhosa
lei de solidariedade; cada plano recebe, daquele que lhe
é superior, apenas o bastante ao seu estado evolutivo,
sendo de efeito contraproducente ministrar-lhe
conhecimentos que não poderia suportar.
A evolução, sob todos os seus aspectos, deve ser
procurada com afinco, pois é dentro dessa aspiração que
vemos a verdade da afirmação evangélica – “a quem mais
tiver, mais será dado”.
À medida que o homem progride moralmente, mais se
aperfeiçoará o processo da sua comunhão com os planos
invisíveis que lhe são superiores.