Chico Xavier
Nunca nos cansaremos de repetir que a existência no orbe
terreno constitui, para as almas mais ou menos
evolvidas, um estágio de aprendizado ou degredo; junto
desses seres sensíveis, vivem os espíritos retardados no
seu adiantamento e aqueles que se encontram no inicio da
evolução.
Para todos, porém, a luta é a lei purificadora.
Os que vivem com mais dedicação às coisas do Espírito,
esses encontram maiores elementos de paz e felicidade no
futuro; para eles, que sofreram mais em razão do seu
afastamento da vida mundana, a morte é um remanso de
tranquilidade e de esperança.
Encontrarão a paz ambicionada nos seus dias de lágrimas
torturantes, e sociedades esclarecidas os esperam em seu
seio, para celebrarem dignamente os seus atos de
heroísmo na tarefa árdua de resistência às inúmeras
seduções que a existência planetária oferece.
Quão triste, todavia, é a situação dos que no mundo se
apegaram, demasiadamente, às alegrias mentirosas e aos
prazeres fictícios. Muitos anos de dor os aguardam, nas
regiões espirituais, onde contemplam incessantemente os
quadros do seu pretérito, em desoladoras visões
retrospectivas, na posse imaginária das coisas que os
obsedam.
Amantes do ouro, ali ouvem, continuamente, o tilintar de
suas supostas moedas; ingratos, escutam os que foram
enganados pelas suas traições; cenas penosas se
verificam e muitas almas piedosas se entregam ao mistér
de guias e condutores espirituais desses Espíritos
deslumbrados na ilusão e nos tormentos. Só o amor dessas
almas carinhosas permite que as esperanças não
desfaleçam, cultivando-as incessantemente no coração
abatido e desolado dos sofredores, a fim de que renasçam
para os resgates necessários.
A vida no além é também atividade, trabalho, luta e
movimento. Se as almas estão menos submetidas ao
cansaço, não combatem menos seu aperfeiçoamento.
As leis das afinidades a tudo presidem entre os seres
despidos dos indumentos carnais, e, liberto o Espírito
dos laços que o agrilhoavam à matéria, recebe o apelo de
quantos se afinam pelas suas preferências e inclinações.
Bem-aventurados todos aqueles que, ao palmilharem seus
derradeiros caminhos, encontram a alvorada da paz,
luminosa e promissora; nos celeiros da luz, recolhem o
pão da verdade e da sabedoria, porque bem souberam
cumprir suas obrigações morais.
À sombra das árvores magnânimas que plantaram com seus
atos de caridade, de fé e de esperança, repousam a
cabeça dilacerada nos amargores da Terra; divinas
inspirações descem das Alturas sobre suas mentes, que
iluminam como tabernáculos sagrados e, interpretando
fielmente as disposições da vontade diretora do
Universo, transformam-se em mensageiros do Altíssimo.
Homens, meus irmãos, considerai a fração de tempo da
vossa passagem pela Terra.
Observai o exemplo das almas nobres que, em épocas
diferentes, vos trouxeram a palavra do Céu na vossa
ingrata linguagem; suas vidas estão cheias de
sacrifícios e dedicações dolorosas. Não vos entregueis
aos desvios que conduzem ao materialismo dissolvente.
Olhando o vosso passado, que constitui o passado da
própria Humanidade, uma cruciante amargura domina o
vosso espírito: atrás de vós, a falência religiosa, ante
os problemas da evolução, impele-vos à descrença a ao
egoísmo; muitos se recolhem nas suas posições de mando e
há uma sede generalizada de gozo material, com
perspectiva do nada, que a maioria das criaturas
acredita encontrar no caminho silencioso da morte; mas
eis que, substituindo as religiões que faliram, à falta
de cultivadores fiéis, ouve-se a voz do Espírito da
Verdade em todas as regiões da Terra. Os túmulos falam e
os vossos bem-amados vos dizem das experiências
adquiridas e das dores que passaram. Há um sublime
conúbio do Céu com a Terra.
Vinde ao banquete espiritual onde a Verdade domina em
toda a sua grandiosa excelsitude. Vinde sem
desconfianças, sem receios, não como novos Tomés, mas
como almas necessitadas de luz e de liberdade; não basta
virdes com o espírito de cristicismo, é preciso
trazerdes um coração que saiba corresponder com
sentimento elevado a um raciocínio superior.
Outros mundos vos esperam na imensidade, onde os sóis
realizam os fenômenos de sua eterna trajetória. Dilatai
vossa esperança, porque um dia chegará em que, na Terra,
devereis abandonar o exílio onde chorais como seres
desterrados. Que todos vós possais, no caso da
existência, contemplar no céu da vossa consciência,
estrelas resplandecentes da paz que representará a vossa
glorificação imortal.