Chico Xavier
Há quem despreze a luta, mergulhando em nociva
impassibilidade, ante os combates que se travam no seio
de todas as coletividades humanas; a indiferença anula
na alma as suas possibilidades de progresso e oblitera
os seus germens de perfeição, constituindo um dos piores
estados psíquicos, porque, roubando à individualidade o
entusiasmo do ideal pela vida, a obriga ao
estacionamento e à esterilidade, prejudiciais em todos
os aspectos à sua carreira evolutiva.
Semelhante situação não se pode, todavia, eternizar,
pois para todos os espíritos, talhados todos para o
supremo aperfeiçoamento, raia, cedo ou tarde, o instante
da compreensão que nos impele a contemplar os altos
cimos... A alma estacionária, até então refratária às
pugnas do progresso, sente em si a necessidade de
experiências que lhe facultarão o meio de alcançar as
culminâncias vislumbradas... Atira-se ai à luta com
devoção e coragem. Vezes inúmeras ela fracassa em seus
bons propósitos, porém, é nesse turbilhão de incessantes
combates que ela evoluciona para a perfeição infinita,
desenvolvendo as suas possibilidades, aprimorando os
seus poderes, enobrecendo-se, enfim.
Para os desencarnados da minha esfera, o primeiro dia do
Espírito é tão obscuro como o primeiro dia do homem o é
para a Humanidade. Somente sabemos que todos nós,
indistintamente, possuímos germens de santidade e de
virtude, que podemos desenvolver ao infinito. Podendo
conhecer a causa de alguns dos fenômenos do vosso mundo
de formas, não conhecemos o mundo causal dos efeitos que
nos cercam, os quais constituem para vós outros,
encarnados, matéria imponderável em sua substância.
Se para o vosso olhar existem seres invisíveis, também
para o nosso eles existem, em modalidade de vida que
ainda estudamos nos seus primórdios, porquanto os planos
da evolução se caracterizam pela sua multiplicidade
dentro do Infinito.
Aqui reconhecemos quão sublime é a lei de liberdade das
consciências e dessa emancipação provém a necessidade da
luta e do aprendizado.
A Ciência, a Arte, a Cultura, a Virtude, a Inteligência
não constituem patrimônios eventuais do homem, conforme
podeis observar; semelhantes atributos só se revelam, na
Terra, nos organismos dos gênios, os quais representam a
súmula de extraordinários esforços individuais, em
existências numerosas de sacrifício, abnegação e
trabalho constantes. Todos os seres, portanto, laboram
insuladamente, na aquisição dessas prerrogativas, de
acordo com as suas vocações naturais, dentro das lutas
planetárias.
Paulatinamente, vencem imperfeições, aparam arestas,
aniquilam defeitos em suas almas, norteando-as para o
progresso, último objetivo de todas as nossas cogitações
comuns.
Integrada no conhecimento de suas próprias necessidades
de aprimoramento, a alma jamais abandona a luta. Volta
às existências preparatórias do seu futuro glorioso.
Reúne-se aos seres que lhe são afins, desenvolvendo a
sua atividade perseverante e incansável nos carreiros da
evolução.
Em existências obscuras, ao sopro das adversidades,
amontoa os seus tesouros imortais, simbolizados nas
lições que aprende, devotadamente, nos sofrimentos que
lhe apuram a sensibilidade. Cada etapa alcançada é um
ciclo de dores vencidas e de perfeições conquistadas.
Cada encarnação é como se fora um atalho nas estradas da
ascensão. Por esse motivo, o ser humano deve amar a sua
existência de lutas e de amarguras temporárias,
porquanto ela significa uma bênção divina, quase um
perdão de Deus.
A golpes de vontade persistente e firme, o Espírito
alcança elevados pontos na sua escalada, nos quais não
mais estacionará no caminho escabroso, mas sentirá cada
vez mais a necessidade de evolução e de experiência, que
o ajudarão a realizar em si as perfeições divinas.