Chico Xavier
Desde os pródromos da Civilização a ideia da
imortalidade é congênita no homem. Todas as concepções
religiosas da mais remota antiguidade, se bem que
embrionárias e grosseiras em suas exteriorizações, no-la
atestam. Entre as raças bárbaras abundaram as ideias
terroristas de um Deus, cuja cólera destruidora se
abrandaria a custa dos sacrifícios humanos e dos
holocaustos de sangue, e, por toda a parte, onde homens
primitivos deixaram os vestígios de sua passagem, vê-se
o sinal de uma divindade a cuja providência e sabedoria
as criaturas entregavam confiadamente os seus destinos.
Na história de todos os povos, observar-se a tendência
religiosa da Humanidade; é que, em toda personalidade
existe uma fagulha divina – a consciência, que
estereotipa em cada espírito a grandeza e a sublimidade
de sua origem; no embrião, a princípio rude nas suas
menores manifestações, a consciência se vai despindo dos
véus de imperfeição e bruteza que rodeiam, debaixo de
muitas vidas do seu ciclo evolutivo, em diferentes
círculos de existência, até que atinja a plenitude do
aperfeiçoamento psíquico e o conhecimento integral do
seu próprio “eu”, que, então, se unirá ao centro criador
do Universo, no qual se encontram todas as causas
reunidas e de onde irradiará o seu poema eterno de
sabedoria e amor.
É a consciência, centelha de luz divina, que faz nascer
em cada individualidade a ideia da verdade,
relativamente aos problemas espirituais, fazendo-lhe
sentir a realidade positiva da vida imortal, atributo de
todos os seres da criação.
Nos tempos primeiros, como na atualidade, o homem teve
uma concepção antropomórfica de Deus. Nos períodos
primários da Civilização, como preponderavam as leis da
força bruta e a Humanidade era uma aglomeração de seres
que nasciam da brutalidade e da aspereza, que apenas
conheciam os instintos nas suas manifestações, a
adoração aos seres invisíveis que personificavam os seus
deuses era feita de sacrifícios inadmissíveis em vossa
época. Hodiernamente, nos vossos tempos de egoísmo
utilitário, Deus é considerado como poderoso magnata, a
quem se pode peitar com bajulação e promessa, no seio de
muitas doutrinas religiosas.
Dentro, porém, de quase todas as ideias dessa natureza,
no seio das raças primigênias (estágios primários) em
seus remotíssimos agrupamentos, o culto dos mortos
atinge proporções espantosas.
Inúmeras eram as tribos que se entregavam às invocações
dos traspassados, por meio de encantamentos e de
cerimônias de magia. As excessivas homenagens aos
mortos, no seio da civilização dos egípcios, constituem,
até em vossos dias, objeto de estudos especiais. Toda a
vida oriental está amalgamada nos mistérios da morte e,
no Ocidente, pode-se reparar, entre as raças primitivas,
a do povo celta como a depositária de tradições
longínquas, que dizem respeito à espiritualidade.
A ideia da imortalidade é latente em todas as almas e é
o substrato de todas as religiões antigas e modernas.
Os sistemas religiosos, em cada período de progresso
humano, renovam-se na fonte de verdade relativa que
promana (provém) do Alto, compatível com a época.
Nos tempos modernos, as ideias novas, referentes ao
espiritualismo e à imortalidade, necessitam difusão por
toda parte. Não mais a concepção de Deus terrível,
criando a eternidade dos tormentos, segundo a teologia
em voga, que tem ensinado erradamente a ideia de um
paraíso beatífico, insípido, e um inferno aterrador,
irremissivelmente eterno; não mais a religião que
malsina o progresso e a investigação, mas a ideia pura e
verdadeira da imortalidade para todas as criaturas, a
vida estuando (plena de força) em todo o Universo, e a
luta em todos os seus mais recônditos, argamassando, à
custa dos esforços de cada um, o portentoso edifício da
evolução humana.