Chico Xavier
É ociosa qualquer referência à falsa posição dessa
Igreja, que se mantém no mundo atual ao preço da
ignorância de uns e do interesse condenável de outros,
vivendo a existência transitória das organizações
políticas.
Compete aos estudiosos somente a análise comparativa dos
tempos tentando, com os seus esforços, operar a
regeneração das sociedades, procurando salvar da
destruição tudo o que possa beneficiar os Espíritos no
seu aprendizado sobre a face da Terra.
Todavia, apesar de nossas atividades conjugadas com as
de todos os homens de boa vontade que aí representam os
instrumentos sadios da vontade do Alto, no sentido de
preservar do arrasamento o patrimônio de conquistas
úteis da Humanidade, não é possível criar-se um
obstáculo às grandes dores que, inevitavelmente, terão
de promover o movimento expiatório dos indivíduos e das
coletividades, onde as criaturas mergulharão a alma no
batismo de purificação pelo sofrimento.
Aventam-se todas as hipóteses com o objetivo de
verificar-se na Europa, eixo das atividades políticas do
mundo, um grande movimento de unificação e de paz,
chegando-se à tentativa de uma frente única europeia,
para evitar a queda irremediável da civilização do
Ocidente. Essa frente única é, porém, impossível. Não
existe ali a unidade espiritual necessária à consecução
desse grandioso projeto. Apenas o Cristianismo, se não
fossem os desvios lamentáveis da Igreja Romana, poderia
fornecer essa intangibilidade de fé a todos os
espíritos. Mas, a obra cristã ali se encontra
virtualmente degenerada. E, em virtude de semelhantes
desequilíbrios, todos os ideais antifraternos foram
desenvolvidos no Velho Mundo, intensificando-se o regime
de separatividade entre as nações. Cada país europeu
procura insular-se da comunidade continental e somente o
Pacto de Versalhes e o instituto genevriano representam,
com a sua atuação, essa trégua de 18 anos, depois do
conflito de 1914; contudo, esses dois diques, que
impediam os movimentos armados, sem, aliás, obstar-lhes
a preparação, têm as suas influências anuladas. O
Tratado de Versalhes caiu com as deliberações políticas
do novo Reich e a Liga das Nações compreendeu a
inaplicabilidade do seu estatuto, no momento decisivo da
campanha italiana na Abissínia.
Todos os povos entenderam bem essas profundas
desilusões. Procura-se a paz na corrida aos armamentos.
Mais de 100.000 homens mecanizados estão preparados no
Velho Continente, só para a ofensiva do ar. Busca-se a
todo transe uma solução para os problemas da guerra. Uma
reforma visceral nos estatutos da Sociedade de Genebra é
inutilmente sugerida. Estuda-se a possibilidade de um
acordo entre a França e a Itália, no sentido de
assegurar-se a paz continental, atendendo-se às
necessidades da região danubiana e equilibrando a
Alemanha com o resto da Europa. Tenta-se a colaboração
de todos os gabinetes. Os partidos iniciam a guerra das
ideologias. Mas a Europa, nos seus conflitos
inquietantes, conhece perfeitamente a sua condenação à
guerra.
A ilação dolorosa que se pode extrair da situação atual
é a de que essas sociedades foram edificadas à revelia
do Evangelho, necessitando as suas bases de mais
profundas transformações. Fundadas com o rotulo de
Cristianismo, elas não o conheceram. A sombra do Deus
antropomórfico que criaram para as suas comodidades,
inverteram todas as lições do Salvador, em cujo ideal de
fraternidade e pureza asseveraram progredir e viver.
Distanciadas, porém, como se encontram, de uma
identidade perfeita com os estatutos evangélicos, as
sociedades europeias sucumbem sob o peso da sua
opulência miserável. Suas fontes de cultura acham-se
visceralmente envenenadas com as suas descobertas e
ciências, que são recursos macabros para a destruição e
para a morte. Não existe, ali, nenhuma unidade
espiritual, à base do espírito religioso, mantenedora do
progresso coletivo.
Como poderá persistir de pé uma civilização dessa
natureza, se todos os seus trabalhos objetivam o
extermínio dos mais fracos, estabelecendo o condenável
critério da força? O Ocidente terá de conhecer uma vida
nova. Um sopro admirável de verdades há de confundir os
seus erros seculares. As sociedades edificadas na
pilhagem hão de purificar-se, inaugurando o seu novo
regime à base da lição fraterna de Jesus.
Esperemos confiantes a alvorada luminosa que se
aproxima, porque, depois das grandes sombras e das
grandes dores que envolverão a face da Terra, o
Evangelho há de criar, no mundo inteiro, a verdadeira
Cristandade.