Chico Xavier
As ditaduras europeias revivem, na atualidade, a época
napoleônica da pátria francesa, quando, segundo
Chateaubriand, tudo respirava o senhor, homenageava o
senhor, vivia para o senhor. No Velho Mundo, em quase
todos os países que o constituem, vive-se o governo e
mais nada. O livro, a escola, o jornal, a oficina, são
núcleos de recepção do pensamento dos maiores ditadores
que o mundo há conhecido. A imprensa, manietada pelas
medidas draconianas, não pode criar o cooperativismo
intelectual das classes e das administrações, obrigada a
viver a fase de absoluta união com os programas de
governo; os grandes pensadores que sobreviveram à Grande
Guerra não podem produzir expressões de pensamento
livre, que abranjam a solução dos enigmas destes tempos
novos, trabalhados por leis vexatórias e humilhantes, e
vemos, pelo mundo inteiro, a invasão das forças
perversoras da consciência humana. Jornais integrados
nas doutrinas mais absurdas, falsa educação pelo rádio
que vem complicar, sobremaneira, a situação, e os livros
da guerra, a literatura bélica, inflada de demagogia e
de estandartes, de símbolos e de bandeiras, incentivando
a separatividade. Qualquer estudioso desses assuntos
poderá verificar a realidade de nossas afirmativas.
Os homens, nessa fase de preparação armamentista, vivem
uma época de profunda pobreza intelectual.
O porvir há de falar aos pósteros, dessas calamidades
dolorosas. O mundo chegou a uma fase evolutiva em que é
preciso encarar-se de frente a questão da fraternidade
humana para resolvê-la com justiça.
Os governos fortes, fatores da decadência espiritual dos
povos, que guardavam consigo a vanguarda evolutiva do
mundo, não podem trazer solução satisfatória aos
problemas profundos que vos interessam.
Afigura-se-nos que a função das ditaduras é preparar as
reações incendiarias das coletividades. A atualidade do
mundo necessita criar um mecanismo de justiça econômica
entre os povos. Que se aventem medidas conciliatórias
para essa situação de pauperismo e alto imperialismo das
nações. Os que estudam a política internacional podem
resolver grande parte dos fenômenos revolucionários que
convulsionam o mundo, analisando a chamada questão das
matérias-primas. Matérias-primas quer dizer colônias e
colônias significam possibilidades de vida e de
expansão. É verdade que na Espanha atual, antes de tudo,
reside o imperativo da dor, redimido grandes culpados de
outrora, constituindo essa dolorosa situação um dos
quadros mais pungentes das provações coletivas; mas não
somente as ideologias extremistas ali se combatem,
pressagiando um novo organismo político para o planeta.
Um dos dois diretores de um manicômio espanhol
asseverava, há pouco tempo, que mais de quatrocentas
pessoas, em um ano, tinham procurado refugio naquele
pouso de alienados, como loucas, em virtude das
necessidades da fome. A Espanha é pobre de terras. De
cem hectares de terrenos, talvez somente uns trinta
poderão oferecer campo propício à agricultura. E não só
a velha península se debate nessas necessidades tão
duras. A China não está suportando o aumento contínuo da
sua população. O Japão se vem fortificando para poder
nutrir o seu povo. A Polônia estuda um projeto de
colocar na África ou na América mais de cinco milhões de
criaturas, que a sua possibilidade econômica não
comporta.
Nessas aluviões de protestos, ouvem-se os tinidos das
armas, e melhor fora que o homem voltasse as vistas para
o campo fraterno, antes da destruição que se fará
consumar. Seria melhor estudar-se a questão
carinhosamente, analisando-se os códigos das leis
imigratórias e que as nações não se deixassem dominar
pelo prurido de mau nacionalismo, tentando estabelecer
um plano de concessões racionais e resolvendo-se a
questão da troca de produtos entre os países,
solucionando-se o enigma da repartição que a economia
política não pôde conseguir até hoje, apesar da sua
perfeição técnica, círculo da direção das possibilidades
produtoras.
O que verificamos é que, sem a prática da fraternidade
verdadeira, todos esses movimentos pró paz são
encenações diplomáticas sem fundo pratico, não obstante
intenções respeitáveis.
Mas, consideremos também que o mundo não marcha à
revelia das leis misericordiosas do Alto, e estas, no
momento oportuno, saberão opor um dique à chacina e ao
arrasamento; confiemos nelas, porque os códigos humanos
serão sempre documentos transitórios, como o papel em
que são registrados, enquanto não se associarem,
parágrafo por parágrafo, ao Evangelho de Jesus.