Chico Xavier
Se é verdade que, na época do Precursor, os novos
crentes adotavam o sistema de confessar publicamente as
suas faltas e os seus erros, tal costume diferia
essencialmente de tudo quanto criou a Igreja Católica,
nesse particular, depois da partida, para o Além, dos
elevados Espíritos que lançaram, com o sangue dos seus
sacrifícios e com a mais sublime renúncia dos bens
terrenos, as bases da fé, as quais têm resistido ao
bolor dos séculos. A confissão pública dos próprios
defeitos, nos tempos apostólicos, constituía para o
homem forte barreira, evitando sua reincidência na
falta. Um sentimento profundo de verdadeira humildade
movia o coração nesses momentos, oferecendo-lhe as
melhores possibilidades de resistência ao assédio das
tentações, e semelhante princípio representava como que
uma vacina contra as úlceras do remorso e das chagas
morais.
Todavia, os tempos decorreram e, no seu transcurso,
observou-se a transformação radical de todas as leis
sublimes de fraternidade cristã, anteriormente
preconizadas.
A confissão auricular constitui uma aberração, dentro do
amontoado das doutrinas desvirtuadas do romanismo. E é
justamente a mulher, pelo espírito sensível de
religiosidade que a caracteriza, a maior vítima do
confessionário.
Infelizmente, toda a série de absurdos do inqualificável
sacramento da penitência é oriunda dos superiores
eclesiásticos, dos teólogos e falsos moralistas da
Igreja que, perversamente, criaram os longos e
indiscretos interrogatórios, aos quais terá a mulher de
submeter-se passivamente, diante de um homem solteiro,
estranho, que ela, inúmeras vezes, nem conhece. Os
padres, geralmente, em virtude do seu desconhecimento
dos sagrados deveres da paternidade, não a vão
interpelar no tocante às obrigações austeras do governo
da casa; ferem exatamente os problemas mais íntimos e
mais delicados da vida do casal, violando o sagrado
respeito das questões do lar, dando pasto aos
pensamentos mais injustificáveis e, às vezes,
repugnantes. E o véu de modéstia e de beleza que Deus
concedeu à mulher, para que ela pudesse mergulhar qual
lírio de espiritualidade nos pântanos deste mundo, é
arrancado justamente por esse homem que se inculca
ministro das luzes celestes. Muitas vezes, é no
confessionário que começa o calvário social da mulher.
Dolorosos e pesados tributos são cobrados das
católico-romanas, que, confiadas em Deus, se lançam aos
pés de um homem cheio das mesmas fraquezas dos outros
mortais, na enganosa suposição de que o sacerdote é a
imagem da Divindade do Senhor.
Não podeis calcular as imensidades de crimes perpetrados
à sombra dos confessionários penumbrosos, onde almas
aflitas e fervorosas buscam consolação e conforto
espiritual.
O que se faz necessário em vossos dias é a reforma de
semelhantes costumes. Quando essa renovação não parta
das autoridades eclesiásticas, que ela possa nascer dos
esforços conjugados de todos os esposos e de todos os
pais, substituindo eles os confessores junto de suas
esposas e de suas filhas.
Muitas vezes, quando procurado por consciências polutas,
que me vinham fazer o triste relato de suas existências
repletas de deslizes, eu nunca me senti com autoridade
bastante para ouvi-las.
Todo espírito do Evangelho, legado pelo Mestre à
Humanidade sofredora, foi deturpado pelo homem, dentro
dos seus interesses mesquinhos e das suas ideias de
antropomorfismo.
Por isso, nós, que já trazemos o coração trabalhado nas
mais penosas experiências, podemos declarar, diante da
nossa consciência e diante de Deus que nos ouve, que
nenhum bem pode prodigalizar a confissão auricular ao
espírito, sendo um costume eminentemente nocivo, com
seus característicos de depravação moral, merecendo,
portanto, toda a atenção da sociologia moderna.
Confessai-vos uns aos outros, buscando de preferência
aqueles a quem ofendestes e, quando a vossa imperfeição
não vo-lo permita, procurai ouvir a voz de Deus, na voz
da vossa própria consciência.