Chico Xavier
Vamos encontrar, historicamente, as concepções mais
remotas da organização religiosa na civilização chinesa,
nas tradições da Índia Védica e Bramânica, de onde
também se irradiaram as primeiras lições do culto dos
mortos, na civilização resplandecente dos faraós, na
Grécia com os ensinamentos órficos (relativo a Orfeu) e
com a simbologia mitológica, existindo já grandes
mestres, isolados intelectualmente das massas, a quem
ofereciam os seus ensinos exóticos, conservando o seu
saber de iniciados no círculo restrito daqueles que os
poderiam compreender devidamente.
Fo-Hi, (personagem da mitologia chinesa) os compiladores
dos Vedas, Confúcio, Hermes, Pitágoras, Gautama, os
seguidores dos mestres da antiguidade, todos foram
mensageiros de sabedoria que, encarnando em ambientes
diversos, trouxeram ao mundo a ideia de Deus e das leis
morais a que os homens se devem submeter para a obtenção
de todos os primores da evolução espiritual. Todos foram
mensageiros d’Aquele que era o Verbo do Princípio,
emissários da sua doutrina de amor. Em afinidade com as
características da civilização e dos costumes de cada
povo, cada um deles foi portador de uma expressão do
“amai-vos uns aos outros”. Compelidos, em razão do
obscurantismo dos tempos, a revestir seus pensamentos
com os véus misteriosos dos símbolos, como os que se
conheciam dentro dos rigores iniciáticos (relativo a
iniciação), foram os missionários do Cristo preparadores
dos seus gloriosos caminhos.
A lei mosaica foi a precursora direta do Evangelho de
Jesus. O protegido de Termutis, (filha de Ramsés II,
resgatou Moisés das águas do Nilo) depois de se
beneficiar com a cultura que o Egito lhe podia
prodigalizar, foi inspirado a reunir todos os elementos
úteis à sua grandiosa missão, vulgarizando o monoteísmo
e estabelecendo o Decálogo, sob a inspiração divina,
cujas determinações são até hoje a edificação basilar da
Religião, da Justiça e do Direito, se bem que as
doutrinas antigas já tivessem arraigado a crença de Deus
único, sendo o politeísmo apenas uma questão
simbológica, apta a satisfazer à mentalidade geral.
A legislação de Moisés está cheia de lendas e de
crueldades compatíveis com a época, mas, escoimada de
todos os comentários fabulosos a seu respeito, a sua
figura é, de fato, a de um homem extraordinário,
revestido dos mais elevados poderes espirituais. Ele foi
o primeiro a tornar acessíveis às massas populares os
ensinamentos somente conseguidos à custa de longa e
penosa iniciação, com a síntese luminosa de grandes
verdades.
Com o nascimento de Jesus, há como que uma comunhão
direta do Céu com a Terra.
Estranhas e admiráveis revelações perfumam as almas e o
Enviado oferece aos seres humanos toda a grandeza do seu
amor, da sua sabedoria e da sua misericórdia.
Aos corações abre-se nova torrente de esperanças e a
Humanidade, na Manjedoura, no Tabor e no Calvário, sente
as manifestações da vida celeste, sublime em sua
gloriosa espiritualidade.
Com o tesouro dos seus exemplos e das suas palavras,
deixa o Mestre entre os homens a sua Boa Nova. O
Evangelho do Cristo é o transunto (translado) de todas
as filosofias que procuram aprimorar o espírito,
norteando-lhe a vida e as aspirações.
Jesus foi a manifestação do amor de Deus, a
personificação de sua bondade infinita.
Raças e povos ainda existem, que o desconhecem, porém
não ignoram a lei de amor da sua doutrina, porque todos
os homens receberam, nas mais remotas plagas do orbe, as
irradiações do seu espírito misericordioso, através das
palavras inspiradas dos seus mensageiros.
O Evangelho do Divino Mestre ainda encontrará, por algum
tempo, a resistência das trevas. A má-fé, a ignorância,
a simonia (venda das coisas sagradas), o império da
força, conspiração contra ele, mas tempo virá em que a
sua ascendência será reconhecida. Nos dias de flagelo e
de provações coletivas, é para a sua luz eterna que a
Humanidade se voltará, tomada de esperança. Então,
novamente se ouvirão as palavras benditas do Sermão da
Montanha e, através das planícies, dos montes e dos
vales, o homem conhecerá o Caminho, a Verdade, a Vida..