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Mãe d'Água

   A Lenda da Iara
   A Lenda da Iara, a deusa das águas, traduz a relação do caboclo com o mundo aquático da Amazônia, cuja paisagem ganhou do poeta baré Thiago de Mello o nome de “Pátria das Águas”. Essa interação permanente do amazônida com as águas gerou a chamada civilização ribeirinha, na qual os rios, lagos, igarapés e igapós são fontes da vida, da morte e do imaginário regional. São caminhos, referências e habitat naturais dos que vivem ou viveram, durante séculos, às margens do grande rio Amazonas e de seus inumeráveis tributários, herança cultural que recebemos de nossos ancestrais indígenas e portugueses. Mas a relação do caboclo com os rios não é apenas uma conjunção física e conjuntural, vai muito além do campo material, é sensível e presente. Nunca suas histórias são contadas no tempo passado, são presentes como se estivessem acontecendo naquele momento, ali mesmo.
   Os colonizadores também foram vencidos pelas águas da região, assimilando a cultura ribeirinha milenar, mas incorporando à descendência cabocla lembranças do além-mar, formadas no novo ambiente cultural. Assim nasceu a Iara, o Boto e tantas outras lendas que hoje compõem a legião dos encantados da cultura amazônica. Os encantados, aliás, estão em todos os lugares, como afirma o poeta e escritor paraense João de Jesus Paes Loureiro – estão entre os índios e caboclos, entre o céu e a terra, nas selvas, nos campos, no fundo das águas...
   Segundo Paes Loureiro, “a Iara – Mãe d’Água – vive nas encantarias do fundo dos rios. Ela atrai os moços e os fascina, mostrando-lhes seu rosto belíssimo à flor das águas e deixando submersa a cauda de peixe. Para seduzi-los, faz promessas de todos os gêneros. Para aumentar o estado de encantamento canta belas melodias com voz maviosa. Convida-os a irem com ela para o fundo das águas do rio – onde se localiza a encantaria – sob a promessa de uma eterna bem-aventurança em seu palácio, onde a vida é uma felicidade sem fim. Quem tiver visto seu rosto uma única vez jamais poderá esquecê-lo. Pode até, no primeiro momento, resistir-lhe aos encantos por medo ou precaução. No entanto, mais cedo ou mais tarde acabará por se atirar no rio em sua busca, levado pelo desejo ardoroso de juntar seu corpo ao dela”.
   O historiador Vicente Salles conceitua Iara como a mais perfeita convergência cultural na mítica amazônica, reunindo figuras antológicas de vários continentes: Sereia, Ondina, Loreley, Mãe-d’Água, Iemanjá. É uma simbiose encantada de mulher tentadora, sensual, apresentada com rosto europeu e longos cabelos e que recorre à magia do canto para exercer a sua irresistível atração fatal sobre navegantes e moradores da beira-do-rio, preferencialmente jovens.
   Os indígenas também possuem inúmeras entidades aquáticas, mas nenhuma delas com as qualidades malignas e fatais de Iara. Sempre encontram remédio para as maldades, sublimando inclusive a morte. Para eles, o rio representa a fonte de sobrevivência e não da morte no “espelho do amor”. Por outro lado, o índio não reprime a sexualidade pelos arreios da sua cultura ou da civilização cristã do branco, razão pela qual não se vale de entes sensuais na sua mitologia. Sempre cita a beleza das cunhãs como referência estética e não como objeto do libido. A sua Mãe-d’Água é a guardiã dos rios, bondosa e se materializa nas plantas e flores aquáticas que alimentam os peixes, segundo lendas da algumas tribos.
   Raimundo Moraes credita às leituras da Odisséia de Homero, feitas pelos colonizadores lusitanos, a lenda da Iara, configurada como uma linda mulher, metade gente e metade peixe, belos cabelos compridos, busto cheio e cauda de escamas multicoloridas, que vive nas margens dos rios e igarapés, seduzindo o caboclo para arrastá-lo ao fundo das águas. O pesquisador diz que a entidade também pode materializar-se em forma de lontra, no perfil de garça ou sob as penas da cigana para encantar o ribeirinho.
   As observações do historiador repousam em pesquisas feitas na região amazônica e na leitura dos clássicos da literatura universal que apontam convergência entre a mitológica Sereia e a Iara amazônica. Navegador por excelência, o colonizaador português assimilou as lendas do mar e trouxe para cá suas tradições seculares. Os Lusíadas, de Luís de Camões, menciona várias vezes a presença de Sereias na rota dos navegadores lusitanos, lembrança de outros autores clássicos como Virgílio (Eneida), Heródoto (Epítetos) e Homero (Ilíada e Odisséia). Todos referindo-se à figura sedutora e fatal da entidade similar, ora na forma de mulher, ora feita ave ou animal anfíbio.
   O Barão de Santana Neri, falando sobre o folclore brasileiro, descreve a Iara como uma mulher branca, de olhos verdes e cabeleira loura, conceitos pesquisados nos Estados do Pará e Amazonas. Diz ainda que sua beleza física, seus métodos de sedução e sua residência submersa revelam origem alienígena. A oferta de tesouros e palácios, por exemplo, também confessa uma cultura importada, vez que os aborígenes desconheciam esses valores. Já o folclorista Câmara Cascudo, cobra possível contribuição do negro na lenda da Iara, lembrando a sereia africana Kianda e até a figura poderosa de Osum, orixá dos lagos, lagoas e rios, da teogonia negra. Iemanjá, deusa das águas, também é lembrada como inspiradora do mito amazônico. Contudo, as Mães-d’Água africanas, com suas liturgias e rituais em nada lembram a nossa deusa das águas, a não ser a morada.
   O mito da Iara, aliás, como já foi dito, pode ser reconhecido em várias culturas. Na Espanha chama-se Sirena; na Grécia, a mitológica Nereidas; na Alemanha, a nórdica Loreley; a Kianda africana e a portuguesa Sereia, criaturas das águas que enamoram os homens e os levam à morte. Mas o seu estereótipo físico e malévolo garante a origem portuguesa do mito amazônico, inspirado nas cantos de Homero e nas esculturas de Praxíteles e Escopo. O colonizador, que chegou com a fé cristã e os costumes europeus, também trouxe na bagagem suas lendas, mitos e superstições, muitas delas modificadas ao longo do tempo na convivência cabocla, que lhes emprestou e recebeu valores, coroando a fronte da Iara com flores lilás do mururé, por exemplo.
   A suprema sabedoria do amazônida, que soube usar a lenda do Boto para aplacar a ira de maridos traídos e pais enganados, quando suas mulheres ou filhas engravidam fora do domínio doméstico, também justifica na sedução da Iara a fuga ou o desaparecimento de seus entes queridos.
   www.uol.com.br/amazonview/lenda.htm
 

   IARA, A MÃE D'ÁGUA
   Alguns mitos brasileiros misturaram-se a lendas européias. Como exemplo começamos com uma estória que viajantes portugueses encontravam por aqui. Ele ouviam falar de um fantasma marinho, afogador de índios, que espantava pescadores e lavadeiras, era o "ipupiara", um monstro meio homem, meio peixe, que para se divertir, saía das águas para matar. Tempos mais tarde o ipupiara tornou-se a "uiara", uma versão portuguesa da sereia. Depois uiara virou "iara" que "significa senhora das águas", também conhecida como mãe-d'água. Depois de várias transformações a lenda conta que a mãe-d'água é uma bela mulher de longos cabelos loiros e olhos verdes, que vive em um palácio no fundo das águas, para onde atrai os jovens com quem deseja casar. Outros mitos aquáticos povoam a cabeça dos caboclos brasileiros, principalmente dos que vivem na região da Amazônia: a cobra-grande, a cobra d'água e a boiúna.
   www.educativanet.com.br/lendas/iara.htm

   IARA - Manual da Roça do Chico Bento
   Não importa o som que você curte. Se ouvir a Iara, você vai se amarrar na hora! Não, ela não é nenhuma cantora de rock ou de ópera, mas canta tão bem que encanta todos que a ouvem. Pelo menos é o que garantem os índios brasileiros quando contam a lenda da Iara.
   Metade mulher, metade de peixe, a Iara protege as águas doces e seus habitantes, por isso os índios também a chamam de mãe d'água.
   Ela mora no fundo dos rios e lagos que ficam no meio das florestas. A Iara gosta de aparecer sempre a tardinha, quando senta à beira dos rios para olhar seu reflexo na água. É que ela é muito vaidosa e está sempre cuidando do visual!
   Uau! E como a mãe d'água é bonita! Tem cabelos longos e olhos verdes.
   Dizem que seus cabelos são verdes também.
   Apesar da carinha bonita, a Iara é um perigo! Quem a vê se apaixona na hora e quando tenta se aproximar morre afogado. Mesmo os mais durões são enfeitiçados pelo seu canto e aí... tchibum... também acabam no fundo do rio.
   Para não encontrar com a moça, os pescadores e os índios voltam para casa antes do entardecer.
   Parte integrante do "Manual da Roça do Chico Bento" lançado pela Editora Globo.
   www.monica.com.br/revistas/roca/iara.htm

   A lenda da Pororoca
   O fenômeno da pororoca ocorre na região Amazônica, principalmente na foz de seu grandioso e mais importante rio, o Amazonas. É formada pela elevação súbita das águas junto à foz, provocada pelo encontro de marés ou de correntes contrárias, como se essas encontrassem um obstáculo que impedisse seu percurso natural.
   Quando ultrapassa esse obstáculo, as águas correm rio adentro, com a velocidade de 10 a 15 milhas por hora, subindo uma altura de 3 a 6 metros.
   No Estado do Amapá, ele ocorre na ilha do Bailique, na “boca” do Araguarí, no canal do inferno da ilha de Maracá, em diversas partes insulares e com maior intensidade nos meses de janeiro e maio. É, sem dúvida, um dos atrativos turísticos da natureza mais expressivos que, embora temível, torna-se um espetáculo admirável por todos. Consta que Vicente Pinzon e sua tripulação presenciaram o fenômeno pororoca, quando desceram a foz do rio Amazonas e ficaram surpresos com sua grandeza e a beleza ímpar. É sabido que, em janeiro de 1500, a pororoca quase destruiu suas embarcações.
   A pororoca prenuncia a enchente. Alguns minutos antes de chegar há uma calmaria, um momento de silêncio. As aves se aquietam e até o vento parece parar de soprar.
   Antigamente, a água do rio era serena e calma, corria mansamente. As canoas, à vela e a remo, navegavam sem perigo nenhum. A Mãe D’água, mulher do boto Tucuxi, morava com a filha mais velha na baía do Marajó. Certa noite, à hora do jantar, ouviram-se gritos, os cães latiram furiosamente, as galinhas e galos cocoricaram. O que é, o que não é? Tinham roubado “Jacy”, a canoa de estimação da família. Remexeram, procuraram e não encontrando nada, a Mãe D’Água resolveu convocar todos os seus filhos: Repiquete, Correnteza, Rebojo, Remanso, Vazante, Enchente, Preamar, Reponta, Maré Morta e Maré Viva. Ela queria que encalhassem a embarcação desaparecida, no entanto passaram-se várias luas e nenhuma notícia de “Jacy”. Ninguém jamais a viu entrando em algum Igarapé, algum furo ou mesmo atracada em algum lugar. Certamente estava escondida, mas onde? Então resolveram chamar também os parentes e até os mais longínquos, os Lagos, as Lagoas, Igarapés, Rios, Baías, Sangradouros, Enseadas, Angras, Fontes, Furos, Golfos, Fozes, Canais, Estreitos, Córregos e Peraus, para discutir o caso, surgindo a necessidade de se criar a Pororoca, umas três ou quatro vagas fortes, que entrassem em todos os buracos que houvessem nos arrabaldes, quebrassem, derrubassem, escangalhassem, destruíssem tudo, apanhassem “Jacy” e o ladrão. Ficou determinado que a caçula da Mãe D’Água, Maré de Lua, moça danada, namoradeira, dançadeira e briguenta avisasse sobre qualquer coisa de anormal que acontecesse.
   De repente, pela primeira vez, nas sizígias de equinócio, surge em alguns lugares o fenômeno, empurrado pela cunhatã brava, invadindo rios, naufragando barcos, repartindo ilhas, ameaçando palhoças, derrubando árvores, abrindo furos, amedrontando pescadores. E até hoje, sempre que a Maré de Lua vai ver a Mãe D'água, é um “Deus nos acuda”, ninguém sabe de “Jacy”, e a cunhatã segue em frente destruindo quem ouse não sair da frente, cumprindo as ordens do Boto Tucuxi que resmungando danado diz: “Pois então continue arrasando tudo”.
   E assim a Pororoca continua.
   www.amaparte.com.br/amapa/cultura/lendas/pororoca.html

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