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Ipê
Em 1961, o presidente Jânio Quadros aprovou um projeto
declarando o pau-brasil como árvore símbolo nacional
e o ipê como flor símbolo.
www.clubescola.com.br/historianatualopaubrasil.htm
       A Planta
       A flor nacional

       O ipê, a mais bela e conhecida árvore brasileira, inspira poetas, escritores, namorados e até políticos

Como uma chuva de ouro
no ar, parada
Na fronde dos ipês, no
fervedouro
Desse amarelo e
mágico tesouro,
Vejo a Pátria pairar,
simbolizada:

É aqui tão fácil
encontrarmos ouro,
Que o acharemos nas árvores da estrada,
E a quem quiser essa riqueza é dada,
E o que é nosso e de todos logradouro.

Martins Fontes

       É a árvore brasileira mais conhecida, a mais cultivada e, sem dúvida nenhuma, a mais bela. É na verdade um complexo de nove ou dez espécies com características mais ou menos semelhantes, com flores brancas, amarelas ou roxas. Não há região do país onde não exista pelo menos uma espécie dela.
       O florescimento exuberante é seu traço mais marcante e o que a torna tão espetacular. Qualquer leigo tem curiosidade sobre seu nome ao contemplar a beleza de seu florescimento. Só não chamou a atenção de Cabral porque não devia estar em floração no Descobrimento. Uma infelicidade, porque isso acontece a partir de abril.
       Ao longo destes 500 anos, o ipê foi amplamente cultivado por sua beleza, mas seriam a utilidade e a durabilidade de sua madeira que o tornariam tão conhecido. Seu uso na estrutura do telhado das igrejas dos séculos XVII e XVIII foi o responsável direto por tais monumentos ainda existirem, uma vez que nem as telhas nem a alvenaria resistiram ao tempo.
       A exuberância de seu florescimento encantou namorados, escritores e poetas. Nenhuma outra árvore foi tão cantada em verso e prosa. São dezenas de poesias, contos e sonetos. Inspirou até políticos, que, por meio de um projeto aprovado pelo Poder Executivo em 1961, elegeram o ipê-amarelo, conhecido cientificamente por Tabebuia vellosoi, como a Flor Nacional.
       Pertencentes à família das bignoniáceas, os ipês são incluídos no gênero tabebuia, palavra de origem tupi-guarani que significa pau ou madeira que flutua, com a qual os índios denominavam a caxeta, árvore que nasce na zona litorânea do Brasil. Apesar da etimologia do nome do gênero a que pertencem, os ipês, ou paus-d'arco, possuem madeira muito pesada (densidade entre 0,90 e 1,15 grama por centímetro cúbico), com cheiro característico devido à presença da substância lapachol, ou ipeína. Têm nomes populares variáveis para cada região e para algumas espécies: "ipê" é o nome empregado nas regiões Sul e Sudeste e "pau-d'arco" na Leste, na Norte e na Nordeste. No Pantanal Mato-Grossense é conhecido por "peúva" e em algumas regiões de Minas Gerais e Goiás por "ipeúna". Uma das espécies do cerrado, da caatinga e do Pantanal Mato-Grossense, a Tabebuia aurea é popularmente chamada de "caraibeira" no Nordeste e de "paratudo" no Pantanal.
       Mesmo com a perseguição voraz dos madeireiros, o ipê tem sobrevivido à extinção graças a seu cultivo intenso para fins ornamentais. Mas jamais foi plantado visando à exploração de sua madeira. Apenas uma vez, na década de 60, uma das espécies de ipê-roxo foi seriamente ameaçada pelo comentário irresponsável de um cientista, que afirmou que o chá de sua casca curava o câncer. A existência do ipê em habitat natural nos dias atuais, contudo, é rara entre a maioria das espécies, mas felizmente sua sobrevivência está garantida porque a cada dia é mais cultivado.
       Planta decídua (que se desprende precocemente), sua floração ocorre antes do surgimento da nova folhagem, sem data precisa - normalmente entre abril e setembro. Nesse período, dota-se de beleza inigualável e fugaz, traduzida pelos versos de Sílvio Ricciardi:

Ontem floriste como por encanto,
sintetizando toda a primavera;
mas tuas flores, frágeis entretanto,
tiveram o esplendor de uma quimera.
Como num sonho, ou num conto de fada,
se transformando em nívea cascata,
tuas florzinhas, em sutil balada,
caíam como se chovesse prata...

       Os ipês-roxos, ou róseos na concepção de alguns, foram os mais utilizados para a extração de madeira. Uma das espécies, a Tabebuia avellanedae, nativa da Bacia do Paraná, pode ultrapassar 40 metros de altura, com diâmetro de tronco de mais de 1,2 metro. Existem três espécies de ipê-roxo, cuja floração tem aspecto característico para cada uma, tanto na forma quanto na intensidade da cor.
       Os ipês de flores amarelas são os mais apreciados e plantados, quer pela beleza de sua floração, quer pelo menor porte, o que os torna mais adequados para cultivo em pequenos espaços. Existem pelo menos cinco espécies com formas arquiteturais muito diferentes entre si e cuja floração também diverge quanto à época de ocorrência e intensidade.

       Por Harri Lorenzi
       Harri Lorenzi, engenheiro agrônomo, diretor do Instituto Plantarum, recupera em viveiros de plantas a paisagem dos dias do Descobrimento.

      Tabebuia avellanedae
        Família: BÍgnoniaceae
        Nomes populares: ipê-roxo, pau-d’arco-roxo, ipê-roxo-da-mata, ipê-preto, ipê-rosa, ipê-comum, ipê-cavatã, lapacho, peúva, piúva.
        Características: Altura de 20-35 m, com tronco de 60-80 cm de diâmetro. Folhas compostas 5-folioladas; folíolos quase glabros, de 5-13 cm de comprimento por 3-4 cm de largura.
        Ocorrência: Maranhão até o Rio Grande do Sul. É particularmente freqüente nos estados de Mato Grosso do Sul e São Paulo até o Rio Grande do Sul, na floresta latifoliada semidecídua da bacia do Paraná.
        Utilidade: A madeira é própria para obras externas e construções pesadas, tanto civil quanto navais, como vigas, postes, dormentes, pontes, tacos e tábuas para assoalho, tanoaria, tacos de bilhar, bengalas, eixos de roda, dentes de engrenagem, bolas para jogos, etc. A árvore em florescimento é um belo espetáculo da natureza.
       E a espécie de ipê roxo mais largamente utilizada no paisagismo em geral na região sul do país. E ótima para plantios mistos em áreas degradadas de preservação permanente.
        Fenologia: Floresce durante os meses de junho-agosto, com a planta quase totalmente despida da folhagem. Os frutos amadurecem em novembro, de momentos - Colher os frutos diretamente da árvore quando os primeiros iniciarem a abertura espontânea. Em seguida levá-los ao sol para completarem a abertura e liberação das sementes. Um quilograma contém aproximadamente 35.000 unidades. Sua viabilidade em armazenamento é muito curta, geralmente não ultrapassando 90 dias.
        Produção de mudas: Colocar as sementes para germinar logo que colhidas em canteiros ou embalagens individuais contendo substrato argiloso. Cobri-las com uma fina camada de substrato peneirado e irrigar duas vezes ao dia. A emergência ocorre em 6-12 dias e, geralmente é superior a 80%. O desenvolvimento das mudas, bem como das plantas no campo é rápido, podendo atingir 3,5 m aos 2 anos.
 

   UM IPÊ E TRÊS LEITORES

   Machado de Assis, no Prólogo ao Leitor, em Memórias Póstumas de Brás Cubas, diz ter no máximo dez (ou talvez cinco) leitores. Eu brinco com os amigos e digo ter duas ou três pessoas que me lêem, e não me incluo entre elas uma vez que ­ hábito antigo ­ nunca releio o que escrevo depois de publicado. Nem em papel, nem online. Uma espécie de vergonha me toma, acho que é pudor mesmo, o que vão pensar de mim meus amigos e alunos? Minha família?
   Dois leitores? Talvez um , talvez nenhum. Mas por que será que tinha começado a dizer isso? Devaneio diante do teclado: uns fazem música, eu faço palavras. Toco um pouco deste impossível piano. Eu também, tanta gente também e todos os dias. A casa hoje está estranhamente cheia de silêncios; tomara, então, que ninguém me telefone, pergunte alguma coisa, toque a campainha ou venha me visitar. Em dias assim, flutuo, cercada que sou constantemente por gente, vozes, fatos, coisas. E, veja você, cá estou eu devaneando outra vez.
   Reatemos o fio: nesses dias assim, especiais, flutuo. Se toca a campainha, se toca o telefone, o silêncio se parte, a louça cai do armário, as roupas encolhem, a pia fica transbordante de coisas por lavar. É como se isso fosse. Perco o jeito, é conversa truncada: não reata nunca. Então, senhoras e senhores, meus três leitores, devo anunciar solenemente que hoje pela manhã, em meio à neblina, vi um ipê-roxo. Nesta paisagem de inverno, seca e suja nas ruas, em meio à dor do mundo e à fome das pessoas, ao trânsito, à má educação, necessidades, à vida que pulsa, ao olho que vê, lá estava, belo e solene como uma declaração de amor, o meu ipê.
   Pensei comigo: será? O mundo é tão cheio de claros e escuros, há sombras feias do fel que os homens tramam, mas há os ipês, os lindos ipês que anunciam algo que a terra em seu ventre confecciona milímetro a milímetro para, depois, explodir assim em flores, assustar assim os olhos, e nos encher de esperança.
   Diante do ipê, esqueço-me de que Machado dedicou suas Memórias Póstumas "ao verme que primeiro roeu as frias carnes do meu cadáver..." Machado conhecia os ipês, esses, os roxos, que ensaiam a primavera em pleno inverno; os outros, amarelos, os brancos que deverão antecedê-la por pouco, pétalas transparentes de quase água e tanta luz?
   Tudo. Brigo tanto com meus alunos para que
   jamais utilizem-se de títulos simples assim, mas queria colocar nesta minha crônica para meus três leitores o título "Tudo" ou, quando muito, "Tudo pra mim"... Tudo, afinal de contas, é a Vida, palavra que escrevo sempre com maiúscula. Ela é a grande Cornucópia de onde fluem amores, laranjas, ódios, assassinatos, cetim, terra, abraços, beijos, pássaros, injunções políticas, bombas, tiros, socos, lutas insanas, afeto, um coração pulsando forte, forte... A Vida.
   Tão fácil devanear diante deste teclado enquanto lá fora mata-se, vive-se, morre-se. Enquanto lá fora existem milhares, milhões talvez, de ipês que florescem, que um dia irão florescer, cumprindo um ciclo mágico da vida, cumprindo um momento em que o milagre instala-se, reinstala-se. Este ipê, com suas flores tantas, com seu tronco que se recorta de marcas, é também vida, é também tudo, ou é para os meus olhos o que Ela, abrindo um pouco a janela do intangível, deixa-nos de novo entrever como era antes o Paraíso que perdemos.
   Este ipê é o que entrego, então, hoje, aos meus leitores. Um presente como se fosse um carinho. Entrego-o, pois, ao Tudo, assim com letra maiúscula. Entrego-o ao Tudo que é minha própria vida também, ao Tudo que me comove, ao Tudo que me cerca, ao Tudo que me comanda, ao Tudo que mágicas faz em mim e que, felizmente ou não, ninguém vê. Eis meu ipê. É seu também. É de todos nós.

   Esther PS Rosado
   [email protected]
   Professora de Literatura e Redação do Curso
   Poliedro, em São José dos Campos, e co-editora
   desta revista.  Edição nº5 - 25/06/99
   www.navedapalavra.com.br/cronicas/1ipe3leitores.htm
 

       O nome derrubado
       A triste sina do pau-brasil
       Durante as primeiras duas décadas que se seguiram ao Descobrimento, a Coroa portuguesa só se interessou pela exploração do pau-brasil. As árvores forneciam tinta que coloria linho, seda e algodão em tom carmesim ou rubro, as cores dos reis e nobres. Florescendo do Rio Grande do Norte até o Rio de Janeiro, a árvore deu nome aos novos domínios lusos já em 1505 (Terra de Santa Cruz do Brasil) e foi monopólio estatal até 1872, quando 70 milhões de pés já haviam sido derrubados. Comercializado por traficantes ingleses, espanhóis e franceses, o "pau de tinta" que dá nome ao Brasil perdeu muito valor com a invenção das anilinas artificiais.
        Em 1961, o presidente Jânio Quadros aprovou um projeto declarando o pau-brasil como árvore símbolo nacional e o ipê como flor símbolo.
        É realizado um substituto do projeto n.º 1006, de 1972, por meio da lei n.º 6607 de 7/12/78, declarando o pau-brasil a Árvore Nacional, e instituindo o dia 03 de maio como o dia do pau-brasil.
       www.institutopaubrasil.org.br

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