O dicionário
aponta dois significados para a palavra purgante.
a) Medicamento
ou substância que faz limpar os intestinos; purgativo.
b) Pessoa ou
coisa enfadonha, tediosa, enjoada; jalapa.
Cenários
a) O quintal
da casa de Tyrteu.
As sariemas
cantavam escondidas nas coxilhas
Havia ipês
floridos corderrosando
A mataria
verdenegra
Do capão
do fundo
O céu
estava sem um borrão de nuvem
O poeta indica
a mudança de estação inverno/primavera - Havia
ipês floridos corderrosando. Nas coxilhas, o céu limpo
aquece e permite à mataria ficar verdenegra nos capões. A paisagem descrita
é facilmente visualizada do quintal da casa de Tyrteu. Seguindo
a tradicional literatura de viagens entre os portugueses foi publicado
em 1815, em Lisboa, os seis capítulos iniciais da primeira parte
do livro As Viagens de Silverio Diniz a varios
paizes; Em que se referem varios successos serios e jocosos, com instrucções
moraes, e descripções breves tanto de terras, animaes, arvores,
e outras cousas, como de costumes dos habitantes, especialmente do Brasil.
O viajante deleita-se com o canto das seriemas e fica deslumbrado
pelos paus d'arco (ipês): observei muitas cousas no campo,
que me ficarão bem impressas; como a vista das arvores, chamadas
pao d'arco rouxo, e pao d'arco amarello, por se encherem e cobrirem de
flores grandes, ou rouxas, ou amarellas, que lhes encobrem as folhas, e
representão as mesmas arvores, como montanhas, ou rouxas, ou amarellas.
b) Uma cozinha.
O turco mascate
chegou de fordsinho
Puñuelos
de sedas berfun de olor
Vinha de cara
inchada
Queixos com
dor de dente da umidade
Pedindo um
remédio
Eu fui mandando
que elle tomasse um chá
De semente
de umbu
No poema Alegrete
Tyrteu dá-nos uma pista sobre o cenário dos versos acima:
"A Arábia
petrea
Reedificada por cima do fogão
Da coxilha da cozinha purgatorial"
Praticamente
todas as casas na rua Pinheiro Rocha, em São Francisco de Assis,
localizadas no mesmo lado da casa de Tyrteu, tem sua cozinha voltada para
as coxilhas que se estendem para o Alegrete.
Dyonélio
Machado, escrevendo sobre a vida na fronteira, lembrava: A solidão
condiciona a hospitalidade. Todo forasteiro é bem vindo à
nossa casa. Mesmo o mascate, com as impertinências próprias
de quem quer vender. Porque trazem notícias - que é o mesmo
que trazer gente vivendo.
Tyrteu emprestou
a garagem de sua casa para o sírio Vicente Raide montar sua "lócha".
Talvez vendesse sedas e perfumes: Puñuelos de sedas berfun de
olor.
A palavra perfume
vem do latim per fumus. Primitivamente designava substâncias aromáticas,
queimadas nos altares, para "seduzir" os deuses ou aplacar sua fúria.
No Egito antigo, sua preparação era segredo bem guardado
pelos sacerdotes. www.terra.com.br/curiosidades/cur_historia_1.htm
Sempre costurando seus
poemas, Tyrteu cita novamente o turco em Duendes.
O turco concorrente
Chegou petiçando
no outro dia
No corpo humano
um queixo é anexo aos dentes. E as queixas do turco derivam de sua
dor nos dentes.
Vinha de cara
inchada
Queixos com
dor de dente da umidade
Inseguro por
estar sozinho com o falecimento de sua mãe e devido ao processo
movido por Ramão Trois em 1927, provalvelmente Tyrteu tenha convidado
Vicente Raide para morar em sua casa a partir desse ano.
Raide testemunhou
no processo movido pelo holandês da Ford em 1934. Nessa época
o sírio parecia desfrutar da confiança de Tyrteu.
Entretanto, Raide
parece estar envolvido na armação de 1946, descrita no habeas
corpus, que Tyrteu advogou em causa própria. Repetia-se um antigo
dito espanhol - "cria corvos que eles te arrancarão os olhos".
Semente
de umbu
Barbosa Lessa,
no causo Amor Desarranjado, conta que "um mate com casca de umbu"
fez Neco "purgar até o coração." Certamente
o turco Nagib sofreu as mesmas conseqüências, mas com a semente
de umbu. O tio Élio me falou que com as folhas da árvore
o resultado é o mesmo.
Normalmente
as sementes (de umbu) estão ligadas à idéia de outono,
e as flores (de ipê) à primavera - estações
opostas no calendário.
O pau-brasil
e o ipê cor-de-rosa são as duas árvores mais representativas
do Brasil. Realizei uma pequena pesquisa
para identificar qual delas era a árvore símbolo do país.
Não descobri. Entretanto, a explicação mais plausível,
após tanta confusão, é que o pau-brasil seja a árvore-símbolo
do Brasil e a flor do ipê cor-de-rosa, a flor-símbolo.
A homogeneidade no
poema fica estabelecida quando o autor cita a árvore mais representativa
do pampa, o umbu, e uma das mais representativas do trópico brasileiro,
o ipê.
c) Quarto escuro.
E de noite
o ringido da porta do quarto dele
Não
me deixou dormir
d) Quintal da
casa de Tyrteu.
Na manhã
seguinte
Os logares
escondidos no quintal
Tinham um
cheiro insuportavel
Porque o seu
Nagib nos apuros não seguira
As recomendações
da commissão Rockefeller
Sobre a fossa
fixa