Cachaça
Meus amigos, camaradas,
A Associação de que falo,
Mas, antes de organizar
A canguara tem o dom,
Da doença é preservativa,
Quantas vezes atacado
Quantas vezes a insônia
Beber canguara é um vício
E era Juiz de Direito,
Não só bebe o analfabeto,
A caña espanta a tristeza
P'ra fortalecer a "Liga"
E bebe a mulher casada,
Como não há de beber-se
Nas bacantes, as mulheres
E os Gregos, os Romanos,
Quantos há que não reagem
É um vício inveterado
Nós, cá, nos embriagamos
O ópio e a cocaína...
Não há povo que não tenha
Bebe o rico, bebe o pobre,
Lobo da Costa, o poeta
Embora fosse transviado,
Num dia o poeta caído,
Diz o poeta, então embriagado,
Andrade Neves, que foi
Não deixou de o ser por isso
Eduardo Lima, também,
Transviado, não obstante,
E o doutor Herculano
Dizem que por um desgosto
A canguara é aperitivo,
Fernando Abbot, o médico
Até os santos bebiam,
E quem é que não conhece
E quantas vezes nos pampas,
Quem é que caça, que pesca
É antídoto a canguara.
Tem ação nas lutas, onde
Osório dava aos soldados.
Quem não bebe ao som da gaita
Qual gaúcho que se nega
Na luta de vinte e três,
Ferido Monteiro, em campo,
Até almas d'outro mundo
Um espírito vagante,
Do nosso Exército um cabo,
Sem medo virou-se e disse,
Qual não foi sua surpresa,
Esse espírito, em Palmeira,
Dizem que voltara à casa
Quando espiríto encarnado
Quantas vezes, nas tavernas,
Nossa crença, embora morte
Que não se abandone a caña
Aos bebedores eu peço
Ela fez um surdo ouvir
Que sejam os armazéns
Uma cousa interessante
A canguara em muitos casos
Vou terminar estas rimas,
Liga Pró-Alcoolica
A Associação de que falo,
Todo sócio d'esta Liga
O motivo d'esta Liga
Nossa lei é letra morta
Pois um público empregado,
Será Diretor da Liga
Um homem que está talhado
Será ele o Presidente,
Pra Segundo Presidente
P'ra secretario, o Augusto,
Para segundo - o Theobaldo,
Orador Clímaco Castro,
Tesoureiro - Thierry Vianna,
O seu Nestor Ataíde
(Não é só desses bolichos
Será também convidado
Será também incluído
Entra o sub-delegado
Também entra o Nestorzinho
O coronel Álvaro Marques,
Também entra o Heltemino
Também entra como sócio
Entraram tabém na Liga
Será sócio um que só gosta
Fara parte outro que gosta
Seu Emílio e Luiz Trombini
Meu amigo Zeca Carpes
João Azzolin, comerciante,
Jacinto e José Trombini,
Também entra nesta Liga
Também entra Inácio Bica,
José Dorneles, cambista
Farão parte desta Liga
O seu Lodônio Leiria,
Nos discursos, seu Lodônio,
Fará parte desta Liga,
Também entra o seu Sefrin,
Ama a arte venatória
Também entra o fazendeiro
Também entra o João Otávio,
Fará parte desta Liga
Entrará Conrado Antunes,
Também entra um trovador
Januário Batista Tubino, Narinho.
A
cidade de Sabará, em Minas Gerais, promove o Festival da Cachaça
no mês de junho.
Como
reconhecer as melhores
O Elogio da Cachaça
Me prestem toda atenção
Vai formar-se nesta vila
Uma grande Associação.
(Não julguem que seja asneira),
Tem o fim de incentivar
Nesta vila a bebedeira.
A sua Diretoria,
Vou fazer em tôscas rimas
Da canguara a apologia.
Quando é pura, não tem água,
De desfazer em nossa alma
Qualquer sentimento ou mágoa.
Assim sendo nos ampara;
Eu enfrentei a espanhola
Com dez litros de canguara.
Eu fui de uma nevralgia;
E se não fosse a cachaça.
De certo que eu não dormia.
Veio cá me acometer;
Apelando p'ra canguara
Sempre a pude combater.
Que está generalizado;
Em São Luiz havia um juiz
Que vivia embriagado.
Infelizmente hoje é morto,
Achou que, beber cachaça,
Era direito, não torto.
Porém, intelectuais;
Porque a caninha dissipa
Nossas impressões morais.
Deixa o povo divertido;
E muita mulher casada
Na caña logra o marido.
Invoco a Mitologia;
Para festejar deus Baco
Quanto vinho, quanta orgia.
E bebe a moça solteira;
De deus Baco originou-se
A eterna bebedeira.
Canguara pura ou com mel,
Pois, se Baco, o deus do vinho
Está sentado num tonel.
Pelo vinho embriagadas,
Dançavam, empunhando archote,
Quase nuas, desgrenhadas.
Com as orgias bacanais...
Festas de grandes desordens,
Cada qual bebia mais.
Contra quem lhes ofendeu;
Acham na caña a coragem
Que o berço numca lhes deu.
No Brasil por toda gente;
O bugre do Mato Grosso
Também usa entorpecente.
Com a nossa caña crioula
Lá na China se embriagam
Com o suco da papoula.
De tudo que é entorpecente,
O que menos mal nos faz
É a nossa pura aguardente.
Qualquer um entorpecente;
Provado está que seu uso
Dá prazer a muita gente.
E sabem porque razão;
Quanto poeta, na canguara
Encontrou inspiração.
Que morreu embriagado,
Quantas vezes, foi seu verso
Pela canguara inspirado.
Na poesia foi um destro;
Por sua beleza fecunda
E a beleza de seu estro.
Um amigo dá-lhe a mão:
"Levanta Lobo, que vai
Passar uma procissão".
(Os que não souberem disto leiam),
Qu'importa que a humanidade tombe
Quando as divindades cambaleiam.
Uma inteligência rara,
Antes de sua oratória
Enpinava uma canguara.
Um prodígio, ou um portento;
Pela eloqüência do verbo
E o brilho de seu talento.
Que foi o leão da tribuna;
Quantas vezes o seu verbo
Fêz-se ouvir nesta comuna.
Legou à posteridade,
Bons exemplos de civismo
Por sua dignidade.
Que em São Paulo foi formado,
Não gostava de canguara?
Não vivia embriagado?
Que a alma lhe corroía,
Encontrando lenitivo
Na canguara que bebia.
É também estimulante;
Pois, até da medicina
Ela faz parte integrante.
Que neste mundo tombara,
Em jejum dava a seus filhos
Um traguinho de canguara.
Eu não me admiro disto...
E não foi regada a vinho
A ceia de Jesus Cristo?
Santo Onofre, no Brasil?
Sua imagem não carrega
A meia espalda um cantil.
Com o tropeiro a gente tópa;
Que, sem caña ele não pode
De noite rondar a tropa.
De linha, espinhél, tarrafa,
Que não leve em sua mala
De canguara uma garrafa?
Cito um fato que se deu:
Mordido o dedo por cobra...
Foi a cobra que morreu!
A nossa vida se esvai;
Estimulou nossas tropas
Na guerra do Paraguai.
Com sua coragem rara,
Uma mistura composta
De pólvora com canguara.
Ao ouvir-se dela o guincho,
Ajudada por um pinho,
No estrougir dum bochincho?
Aos bailados de seus pagos,
P'ra dançar ao som da gaita,
Do violão... tomar uns tragos?
Me disse uma testemunha,
Que a caña foi receitada
Ali por Flores da Cunha.
Flores chega e o abraça;
E mandou sua ordenança
Dá-lhe um trago de cachaça.
Já tinham a bebedeira
Eu cito um caso recente
Que ora empolga a Palmeira.
assim um jornal traduz:
Abre portas, fecha portas,
Acende e apaga luz.
Bebendo com toda a calma,
Ouviu que nas suas costas
Bem perto batiam palma.
Sorrindo, com ar de graça:
"Se tu és um bicho mesmo
Toma um trago de cachaça".
Já um tanto impressionado,
Quando viu que foi o copo
Aos poquitos esvaziado.
Está chamando a atenção;
Pois só não bebe cachaça,
Como toma chimarrão!
Que foi sua nesses pagos;
Depois de andar noutro mundo...
Cá, tornar, beber uns tragos!?
Em que farras se envolveu;
Que ainda, depois de morto,
Ele numca se esqueceu.
Esse espírito bebeu;
Neste mundo, junto ao bloco
Que com ele conviveu.
Nos leve na garra adunca,
Se fortalece, no caso:
Noss'alma não morre numca.
Pela sua propriedade;
É a mola prepotente
Que agita a humanidade.
Seu concurso à Associação;
A inércia mata um povo,
É preciso agitação.
Também fez um cego ver;
A um mudo fez falar
E a um cocho fez correr.
Substituídos por diques;
Por ora tem o Rio Grande
Só uns três mil alambiques.
Com a cachaça sempre ocorre:
Se cai um rico, - é um ataque.
Cai um pobre, - está no porre.
Da vida nos dá conforto;
E eu até já não duvido
Que ela ressuscite um morto.
Porém, sobraçando um pinho;
Que serão então cantadas
Pelo trovador Narinho.
Meus amigos, camaradas,
Me prestem toda atenção
Vai formar-se nesta vila
Uma grande Associação.
(Não julguem que seja asneira),
Tem o fim de incentivar
Nesta vila a bebedeira.
Deve ser homem Virtuoso:
Só póde entrar jogador,
Ou bêbado e mentiroso.
Foi a queda do Augusto
Que desandou lá do Club...
Não morreu, mas levou susto.
(Queijo em francês, é FROMAGE);
No CLUBE se joga e bebe,
A Lei ali é bobagem.
De certa categoria,
Não deve beber ao ponto
De perder a escadaria.
Um homem sem impostura;
Que conheça bem canguara,
Se tem água ou é bem pura.
Para ser o Presidente,
É o doutor Tyrteu Vianna,
Um rapaz inteligente.
(Pois tem grau de bacharel).
Conhecedor de bons vinhos,
De caña pura ou com mel.
Será então escolhido,
Cidade Filho, notário,
Que bebe, mas, escondido.
Que do copo não se arreda,
Pois tem uma letra boa
E não morre mais de queda.
Que não é nenhum tartufo;
Só por ser apologista
Da canguara do Peruffo.
Que sem um cargo não fica;
É quem consome a caninha
Da casa do Inácio Bica.
Que simpatiza com a FU;
É um freguês infalível
Do botequim do Chirú.
Nesta Liga se admite,
Por freqüentar os bolichos
Do Nengo e do Walter Witt.
A canguara que ele traga;
Ressabiando os bolicheiros,
Pois ele bebe e não paga).
Para sócio desta Liga
Um que gosta da branquinha:
Conhecido por "Bexiga".
O nosso amigo Godoaldo,
E o conhecido funil
Que acóde por Brinaldo.
Conhecido por "Barraca";
Quer seja vinho ou canguara
Com energia ele ataca.
Por gostar da bebedeira;
Ninguém fica sem levar
Um frasquinho n'' algibeira.
(Não entra aqui puritano),
Fará parte d'esta Liga
Por gostar do "ADRIANO".
Inspetor de quarteirão,
Gosta muito da canguara
No inverno e no verão.
Na Liga da bebedeira,
O barbeiro, meu vizinho,
Evangelino Caldeira.
Quem usa casaca e frack;
Só por beberem wisky,
Cerveja, vinho e cognac.
De vinho de pura uva
XXXXXXXXXXXXX
O viajante Bocaiúva.
Da caña e do "NACIONAL";
O ajudante de cartório
Chamado Antônio Natal.
(O alambique os ampara),
Entrarão como inventores
Da legítima canguara.
Será também associado;
Comigo, nas pescarias,
Canguara ele tem tomado.
Entrará na Associação;
Não vende um cálix de caña
Sem beijar o garrafão.
Desta Liga serão sócios;
Não só gostam da canguara,
Pois dela fazem negócios.
Chirú Funck, meu parente;
Não só bebe, como paga
Canguara pra toda gente.
Que aplica a homeopatia;
Pois, não despreza a canguara
Quando está numa folia.
Cá dá rua d'Obelisco,
Fará parte porque gosta
Da caña de São Francisco.
Seus companheiros de ofício;
Que uma parte dos bilhetes
Consagram p'ro mesmo vício.
Um prócer da oposição,
Por apreciar os bons vinhos
Entra nesta Associação.
Gaúcho modesto e leal,
Se torna tão expansivo
Que fica até liberal.
"Nengo", sub-delegado;
Só por gostar da caninha,
A qual sempre foi ligado.
Um caçador de perdiz,
XXXXXXXXXXXX
Em São Francisco de Assis.
No nosso grande Brasil;
Pode esquecer-se da arma,
Mas, numca do seu cantil.
Chamado Crispim Jardim;
Quando toma sua canguara
Numca se lembra de mim.
Um distinto advogado;
Lá no jantar da "Mulata"
Deixou um litro esvaziado.
O advogado Leitão,
Que, junto co'o seu colega
Bebeu no mesmo salão.
Um barbeiro veterano;
Gosta muito de canguara
E usa vinho "Serrano".
Que se chama Assis do Prado
Da canguara lá do Walter
Numca ele foi divorciado.
Origem
A Europa do século XVII experimentava uma bebida nova que fazia
o maior sucesso, o rum, vindo da Jamaica. Era uma fermentação
e destilação do mel da cana-de-açúcar. Os portugueses
já tinham uma bebida feita de borra de vinho. Decidiram, porém,
aproveitar o mel de cana abundante por aqui. A idéia era ter uma
bebida própria, também de cana-de-açúcar, para
competir com o rum. Nascia assim a cachaça, também conhecida
como "garopa" e "jeribita". No princípio, a cachaça era a
bebida do brasileiro pobre. Mas logo foi conquistando todas as classes
sociais.
Uma bebida de muitos nomes
Aguardente
Aguarrás
Azuladinha
Azulzinha
Borbulhante
Branquinha
Canha
Caxixi
Dengosa
Engasga-gato
Filha do senhor de engenho
Gás
Homeopatia
Junça
Maçangana
Mamãe-de-aluana
Mamãe-sacode
Mandureba
Manjopina
Mata o bicho
Mé
Meladinha
Miscorete
Quebra-goela
Patrícia
Perigosa
Pindaíba
Pinga
Porongo
Retrós
Sipia
Teimosa
Tira-teimas
Zuninga
www.guiadoscuriosos.com.br
Cachaça
Pinga, garapa, canjibrina, manguaça, mé, uma, branquinha,
pura, martelo, água que passarinho não bebe, goro, parati,
cana, caninha, caiana, birita. São infinitos sinônimos. Os
apreciadores de destilados se relacionam com esta típica bebida
brasileira numa escala que vai da paixão à esnobação.
Ela surgiu no tempo da colonização portuguesa no Brasil,
nos antigos engenhos de açúcar, onde o refugo da produção
era dado aos animais e aos escravos. Estes, por sua vez, deixavam a borra
do melaço de cana fermentar por alguns dias e daí se extraía
a aguardente. Hoje a cachaça é produzida em todo o país.
Os números são desconhecidos, devido à quantidade
de alambiques caseiros e clandestinos. Entre as melhores marcas estão
as mineiras das cidades de Salinas (terra da insuperável Havana
e da boa Indaiazinha), de Januária e de São Tiago, como a
Espírito de Minas, a paulista Santo Grau, a catarinense Armazém
Vieira e a cearense Ypióca reserva especial, envelhecida seis anos,
e a carioca Nega Fulô. No Nordeste prevalecem as cachaças
adoçadas. No Sul prevalecem as cachaças aromatizadas, de
nítida influência européia.
Da aguardente que sai do alambique apenas 20% é o chamado "coração"
da cachaça, a parte mais nobre, de virtudes excepcionais. Ficam
de fora de uma produção cuidadosa e honesta a "cabeça"
e a "cauda", ou seja, o início e o fim de uma alambicagem. Para
reconhecer a boa cachaça observe:
• Ela tem consistência semelhante
à do licor e parece levemente oleosa.
www.uol.com.br/claudiacozinha/portal/bebidas/
• Como o vinho, forma "lágrimas"
no copo.
• Seu aroma deve lembrar o da cana.
• Não arde na boca nem na garganta.
• Forma um "colar" de bolhas por, no máximo,
30 segundos, quando a garrafa é sacudida.
• Não dá ressaca.