A Revolução Soviética - A Rússia viveu no início desse século três grandes movimentos revolucionários: A Revolução de 1905; e as duas revoluções de 1917. Em todas a organização dos sovietes e sua ação política foi fundamental.
A Revolução
Democrática
Em 1905
a Rússia conheceu sua primeira grande revolução; país
atrasado economicamente, lançou-se em uma aventura militar contra
o Japão, numa disputa neocolonialista pela região da Mandchúria,
agravando a precária situação da população
tanto do campo como das cidades.
Desde janeiro
de 1905 as manifestações sociais se multiplicaram: marchas,
greves e motins militares que, mesmo violentamente reprimidos serviram
para dar maior organização aos trabalhadores, e garantiram
algumas conquistas políticas, de caráter liberal. No entanto,
podemos considerar que a maior vitória popular foi sua auto-organização
política, independente, classista: os sovietes.
Os sovietes
eram conselhos formados por operários e soldados, eleitos nas fábricas
e nos regimentos militares, excluída a participação
dos burgueses e oficiais. Como representantes dos trabalhadores da capital,
São Petersburgo, foram responsáveis por conduzir a luta contra
a autocracia czarista, reivindicando melhores condições de
vida e de trabalho, direito de greve, reforma agrária e a formação
de uma Assembléia Nacional. Na prática os sovietes constituíram-se
como um “poder paralelo” e representaram um grande salto no processo de
organização e conscientização política
da classe operária.
O refluxo
do movimento, a partir das conquistas obtidas, fez com que os líderes
dos sovietes fossem forçados ao exílio ou presos pelo czar.
A Revolução
Burguesa - fevereiro de 17
A revolução
de fevereiro foi reflexo da participação da Rússia
na 1° Guerra Mundial. A Rússia tentava aliar o desenvolvimento
industrial à manutenção da estrutura absolutista de
poder. A industrialização russa, tardia, não deveu-se
à ascensão da burguesia ao poder, como ocorreu em outros
países, foi fruto da abertura do país ao capital estrangeiro,
em especial inglês e francês, fato que explica a participação
do país na grande guerra: a mentalidade imperialista e expansionista
em busca de mercados e a dependência frente ao capitalismo dessas
duas potências.
A derrubado
do czarismo e a formação de um governo provisório,
representou a ascensão da burguesia ao poder, porém não
representou apenas uma substituição de governantes, pois
somente foi possível a partir da organização e mobilização
de trabalhadores e soldados, organizados novamente nos sovietes.
No início
de 1917, a situação era de tamanha gravidade que as greves
se multiplicavam e os soldados que abandonavam as frentes de batalha retornavam
à cidade e organizavam-se contra o governo. Em fevereiro, o potencial
revolucionário das massas seria canalizado por líderes burgueses
contra o absolutismo e a favor de reformas.
A Revolução
Socialista - outubro de 17
“Todo poder
aos Sovietes”. Essa tornou-se a palavra de ordem dos Bolcheviques a partir
de junho de 17, em oposição ao governo provisório,
que manteve a Rússia na guerra.
Reivindicar
o poder para os sovietes seria a forma de iniciar a construção
de uma sociedade socialista, mas antes de tudo, serviu para demonstrar
a política traidora do Partido Menchevique e do Partido Socialista
Revolucionário - que apoiavam o governo provisório - e ao
mesmo tempo estavam em maioria nos sovietes. Nesse sentido a palavra de
ordem significava: “Governem em nome dos trabalhadores e não aliados
com a burguesia”. Os partidos que se diziam socialistas começavam
a ser desmascarados e o Partido Bolchevique passaria a ser a principal
referência política para os trabalhadores.
Em setembro
a maioria dos membros eleitos para o soviete de Petrogrado eram bolcheviques
e sob o comando de Trótski formaram a Guarda vermelha e o Comitê
Militar Revolucionário: estava aberto o caminho para a tomada do
poder.
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Anarquismo
X Bolchevismo
Texto que
resgata a história do irreconciliável embate entre as forças
organizadas e os projetos políticos anarquistas e bolchevistas no
Brasil e também em todo o mundo.
O
Episódio da Rua Frei Caneca: 70 Anos
Pode-se
dizer que tudo começou em meados de 1921, quando chegou na redação
do diário anarquista A Vanguarda, em São Paulo, o
delegado do governo soviético para a América do Sul, Ramison
Soubiroff. Veio oferecer a Edgard Leuenroth, editor daquele jornal, plenos
poderes para a organização do partido bolchevique no Brasil.
Após uma reunião amigável no Palace Hotel, Edgard
recusa o convite e indica para a incumbência o já “vacilante
anarquista” Astrogildo Pereira, que morava no Rio de Janeiro, então
Distrito Federal. Poucos dias depois, Astrogildo chega a São Paulo
e, encaminhado por seu (até então) amigo Leuenroth, é
recebido por Soubiroff no mesmo hotel, onde aceitaria a tarefa de organizar
o Partido Comunista.
Após
as inúmeras greves da década de 10, que culminaram com a
grande greve de 1917 e a tentativa de insurreição no Rio
de Janeiro (1918), o movimento anarquista sofreu por parte do governo Epitácio
Pessoa uma feroz perseguição, quando foram deportados entre
1919 e 1921 centenas de ativistas libertários estrangeiros. Os sindicatos
sofreram forte pressão por parte da polícia, sendo que muitos
foram fechados, e seus integrantes presos. Apesar de toda a repressão,
organizou-se no Rio no final de abril de 1920, o 3° Congresso Operário
Brasileiro, na Rua do Acre, n° 19, sede da União dos Operários
em Fábricas de Tecidos.
Em março
de 1922, Astrogildo Pereira e mais 11 militantes, fundam o Partido Comunista
do Brasil (PCB). A reação inicial da maioria dos anarquistas
do Rio de Janeiro foi de cautela, visto que a maioria dos fundadores do
PC era oriunda do anarco-sindicalismo. Alguns libertários, entretanto,
reagiram enfurecidos à traição, entre esses o sapateiro
Galileu Sanchez, mais conhecido como Pedro Bastos, que chamou os integrantes
da Seção Brasileira da III Internacional de “ratazanas de
capas vermelhas”. Talvez tenha sido a última coisa certa que ele
disse na vida...
Não
demorou muito para os ânimos entre os ativistas das duas tendências
se acirrassem. Os anarquistas eram bem mais numerosos, hegemônicos
em diversos sindicatos, sendo os principais a União dos Operários
em Construção Civil (UOCC), a União Geral dos Trabalhadores
em Hotéis, Restaurantes, Cafés e Similares (os “gastronômicos”)
e a Alliança dos Operários em Calçados e Classes Anexas
(os “sapateiros”). Desde 1921, a imprensa libertária vinha publicando
notícias sobre as perseguições, fuzilamentos e deportação
dos anarquistas na União Soviética, fazendo com que aquela
ilusão inicial de muitos libertários perante à Revolução
Russa fosse desmoronando. Já em 1923, os bolchevistas (como os anarquistas
os chamavam), controlavam duas ou três organizações
sindicais, sendo a principal a União dos Alfaiates. Já praticavam,
com aquela falta de ética que sempre lhes foi peculiar, atos de
provocação, calúnia e difamação contra
militantes anarquistas, chegando ao ponto de perpetrar emboscadas, como
as agressões sofridas por Marques da Costa e Izidoro Augusto, em
1923. Os anarquistas, no entanto, estavam mais preocupados com a forte
repressão exercida pela polícia do Marechal Carneiro da Fontoura
(o “Marechal Escuridão”), que constantemente prendia seus ativistas,
invadia as sedes sindicais e impedia suas manifestações.
Mesmo assim, reorganizou-se a Federação Operária do
Rio de Janeiro (FORJ) a partir do segundo semestre de 1923, que veio a
reunir mais de uma dezena de organizações de tendência
anarco-sindicalista até o ano seguinte.
Em março
de 1924, foi fechada a sede da UOCC na Rua Barão de São Félix,
no 119. A sede, da UOCC, da FORJ, dos “gastronômicos”, dos “sapateiros”
e dos “tanoeiros” foi, então, reunida na Praça da República,
no 42/3°andar. As prisões de ativistas ácratas se sucedem
e, nesse mesmo mês, o jornal anarquista A Plebe, de São Paulo,
é proibido de circular nas repartições postais do
Brasil. No dia 5 de julho, ocorre em São Paulo uma sublevação
militar liderada pelo General Isidoro Dias Lopes, contra o governo ditatorial
de Artur Bernardes. Diversos libertários paulistas assinaram uma
moção de apoio a sublevação e solicitaram armas
para a formação de um batalhão ácrata, que
evidentemente foram recusadas. A derrota da sublevação é
a “deixa” para o governo Bernardes desencadear uma feroz perseguição
aos anarquistas, especialmente aqueles que haviam assinado a moção.
As sedes das organizações libertárias do Rio e São
Paulo foram saqueadas e fechadas pela polícia e, centenas de ativistas
foram encarcerados nos presídios estaduais ou deportados para as
ilhas Rasa, das Flores e do Bom Jesus, ou para a distante “Colônia
Agrícola” da Clevelândia, na fronteira com a Guiana Francesa,
onde morreram vários companheiros.
Enquanto
isso, os “valorosos” bolchevistas se faziam de mortos, aproveitando o desmantelamento
do movimento libertário para captar novos integrantes e fazer crescer
sua influência nos sindicatos. Cresceu também a influência
dos sindicatos colaboracionistas (“amarelos”), que viriam a se tornar a
base de todo o sindicalismo oficial de Getúlio Vargas, na década
de 30.
Com o fim
do governo Bernardes e do Estado de Sítio no início de 1927,
grande parte dos militantes libertários foram soltos e retornaram
à luta nos sindicatos e na campanha pró-Sacco e Vanzetti.
O movimento renasce e, evidentemente, voltam a se acirrar as relações
com os bolchevistas. Em agosto desse ano, outro duro golpe para os
anarquistas foi a prisão e o
desaparecimento em São Paulo
do grande militante Domingos Passos, conhecido como o “Bakunin brasileiro”.
Em 1928,
os militantes bolchevistas no país eram cerca de 1.250 segundo Leôncio
Basbaum, o que discorda Edgar Rodrigues, que aponta para um número
bem inferior em seu livro Novos Rumos. Haviam candidatado-se a vereadores
pelo Bloco Operário e Camponês os dirigentes bolchevistas
Octávio Brandão e Minervino de Oliveira e, no ano anterior,
o PCB apoiou a eleição para deputado federal do Dr. Azevedo
Lima. A luta pelo controle dos sindicatos era intensa entre os anarquistas,
bolchevistas e amarelos. Os bolchevistas, ainda mais intensamente, promoviam
atos de provocação durante as reuniões dos sindicatos
por eles não controlados produzindo, quando as deliberações
não eram encaminhadas segundo os seus desígnios, tumultos
através dos famigerados “rapazes da Tcheka”. Os libertários,
mesmo nas categorias onde eram minoritários, estavam lá para
se fazer ouvir e acusar as práticas
ditatoriais e aéticas dos estalinistas.
Em conferência
eleitoreira de Azevedo Lima na sede dos “marinheiros remadores”, na Praça
Harmonia, José Oiticica e outros libertários lá estavam
para desmascarar os bolchevistas, sendo violentamente ameaçados
pela claque “de capas vermelhas”. Ficou marcada outra conferência
para a sede dos “tecelões”, na Rua do Acre, n° 19, onde a polêmica
anarquistas-bolchevistas prosseguiu mais pesada, quando os candidatos do
PC defenderam suas
candidaturas e racionalizaram sobre os
crimes de Stalin. Como não conseguiram um resultado satisfatório,
acusaram de agente policial o então presidente da União dos
Operários em Fábricas de Tecidos, Joaquim Pereira de Oliveira,
que tinha derrotado a chapa bolchevista nas eleições sindicais.
Azevedo
Lima afirmou poder provar a acusação e desafiou o acusado
e demais contendores para um novo debate na sede dos “gráficos”
e “marceneiros”, na Rua Frei Caneca, n° 4 (hoje o prédio da
Gafieira Elite), no dia 14 de fevereiro. Segundo depoimentos de velhos
companheiros presentes a reunião (vide Edgar Rodrigues in Novos
Rumos, p.296), “essa reunião (...) foi uma descarada chantagem armada
para provocar a desordem, que daria motivo ao assassinato dos anarquistas
José Oiticica, João Perez, Albino de Barros, Joaquim Pereira
de Oliveira, Antonino Dominguez e outros marcados para morrer”. Após
Azevedo Lima ter feito todas as acusações a Pereira de Oliveira
este, ao tentar se defender, foi impedido por uma claque comandada por
Roberto Morena e Octávio Brandão. Feito o tumulto, entram
no recinto Eusébio Manjon e Galileu Sanchez (o mesmo Pedro Bastos
das “ratazanas de capas vermelhas”) e descarregam os revólveres
sobre a assistência, buscando atingir os anarquistas já relacionados.
Foram atingidos mortalmente o sapateiro anarquista e grande militante social
Antonino Dominguez e, devido a falta
de mira dos assassinos, o gráfico bolchevista Damião José
da Silva. Foram feridos diversos outros operários que, se esvaindo
em sangue, tiveram que fugir para não morrerem nas celas da polícia
carioca.
Em plena
segunda-feira de Carnaval, um longo cortejo fúnebre saiu da Praça
da República em direção ao cemitério São
Francisco Xavier, onde foi enterrado por seus familiares, amigos e companheiros
o operário Antonino Dominguez, assassinado pelas “ratazanas vermelhas”.
http://brasil.indymedia.org/front.php3?article_id=9034&group=webcast
by Renato Ramos - CELIP 4:30pm Wed Oct 24 '01
http://www.ceca.org.br/edgar/sacco.htm