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       Amaro Juvenal (pseud. de Ramiro Fortes de Barcelos) (Cachoeira do Sul RS 1851 - Porto Alegre RS 1916).
        A partir de 1882, fundador do jornal O Novo Mundo, de parceria com Graciano Alves de Azambuja, onde apareceu pela primeira vez com o pseudônimo de Amaro Juvenal.
        No periódico A Federação, ridicularizava a política do gabinete e a princesa regente, conquistando fama de satírico. Deputado à Assembléia Constituinte, senador, membro da Constituinte, participou das operações militares contra a federação federalista. Reeleito senador, apresentou projeto instituindo nova moeda: o cruzeiro.
        Discordou da candidatura Hermes da Fonseca, apelando para Borges de Medeiros, que não respondeu; mas A Federação publicou, semanas depois, um telegrama de Borges de Medeiros a Pinheiro Machado, contendo alusão desairosa a Ramiro Barcelos. Este respondeu com vários artigos de jornal e, finalmente, com a sátira Antônio Chimango, que o notabilizou.

        Trechos de Antônio Chimango

O certo é que o teatino
Tornou-se enfim um graúdo,
Chegando a abocanhar tudo,
Tornando-se um pente fino.

Dia quente, de mormaço.
A gente vinha abombada.
Custou-se a achar uma aguada
Onde o boi bebesse a gosto,
E era já quase sol posto,
Não se tinha andado nada

Tanto a gente como a tropa
Vinha muito aborrecida
Daquela marcha batida
Por dentro de um corredor.
O alambrado é um pavor
Pra quem anda nesta lida.

Fez-le muitos cumprimentos,
Muita festa, muito enguiço
Até mandou-lhe um petiço.
E nele o dar era raro;
Gaúcho de muito faro
Pra amanunciar um noviço.

Deixou-se apenas pegado,
Pra não se ficar de a pé,
Um redomão pangaré
Que vinha um tanto aplastado.

(Conta-se que Borges de Medeiros, ao ler a sátira, discordou dessa assertiva, dizendo que um gaúcho deixa pegado, sempre, um animal manso, em boa forma, e nunca, um redomão, principalmente se este estiver aplastado.)

Antes que ficasse escuro,
As camas foi-se arranjando
C'os arreios e tratando
De ver lenha pra o fogão,
Que um bom fogo é o galardão
De um pobre que anda tropeando.

Às meninas les dizia
Coisas de seus namorados,
Às velhas de seus pecados,
cometidos noutras eras,
no bamburral das taperas,
ou no fundo dos cercados.

O gado foi descambando
Que a correnteza era forte;
Mas o dia era de sorte
E o Lautério, bunacho,
Ganhou porto logo abaixo
Com todo o primeiro corte.

No que chegava do campo
O padrinho, ele já rente
Co'a chaleira d'água quente
Pra cevar o mate amargo.

E o Chimango ali se via,
Numa égua velha de em pêlo,
Atacando o sinuelo...
Que era só pra o que servia.

O rolo ia sendo preto,
Mas toda a gente interveio
E meteu-se pelo meio;
Que nenhum era bem peco,
O mulato um dente seco,
O índio não dava rodeio.

Mui franco, o dono da casa,
Moço guapo e bonanchão,
Ofereceu logo o galpão,
Água, lenha, mate doce;
Parecia até que fosse
A tropa de um seu ermão.

Veio ao mundo tão flaquito,
Tão esmirrado e chochinho
Que, ao finado seu padrinho
Disse espantada a comadre:
- Virgem do céu, Santo Padre!
 Isto é gente ou passarinho?


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