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TEATRO  PREZEWODOWSKI

         Poucos sabem que na cidade de Itaqui – Rio Grande do Sul, fronteira com a cidade de Alvear – República Argentina, existe um dos Teatros mais antigos do Brasil e da América do Sul. Creio que, pela sua origem, constitui o mais importante subsídio para a história do teatro nacional.
         Importante é citar a história do nosso teatro, importante é citar o incidente diplomático ocorrido em 22 de junho de 1874 entre as cidades de Itaqui-Brasil e Alvear – Argentina, separadas pelas do Rio Uruguai.
         ESTANISLAU PREZEWODOWSKI Capitão-Tenente, comandante da Flotilha de guerra do alto Uruguai, sediada em Itaqui, no período de 1872 a 1874. Na tarde de 18 de junho de 1874, tendo o Dr. PAMPHILO MANOEL FREIRE DE CARVALHO, médico-cirurgião da Marinha de Guerra Brasileira, ido a Alvear atender a um doente, ao desembarcar do que arvorara a bandeira brasileira, foi atacado pelos italianos Vicente Legatto e Guido Bonatti, charlatães que passavam por médicos, que ali o esperavam de tocaia, armados de facões e espingardas de caça. Depois de Breve luta, o Dr. PAMPHILO, recebendo vários ferimentos, ficou estatelado em terra, esvaindo-se em sangue. A guarda Argentina tudo presenciou, mostrando-se omissa, embora o médico brasileiro envergasse a farda de Capitão-Médico da Marinha Brasileira. Os charlatões italianos vingavam-se do médico brasileiro, pela preferência que lhe dava a população das duas cidades – Itaqui e Alvear. Supondo-o morto, e sem que ninguém os impedisse, os atacantes fugiram.
         Socorrido por gente amiga, o Dr. PAMPHILO retornou a Itaqui, apresentando queixa ao Comandante da Flotilha, ainda todo ensangüentado.
         PREZEWODOWSKI não vacilou. Pertencia a essa classe de homens que, chamados à ação, não perdem tempo em refletir na possível dimensão de suas conquistas.
         Reúne em conselho os oficiais sob seu comando, o que resulta no envio de uma nota exigindo satisfação às autoridades de Alvear, a qual não teve resposta. Ofendido em seus brios, PREZEWODOWSKI apresenta um ultimato àquelas autoridades.
         Se não fossem dadas as devidas satisfações pela omissão no covarde atentado ao benquisto Cap.-Médico da Marinha, bombardearia a cidade. O ultimato fora mandado no dia 21 de junho de 1874. O bravo Comandante esperou até o dia 22, quando ordenou que os monitores “Rio Grande” e “Alagoas” tomassem posição de batalha, iniciando o bombardeio. Com grande intervalo, foram atirados alguns obuses por cima da cidade de Alvear, para não ofender a população. Ao quarto tiro, uma comissão de comerciantes de Alvear vem a bordo pedir a PREZEWODOWSKI para não continuar o bombardeio, informando que as autoridades argentinas tinham-se retirado da cidade. Considerando o Brasil desagravado, o comandante da Flotilha ordenou a suspensão do fogo.
         Não existe registro escrito ou tradição oral dos resultados locais do atentado ao Médico da Marinha. Do incidente internacional, sabemos que o Governo Imperial, em 1º de julho de 1874, reprovou o ato do comandante da Flotilha, mandando substituí-lo e submete-lo a Conselho de Guerra. Em 7 de novembro de 1874, o Capitão-Tenente ESTANISLAU PREZEWODOWSKI foi absolvido por unanimidade. O seu nome figura em 12º lugar entre os 19 heróis inscritos no livro de ouro da Marinha Brasileira, destacados por atos de bravura na guerra do Paraguai.
         PREZEWODOWSKI, de ascendência polaca, nasceu em Salvador – Bahia, em 22 de outubro de 1843, falecendo no mesmo Estado, em 15 de agosto de 1903.
         Uma versão diz que foi esta a origem do “TEATRO PREZEWODOWSKI”, construído pela população de Itaqui, para perpetuar o nome do herói brasileiro. Outra, diz que PREZEWODOWSKI, foi o precursor da idéia de sua construção, iniciada em 1874, meses antes do incidente internacional.
         O que temos como certo é que se trata de um dos teatros mais antigos do Brasil.
         Em 24 de novembro de 1942, um dos acionistas, desejando reaver seu capital, subscrito por ocasião da formação da Sociedade, e esta não podendo reembolsa-lo, moveu ação judicial contra a mesma, obrigando-a a vender em hasta pública o histórico teatro.
         Não possuindo a Prefeitura Municipal autorização do Departamento Administrativo do Estado para a arrematação, o ilustre médico Dr. ROQUE DEGRAZIA, a fim de evitar que o teatro fosse destinado a atividades que não as das artes e da cultura, comprou-o em seu nome, pela importância de trinta e dois mil cruzeiros, para posterior incorporação ao patrimônio Municipal, o que ocorreu, concedida a autorização pelo Departamento Administrativo das Prefeituras Municipais.
         Durante muitos anos, o Teatro PREZEWODOWSKI abrigou companhias líricas de renome internacional, que traçavam seu roteiro Rio – São Paulo – Porto Alegre – Buenos Aires – Montevidéu, com escala obrigatória em Itaqui. Importantes companhias do teatro nacional, também, ali apresentavam seus espetáculos, transformando a pequena cidade fronteiriça num pólo de atração artístico-cultural.
         Deflagrada a segunda grande guerra, as companhias de teatro estrangeiras não mais aportavam em Itaqui. As próprias companhias nacionais aos poucos se afastaram e o teatro passou a ser utilizado como cinema durante muitos anos.
         Sem ter os mínimos cuidados de conservação, lentamente corroído pela ação inclemente do tempo e das intempéries, quase chegou à ruína total.Hoje podemos sonhar novamente em rever o nosso teatro, em pleno início de restauração.Para tanto, cremos nas autoridades constituídas, na pessoa do Executivo Municipal, com o seu espírito de luta pelos nossos bens e nossa cultura.
         IMPORTANTE:
         O Teatro pertenceu à Associação Anônima Teatro Prezewodowski, constituída em 31 de outubro do ano de 1886, conforme Ata publicada no jornal “O Conservatório” de Porto Alegre, em 22 de janeiro de 1887.
         Os Estatutos da Sociedade foram publicados no jornal “A Federação” de Porto Alegre, em 17 de março de 1903.
         Em 1942, o ilustre medico itaquiense, ex-Intendente por três vezes, Dr. ROQUE DEGRAZIA, comprou em seu nome, para depois incorporar ao patrimônio Municipal, o histórico teatro, uma tradição do passado passado, que se eternizará no futuro.
         Fonte: Livro ITAQUI – 120 Anos
         1ª Edição –1979
         Autores: Cláudio Marenco  e Néri Camargo

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