Escudo Sul Rio-grandense
Curiosidades Farroupilha
Você sabia que
a Bandeira do Rio Grande do Sul foi idealizada numa Loja Maçônica
(Loja Philantropia e Liberdade)? E que esta Loja teve como Venerável
Mestre o General Bento Gonçalves da Silva? Observa-se na Bandeira
e no Brasão rio-grandenses as Colunas B\ e J\ bem como os triângulos
invertidos com a espada sustentando o capacete , entre os ramos da
ac\, símbolo da imortalidade. Este capacete também é
conhecido
como "Barrete Frígio" e simboliza
a liberdade.
A curiosidade é
que durante o Estado Novo, consta que esta Bandeira foi escondida por algum
tempo e por ordem do Presidente Getúlio Vargas não foi queimada
juntamente com outras Bandeiras. Em 1947 foi novamente hasteada e cada
dia mais se impregna no sangue dos filhos desta Terra.
A BANDEIRA - A bandeira
gaúcha, com o formato que tem hoje, apareceu durante a campanha
republicana no Brasil, na segunda metade do século XIX, quando,
querendo derrubar a monarquia de D. Pedro II, jovens políticos —
como Júlio de Castilhos — foram buscar no passado gaúcho
símbolos republicanos, do tempo em que o Rio Grande fora uma república,
durante a Guerra dos Farrapos. Naquela guerra, os farroupilhas, ao proclamarem
a República Rio-grandense, arvoraram como bandeira um pavilhão
quadrado onde figuravam as duas cores brasileiras — o verde e o amarelo
— separadas pelo vermelho da guerra. Nesta mesma época os farrapos
mandaram confeccionar no estrangeiro lenços de seda em cujo desenho
aparece muito nítida a influência da maçonaria.
Assim, durante a campanha
republicana brasileira, os "Moços da Província" (Júlio
de Castilhos e outros) pregavam o lenço farroupilha no centro de
um retângulo com as três cores farroupilhas. Logo surge uma
nova bandeira, como o brasão tirado do lenço já impresso.
O BRASÃO - O
Brasão rio-grandense é, com mínimas mudanças,
o mesmo da época dos farrapos. Sua origem exata é desconhecida
,mas se acredita que foi idealizado originalmente pelo padre Hildebrando
e desenhado em arte final pelo Major Bernardo Pires, que era Maçom
e fez toda uma alegoria maçônica ao executar a obra. Os dois
foram ilustres farroupilhas, com importantes serviços prestados
à causa.
Esta é a singela
homenagem da A\R\L\S\. "Vinte de Setembro" nº 119, pelo 165º
aniversário da Epopéia Farroupilha.
www.arls20desetembro.hpg.ig.com.br
O Lenço Farroupilha
A indumentária
gauchesca promana, como um todo complexo que é de tres fontes distintas
facilmente identificáveis.
A primeira é
logicamente ibérica - lusitana, no caso do gaúcho brasileiro.
A segunda é indígena, americana, e a terceira é gauchesca,
nascida no pampa, do próprio gaúcho.
A primeira fonte, a
ibérica, nos forneceu as botas fortes (como as russilhonas), as
esporas (como as nazarenas), as ceroulas de crivo, os calções
(bragas), o cinturão, a camisa, o jaleco, a jaqueta, o barrete,
o chapéu de feltro ou de palha (este, o abeiro português).
Peças indígenas
de nossa indumentária são o chiripá (o primitivo chiripá),
a faixa, a guaiaca original, o pala, a vincha.
E, finalmente, peças
de invenção gauchesca são vários tipos de esporas,
as botas de garrão, o chiripá passado entre as pernas, o
cinturão de guaiacas, o tirador, o pala de seda, o poncho-pala,
o poncho de oleado.
Ficam à margem
das tres fontes o poncho (possivelmente europeu) e as bombachas (turcas,
ao que tudo indica), peças tão importates no complexo que
merecem um estudo à parte.
E o lenço? Ah,
o lenço!
Seguramente essa peça
deve ser incluída entre aquelas que vieram da europa. Com écharpe,
cache-col ou foulard vem desde a Idade Média e é
feminino e masculino, alternadamente. Na França dos Luíses
aparece com destaque, sempre de seda, sempre enrolado ao pescoço,
muitas vezes apertando altos colarinhos, raramente esvoaçando aos
ventos, com as pontas soltas. Os marinheiros finalmente o trouxeram para
as Américas, como uma gola removível de suas blusas típicas.
No cone-sul americano,
na bacia do Prata o traje gaúcho a rigor nunca dispençou
o lenço de seda ao pescoço.
Saint-Hilaire que esteve
no RGS e no Prata em 1820/1821 viu gaúchos argentinos de Entre-Rios
em São Borja e descreveu-lhes a indumentária: "Trazem os
cabelos trançados e um lenço ao redor da cabeça, um
outro lenço, a que dão um nó muito solto, serve-lhes
de gravata; como arma exibem uma grande faca à cinta." (Viagem
ao Rio Grande do Sul, Universidade de São Paulo, 1974, p. 34.).
Da mesma época, Nicolau Dreys, igualmente francês, também
menciona o lenço dos gaúchos: "...um lenço, quase
sempre amarrado na cabeça,..." (Notícia Descritiva da
Província do Rio Grande de São Pedro do Sul, Instituto
Estadual do Livro, Porto Alegre, 1961, p. 163).
No Uruguai, Juan Manuel
Blanes pintou o gaúcho as vacarias de golilla, o grande lenço
aberto, esvoaçando às costas. No Brasil, o pintor Jean-Baptiste
Debret também debuxou o gaúcho do Rio Grande do Sul com o
lenço de pescoço, nos começos do século XIX.
Insofismável
como peça da indumentária gauchesca brasileira ou castelhana,
resta examinar o lenço como distintivo político, deste e
do outro lado do rio Uruguai. Na Banda Oriental, aparece o lenço
vermelho dos colorados seguidores de Frutuoso Rivera e o lencó branco
dos nacionalistas de Oribe. Na Argentina, os colorados de Juan Manuel
Rosas combatiam ferozmente os azules e blancos da oposição
provincial, anti-portenha.
No Rio Grande do Sul,
o lenço de pescoço aparece como distintivo político
na chamada Guerra dos Farrapos (1835/1845). Os farrapos de Bento Gonçalves
usavam um lenço de seda aberto, com duas pontas soltas às
costas, e atado de modo peculiar à frente, quase como uma cruz sobre
o peito.
A propósito,
José Teixeira, do Rio Pardo, que lutou no Decênio Heróico,
dá uma descrição completa do lenço, alcançando
até mesmo um desenho de sua maneira de usar e afirmando que os farrapos
não desmanchavam o nó, uma vez feito: simplesmente tiravam
o lencó - atado - pela cabeça, e depois era só colocá-lo
assim mesmo, outra vez. É o que se vê das notas de Aurélio
Porto ao Processo dos Farrapos, Arquivo Nacional, 1933, p. 475. O informante,
ele próprio um veterano farroupilha, descreve um outro símbolo
dos guerrilheiros de 35: a barba emoldurando o rosto, sem bigodes e sem
cobrir a face, assim como a que usava o General farroupilha David Canabarro.
O historiador gaúcho
Alfredo Varela, autor da monumental obra em seis alentados volumes Histórias
da Grande Revolução, publica nas primeiras páginas
do 1º volume uma litografia coloridade um quadro do pintor que se
assina simplesmente Liebscher, sem maiores identificações,
aparentemente extraída do livro Vita di Giusepe Garibaldi(?).
Nele aparece um gaúcho do período farroupilha, segundo a
legenda, em traje festivo. Esse gaúcho está usando botas
fortes, chiripágauchesco (aquele passado entre as pernas, como fralda),
faixa de cintura com ponta solta, jaleco, camisa com mangas fofas, lenço
farroupilha (colorado, aberto nas costas e com o nó de cruz) e chapéu
de feltro de copa alta e aba estreita. E, claro, ostentando a barba ao
estilo dos farrapos.
O quadro é precioso
pelas informações que alcança ao pesquisador. Em primeiro
lugar, confirma as afirmações do veterano guerrilheiro de
35 José Teixeira, do Rio Pardo, quanto ao tipo de barba que os farrapos
usavam e sobre o lencó colorado. Por outro lado, confirma as assertivas
de pesquisar anteriores (Antonio Augusto Fagundes, Indumentária
Gaúcha, IGTF, Porto Alegre, 1977) sobre o chiripá tipo
fralda efetivamente usado pelo gaúcho, nessa época. Aliás,
o autor da presente pesquisa tomou mesmo a liberdade de batizar esse chiripá
com o nome de chiripá farroupilha, para distiunguí-lo
do primitivo chiripá, que era uma espécie de semi-saia aberta
à frente. Aliás, outros estudiosos gaúchos, que nada
disseram quanto ao chiripá primitivo, negaram o chiripá passado
entre as pernas, o qual agora deverão aceitar, diante da prova iconográfica,
definitiva.
Houve um momento em
que o alto comando farroupilha, apesar do lenço colorado aberto
às costas e atado com o nó de cruz adotado espontaneamente
pelos farrapos, quis dotar as suas forças de um lenço mais
oficial.
O grande impulsionador da idéia foi sem dúvida o major Bernardo
Pires, do exército republicano, Chefe de Polícia durante
a guerra, com sede em Piratini. Pires era um gaúcho de Canguçu,
liberal e maçon e conhecido pelo seu heroísmo, a ponto de
ser chamado O Mártir do Seival, mercê de sua atuação
naquela heróica batalha. Bernardo Pires não era um homem
instruído formalmente, mas era um excelente auto-didata. Artista
plástico primitivista, insculpiu até borrachões
de chifre, para canha. E pintou a alegoria que devia constar do lenço
farroupilha, sobre uma idéia original do major Mariano de Mattos,
alto prócer farroupilha, fluminense de nascimento.
O primeiro lenço
foi mandado confeccionar nos Estados Unidos, por Bernardo Pires. E explica-se:
a pátria de Lincoln era um modelo ideal para o Brasil que os farrapos
sonhavam, com o Estados independentes e federados.
Não é
demais lembrar que o muito americano John Griggs, o João Grande
de Camaquã, lutou e morreu integrando as forças navais
republicanas, sob o mando de Garibaldi. A maçonaria vermelha, de
origem francesa e de feição republicana (tem a divisão
dos três poderes) tinha muita força nos Estados Unidos, na
jovem república rio-grandense e no Prata. Foi, aliás, através
de um comerciante de Montevidéu que foi feita essa primeira encomenda
dos lenços. Chamava-se Marcial Rodriguez, esse comerciante, conforme
Apolinário Porto Alegre (Cancioneiro da Revolução
de 1835, Globo, Porto Alegre, 1935, p.57). O pedido foi feito a 10
de maio de 1842. Ao chegar a encomenda, a carga foi toda queimada, com
as caixas e tudo, no próprio porto de Rio Grande. Era tão
forte a animadversão dos imperiais relativamente aos lenços
farroupilhas, que o famigeradoFrancisco Pedro de Abreu (o Chico Pedro,
o Moringue, o Fuínha) dizia querer saber quem era o autor de tão
infeliz lembrança para metê-lo no arrocho e defumá-lo.
Os lenços finalmente chegaram a 3 de dezembro de 1943 ao acampamento
volante das forças republicanas em terras de Manoel de Moura, nos
campos de Piratini (que os farrapos chamavam Piratinin). Apolinário,
aliás, atribuiu o desenho desse lenço ao Padre Francisco
das Chagas Martins Ávila (o famoso Padre Chagas, da Aseembléia
Farroupilha) e diz ter em seu poder (dele, Apolidário) o esboço
original do trabalho, que teria sofrido apenas insignificantes modificações,
comparado com o lenço mandado confeccionar por Bernardo Pires de
Oliveira.
Bem, trata-se de um
equívovo. Não se duvida que o tal esboço tenha realmente
existido, mas se fosse o original do lenço não teria sido
da autoria do Padre Chagas. Se fosse a autoria do Padre Chagas, não
seria o modelo do lenço farroupilha.
Outro detalhe estranhável
na crônica de Apolinário (saiu outra edição
pela Erus, Cia. União de Seguros Gerais, Porto Alegre, Porto Alegre,
1981, p. 70/71) ressalta de suas afirmações. Veja-se: "Apresentavam
dois padrões, conforme os desenhos remetidos. Uma é muito
conhecido. Tem no centro o duplo pavilhão da República, é
encimado pela fama e traz em torno as principais vitórias republicanas
com os nomes locais e respectivas datas. É o que contém a
quadra supra. Suponho que seja da lavra do próprio Bernardo Pires.
A quadrilha a que se
refere o texto é aquela, famosa:
"Nos ângulos do continente
O pavilhão tricolor
Se divisa sustentado
Por liberdade e valor".
Mais adiante, Apolinário
Porto Alegre acrescenta: "O outro padrão era menos complicado. Exibia
no centro dois indígenas, cada um sustentando a bandeira tricolor,
em meio desfraldo, como no outro lenço. Acompanhavam-no alguns dísticos.
Este, nunca o vi".
O detalhe estranhável:
nunca foi visto. Ninguém o viu, ao que parece.
Aurélio Porto,
nas celebradas Notas afirma que a segunda edição dos
lenços, a que tem as letras SGC (bordadas em seda e talvez iniciais
do dono do lenço, segundo o historiador) foi mandada confeccionar
na Alemanha, talvez, pela Casa Francisco Rasteiro & Cia., de Rio Grande,
E ele, o historiador, ainda esclarece que o lenço usado para envolvr
o crânio de Bento Gonçalves da Silva, quando foi translado
dos seus restos mortais do cemitério do Cordeiro, em Camaquã,
para o mausoléu, em praça pública, na cidade de Rio
Grande, era um dos exemplares encomendados nos Estados Unidos, um dos primeiros
lenços.
A respeito das famosas
três letras do lenço, tão enigmáticas reina
controvérsia. Será que significavam Salve, glorioso Continente,
como queria Varela, sem maiores explicações? A verdade é
que não foi encontrado nenhum lenço, entre os exemplares
pesquisados, que não tivesse as letras SGC. Se Aurélio Porto
estivesse certo, todos os exemplares conhecidos até agora são
da segunda remessa.
Por outro lado, não
foi encontrado até agoea qualquer exemplar com o padrão menos
complicado, a que faz referência Apolinário Porto Alegre,
onde apareciam dois indígenas sustentando cada um , a meio desfraldo
(sic) uma bandeira tricolor.
Que se saiba, existe
um exemplar do lenço farroupilha em Rio Grande, no acervo do museu
do CTG Mate Amargo e que foi doado por herdeiros de Caetano Gonçalves
da Silva. Esse exemplar ostenta a orla com as ondas azuis e brancas.
Na
Biblioteca
Municipal de Pelotas o autor dessa pesquisa descobriu, emoldurado,
outro exemplar do lenço farroupilha, mas de padrão diferente.
É aquele que está, em tamanho menor, no centro do exemplar
que tem a orla com as ondas azuis e brancas. No exemplar pelotense, a orla
é vermelha, ou, pelo menos, avermelhada (a cor desbotada dificulta
a precisão). Aparentemente, o exemplar de Pelotas foi recortado,
para ficar menos e encaixar bem na moldura.
No Museu Júlio
de Castilhos, de Porto Alegra, existem três exemplares distintos
do lenço farroupilha. O primeiro é o lenço com cercadura
vermelha, igual ao exemplar pelotense e está em exposição.
O segundo é o lenço com a orla em ondas azuis e brancas,
igual ao exemplar rio-grandino e está também exposto. O terceiro
é um curioso exemplar e está em processo de restauração.
Tem o padrão básico do primeiro exemplar, mas a cor predominante
é um azulão forte, tipo anil. Assim, das duas, uma: ou houve
um terceiro padrão, a que não aludem os cronistas (o que
é altamente improvável) ou se pintou de azul um exemplar
do lenço onde a cor dominante era o vermelho. O restaurador Luiz
Cúria, nos começos deste século, foi o fac-totum
do Museu Júlio de Castilhos e gozava da fama de ser muito bom em
sua arte. Pode perfeitamente ser o autor da superposição
de cores - isso, claro, na hipótese de não ter existido mesmo
um terceiro padrão.
Não se pode garantir
qual foi o padrão de lenço que chegou em primeiro lugar e
que foi entrege aos farrapos a 3 de dezembro de 1843 nos campos de Piratinin.Tudo
leva a crer que aqueles queimados com caixa e tudo no Porto de Rio Grande
tinham esse mesmo padrão. Aliás, os farrapos só poderiam
ter usado esse lenço durante um ano (1844) e dois meses (janeiro
e fevereieo de 1845, quando se fez a paz).
O segundo exemplar,
confeccionado na França ou na Alemanha, só chegou depois
da paz. Conservado pelos remanescentes farrapos, aqueles que continuaram
republicanos em pleno Império, vai ter muito uso exatamente na propaganda
republicana. Inclusive, será pregado na bandeira tricolor dos farrapos,
com brasão central. Aliás, não é demais recordar
que a bandeira rio-grandense nasceu assim: os arrautos da República
brasileira, seus corifeus e pregadores iniciais, pensando logicamente que
a bandeira era retangular (na realidade, era quadrada) reconstituíram
a bandeira com essa forma e costuraram no meio o lenço farroupilha.
Com a Constituição castilhista de 1891 (a primeira constituição
rio-grandense) essa bandeira foi transformada em símbolo do novo
Estado. Mutatis mutandis, é a bandeira gaúcha, ainda
hoje.
Além dos exemplares
aqui arrolados e existentes atualmente, há mais um na coleção
da Profa. Vera Stedile Zattera, de Caxias do Sul. Trata-se de um
exemplar em tudo igual àquele do museu do CTG Mate Amargo, de Rio
Grande. E consta que existe outro exemplar no acervo de uma escola, em
Porto Alegre, o que completaria a soma de sete lenços farroupilhas
identificados, até agora.
Ou oito, se considerarmos
aquele que envolve o crânio do General Bento Gonçalves da
Silva e que decerto está com seus gloriosos despojos no mausoléu
que lhe foi erijido, na p'aça central da cidade portuária
de Rio Grande - que aliás, em vida ele nunca consegui tomar.Antonio
Augusto Fagundes
Texto produzido para Vera Stedile Zattera.
http://planeta.terra.com.br/arte/brazao/lenco_farr.html