O lenhador e seus filhos 

Não vos poupeis ao trabalho
Vivei sempre a labutar; 
Forma o trabalho a riqueza,
Que menos pode falhar.

Um lavrador abastado
Vendo próximo seu fim,
Aos filhos, sem testemunhas,
Do leito falou assim:

"Não vendais o campo herdado
De avós a pais transmitido;
Pois nele (não sei o sítio)
Jaz um tesouro escondido.

Com valor e persistência
Conseguireis descobri-lo;
Cavando o chão, revolvendo-o,
Lhe arrancareis o sigilo.

Não haja um palmo de campo
Que escape ao corte da enxada;
Fique a paterna courela
De fundos sulcos rasgada."

Morto o velho, eis, prestos, os filhos
Procedem à escavação;
Crivam de covas o solo,
Solapando todo o chão.

E tanto a terra mexeram
Daqui, dalém, dacolá,
Que, ao cabo de um ano, campo
Maior colheita lhes dá
Tesouro oculto? Nem sombra;
Mas o pai mostrar-lhes quis
Ser o trabalho o tesouro
Que torna a gente feliz.

La Fontaine

 

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