''Saiu da toca aturdido
Daminho pequeno rato,
E foi cair insensato
Entre as garras do leão.
Eis o monarca das feras
Lhe concedeu liberdade,
Ou por dele piedade,
Ou por não ter fome então.
Mas esta beneficiência
Foi bem paga, e quem diria
Que o rei das feras teria
Dum vil rato precisão !
Pois q'uma vez, indo entrando
Por uma selva frondosa,
Caiu em rede enganosa,
Sem conhecer a traição.
Rugidos, esforços, tudo
Balda, sem poder fugir-lhe;
Mas vem o rato acudir-lhe
E entra a roer-lhe a prisão.
Rompe com seus finos dentes
Primeira e segunda malha;
E tanto depois trabalha,
Que as mais também rotas são.
O seu benfeitor liberta,
Numa dívida pagando,
E assim a gente ensinando
De ser grato a obrigação.
Também mostra aos insofridos,
Que o trabalho com paciência
Faz mais que a força, a imprudência
Dos qu'em fúria sempre estão.''
La Fontaine
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