Era uma vez dois países, cortados por um rio, rápido, largo, perigoso, no
qual muitos se afogavam ao tentar atravessá-lo. Em um país fluía o leite e o
mel - era chamado o país da felicidade. O outro, rasgado por brigas e devastado
pela preocupação, era chamado o país da infelicidade.
Um dia um homem observa aquele meio e, por Amor, resolve fazer alguma coisa.
- Vou esticar uma corda de uma margem à outra. Mesmo que eu morra ao enfrentar
os perigos do rio, não importa. No futuro, outros poderão apanhar a corda,
atravessar o rio com segurança e atingir o país da Felicidade.
Esse homem executa o seu projeto: encontra uma corda, amarra uma das
extremidades em uma árvore, agarra a outra ponta e mergulha na correnteza,
lutando contra as ondas.
No meio da espuma e dos rodemoinhos, caçadores confundem-no com um animal e
atiram nele, ferindo-o mortalmente. Mas num último esforço, o homem consegue
atingir a outra margem e amarrar a corda a uma árvore. Pela falta de
discernimento dos caçadores, morre, mas não antes de atingir o seu objetivo.
A partir desse momento, tal homem de coragem foi reverenciado por todos, que
diziam: - Ele morreu para nos salvar; é digno do nosso amor. Na verdade,
rendiam-lhe homenagens. Todos o faziam. Mas poucos seguiam o seu exemplo. - Se
segurarmos a corda, não corremos o risco de nos afogar... Mas... a água está
tão fria e o rio é tão largo...! O perigo da travessia continua grande!
E assim, no decorrer dos anos, a corda foi esquecida. Coberta de algas e de
galhos, não era mais visível. Porém, o culto ao herói sobreviveu: o povo
construiu monumentos em sua memória, cantou hinos em sua honra e continuou
evocando o seu nome, pelo grande amor que aquele ser lhes havia dedicado.
Vieram as gerações: a segunda, a terceira, a quarta... Oradores, cientistas
e letrados falavam das virtudes do herói e diziam como que, morrendo, ele
salvara os homens. Mas nunca mais se falou da corda jogada por cima do rio.
Tinha sido completamente esquecida.
Os argumentos, os discursos e os ensinamentos dos chamados
"sábios" acabaram criando uma grande confusão. Superstições
proliferaram e raros foram os que conseguiram distinguir a Verdade.
Oradores declaravam: Por que esta disputa? A única coisa necessária é
adorar o herói como um Deus e acreditar que ele morreu para a salvação de
todos. E eis que quando nós morrermos, entraremos sem dificuldades no país da
felicidade. Se o nosso corpo nos proíbe, por enquanto, a travessia do rio,
após a morte a nossa alma voará para o outro lado. O amor, a potência e a
coragem do herói eram tão grandes que tudo o que pedirmos ao seu espírito ele
nos concederá se demonstrarmos bastante amor.
Quando o povo ouviu isto, sentiu uma alegria imensa e cobriu de honrarias os
oradores, falando: Grande é a sua sabedoria, pois nos mostram um caminho
fácil. É simples: adorar, rezar e solicitar ao nosso herói a salvação na
hora da nossa morte. Portanto, agora, comamos, bebamos, sejamos alegres e
aproveitemos da melhor maneira a nossa estada no meio onde estamos.
Nesse meio tempo o espírito do herói contemplava os seus irmãos com
tristeza, escutando as suas orações e súplicas. Eles haviam esquecido a corda
que ligava o país da infelicidade ao da felicidade e que havia custado a vida
do herói, para deixar a todos o exemplo de Coragem e o caminho da Paz, que
passa pela educação do coração e pela vontade de amar a todas as criaturas.
Aquele povo perdera a chave que lhes permitiria ler as palavras daquele
herói e de outros que existiram antes dele. Liam com os olhos da carne, em vez
de lerem com os olhos da alma.
Ainda surdos para ouvir, não conseguiam escutar o herói que continuava a
clamar:
- Acorda! A corda!! Acorda!!!
Autor Desconhecido