Lendas

 

1 - As Amazonas  

 

Contam que no Reino das Pedras Verdes somente vivem mulheres: as amazonas. Trabalham na roça, caçam, pescam e fazem armas.

A direção está  nas mãos de uma das amazonas, que exerce também a função religiosa. dirigindo as festas. Seu reinado é curto, somente as virgens de 20 a 25 anos podem disputar a chefia das amazonas.

A cada cinco luas cheias do mês de abril, aproximadamente a cada cinco anos, há renovação de comando das amazonas. As amazonas fazem um amuleto famoso, o muiraquitã. É uma raridade, os próprios índios afirmam que não sabem como fabricá-lo. Dizem que o muiraquitã vem de um lugar muito distante, da terra das mulheres sem marido, do país das mulheres guerreiras.

Em um lugar enorme, no mês de abril de todos os anos, quando a lua cheia aparece, as amazonas mergulham no lago e do fundo trazem um punhado de barro. com este barro limoso modelam figuras: peixes, rãs, tartarugas. O mais comum é a rã, símbolo da fertilidade. O amuleto é perfurado para ser usado no pescoço. O barro tem que ser modelado depressa, ainda debaixo d'água, porque o luar faz endurecer o limo verde. Nesta mesma noite elas recebem a visita dos homens de uma tribo vizinha. É a noite nupcial.

Só os índios que lhes deram uma filha recebem o muiraquitã. Os que lhes deram filhos homens terão que levar o menino para sua aldeia, porque entre as amazonas só vivem mulheres.

 

 

2 - A Lenda dos Diamantes

 

Há muito tempo, vivia à beira de um rio uma tribo de índios. Dela fazia parte um casal muito feliz: Itagibá e Potira. Itagibá, que quer dizer braço forte, era um guerreiro robusto e destemido. Potira, cujo nome quer dizer flor era uma índia jovem e formosa.

Vivia o casal tranqüilo e venturoso, quando rebentou uma guerra contra uma tribo vizinha. Itagibá teve de partir para a luta. E foi com profundo pesar que se despediu da esposa querida e acompanhou os outros guerreiros. Potira não derramou uma só lágrima, mas seguiu com os olhos cheios de tristeza, a canoa que conduzia o esposo, até que a mesma desapareceu na curva do rio. 

Passaram-se muitos dias sem que Itagibá voltasse à taba. Todas as tardes; a índia esperava, à n\margem do rio, o regresso do esposo amado. Seu coração sangrava de saudade, mas permanecia serena e confiante, na esperança de que Itagibá voltaria à taba.

Finalmente, Potira foi informada de que seu esposo jamais regressaria. Ele havia morrido como um herói, lutando contra o inimigo. Ao ter essa notícia, Potira perdeu a calma que mantivera até então e derramou lágrimas copiosas.

Vencida pelo sofrimento, Potira passou o resto de sua vida, a beira do rio, chorando sem cessar. Suas lágrimas puras e brilhantes misturaram-se com as areias brancas do rio.

A dor imensa da índia impressionou Tupã, o rei dos deuses. E este, para perpetuar a lembrança do grande amor de Potira, transformou suas lágrimas em diamantes.

Daí a razão pela qual os diamantes são encontrados entre os cascalhos dos rios e regatos. Seu brilho e pureza recordam as lágrimas de Potira.

 

 

3 - A Lenda da Vitória-Régia

 

Era uma noite de luar. Um velho cacique, fumando seu cachimbo, contava às crianças as histórias maravilhosas de sua tribo. Ele era também feiticeiro e conhecia todos os mistérios da natureza. Um dos curumins que o ouviam, perguntou-lhe de onde vinham as estrelas que luziam do céu. E o cacique respondeu.

__ Eu conheço todas. Cada estrela é uma linda índia que se casou com a Lua. A respeito disso, vou contar a vocês uma história que aconteceu, há muitos anos, em nossa tribo. Prestam atenção. 

Havia, entre nós, uma índia jovem e bonita, chamada Naiá. Sabendo que a lua era um guerreiro belo e poderoso, Naiá por ele se apaixonou. Por isso, recusou todas as propostas de casamento que lhe fizeram os jovens mais fortes e corajosos de nossa tribo.

Todas as noites, Naiá ia para floresta e ficava admirando a Lua com seus raios prateados. Às vezes, ela saia correndo através da mata, para ver se conseguia alcançar a Lua com seus braços. Mas a Lua continuava sempre afastada e indiferente, apesar dos esforços da índia para atingi-la.

Uma noite, Naiá chegou à beira de um lago. Viu nele, refletida, a imagem da Lua. Ficou radiante! Pensou que era o guerreiro branco que amava. E, para não perde-lo, lançou-se nas águas profundas do lago. Coitada! Morreu afogada!

Então a Lua, que não quisera fazer Naiá uma estrela do céu, resolveu torna-na uma estrela das águas. Transformou o corpo da índia numa flor imensa e bela. Todas as noites, essa flor abre suas pétalas enormes, para que a Lua ilumine sua corola rosada.

Sabem qual é essa flor? É a vitória-régia!

 

 

4 - Uirapuru, o cantor das matas

 

O uirapuru é o cantor das florestas amazônicas. É um pássaro que tem um canto tão lindo, tão melodioso, que os outros ficam quietos silenciosos, só para ouvi-lo. O uirapuru tem a cor verde oliva e a cauda avermelhada. Quando começa a cantar, toda a mata emudece para ouvir seus gorjeios maravilhosos.

Por isso, os sertanejos acham que esse pássaro é um ser sobrenatural. Alias, uirapuru quer dizer pássaro que não é pássaro que não é pássaro. Depois de morto, seu corpo é considerado um talismã, que dá felicidade a quem o possui. 

A lenda uirapuru é interessante. Duas índias eram muito amigas. Estavam sempre juntas e por isso eram admiradas pela tribo inteira. Um dia elas estavam passeando pela aldeia e encontraram um novo cacique, um homem muito bonito. E a partir daí, s duas passaram a gostar dele. Mas, uma não disse nada à outra. Continuaram amigas, uma confidenciando com a outra, mas continuando sem contar quem era o moço misteriosos.  Qual foi a surpresa quando descobriram que se tratava da mesma pessoa, e resolveram perguntar ao cacique de quem ele realmente gostava. Não sabendo qual escolher, o jovem cacique prometeu  casar-se com a que tivesse melhor pontaria. As duas índias atiraram as flechas, mas só uma acertou o alvo. Essa casou-se com um chefe da tribo. 

A outra, chamada Oribici, chorou tanto que suas lágrimas formaram uma fonte e um córrego. Pediu ela a Tupã que a transformasse num passarinho para poder visitar o cacique sem ser reconhecida. Tupã fez a sua vontade. Mas verificando que o cacique amava a esposa, Oribici resolveu abandonar aqueles lugares. E voou para o Norte do Brasil, indo parar nas matas da Amazônia.

Para consolá-la, Tupã deu-lhe um canto melodioso. Assim, canta para esquecer as suas mágoas, e os outros pássaros quando encontram o uirapuru, ficam calados para ouvir suas notas maravilhosas.

De agora em diante, ela tornou-se o Uirapuru

 

5 - Curupira

 

O curupira é representado por um menino de estatura baixa, cabelos cor de fogo, tem o copo peludo, seus dentes são verdes  e os pés com calcanhares para frente que confundem os caçadores. É um dos mais espantosos e populares entes fantásticos das matas brasileiras. O Curupira é um Caapora, residindo no interior das matas, nos troncos das velhas árvores. É ele quem cuida dos animais das florestas, dizem que os sinais e ruídos misteriosos que vêm da floresta, são causados por ele. O Curupira não tem piedade dos caçadores maldosos, que caçam sem necessidade e matam os filhotes, ele tem uma prodigiosa força física, engana os caçadores e viajantes, fazendo-os perder o rumo certo, transviando-os dentro da floresta, com assobios e sinais falsos. Faz contratos com os caçadores, dando-lhes armas infalíveis, a troco de alimentos sem pimenta ou alho, que abomina, exigindo acima de tudo segredo absoluto. Pune com a morte ou o abandono, equivalente à fome fatal, os que esquecem os pactos. Gosta imensamente de fumo e de pinga. Seringueiros e roceiros deixam esses presentes nas trilhas que atravessam, de modo a agradá-lo ou pelo menos distraí-lo. Na mata os gritos longos e estridentes dos curupiras são muitas vezes ouvidos pelo caboclo. Também imitam a voz humana, num grito de chamada, para atrair vítimas. O inocente que ouve os gritos e não se apercebe que é um curupira e dele se aproxima, perde inteiramente a noção do rumo. Ao aproximar-se uma tempestade, o curupira corre toda a floresta e vai batendo no tronco das árvores para ver se elas estão fortes para agüentar a ventania. Se percebe que alguma árvore pode ser derrubada pelo vento, ele avisa a bicharada para não chegar perto da árvore condenada.

 

6 - Negrinho do Pastoreio 

 

O negrinho do Pastoreio era um escravo de uma estância-fazenda de gado, lá no Sul.

Um dia, uma tropa de cavalos tordilhos desapareceu, e ele foi mandado à sua procura.Como já era tarde, caíra a noite, ele pegou uma de Nossa Senhora, sua madrinha, e foi campo afora. Por onde o Negrinho passava, os pingos se transformavam em luzes e, logo tudo ficava claro como o dia.

Então, Negrinho acabou achando todos os tordilhos, porém como estava muito cansado, e acabou dormindo. Veio do mato então uma onça e espantou os animais, que fugiram novamente. E voltando de mãos vazias, o Negrinho do Pastoreio apanhou até morrer...

O fazendeiro malvado nem se deu o trabalho de enterrá-lo. Jogou seu corpo num formigueiro. Depois, foram três dias e três noites de neblina que cobriram tudo. Passados os três dias, ao chegar ao formigueiro para apanhar os ossos do Negrinho, seu patrão descobriu-o vivo e feliz, pulando num cavalo e disparando com a tropa de tordilhos...

Dizem que todas as noites de ventania, o Negrinho sai pelos campos. E se você perder alguma coisa, é só pedir ao Negrinho do Pastoreio e acender uma vela, que acha logo.

 

7 - Saci-Pererê

 

Saci-Pererê, entidade maléfica em muitas, graciosa e zombeteira noutras oportunidades, comuns nos Estados do Sul do Brasil. é um negrinho pequeno, com uma perna só, carapuça vermelha na cabeça, que o faz encantado, ágil, astuto, atrevido, gosta de fumar cachimbo, de trançar as crinas dos animais, depois extenuá-los em correrias, durante a noite. Tem uma mão furada e gosta de jogar objetos para o alto e deixa atravessá-la para pegar com a outra. Anuncia-se pelo assobio persistente e misterioso, inlocalizável e assombrador.

Diverte-se criando dificuldades domésticas, apagando o fogo, queimando os alimentos, espantando o gado, espavorindo os viajantes nos caminhos solitários. O negrinho buliçoso, visível ou invisível, troçando de todos, também aparece no folclore português. Diz a crendice popular que, o Saci-Pererê aparece e desaparece no meio de um redemoínho de vento e que para apanhá-lo, basta usar um rosário ou uma peneira ou ainda dar três nós num pedaço de palha.

 

 

8 - Mula se cabeça

 

Nos pequenos povoados ou cidades, onde existam casas rodeando uma igreja, em noites muitos escuras, pode haver aparições da Mula-sem-cabeça. Também se alguém passar correndo diante de uma cruz à meia noite, ela aparece. Dizem que é uma mulher que namorou um padre e foi amaldiçoada. Toda passagem da quinta para sexta feira ela vai numa encruzilhada e ali se transforma na besta.

Então, ela vai percorrer sete povoados, ao longo daquela noite, e se encontrar alguém chupa seus olhos, unhas e dedos. Apesar do nome, Mula-sem-cabeça, na verdade, de acordo com quem já a viu, ela aparece como um animal inteiro, forte, lançando fogo pelas narinas e boca, onde tem freios de ferro.

Nas noites que ela sai, ouve-se seu galope, acompanhado de longos relinchos. Às vezes, parece chorar como se fosse uma pessoa. Ao ver a Mula, deve-se deitar de bruços no chão e esconder unhas e dentes para não ser atacado.

Se alguém, com muita coragem, tirar os freios de sua boca, o encanto será desfeito e a Mula-sem-Cabeça voltará a ser gente, ficando livre da maldição que a castiga, para sempre.

Conforme a região, a forma de quebrar o encanto da Mula, pode variar. Há casos onde para evitar que sua amante pegue a maldição,mo padre deve excomungá-la antes de celebrar a missa. Também, basta um leve ferimento feito com alfinete ou outro objeto. O importante é que saia sangue, para que o encanto se quebre. Assim, a Mula se transforma outra vez em mulher. Para saber se uma mulher é amante do padre. lança-se ao fogo um ovo enrolado em uma fita com o nome dela, e se o ovo cozer e a fita não queimar, ela é.

 

 

9 - Cobra Honorato

 

A lenda da cobra Honorato ou Norato é uma das mais conhecidas sobre cobra grande (ou boiúna) na região amazônica. Conta-se que uma índia engravidou da Boiúna e teve duas crianças: uma menina  chamada Maria Caninana e um menino chamado Honorato. Para que ninguém soubesse da gravidez, a mãe tentou matar os recém nascidos jogando-os no rio. Mas eles não morreram e nas águas foram se criando como cobras. Porém, desde a infância os dois irmãos já demonstravam a grande diferença de comportamento entre eles. Maria era má, fazia de tudo para prejudicar os pescadores e ribeirinhos. Afundava barcos e fazia com que seus tripulantes morressem afogados. Enquanto seu irmão, Honorato, era meigo e bondoso. Quando sabia que Maria ia atacar algum barco, tentava salvar a tripulação. Isso só fazia com que ela o odiasse mais ainda.

Devido as suas maldades, Cobra Honorato foi obrigado a matar Maria Caninana. E ficou sozinho, nadando nos rios e igarapés. Quando havia festa nos povoados, Cobra Honorato deixava a pele de serpente e ia dançar com as moças e conversar com rapazes. Ele sempre pedia aos conhecidos que o desencantasse. Bastava para isso, bater com ferro virgem na cabeça da serpente e deitar três gotas de leite de mulher na sua boca. Muitos amigos de Cobra Honorato tentaram fazer isso. Mas quando viam a serpente, escura e enorme, fugiam apavorados.

Um dia Cobra Honorato fez amizade com um soldado. Era um cabra rijo e destemido. Cobra Honorato pediu ao rapaz que o desencantasse.mO soldado não teve medo. Arranjou um machado novo e um vidrinho com leite de mulher. Quando encontrou a cobra dormindo, meteu o machado na cabeça da bicha e atirou três gotas de leite entre seus dentes enormes e aguçados.

A serpente estremeceu e caiu morta. Dela saiu Cobra Honorato, desencantado para sempre.

 

 

10 - Iara

 

Muitas vezes confundida com a Mãe-d'água, a Iara, Uiara ou Ipupiara é um dos seres mitológicos mais populares da Amazônia. Seu poder de sedução é tão forte sobre os homens quanto o do boto sobre as mulheres. Por isso, às vezes é chamada de boto-fêmea. A Iara é descrita como uma mulher muito bonita e de canto maravilhoso que aparece banhando-se nas águas dos rios, ou sobre as pedras nas enseadas. Para quem viaja pelos rios da Amazônia, a Iara pode ser um perigo, pois encanta o navegador e puxa os barcos para as pedras. Atônito, o pobre homem só se dá conta da tragédia quando já é tarde demais para se desviar. Quem vê a Iara nunca mais a esquece. A sabedoria cabocla diz que o caçador que no meio da mata ouve um canto irresistível de mulher deve rezar muito e tentar sair logo do local. Mas poucos seguem a orientação dos mais sábios. Ao ouvir a Iara, não há homem que não a busque nas matas até a beira do rio onde a mitológica mulher pode ser vislumbrada. Ao vê-la, os homens enlouquecem de desejo e são capazes de segui-la para onde for. Há os que contam terem sido levados para as profundezas, nos braços da Iara. Vêm de lá descrevendo o reino das águas como sendo de infinita beleza e de riquezas intocadas de onde nada se pode trazer. Quem se aventura a trazer algo de lembrança, é castigado com doença que só se cura com os trabalhos de alguma benzedeira poderosa das redondezas. Há entre os índios a lenda do Jaguarari, índio forte e guerreiro da tribo Tuxaua que apaixonou-se pela Iara. Na tribo não havia ninguém mais forte e de bom coração do que Jaguarari. Todos o admiravam, tanto os homens, quanto as mulheres. Até que um dia, quando Jaguarari saiu em sua igara para pescar avistou uma bela morena nua a se banhar e cantar na margem do rio, na sombra de um Tarumã. Jaguarari ficou paralisado e de pronto se apaixonou. Desde então, saia para caçar ou pescar, mas sua única intenção era mesmo encontrar a Iara. Voltava tarde da noite da pescaria sempre triste. Nem parecia mais o belo índio de antes de visão. Sua mãe perguntava, o pai aconselhava, mas nada de Jaguarari voltar a ser como era antes. Até que um dia, de tanto a mãe insistir em saber o motivo de sua tristeza, Jaguarari confessou estar apaixonado pela visão que tivera aos pés do Tarumã. Disse que à noite quando tentava dormir, a única coisa que ouvia era o inebriante canto da Iara. Ao ouvir a revelação, a mãe desesperou-se! Jogou-se aos pés do filho e pediu-lhe chorando que nunca mais voltasse lá. Mas a promessa nunca pôde ser cumprida, pois Jaguarari já estava enfeitiçado. Numa noite de luar, ela cantou tão forte que o belo índio levantou-se e correu para a margem do rio. As águas então se abriram e desde então Jaguarari desapareceu para sempre nos braços da Iara.

 

 

11 - A lenda do Guaraná

 

Conta a tradição oral dos índios saterê-mawê, que o guaraná nasceu dos olhos de um menino. Antigamente, existiam três irmãos: Okumáató (Icatareté), Ikuamã (amã) e Onhiamuaçabê (Tupana), que era mulher solteira e cobiçada por todos os animais da floresta, causando ciúmes aos irmãos que a queriam sempre como companhia, por causa dos conhecimentos que possuía sobre plantas medicinais.

A lenda diz que, certo dia, uma cobrinha ficou à espreita no caminho de Onhiamuaçabê e a tocou levemente em uma das pernas, engravidando-a.A mitologia indígena afirma que para uma mulher engravidar bastava que fosse tocada por homem, animal ou planta que a desejasse como esposa. Desse contato nasceu um curumim bonito e forte. Na idade de entender as coisas, o curumim ouviu da mãe que ao senti-lo no ventre plantara para ele uma castanheira no Noçoquém (lugar sagrado onde ficavam todos os animais e plantas úteis), mas que seus irmãos tomaram o terreno e a expulsaram por causa da gravidez. Ele, então, certo dia, decidiu comer as castanhas. O lugar, no entanto, estava sob a guarda da cutia, da arara e do periquito. Este denunciou o ato a Okumáató e Ikuamã. No dia seguinte, quando o pequeno saterê-mawê voltou a Noçoquém, os guardas o esperavam para matá-lo. Pressentindo a morte do filho, Onhiamuçabê correu para defendê-lo, mas o curumim já havia sido decapitado. Desesperada, sobre o cadáver da criança jurou dar continuidade à sua existência. Arrancou-lhe o olho esquerdo e o plantou na terra. O fruto desse olho não prestou: era o guaraná-rana (guaraná falso). Em seguida, arrancou-lhe o olho direito e deste nasceu o verdadeiro guaraná. E como o sentisse vivo ainda, exclamou: “tu, meu filho, serás a maior força da natureza; farás o bem a todos os homens e os curarás e livrarás das doenças” . E a planta do guaraná foi crescendo, crescendo... Passado algum tempo, Onhiamuçabê foi atraída, diversas vezes, por ruídos na sepultura do filho, que a cada vez que a abria de lá saía um animal. Assim nasceu o macaco cuatá, o cachorro, o porco-do-mato e o tamanduá bandeira. Novamente atraída pelos ruídos, abriu a sepultura do filho, mais uma vez, e dela saiu uma criança que foi o primeiro mawê. Era o filho dela que renascera. Quando os mawês descobriram e domesticaram a planta silvestre do guaraná, tipo de trepadeira enroscada nos galhos de imensas árvores amazônicas, ninguém sabe. Mas suas histórias contam que o guaraná é filho de uma índia que dominava o segredo das plantas medicinais e sabia preparar os remédios da floresta. Em suma, é fruto da saúde que livra os homens das moléstias, curando-os e mantendo o equilíbrio da vida no delicado ambiente da floresta. Nele está presente a idéia da eterna transformação da vida, em que desaparecem as fronteiras entre os homens, animais e plantas e denota a perfeita integração do índio com a natureza.

 

 

12 - O Caso do Tesouro da Ilha do Farol

 

A Ilha de Cabo Frio, chamada pelos cabistas de Ilha do Farol, é palco de muitas histórias fantásticas, entre os quais está o seguinte:

Há algum tempo atrás, o Sr. Benjamim estava jogando pelada com alguns amigos, quando apareceu uma caveira desenterrada da areia. Os outros começaram a chutar a caveira, fezendo-a de bola. Achando aquilo um desrespeito, o Sr Benjamim pediu para que parassem e enterrou de novo a caveira no areal.

Naquela mesma noite, ele teve um sonho. O defunto, dono da caveira, lhe aparecia no sonho e agradecia o favor de lhe ter enterrado novamente. Dizia, também para que ele voltasse na Ilha sozinho, no dia seguinte, pois como recompensa, iria ensinar onde encontrar uma grande riqueza.

Era para ele subir o areal até chegar na beira do mato, ali ele veria umas abelhas voando. Ele deveria seguir as abelhas, até encontrar, até que elas parassem e fizessem um oito no ar. Neste lugar, eu deveria cavar até achar um tesouro. Sr. Benjamim ficou muito impressionado e resolveu ir até lá, mas levou um amigo. Chegando lá, subiram o areal e encontraram as abelhas voando. Foram seguindo as abelhas até que elas parassem no ar e fizessem um oito. Cavaram, mas o tal tesouro não apareceu. O Sr. Benjamim acredita que foi porque ele não seguiu o que o defunto pediu e foi acompanhado...

 

 

13 - O Lobisomem

 

Quem tem sete filhas, uma – a mais velha – é bruxa. Quem tem filhos homens, um – o mais velho – é lobisomem. Para evitar é preciso que o irmão mais velho batize o mais novo, e a irmã mais velha, batize a mais nova. Trata-se de um cachorrão, ou lobo,que ataca as pessoas nas quintas-feiras de lua cheia.

            A aparição do lobisomem era muito freqüente em toda a região. Há alguns anos em Arraial do Cabo viveu um personagem, que todos dizem tratar-se de um lobisomem: Chaco. Sobre ele há o seguinte caso: um homem voltava da pescaria de madrugada, na Praia Grande, quando foi seguido por um lobisomem. Correu para casa, o lobisomem atrás. Conseguindo chegar em casa, entrou logo e deixou a porta aberta e escondeu-se atrás dela. Ficou esperando o lobisomem com um porrete. Assim que o bicho entrou, trancou a porta e começou a bater com o porrete, no meio da surra , o lobisomem grita: __ Não me mate que eu sou Chaco! O homem, espantado, largou o porrete  e fugiu.

No dia seguinte, Chaco apareceu todo quebrado!!

Voltar

Hosted by www.Geocities.ws

1