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No início do Novo Testamento, ouvimos João, o Batista, e Jesus, ambos
anunciando a vinda do reino de Deus. João Batista veio pregando no deserto
da Judéia, dizendo: "Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos
céus" (Mt 3.2). João exortava seus ouvintes, preparando para a vinda
deste Reino, que seria inaugurado pelo Messias, designado apenas como "O
que Haveria de Vir". João viu a missão daquele que Haveria de Vir como
sendo primeiramente de separação: aqueles que se arrependessem ele
salvaria, e julgaria os que não se arrependessem (Mt 3.12).
Quando João estava na prisão começou a refletir sobre o
fato de que, embora tivesse visto a Jesus, realmente recolhendo trigo, não
o vira queimando a palha. Isso levou João a enviar seus discípulos a
Jesus, e a perguntar:" És tu aquele que estava para vir, ou havemos de
esperar outro?" (Mt 11.3). Na resposta, Jesus citou profecias do VT que
estavam sendo cumpridas em seu ministério,; profecias acerca dos cegos
recebendo sua visão e dos coxos sendo reabilitados (vs. 4,-5). Dessa forma
a parte do julgamento ficaria para mais tarde – um fato que João não tinha
entendido claramente.
Jesus também anunciou a vinda do Reino :" O tempo está
cumprido e o Reino de Deus está próximo; arrependei-vos e crede no
evangelho" (Mc 1.15; Lc 4.21)
João foi o precursor do Reino, mas mesmo ele ficou de
fora – Mt 11.11.
Podemos dizer, portanto, que Jesus mesmo inaugurou o
Reino de Deus cuja vinda tinha sido predita pelos profetas do VT. Por
causa disso, nós devemos ver o Reino de Deus sempre como indissoluvelmente
ligado à pessoa de Jesus Cristo. Nas palavras e feitos de Jesus, milagres
e parábolas, ensino e pregação, o Reno de Deus estava dinamicamente ativo
e presente entre os homens.
O Reino de Deus e Reino dos
céus.
O Reino de Deus e o Reino dos céus são sinônimos em seu
significado. Mateus estava escrevendo primeiramente a leitores judeus, por
isso sua expressão "Reino de Deus", uma vez que os judeus evitavam o uso
do nome divino. Reino dos céus e Reino de Deus são intercambiáveis nos
sinóticos.
O que é o Reino de Deus
?
Jesus nunca definiu o Reino, nem mesmo os apóstolos.
A concepção mais amplamente aceita do Reino de Deus é que
seu significado principal é o Governo (domínio) ou reino de Deus
mais do que um território sobre o qual ele governe.
O Reino de Deus deve ser entendido como Reinado
dinamicamente ativo de Deus na história humana através de Jesus Cristo,
cujo propósito é a redenção do povo de Deus do pecado e dos poderes
demoníacos, e o estabelecimento final dos novos céus e nova terra. Isto
significa que o grande drama da história da salvação foi inaugurado e que
a nova era foi instalada.
O Reino de Deus inclui tanto um aspecto positivo como um
negativo. Ele significa redenção para aqueles que o aceitam e nele
ingressam pela fé, e juízo para aqueles que o rejeitam. Jesus deixa isto
muito claro em seus ensinos, especialmente em suas parábolas.
Aquele que ouve as palavras de Jesus, e as pratica, é como um homem que
constrói sua casa sobre a rocha, enquanto que aquele que ouve as palavras
de Jesus, mas não as pratica, é semelhante ao homem que constrói sua casa
sobre a areia – e grande foi a sua queda (Mt 7.24-27). Aqueles que aceitam
o convite para as bodas, se regozijam e estão felizes, enquanto que
aqueles que rejeitam o convite são entregues à morte, e o homem sem as
vestes nupciais é lançado fora nas trevas (Mt 22.1-14). Na verdade, porque
a nação de Israel, como um todo, rejeitou o Reino, Jesus disse que o Reino
de Deus seria tirado deles e dado a uma nação que produzisse seus frutos
(Mt 21.43). O propósito primeiro do Reino de Deus é a salvação, no sentido
integral da palavra, daqueles que nele ingressam – porque "Deus não enviou
seu Filho ao mundo para condenar o mundo, mas para salvar o mundo através
dele" (Jo 3.14, NVI).
Quais são os sinais da presença do Reino
?
Expulsão de demônios. Quando Jesus fez isto, mostrou que ele
havia conquistado uma vitória sobre os poderes do mal e, que por causa
disto, o Reino de Deus tinha chegado. (Mt 12.28)
A queda de Satanás. (Luc 10.18). A vitória de Jesus sobre
Satanás, embora decisiva, ainda não é final, uma vez que Satanás
continua ativo durante o ministério subsequente de Jesus (Mc 8.33;Luc
22.3 e 31).
Realização de milagres por Jesus e seus discípulos. Na operação
desses milagres era efetuada a vinda do Reino (Mt 11.4-5). Os milagres
tinham função provisória, indicando a presença do Reino, mas ainda não
marcando sua consumação final.
A pregação do Evangelho. Muito mais importantes que os milagres
foi a salvação que ele trouxe àqueles que creram – uma salvação mediata
ou seja, através da pregação do Evangelho. (Mt 11.5).
A dádiva do perdão dos pecados. Nos profetas do VT, o perdão dos
pecados tinha sido predito como uma das bênçãos da era messiânica
vindoura (Vejam-se Is. 33.24; Jr 31.34; Mq 7.18-20; Zc 13.1). A cura do
paralítico, após Jesus ter perdoado seus pecados, foi uma prova de que
"o Filho do homem tem sobre a terra autoridade para perdoar pecados" (Mc
2.10).
O Reino já veio ou ainda virá
?
Jesus ensinou claramente que o reino de Deus já estava
presente em seu ministério (Mt 12.18;Lc 11.20; Luc 17.20-21).
Algumas parábolas de Jesus implicam que o Reino já está
presente. As parábolas do tesouro escondido e da pérola de grande valor
(Mt 13.44-46) ensina que agora o homem deve vender tudo o que possui para
entrar no reino. As parábolas do construtor da torre e do rei saindo a
guerrear (Lc 14.28-33) ensinam a importância de calcular o custo antes de
entrar no Reino, novamente implicando que o reino está agora presente
(veja também Mt 5.3-10; 18.4; 19.14).
Jesus entretanto, também ensinou que havia um sentido no
qual o Reino de Deus ainda era futuro. Podemos ver, primeiramente algumas
declarações específicas com esta finalidade. A seguinte passagem do sermão
do monte descreve a entrada no Reino como ainda futuro e a combina com um
futuro dia do juízo: "Nem todo o que me diz: Senhor, Senhor!
entrará no reino dos céus, mas aquele que faz a vontade de meu pai
que está nos céus. Muitos, naquele dia, hão de dizer-me: Senhor, Senhor!
porventura não temos nós profetizado em teu nome, e em teu nome não
expelimos demônios, e em teu nome não fizemos milagres ? Então lhes direi
explicitamente: Nunca vos conheci. Apartai-vos de mim, os que praticais a
iniquidade" (Mt 7.21-23. Veja também: Mt 8.11-12).
Muitas das parábolas ensinam uma consumação futura do
reino. A parábola das bodas indica um tempo futuro de bênçãos para aqueles
que aceitam o convite, mas num lugar de punição, nas trevas exteriores
para aqueles que falham em preencher todos os requisitos (Mt 22.1-14). A
parábola do joio e sua explicação (Mt 13.24-30 e 36-43) falam da
"consumação do século" quando os que praticam a iniquidade serão lançados
na fornalha acesa e quando os justos "resplandecerão como sol, no reino de
seu Pai". A parábola da rede (Mt 13.47-50) descreve, de modo semelhante, a
"consumação do século", quando "sairão os anjos e separarão os maus dos
justos".
Na parábola das dez virgens (Mt 25.1-13) aprendemos
acerca da demora do noivo, acerca de um grito à meia-noite, e sobre
algumas que entraram com o noivo para a festa das bodas e outras para quem
a porta estava permanentemente cerrada. A parábola termina com uma
advertência tipicamente "escatológica": "Vigiai, pois, porque não sabeis o
dia nem a hora" (v.13). E a parábola dos talentos (Mt 25.14-30) fala
acerca de um homem que fez uma jornada e ficou fora por muito tempo,
acerca de um ajuste final de contas, e acerca de alguns que foram
convidados no gozo de seu Senhor e outros que foram expulsos para as
trevas exteriores. Pelo que já foi citado, fica claro que o reino de Deus,
no ensino de Jesus, era tanto presente como futuro. George Eldon Ladd, em
seu livro "A Presença do Futuro" dá ênfase à importância de vermos estes
dois aspectos: "O Reino de Deus é o reinado redentor dinamicamente
ativo de Deus para estabelecer seu governo entre os homens, e este Reino,
que aparecerá no final da era como um ato apocalíptico, já entrou na
história humana na pessoa e missão de Jesus para vencer o mal, para
libertar os homens do poder do mal e para trazê-los para as bênçãos do
reinado de Deus.. O Reino de Deus envolve dois grandes momentos:
cumprimento dentro da história e consumação ao fim da história".
Implicações do
Reino
A nível de fé e vida, do fato do reino de Deus estar
presente conosco agora e estar destinado a ser revelado em sua totalidade
na era por vir, podemos observar que:
- Somente Deus pode nos colocar no Reino. Deus nos chama para o
seu Reino (I Ts 2.12), dá-nos o Reino (Luc 12.32), traz-nos par o Reino
do seu Filho (Cl 1.13), e nos confia o Reino ("E eu [Cristo] vos confio
um reino, assim como meu Pai confiou um reino a mim", Lc22.29, NVI). De
passagens deste tipo aprendemos que pertencer ao Reino de Deus não é uma
conquista humana mas um privilégio que nos é concedido por Deus.
- Mas este fato não nos livra de responsabilidade em relação ao
Reino. O Reino de Deus exige de nós arrependimento e fé. Em várias
ocasiões Jesus disse que nós precisamos entrar no Reino humilhando-se a
mesmo como uma criança (Mt 18.3-4), fazendo a vontade do Pai dos céus
(Mt 7.21), ou tendo uma justiça que excede a dos escribas e fariseus (Mt
5.20). É difícil para um homem rico entrar no Reino de Deus (Mc10.25),
presumivelmente porque ele é tentado a confiar mais em suas riquezas do
que em Deus. A não ser que renasçamos ou nasçamos do Espírito, não
podemos entrar no Reino de Deus (Jo 3.3 e 5). Somente Deus pode fazer
alguém renascer; e dessa forma o ponto no qual a mensagem do Evangelho
atinge o ouvinte é a intimação para crer: "Porque Deus amou ao mundo de
tal maneira, que deu o seu Filho unigênito, para que todo o que nele crê
não pereça, mas tenha a vida eterna" (Jo 3.16).
- O Reino de Deus na verdade, demanda nada menos que compromisso
total. Nós devemos, assim disse Jesus, buscar primeiro o Reino de
Deus e sua justiça, confiando em que, assim fazendo, todas as outras
coisas de que necessitamos nos serão dadas (Mt 6.33) Nós temos de, por
assim dizer, vender tudo o que temos para adquirir o Reino (Mt
13.44-45). Para permanecer no Reino, devemos estar prontos para arrancar
fora o olho que nos faz tropeçar (Mt 29) e cortar fora a mão que nos faz
pecar (Mt 5.30). devemos estar dispostos a odiar, se necessário, pai,
mãe, irmão, irmã, e mesmo nossas próprias vidas por amor do Reino (Luc
14.26). devemos estar prontos a renunciar a tudo o que temos para sermos
discípulos de Jesus (Luc 14.33). em outras palavras, ninguém deve buscar
entrar no Reino a não ser que tenha calculado minuciosamente os custos
(dessa decisão) (Luc 14.28-32).
- O Reino de Deus implica redenção cósmica, isto é, a renovação
completa de todo o cosmos, culminando nos novos céus e nova terra. Paulo
descreve as dimensões cósmicas do Reino de Deus em palavras inspiradas:
"[Deus] em toda a sabedoria e prudência, desvendando-nos o mistério de
sua vontade, segundo o seu beneplácito que propusera em Cristo, de fazer
convergir nele, na dispensação da plenitude dos tempos, todas as coisas,
tanto no céu como as da terra" (Ef 1.8-10; Cl 1.19-20; Rm 8.19-21).
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