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Quando os discípulos
perguntaram a Jesus por que falava com as pessoas por meio de parábolas
(Mt 13.10; Mc 4.10), ele disse que tinha duas finalidades. Uma era revelar
verdades a seus seguidores, e outra, ocultar a verdade "aos de fora" (Mc
4.11). embora talvez pareçam objetivos contraditórios, a resposta a esse
dilema deve residir no caráter dos ouvintes.
Como os doutores da lei (3.22)
já haviam expressado sua incredulidade e rejeitado Jesus, eles revelaram o
endurecimento de seus corações. Assim, não tinham condições de compreender
o significado das parábolas do Senhor. Cegados pela incredulidade,
rejeitaram-no; então, quando ele falava por parábolas, os escribas
geralmente não captavam o sentido. Por outro lado, os seguidores do
Senhor, que estavam abertos para ele e para suas verdades,
compreendiam-nas.
As parábolas eram um meio de
comunicação eficaz, pois, devido a seu formato de história, logo
despertavam o interesse dos ouvintes. Quando o povo ouvia as histórias de
Jesus, todas as quais eram baseadas na realidade, imediatamente
mergulhavam nelas junto com Cristo. A curiosidade era aguçada pelo desejo
de saber como a história evoluiria e terminaria.
As parábolas estimulavam a
reflexão das pessoas. Com suas analogias, Jesus queria que os ouvintes
"avaliassem situações que lhes eram bem familiares e fossem levados a
aplicar esse julgamento a fatos cujo significado não estavam enxergando.
Jesus não narrava as parábolas apenas para entreter o público com
histórias. Ele as contava de forma que as pessoas visadas as "aplicassem a
si, ainda que com ressentimento ou relutância". Assim, suas parábolas
quase sempre deixavam as pessoas desarmadas.
Que fatores caracterizavam as
parábolas de Jesus? |
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As parábolas de Jesus prendiam a atenção por falarem de aspectos
comuns do cotidiano.
Comércio: pescador,
construtor, mercador, dinheiro, juros, dívidas, tesouro, patrão, senhor,
servos, credor, coletor de impostos, viajante, pérola,
administrador.
Agricultura e
Pecuária: fazendeiro, pastor,
ovelhas, solo, sementes, árvores, pássaros, espinhos, colheita, chiqueiro,
vinha, viticultores, torre de observação, celeiros e figueiras.
Dentre os aspectos domésticos que Jesus citou figuram:
casas, cozinhar (fermento e comida), costurar, moedas, varrer, dormir,
comer, crianças brincando, viúva, odres, porteiro.
Ele também fez menção a
eventos sociais nas parábolas, dos quais
um casamento, um banquete, damas de honra, pai e filho, um amigo que chega
à meia-noite, um anfitrião e convidados. Dentre os elementos religiosos, temos: um sacerdote,
um levita, um samaritano e um fariseu; e dentre os civis, juiz, rei e guerra.
As parábolas de Jesus continham
suspense, tramas simples, contrastes fortes e em certos casos, exageros. O
leitor fica em suspense imaginando o que o senhor misericordioso fará com
o servo inclemente (Mt 18.21-35). Que acontecerá aos arrendatários que
mataram os servos e o filho do fazendeiro ? (Mt 21.33-46).
Repare em quantas vezes
duas pessoas são comparadas a um único
indivíduo, como no caso dos dois servos que investiram as
minas e do servo que não aplicou nenhuma; o credor compassivo em relação
aos dois devedores sem condições de saldar a dívida, e os dois viajantes e
o bom samaritano.
Muitas parábolas contém
três personagens principais ou grupos de
personagens: O credor incompassivo (Mt 18.23-35) – o rei, o servo
perdoado, o servo não perdoado. Os dois filhos (Mt 21.28-32) – o homem, o
primeiro filho, o segundo filho.
Existe uma infinidade de
conflitos nestas parábolas. Entre eles,
citamos os homens que trabalharam uma hora e os que trabalharam o dia
inteiro (Mt 20.1-16), as virgens prudentes que se recusaram a fornecer
azeite às tolas (25.1-13), o homem insistente em conflito com o amigo que
já tinha deitado (Lc 11.5-8).
Às vezes as parábolas
apresentam desfechos insólitos. Fica
surpreso quem lê que um indivíduo que trabalhou duas horas recebesse o
mesmo salário daqueles que trabalharam o dia todo (Mt 20.1-16). O efeito
de certas parábolas aumenta com a surpresa que provocam ao se desviarem do
que seria normal esperar.
há também a "ênfase final", em que o último elemento da
parábola é o mais importante. Na parábola do semeador o solo fértil é
mencionado por último. O último servo que não investiu sua mina, foi
julgado com rigor; o último viajante na parábola do bom samaritano foi
generoso e os que foram convidados por último para o banquete aceitaram o
convite.
Outra característica
interessante das parábolas de Jesus é o discurso
direto, ou seja, ele falava o que os personagens realmente
diziam. Associado a isso está o discurso chamado solilóquio, em que a
personagem fala consigo mesma, assim revelando aos ouvintes e leitores
seus pensamentos, planos e preocupações. Talvez o monólogo mais famoso das
parábolas seja o filho pródigo em Luc 15.17-19. Depois de ouvir as
insistentes súplicas da viúva, o juiz disse consigo mesmo: "... como esta
viuva me importuna, julgarei a sua causa, para não suceder que, por fim,
venha a molestar-me" (Luc 18.5).
Existe mais outro aspecto
literário das parábolas, que é a ocorrência da perguntas retóricas.
Elas estimulam os leitores a responder mentalmente aos desafios propostos
por Jesus. Por exemplo, o Senhor perguntou: "Qual, dentre vós, é o homem
que, possuindo cem ovelhas e perdendo uma delas, não deixa no deserto as
noventa e nove e vai em busca da que se perdeu, até encontrá-la?" (Luc
15.8).
Em outras ocasiões, ele fez
perguntas às quais queria que os ouvintes respondessem. Depois de falar a
Simão Pedro sobre os dois devedores, perguntou-lhe: "Qual deles, portanto,
o amará mais?" (Luc 7.42). Todos esses aspectos das parábolas demonstram o
impacto incomum que as histórias de Jesus devem ter provocado nos que a
ouviram. |