O pioneiro Luiz Gonzaga Nogueira Gallon nasceu em Ribeir�o
Preto (SP) em 29 de novembro de 1928. Logo foi para S�o Paulo onde come�ou a estudar.
Enquanto isso, folheava v�rios gibis do Tarzan, seu her�i predileto, e ia via muitos
filmes dos cinemas Moderno e do Babil�nia, aprendendo muito sobre a linguagem
cinematogr�fica. Era jovem. Freq�entava corridas de F�rmula 1 na rec�m asfaltada
Avenida Pacaemb�.
Adorava corridas e viu acidentes hist�ricos como o da
francesa H�le Nice. Como Jos� de Almeida Castro relata em seu livro "Tupi: Pioneira
da Televis�o Brasileira" (Funda��o Assis Chateaubriand, 2001), "Em 1944,
conheceu a mo�a namorada do irm�o Renato, que j� era estrela de radio novelas: Lia de
Aguiar. Come�ou a freq�entar o Sumar�. Quando a televis�o chegou, ele j� era amigo da
gente da Cidade do R�dio, do porteiro ao grande chefe Demirval
Costalima."
Conforme depoimento dado por Luiz Gallon ao pioneiro Mario Fanucchi para seu site TV
Mem�ria, em 6 de setembro de 2000, o pr�prio fala:
"Minha primeira fun��o, desde a inaugura��o da TV Tupi-Difusora, Canal 3, foi
a de assistente de est�dio, isto �, a pessoa respons�vel pela coordena��o de todo o
trabalho de prepara��o e execu��o dos programas em sua �rea - o est�dio - em
perfeita sintonia com o "diretor de TV", como era chamado, no come�o da
televis�o e durante um bom tempo, o profissional no comando geral do programa."
Na �poca Gallon tinha 20 anos. E antes da TV havia trabalhado tamb�m como fot�grafo do
Jornal "Di�rio da Noite" (publica��o dos Di�rios Associados em S�o Paulo).
Nos primeiros tempos, foi assistente de Cassiano Gabus Mendes, de quem nunca escondeu sua
admira��o. Conta ele, ainda no relato a Mario Fanucchi, sobre sua primeira fun��o:
"Como o primeiro diretor de TV foi Cassiano Gabus Mendes, que tamb�m era o
diretor de programa��o da emissora (cujo diretor art�stico era Dermival Costalima - um
nome pouco lembrado hoje, mas que teve import�ncia fundamental nos primeiros tempos da
nossa televis�o), era natural que, al�m de cumprir a tarefa no est�dio, eu desse
assist�ncia ao Cassiano em quase todos os trabalhos de planejamento e coordena��o dos
quais dependia a programa��o."
E com total lucidez, sempre fazia quest�o de comentar sobre todos os detalhes dos
primeiros tempos da TV:
"Como tudo era realizado ao vivo, o risco de erros era constante. H� centenas de
hist�rias de falhas devidas a erros humanos ou a defici�ncias do equipamento. Eu mesmo
poderia descrever muitas situa��es que iam do hilariante ao tr�gico. Todas parecem
anedotas, quando lembradas hoje, mas, na �poca em que aconteceram, enchiam a gente de
constrangimento e frustra��o. Mas a gente sabia que, longe de desanimar, o jeito era
esquecer o �ltimo desastre, encarar os problemas e procurar acertar da pr�xima vez.
Assim vivia a televis�o em sua primeira fase, cheia de improvisos, com recursos t�cnicos
limitados, mas igualmente cheia de confian�a no futuro."
Gallon era muito ativo e sempre pensava al�m no que poderia ser feito. Trabalhava muito
com sua criatividade. N�o s� se preocupava com os colegas de trabalho, que davam duro
para colocarem no ar uma programa��o de qualidade, como com o telespectador. Queria
deix�-lo sempre informado. E foi assim que criou nos primeiros dias de programa��o da
TV as "chamadas de programas" (termo, ali�s, tamb�m de sua cria��o). Com
sonoplastia pr�pria levou ao ar nos intervalos o "Amanh� � dia de...",
anunciando o que viria na programa��o do dia seguinte. Assim, os telespectadores
continuavam atentos � programa��o da PRF-3 TV Tupy-Difusora.
Apesar do termo "chamadas" continuar vivo, o "Amanh� � dia de..."
logo foi superado pelo "Nossa Pr�xima Atra��o" onde Mario Fanucchi ilustrava
a chamada dos programas que viriam acompanhadas do simp�tico indiozinho da emissora e
agora tamb�m patrocinadas.
Depois de tantos esfor�os, logo Luiz Gallon foi promovido a diretor de TV. E conta sobre
o fato, ainda para o TV Mem�ria (pertencente ao
portal Prof.com.br):
"Um futuro que provou ser bem mais ameno, quando surgiu o videoteipe e a gente,
finalmente, tinha chance de aperfei�oar o trabalho e corrigir os erros. Minha passagem
para a dire��o de TV se deu naturalmente, pois eu havia acumulado uma experi�ncia na
prepara��o e execu��o dos programas que n�o poderia ser desprezada."
Luiz Gallon, como diretor de TV dirigiu muitos teleteatros (como o dominicial "TV de
Vanguarda" e "Grande Teatro Tupi" �s segundas-feiras) e programas
jornal�sticos, como o famoso "Rep�rter Esso" (1952). E dirigiu 30 novelas,
sendo uma delas a vers�o mais famosa de "O Direito de Nascer" (1964) - j� na
era do video-tape.
Exerceu at� o final da vida o cargo de diretor de TV (cargo hoje chamado de "diretor
de imagem"). E fala ainda no seu depoimento � Mario Fanucchi:
"Na nova tarefa, que exerci durante anos e anos at� a aposentadoria, obtive
aquilo que todo profissional mais deseja: realiza��o plena de seus projetos pessoais e -
o que nem sempre � alcan�ado - reconhecimento pelo trabalho. Ganhei oito pr�mios
Roquette Pinto e o Roquette Pinto de Ouro, concedido justamente por haver acumulado os
trof�us anteriores."
Gallon n�o gostava de aparecer na TV. S� apareceu para entrega dos pr�mios Roquette
Pinto. Sendo um dos poucos a ganhar o Roquette Pinto de Ouro na hist�ria da televis�o
brasileira.
Mario Fanucchi, no seu livro "Nossa Pr�xima Atra��o - O Interprograma do Canal
3" (Editora da Universidade de S�o Paulo, 1996) fala sobre um cap�tulo da hist�ria
da TV, de 1952, que envolve Luiz Gallon:
"A prop�sito das fun��es do nosso diretor de tev�, um produtor de programas
europeu, em visita aos est�dios do Sumar�, dois anos depois da inaugura��o do Canal 3,
manifestou seu espanto ao observar o trabalho de algu�m que ele supunha tratar-se de um
switch-man, afirmando que a autonomia deste seria inaceit�vel em sua emissora. L� ele
simplesmente apertaria os bot�es,
comutando as c�maras sob as ordens de um diretor. Terminado o programa, o visitante
elogiou o trabalho do diretor de tev� Luiz Gallon como um switch-man capaz de fazer
tamb�m as vezes de diretor de imagem..."
Luiz Gallon viveu sua vida profissional na Rede Tupi, do in�cio ao fim da mesma. Era um
profissional indispens�vel dentro da "Taba associada". Depois do fim da Tupi,
em 1980, chegou a trabalhar na TV Cultura e em produtoras independentes. Foi um dos
respons�veis pela implanta��o da "Rede Vida de Televis�o" (canal cat�lico
da CNBB) na d�cada de 90.
Nos �ltimos anos, se esfor�ava para levar a frente e tirar do papel o Museu da
Televis�o. Mesmo tendo sofrido em 2000 um enfarte. Se orgulhava do painel com mais de
1.600 fotos que possu�a na parede de sua casa. Vivia sempre rodeado pelos filhos e netos.
Sempre indo atr�s de novas id�ias, sempre impulsionou os outros a investir em pesquisas
sobre televis�o e ir atr�s de patrocinadores para a mesmas, infelizmente nem sempre
tendo sucesso nessa empreitada. E indo de encontro ao futuro, resolveu integrar-se a rede
mundial de computadores. � um dos poucos pioneiros que tornaram-se internautas. E at�
mesmo na rede, j� pensava no que a mesma poderia servir � associa��o dos pioneiros,
tanto por e-mail, com por sites. Tanto que, devido ao n�mero de id�ias de Gallon ao
virtual "Portal Pr�-TV - Museu da Televis�o Brasileira", ainda n�o foram
colocadas no ar todos os seus projetos, o que muito em breve ser�o realizados na
internet. E tanto para o portal como para a Pr�-TV, do primeiro ao �ltimo boletim da
associa��o, ele fez quest�o de colocar seus textos. Alguns podem ser encontrados nas
edi��es virtuais do Boletim Pr�-TV, de abril � agosto de 2002.
Da TV atual dizia o mesmo que n�o lhe agradava a luta pelo IBOPE, que isto s� estava
atrapalhando a evolu��o da pr�pria TV e tirando a qualidade da programa��o. Sentia
falta do tempo que via na TV a dedica��o dos seus profissionais n�o s� em fazer um
programa como apresentar novidades a estes, n�o pensando s� no lado comercial. Mas se
orgulhava ao mesmo tempo de uma paix�o sua que ele dizia n�o ter deixado de evoluir no
meio: as belas "chamadas". Apreciava todas, at� as bem coloridas e cheias de
computa��o gr�fica. Via nelas o progresso da televis�o, da anima��o e das artes
gr�ficas.
E em 2000 falou a Fanucchi, naquela mesma entrevista dada em sua casa, sobre a
preserva��o da hist�ria da televis�o:
"Quando a televis�o brasileira cumpre meio s�culo de exist�ncia, n�o considero
puro saudosismo passar a limpo tudo o que aconteceu desde aquele distante 18 de setembro
de 1950. �, isto sim, um rompimento com a id�ia de que, no Brasil, preservar a mem�ria
em qualquer campo tem pouca import�ncia."
Ainda bolando projetos para o museu, tanto o real como o da internet, indo atr�s das
pesquisas e tentando novas sa�das para o crescimento da associa��o, come�ou a ter
complica��es card�acas no in�cio de setembro. Estas, que o levariam embora na
madrugada do dia 26 para 27 de setembro. Deixando assim um enorme vazio na hist�ria da TV
brasileira e muitas saudades. Uma falta que todos sentimos de Luiz
Gallon, o sempre
sorridente, que foi um dos criadores da Pr�-TV e seu vice-presidente desde o nascimento
da mesma. E Gallon onde quer que esteja, deve estar olhando l� de cima, todos os feitos
da associa��o e dando uma for�a para que logo saia do papel o t�o desejado Museu da
Televis�o.
E terminamos como um trecho, onde h� uma c�lebre frase de Luiz Gallon, que j� entra no
hall das famosas cita��es da hist�ria de TV brasileira:
"Acho que, numa frase, posso resumir tudo aquilo que vivemos nos primeiros dias
da televis�o: �ramos poucos, mas t�o unidos, que parec�amos um s�!"
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