Pioneiros da Televisão Brasileira

 

"Velho Capitão"

 

A história da imprensa brasileira pode ser dividida em duas fases: antes e depois de Assis Chateaubriand. Fundador dos Diários Associados, Chateaubriand construiu o maior conglomerado de empresas jornalísticas do País em pouco mais de duas décadas: 36 jornais, 19 tevês, 25 rádios, 18 revistas e duas agências de notícias.

Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello nasceu a 5 de outubro de 1892, em Umbuzeiro, na Paraíba, divisa com Pernambuco. Filho de Francisco Chateaubriand Bandeira de Melo e Carmem Chateaubriand Bandeira de Melo, o prenome Chateaubriand teve origem na admiração que o avô do jornalista cultivava pelo escritor homônimo francês.

Ingressou na Faculdade de Direito, em Recife, aos 15 anos de idade, num tempo em que já escrevia para o jornal "Pernambuco". Colaborou ainda para vários jornais pernambucanos, inclusive o "Diário de Pernambuco", onde chegou ao cargo de redator-chefe.

Em 1917, abriu uma banca de advocacia no Rio de Janeiro. Mas encaminhou-se rapidamente para o jornalismo, escrevendo para o "Jornal do Commércio" e "Correio da Manhã", além do "Jornal do Brasil", onde foi chefe de redação. Como comentarista internacional, Chateaubriand visitou vários países da Europa, o que lhe possibilitou a publicação, em 1921, do livro "Alemanha". Neste mesmo ano, demitiu-se do "Jornal do Brasil" e do "Correio da Manhã", para se dedicar à aquisição da sua primeira publicação, "O Jornal", comprado por 5.800 contos de réis. Seis meses depois, em 1924, comprava o "Diário da Noite", em São Paulo.

Os dois foram o embrião dos Diários Associados. Mais tarde, em 1928, ele fundaria a empresa gráfica "O Cruzeiro" e , em 1934, adquiria a revista "A Cigarra". Em Minas, desde 12 de maio de 1929, já estava integrada àquela organização o jornal "Estado de Minas". Pouco tempo depois, em 1931, nascia o "Diário da Tarde", agregando-se, posteriormente, às rádios Guarani e Mineira e, na década de 50, às tevês Itacolomi e Alterosa.

Chatô fundou ainda a Agência Meridional e a Rádio Tupi. A ela se juntariam logo a Rádio Tupi, de São Paulo, e a Rádio Educadora, rebatizada de Tamoio, no Rio, a Rádio Difusora (São Paulo) e ainda a Rádio Cultura (São Paulo). A televisão veio a 18 de setembro 1950: a PRF-3 TV Tupy-Difusora, canal 3 de São Paulo, primeira emissora de tevê da América Latina e que em abril de 1974, com mais 21 emissoras constituiria a Rede Tupi de Televisão.

Chateaubriand não só fez um conglomerado televisivo para agregar-se apenas como emissoras da Rede Tupi, como tinha o sonho de em todas as praças possuir mais de uma emissora. Assim fez em São Paulo, com a TV Cultura, canal 2 (fase de 1958 a 1969) e com a TV Alterosa em Belo Horizonte (MG), que hoje constitui um grande exemplo de TV regional em Minas Gerais, contando não só com 1 emissora, mas 5 - além da TV Minas Sul.

Assis Chateaubriand em 21 de setembro de 1959 criou o Condomínio Acionário dos Diários e Emissoras Associados, para a sua sucessão na direção do conglomerado.

Homem público

A vida política de Chateaubriand não se limitou ao tempo em que ele exerceu mandatos de senador pela Paraíba e pelo Maranhão, na década de 50. Desde os primeiros tempos de existência da Rede Associada, ele sempre assumiu posturas que lhe valeram, por exemplo, o fechamento, durante algum tempo, do "O Jornal" por Getúlio Vargas, o mesmo presidente a quem Chatô apoiou decisivamente na Campanha Liberal de 1930, mas com quem se desentendeu após os primeiros desmandos do governo.

Chatô ainda foi membro da Academia Brasileira de Letras e embaixador do Brasil na Inglaterra. Criou também o Museu de Arte de São Paulo (MASP), um dos mais importantes do mundo.

Sua biografia mais famosa, o livro "Chatô - O Rei do Brasil", escrito pelo jornalista Fernando Morais e editado pela Companhia das Letras, narra em mais de 700 páginas a vida de um dos brasileiros mais poderosos deste século, que chegou a ser considerado o "Cidadão Kane brasileiro". Para o autor da biografia, a marca mais forte de Chatô foi a "imprevisibilidade, o que o torna fascinante". Hoje em dia estão sendo feitos dois filmes sobre a vida de Chateaubriand: "Chatô - O Rei do Brasil", da Guilherme Fontes Filmes e
"Chateaubriand, Cabeça de Paraíba", da Fibra Cine Vídeo - dirigida por Marcos Manhães Marins.

Chateaubriand morreu no dia 4 de abril de 1968, em São Paulo, depois de uma pertinaz doença (trombose) a que ele resistiu por longos anos, continuando, mesmo paraplégico e impossibilitado de falar, a escrever seus artigos.

Editorial

No dia de sua morte, Assis Chateaubriand foi lembrado pelos seus colegas dos Associados, quando eles publicaram nos jornais do conglomerado e transmitiram pelas emissoras de rádio e pelas de TV, tanto as independentes como as da Rede Tupi, o seguinte editorial (versão publicada no paulistano "Diário da Noite" na mesma data) :

"Ele foi, não é.
De repente num segundo a morte.
Muda o tempo do verbo e o que foi não é mais.

Ele foi até ontem
O que muito poucos homens conseguiram ser.
Uma personalidade de uma extraordinária essência humana.

Ele é, a partir de hoje,
Uma presença espiritual que nem a morte poderá impedir.

Tendo como sempre, entre nós,
Um homem miúdo,
No entanto, um gigante.

Um homem condenado à imobilidade,
No entanto, o mais ágil do que qualquer um de nós.

Um homem nascido no Cariri,
No Umbuzeiro da sempre viril e aguerrida Paraíba.
No entanto, espraiado pelo passo do mundo,
Esparramado ao longo de todos os paralelos e meridianos da Terra.

Como protótipo de Kipling,
Ele caiu mil vezes
E mil vezes se reergueu.
Perdeu tudo
E tudo readiquiriu.
Conviveu com reis
E jamais desceu a subserviência e à bajulação.
E deu a todos os minutos de sua vida,
O seu valor exato de sessenta segundos.

Ele foi uma dessas criaturas que trazem em si a controvérsia...
Um polêmico, um gladiador, um guerreiro, um iconoclasta incorrigível.

Ele próprio se considerava um jagunço de alma agreste e espírito agressivo
Dotado daquela obstinação, daquela pertinácia que não aceita rendições e nem admite derrotas.

Ele foi como a margantilha das caatingas nordestinas,
Áspero e espinhudo,
Que entretanto se adorna com a mais bela flor dosada dos sertões brasileiros.

Ele foi um semeador de cultura
E de beleza.
Um plantador de idéias.

E ao vê-lo agitar-se como um feiticeiro no seu fantástico laboratório,
Ninguém diria que aquele homem do Umbuzeiro
Pudesse operar sozinho o milagre da criação cotidiana
Como um pequeno Deus a inventar um mundo repleto de riquezas novas,
E dons generosos.

Nem seria possível dizer quando ele terá atingido a culminância de sua vida.
Terá sido ao lutar pelas liberdades cívicas, como um leão consciente de sua força e dignidade?
Terá sido ao impulsionar o progresso despertando estímulos adormecidos?
Ou a fundar museus?
Terá sido nos últimos anos se sua existência,
Quando preso a uma cadeira de rodas
Ele deu o mais nobre e dramático exemplo de vitória do espírito sobre a matéria?
De triunfo da vontade sobre a inércia.

Não é preciso investigar.
Porque toda sua vida
Foi uma culminância batida de Sol.
Toda sua existência
Foi uma cordilheira fustigada
Pelos vendavais humanos.

Ele foi Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello,
Um homem no mais rico sentido de humanismo,
O apóstolo muitas vezes incomprendido,
O santo muitas vezes apedrejado.

Trazia dentro de si o conflito permanente da razão contra a paixão.
Um demônio de fulgurante inteligência,
Um arcanjo de comovente ternura.

E aqui, na sua casa,
Onde cada um de nós
E todos nós aprendemos a amá-lo,
À respeitá-lo,
E a obedecer ao seu comando,
Ele foi o "Velho Capitão".
Foi não, é. Será enquanto aqui estivermos.

A morte não tem o poder de alterar o tempo do verbo,
Nem lhe diremos adeus, pois ele continua presente como em todos os tempos
No grande coração das Associadas.

É o "Velho Capitão"
Que sorri,
Que repreende,
Que encoraja,
Que zanga conosco,
Que nos ensina
E nos corrige.

Ouvimos as suas ordens
E as executamos.
Conhecemos os seus rumos,
E os seguimos.

Então, até sempre,
"Velho Capitão".

Para ouvir este editorial - pertencente a Fundação Assis Chateaubriand - vá até a seção Memória do Rádio, projeto que existe dentro do site da Rádio Jovem Pan, e procure por "Assis Chateaubriand". A reprodução do áudio, total ou parcial, não é permitida sem o consentimento da Rádio Jovem Pan para uso externo do site.

Fundação Assis Chateaubriand

No 15º aniversário da morte de Assis Chateaubriand, em 4 de abril de 1983, Paulo Cabral de Araújo, presidente dos "Diários Associados", propôs aos seus companheiros de Condomínio Acionário que o nome do "Velho Capitão" se prestasse ao patronato de uma Fundação voltada para os interesses educacionais e culturais do povo brasileiro. Aceita a idéia, coube ao proponente a tarefa de criar a Fundação Assis Chateaubriand, o que se oficializou em 1987. A entidade o tem como seu presidente e Gladstone Vieira Belo como vice-presidente. Jarbas Passarinho preside o Conselho de Curadores e Márcio Cotrim é o diretor-executivo. Adirson Vasconcelos coordena a parte editorial.

Dentre muitas promoções de sentido educacional e cultural, a Fundação Assis Chateaubriand, que tem sede em Brasília, realiza, anualmente, o "Prêmio Nacional Assis Chateaubriand de Redação", envolvendo milhares de estudantes de todo o País. E resgata a memória de Chateaubriand através da edição de livros com seus discursos no Senado Federal e seus mais de 12 mil artigos publicados nos Associados, de 1924 a 1968, além de projetos não-memorialísticos que levem, em sua índole, o mesmo espírito de Assis Chateaubriand.

 

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