Waimiri-Atroari
(Reportagem de 1996)
 
No último dia 6 de outubro (1996), os vaimiris-atroaris novamente pegaram seus arcos e flechas. Desta vez contra a empresa Paranapanema que explora cassiterita, o minério do estanho, junto às suas terras. A empresa sem autorização, havia construído uma estrada para escoamento do minério e pagava pelo uso dela. Os índios queriam aumentar esse pagamento.


Índios vaimiris-atroaris no momento exato em que atacavam o posto próximo à mina de cassiterita Pitinga,...

Os repórteres do Estado chegaram à mina de Pitinga, da Paranapanema - 250 quilômetros ao norte de Manaus, junto à BR-174 - no momento da tomada do posto de vigilância pelos 110 guerreiros índios. Pitinga é a maior mina de cassiterita do mundo. Sem ela, o Brasil teria que importar estanho. Um dos diretores da empresa, Ricardo Dequesch, alegou que a empresa ficaria arruinada pela reivindicação dos vaimiris-atroaris de pagar um caminhão de minério para cada um dos 200 que passassem pela estrada.
Do outro lado, o líder indígena Mário Parwe não retrocedia. Apontava a contaminação das águas do Alalau e os estragos ambientais de suas terras provocados pela mineração. Com base em documentação obtida junta à Funai também alegava que haviam sido ludibriados pela agência no começo dos anos 1970. O sertanista Porfírio, que trabalhou na pacificação das relações com os vaimiris-atroaris, confirma a denúncia de Parwe em seu livro. Segundo o sertanista, um desmembramento irregular do território original fez com que os vaimiris-atroaris perdessem 526.800 hectares de terras.


...explorada pela Paranapanema, no dia 6 de outubro: acordo permitirá aplicações na recuperação de terras

O bloqueio da estrada pelos índios e as negociações que se seguiram duraram um mês. No último dia 7, saiu o acordo. A Paranapanema, comprada por um fundo de pensões de empresas estatais, vai pagar o que os índios desejam. O dinheiro deverá ser investido na recuperação ambiental das terras.
Sem saber, Parwe e seus liderados seguiam o pensamento de um líder indígena norte-americano, Mato Gleska (Urso Pintado), sobre a conquista do ouro nas Black Hills, território sagrado dos índios, em 1870: “Nosso pai grande tem um grande baluarte e nós também. A montanha é nosso baluarte... Queremos US$ 70 milhões pelas Black Hills. Coloquem o dinheiro em algum lugar a juros, para que possamos comprar gado. Essa é a maneira dos brancos”

 
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Texto de Ulisses Capazoli
Fotos de Itamar Miranda/AE
Caderno Extra - O Estado de  S. Paulo - 8 de dezembro de 1996
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