A guerra aos Botocudo de Minas
Brasil Indígena - 500 anos de Resistência

 
 
 
 
 
 
 
 
 

Família de Botocudo (Guerén).
Gravura em cobre de
Maximilian von Wied-
Neuwied, que esteve no
Brasil entre 1815 e 1817 e
viajou pelo Rio de Janeiro,
Espírito Santo, Minas Gerais,
fazendo levantamentos
da flora e da fauna, tendo
entrado em contato com os
Puri, Botocudo e Kamakã,
dos quais fez registros
iconográficos.

Para cumprir as exigências da Carta Régia do rei Dom João VI, que determinava uma comunicação por terra entre Rio de Janeiro e Bahia livre de ataques indígenas, foi desencadeada uma verdadeira guerra contra os Borun, também conhecidos como Botocudo.

A estratégia adotada foi a ocupação da região por destacamento militares. Entre 1800 e 1814 foram construídos sete quartéis no sul da Bahia, 27 no nordeste e leste de Minas (sendo vinte na região do rio Doce) e 38 no Espírito Santo.

A maioria destes quartéis consistia em casas de taipa, cobertas de palha e protegidas por cercas de pau-a-pique. Ao redor havia plantações de milho e mandioca que não só alimentavam os soldados, mas também atraíam populações indígenas menos agressivas, com dificuldades em subsistir devido às pressões da sociedade envolvente.

Muitos destes indígenas tornaram-se mão-de-obra nas vilas das regiões e também foram empregados como guias nos ataques contra os Botocudo, como o famoso Pocrane, que se tornou nome de uma cidade de Minas Gerais.

A estratégia adotada oscilava entre o ataque aos indígenas e a atração amistosa com oferta de presentes e bugigangas. Contudo, a tônica foi a violência. Os milicianos raramente possuíam uma visão humanitária, eram presos comuns, desertores ou indivíduos convocados compulsoriamente.

Essa desumanidade pode ser comprovada no relato de Freireyss, um viajante europeu que esteve na região por volta de 1815:

O comandante [do quartel de Santana dos Ferros] nos contou que já tinha amansado quinhentos Puris e os domiciliados em lugares determinados, fazendo-os acabar com toda hostilidade contra os portugueses e seus amigos; mas acrescentou, com uma risada diabólica, que se devia levar-lhes a varíola para acabar com eles de uma só vez, porque a varíola é a doença mais terrível para esta gente”.

Ao lado do extermínio, foram freqüentes as vendas de crianças, chamadas kuruka, que deram bom dinheiro aos mateiros. Desesperados, os pais deixavam seus esconderijos, atacando os quartéis, na esperança de recuperar seus filhos. E muitas vezes nesses embates perdiam a vida.

Tudo isso aconteceu no tão decantado governo de Dom João VI.

Benedito Prezia


Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000.
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