O Amazonas
Brasil Indígena - 500 anos de Resistência
Frei Gaspar de Carvajal acompanhou Francisco de Orellana, o primeiro explorador do rio Amazonas. Em 1542, a expedição chegou à foz do grande rio. Carvajal nos deixou um impressionante relato dos povos que viviam à margem do Amazonas, como os Omagua, que produziam uma cerâmica sofisticada, comparada pelos conquistadores com a chinesa.
Aquarela de Francisco Requeña y Herrera,
chefe da comissão de
limites da Amazônia,
nos anos de 1778 a
1785, cuja tarefa era
determinar os limites
entre as colônias de
Espanha e Portugal.
Aqui vemos
funcionários espanhóis interpelando dois
Omagua no rio Mesay,
bacia do Japurá.
"Ao completar doze dias de maio, chegamos às províncias de Machiparo, que são terras populosas, que fazem fronteiras com outra região muito grande chamada Omagua, e são amigos que se juntam para a guerra com outras regiões que ficam terra adentro e que atacam diariamente as suas casas.
Quando chegamos a umas duas léguas da região vimos que estava repleta de aldeias e não andamos muito e avistamos, rio acima, grande quantidade de canoas em posição de combate.
(...) Aí tivemos uma batalha perigosa, porque como havia muitos índios na água e na terra, em todos os lugares, a guerra era dura.

Os arqueiros [nossos] desceram em terra e bateram nos índios de tal maneira que eles fugiram. Ganho o pedaço de terra, o capitão mandou o alferes com 25 homens percorrer o local. Contou-lhe tudo o que havia visto e como havia grande quantidade de alimento, como tartarugas, que estavam nos cercados e nos tanques, muita carne, peixe e biscoito [beiju], tudo em abundância que daria para sustentar um batalhão de mil homens durante um ano.

Resolveu [o capitão] que deveríamos ir ainda mais rio abaixo (...). Começamos a navegar e não paramos de combater os índios, e não se tinha idéia do número de pessoas que apareciam por terra.
(...) Ainda nos seguiram durante dois dias e duas noites, sem que pudéssemos repousar, e demoramos tanto para sair desse lugar e desse senhor, chamado Machiparo, que, pelo que notamos, constava de mais de 80 léguas [480 quilômetros], todos povoados, e de aldeia em aldeia havia enorme proximidade. Algumas aldeias se estendiam por mais de cinco léguas [30 quilômetros], sem separação entre uma casa e outra, e isso era uma coisa maravilhosa de se ver.

No domingo seguinte à Ressurreição de Nosso Senhor, viemos a encontrar com outro rio mais caudaloso e maior, à direita, na junção dos dois rios [Catua e Purus] havia muitos e populosos povoados, na bela terra de Omagua, e por serem muitas as aldeias e com muita gente, o capitão não quis aportar.
(...) Ao cair da tarde, chegamos a um lugarejo que estava sobre a barranca, e porque parecia pequeno, o capitão mandou que o tomássemos. (...) Havia nesse povoado uma casa de descanso [de reuniões], dentro da qual encontramos louças dos mais variados feitios: havia vasos, cântaros enormes, de mais de 25 arrobas [275 litros] e outras vasilhas pequenas, como pratos, tigelas e castiçais, de uma louça melhor que já se viu no mundo; mesmo a de Málaga não se iguala a ela, porque é toda vitrificada e esmaltada com todas as cores, tão vivas que espantavam, apresentando, além disso, desenhos e figuras tão compassadas, que naturalmente eles trabalhavam e desenhavam como os romanos."

CARVAJAL, Frei Gaspar de. Relatório do novo descobrimento do famoso rio grande descoberto pelo capitão Francisco de Orellana (1542). Edição bilíngüe. São Paulo, Página Aberta, 1992, p.55, 57, 63 e 65.
 
 


Brasil Indígena: 500 anos de resistência / Benedito Prezia, Eduardo Hoomaert. - São Paulo: FTD, 2000.
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