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ATENÇÃO: Começamos e não vamos parar. Em junho retornaremos com a edição nº 16. Participe enviando artigos, sugestões de matérias e links de sites para intercâmbio virtual. |
BREVE TODAS AS EDIÇÕES ESTARÃO DISTRIBUÍDAS POR NÚMERO PARA FACILITAR ACESSO |
ARQUIVO
CABEÇAS FALANTES ONLINE Informativo afro-cultural
brasileiro - edições publicadas - página continua - Oubí Inaê Kibuko - Editor
responsável Site: www.cabecasfalantes.hpg.com.br - Edição do mês: www.infocabecasfalantes.hpg.com.br
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Amigo Leitor, gradativamente,
pessoas de várias áreas, tanto nacionais quanto do exterior, interessadas nas
primeiras edições de CABEÇAS FALANTES ON-LINE – informativo afro-cultural brasileiro têm aumentado. Visando
atender aqueles que nos solicitam as primeiras edições, estamos
disponibilizando todos os números para quem desejar conhecê-los a título de
estudo, simples curiosidade, pesquisa, documentação... Algumas alterações em termos de formatação
tiveram que ser feitas nos números 1, 2 e 3, sem prejudicar o conteúdo
original. Quanto a ausência de imagens, elucidamos: CABEÇAS FALANTES ONLINE
não publica matérias com ilustrações e
fotos, por questões técnicas. Falta no mercado programas que permitam
editar imagem e texto sem desformatá-los ao serem repassados pelos
internautas, para quem não utiliza programas HTML. Aliado a propósitos
pedagógicos, CABEÇAS FALANTES ONLINE busca intencionalmente estimular o
exercício da leitura. Fato constatado entre inúmeras pessoas que utilizam
computadores, comprovando a tese de educadores e consultores de marketing, os
quais afirmam que poucos lêem um e-mail acima de 5 a 10 linhas; provocando
desse modo um grave e gradativo desinteresse ao hábito de ler... Com mais
esta iniciativa, almejamos atender aqueles que porventura não tiveram acesso
às edições anteriores, bem como atender aqueles que porventura desejam
manter-se atualizados com as posteriores, caso não tenha recebido.. Acesse,
leia, selecione a edição desejada, copie e divulgue. Seja um agente
multiplicador de CABEÇAS FALANTES ONLINE. A cultura e a informação
afro-brasileira agradecem a sua valiosa colaboração. |
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CABEÇAS
FALANTES – informativo afro cultural brasileiro
Ano I - n.02 - março/2002
- Editor: Oubí Inaê Kibuko - e-mail: [email protected]
- [email protected] |
EDITORIAL Amigo Leitor, saudações internáuticas! Por acreditarmos
que reformas educativas, culturais e de comportamento são algumas das chaves
para o futuro da nação brasileira e sua coletividade afro-descendente, o
número 1 de CABEÇAS FALANTES, versão on-line foi bem recebido em São
Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Brasília, Moçambique, EUA... Não podemos
discutir soluções sociais, se não buscarmos equações raciais, expondo o que
pensamos/vivenciamos... Tanto que a proposta de Ações Afirmativas aos
afro-brasileiros vem gerando polêmicas. Utilizar novas ferramentas de
comunicação, visando expandir e multiplicar os ecos do modesto trabalho que
vínhamos realizando na coluna homônima publicada no jornal Consciência Negra
até o ano 2000, era um projeto cobiçado, desde quando descobrimos a
importância sem fronteiras deste atabaque virtual. O próximo passo será
construir um site onde você possa contribuir neste processo para democratizar
e descentralizar a informação. Muitos estão expostos à opinião de poucos.
2002 é ano político. Segundo um provérbio africano: “Aquele que esquece o
passado está condenado a revivê-lo”. Não venda seu voto. Exija dos candidatos
um termo de compromisso assinado. Por enquanto, contamos com a sua
colaboração e divulgação de CABEÇAS FALANTES. Agradecemos a todos que
enviaram mensagens de apoio. Como o espaço é curto omitiremos nomes para não
sermos injustos. Esta edição traz um pouco do que nos foi enviado, sugerido e
compilado dos nossos arquivos. Tanto material de utilidade pública não
poderia permanecer restrito à uma "elite pensante".
Principalmente quando se é morador de um bairro chamado COHAB Cidade
Tiradentes, periferia do extremo leste de São Paulo, onde as bibliotecas e
manifestações culturais existentes são frutos de árduos esforços voluntários.
A saúde pública também está em foco. O governo não tem dado a devida atenção
à Anemia Falciforme. Você é quem nos ajuda a fazer este informativo.
Portanto, Amigo Leitor, além de ser multiplicador de CABEÇAS FALANTES, coloque um pouco do seu acervo à
disposição daqueles que tem fome de conhecimento e... O Brasil e o Mundo agradecem. Oubí Inaê Kibuko – Editor
responsável MEU NOME AFRICANO A partir desta edição
publicaremos nomes afros. Aos que forem registrar seus filhos, recomenda-se
levar esta página para contornar aborrecimentos. Não se trata de marketing
induzido. Os cartórios, às vezes, criam obstáculos para lavrar os registros,
baseando-se em um “glossário mundial de nomes”, no qual referências africanas inexistem. Estranhamente, tais barreiras
não são extensivas às origens de outros continentes... Nomes masculinos ABAYNEH = você está acima de tudo – Etiópia ABAYOMI = nascido para trazer-me alegria – Ioruba ABIMBOLA = nascido rico – Ioruba AFOLABY = nascido com fama – Nigéria AGYEI = mensageiro de Deus – Gana Nomes femininos ADESINA = a coroa (da rainha) levanta barreiras no caminho
– Nigéria AÍSHA = vida - Swahili AMADI = comemoração geral – Ibo ASANTEWAA = mulher de guerra, guerreira – Ashanti AYOBAMI = fui abençoada por Deus com alegria - Ioruba Fontes: “Nomes afros e seus significados”,
Quilombhoje; “Know and Clean Your African Name”, Becktemba Sayika. ALEGORIA DE MÃO É o
título do folheto produzido pelo escritor e dramaturgo Cuti (Luiz Silva). Sua
obra é uma navalha afiada na pedra-limo da vivência afro-brasileira.
Alegoria de mão contém quatro poemas (Passagem, Ah!sssssé...dio!, Para ouvir e entender “Estrela”, Sedução,
Procura) e o conto Dívida em vida. Uma reflexão oportuna e profética para
quem participou da Conferência Internacional Contra o Racismo, Xenofobia e
Outras Formas de Intolerância, ocorrida em agosto/setembro 2000, Durban -
África do Sul e viu a proposta de indenização aos afro-descendentes ser
rejeitada. Para quem não teve a
oportunidade de conhecer sua obra, Alegoria de mão é ilustrada pelas capas de
3 livros do autor e do cd Quilombo de Palavras, recital poético em parceria
com o poeta e professor Carlos de Assumpção. Maiores informações através do
site: www.luizcuti.silva.nom.br
BONECAS NEGRAS
Se Papai
Noel não
trouxer boneca preta neste
Natal meta-lhe
o pé no saco (Para
ouvir e entender “Estrela”, Cuti) A busca pelo produto mais fácil
é uma regra para quem preguiçosamente não quer perder tempo. Mesmo que lhe
custe o preço da sua identidade, nesses tempos de globalização, onde quem não
preservar suas raízes está fadado à extinção. Semear a auto-estima começa na
infância, para colhermos frutos promissores no futuro... Quem não se lembra
daquele detestável presente que nada tinha a ver consigo? Genésio Arruda vem
desenvolvendo, de forma cooperativa, um trabalho exemplar. Ele e seus
familiares produzem bonecas negras artesanais, vendidas pessoalmente e também
feitas por encomenda. Com direito a entrega em sua residência ou escritório.
São diversos tipos e modelos. Se você deseja presentear alguém querido ou
mesmo a si próprio com algo condizente à sua afro-descendência, agende uma
visita, através dos telefones: (011)
3487-0209 ou 3668-7042. INSPIRADO
NUMA CHARGE DE JAGUAR Com a
carapinha anelando sonhos vitoriosos, dispararam pela avenida Celso Garcia. “Chamem
a FEBEM!” - gritou o senhor branco, quando os cinco negrinhos por
ele passaram correndo, em treino a São Silvestre. Indignados, eles retornaram
zumbifuriosos e, sem pestanejar, deram-lhe treze nós na língua, em meio à
multidão estupefata. Oubí Inaê Kibuko QUILOMBO
VIRTUAL
QUILOMBHOJE:
grupo de escritores responsável pela série cooperativa Cadernos Negros – www.quilombhoje.com.br CIDAN:
Centro de informação e documentação do artista negro – www.cidan.org.br PORTAL
AFRO: informação, arte, cultura, documentação – www.portalafro.com.br BOCADA
FORTE:informações sobre o movimento e a cultura Hip-Hop, shows, músicas – www.bocadaforte.com.br GÉLÉDÉS: orientação à saúde da mulher negra, apoio
jurídico, projetos afro-sociais – www.geledes.com.br
ANEMIA
FALCIFORME
É uma
doença que passa dos pais para os filhos, alterando os glóbulos vermelhos do
sangue. Os glóbulos vermelhos são células arredondadas e elásticas, por isso
passam facilmente por todos os vasos sanguíneos do corpo. Dentro destas
células existe um pigmento chamado hemoglobina, que dá a cor vermelha ao
sangue, e transporta oxigênio para os tecidos e órgãos. A maioria das pessoas
recebe dos seus pais hemoglobina normal, tipo A. Como recebem uma parte da
mãe e outra do pai, cada pessoa é AA. As pessoas com
Anemia Falciforme recebem dos seus pais hemoglobina anormal chamada hemoglobina
S. Como recebem uma parte da mãe e outra do pai, elas são SS. Os glóbulos
vermelhos com hemoglobina S podem ficar em forma de foice. Essas células são
mais rígidas e por isso têm dificuldade para passar pelos vasos sangüíneos,
podendo amontoar-se uma sobre as outras, dificultando a circulação. O Traço
Falciforme não é uma doença. Quer dizer que a pessoa herdou de seus pais
hemoglobina A e S. Como recebeu um tipo da mãe e outro do pai é AS. As
pessoas são saudáveis e nunca desenvolverão a doença. É importante
saber: quando duas pessoas com Traço Falciforme se unem elas podem gerar
filhos com Anemia Falciforme. Daí é importante que todas as pessoas façam um
exame de sangue chamado Eletroforese de Hemoglobina, antes de gerarem um
filho. Sinais e
sintomas: crises dolorosas em ossos, músculos e articulações, associadas ou
não a infecções, exposição ao frio, esforços, etc. Palidez, cansaço fácil,
icterícia (cor amarela visível principalmente no branco dos olhos). Nas
crianças, pode haver inchaço nas mãos e nos pés e muitas dores. Maior
tendência a infecções. Observações
importantes: a doença ainda não tem cura, mas pode ser controlada com alguns
cuidados simples de saúde e acompanhamento médico. As crianças com Anemia
Falciforme devem receber penicilina a partir do terceiro mês de vida, até
completarem cinco anos. Além das vacinas, que as protegerá das infecções.
Busque sempre orientação. Berenice Assumpção Kikuchi Associação de Anemia Falciforme do Estado de São Paulo fone/fax: (011) 69576783 RAP
INSPIROU BIBLIOTECA Em 1999, o rapper Betinho
escreveu uma letra intitulada “VAMOS LER UM LIVRO”. O público aplaudiu a
idéia levada pelo mano quando foi apresentada. Amigos, simpatizantes e
professores abraçaram a causa, coordenados pelo Núcleo Cultural Força Ativa.
O NCFA é uma organização juvenil e tem como objetivo trabalhar a consciência
afro-descendente, a conscientização política, a música RAP e outros
seguimentos do HIP HOP, através de eventos culturais, palestras, debates e
bate papo, grupo de estudo e os mais diversos modos de trabalhos existentes
em comunidades visando uma consciência coletiva da exclusão social. Juntos,
começaram a arrecadar livros usados. Após longa via sacra procurando local
para instalar as doações crescentes a cada dia, em 09/12/2001 foi inaugurado
o Centro de Documentação e Biblioteca Comunitária “Solano Trindade”, em
homenagem ao grande poeta e folclorista
pernambucano (1908-1974); gerenciado em conjunto com os Jovens Agentes
Comunitários de Direitos Humanos. O acervo contém aproximadamente 1500 livros
catalogados, os quais podem ser consultados no próprio local ou locados por
sete dias. O consulente pode também locar vídeos-documentários, obter
material informativo sobre saúde e ingressar no Curso de Alfabetização de
Jovens e Adultos. Outras atividades estão programadas para este semestre. O
CDBC “Solano Trindade” funciona de segunda a sexta-feira, na Avenida dos Têxteis
nº 1050, COHAB Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, das 10:00 às 19:00 horas.
Informações: www.ncfativa.cjb.net
ou [email protected] MEMORIAL DE MARÇO 01/1913
– Morreu no RJ, o grande escultor brasileiro Mestre Valentim. 03/1907
– Nasceu em MG, Antonio Rufino dos Reis, um dos fundadores da E.S. Portela. 03/1985
– Morreu aos 92 anos no RJ, o artista plástico Gabriel dos Santos, autor da
Casa da Flor, obra arquitetônica. 04/1951
– Morreu em São Paulo-SP, o poeta Lino Guedes, autor de O Canto do Cisne
Negro, Ditinho, entre outros. 09/1950
– Nasceu em Colina/SP, o poeta Paulo Colina, autor de Fogo Cruzado (contos) e
Plano de Vôo (poemas). 10/1912
– Nasceu em Tubarão/SC, Mãe Apolinária, fundadora da Soc. Caboclos Amigos de
Porto Alegre/RS. 11/1912
– Nasceu no RJ, Aniceto do Império, compositor e um dos fundadores do GRES
Império Serrano. 14/1847
– Nasceu na BA Castro Alves, autor de Vozes d’África, Navio Negreiro,
Saudação aos Palmares. 14/1914
– Nasceu em Franca/SP, Abdias do Nascimento, escritor e fundador do Teatro
Experimental do negro. 19/1908
– Nasceu na BA, José de Assis Vale, cantor/compositor de Camisa Listrada,
Boas Festas e outros sucessos. 22/1944
– Nasceu no RJ, Jorge Benjor, cantor/compositor, autor de Chove Chuva, Cadê
Tereza e outros sucessos. 26/1944
– Morreu no RJ, José Gomes da Costa, Zé Espinguela, compositor e chefe de
terreiro nas décadas 20 e 30. 28/1843
– Nasceu no RJ, Teixeira e Souza, um dos precursores do romantismo, autor de
O Filho do Pescador. FONTES: Quem é quem na negritude brasileira (CNAB)
e Calendário 2000 – Memória afro-brasileira (CPDCN) MOMENTOS DE REFLEXÃO Pensamentos valem e vivem pela observação, pela reflexão
aguda e profunda, pela originalidade, simplicidade e graça de dizer, quando
os transformamos em palavras. O nosso destino é modificado pelos nossos
pensamentos. Viremos a ser o que desejamos ser, quando os nossos habituais
pensamentos correspondem aos nossos desejos. (Machado de Assis) Não pensamos virtual. O virtual é que nos pensa. (Sandro
Luis A.K.A. ThugLine). Descansando, pensei que estivesse perdendo tempo. Neste
meio tempo, vi que muita coisa havia aproveitado o tempo. Porque falei comigo
e acabei gostando muita mais de mim. (Geni Guimarães) Diálogo entre dois amigos: Sua tv também é preto e branco?
Não. Só tem branco. (Maurício Pestana) Se as portas em que bates estão fechadas, abra teus
próprios corredores. (Oubí Inaê Kibuko) Quando você se defrontar, com argumentos cheios de
remorsos, de que não existe discriminação racial no Brasil, que o preconceito
contra o negro é social e que os negros são complexados, pergunte ao
interlocutor cheio de culpas... se ele já passou um dia de negro. (Arnaldo
Xavier) Estive revendo os aborrecimentos que tive esses dias (...)
Suporto as contingências da vida resoluta. Eu não consegui armazenar para
viver, resolvi armazenar paciência. (Carolina Maria de Jesus) (...) às vezes nos encontramos
com nós mesmos e outras vezes gritamos por não termos entendido as
experiências dos outros. (Rhonda
Michelle Collier) SERVIÇOS
SUA SATISFAÇÃO É A NOSSA MELHOR FOTO Social – Religioso – Cultural – Publicidade – Book
– Eventos – COR/P&B Oubí Inaê Kibuko – fotógrafo – fone: 9750-1542 JUAREZ – Serviços de funilaria – Atendimento
personalizado Rua Sóter de Araújo nº 72 –
estacionamento – Cidade Tiradentes – SP/SP – fone: (011) 6285-1701
VOCÊ
NÃO ESTÁ SÓ
A vida tem sido
dura para você, mas não se desespere. Pois, você não percebeu que tem amigos.
Você só está desorientado. Olhe ao seu redor. Olhe para dentro de si, do que
já foi feito para você. Quer ver como você tem amigos? São tantos, mas vamos
começar com Exu. Ele não é aquele bicho papão que as pessoas falam. Exu é o
Orixá mais próximo do ser humano. É na verdade aquele que faz sua meta se
tornar realidade. Exu está pronto a abrir seus caminhos. Saiba pedir que Exu
vai atender. Agora você não está mais só. Já tem um amigo! Você está
desempregado? Não tem ânimo? Você tem outro amigo, Ogum! Ele mesmo, no
momento difícil da sua vida nada como um guerreiro, nada como Ogum para
resolver. Está vendo, agora já são dois amigos a quem você pode contar, não é
maravilhoso? Você acha que
sua vida é só de tristezas? Ah! Meu amigo é porque você deixou de lado,
talvez pelas dificuldades da vida, a alegria dos Erês, dos Cosminhos, das
nossas encantadas crianças, elas vão te fazer feliz, é só lembrar delas.
Nossa turma está crescendo. Mas mesmo assim você se acha perdido, adivinhe
quem está esperando para ajudá-lo? Ele mesmo, Oxossi! Nosso eterno caçador.
Ele com certeza vai encontrar seu caminho. Basta pedir. Tá vendo! Mais
um no nosso time. Mas você anda doente, e pela maravilha das maravilhas temos
dois, isso mesmo. Temos dois orixás que estão prontos para virem ao seu
encontro. Nosso Pai Ossaim com seu conhecimento de ervas curativas e o nosso
grande mestre Obaluayê, que com seu poder curativo não tem pra ninguém. Notou
que estamos cada vez mais protegidos? E ainda tem mais! O mundo está, cada
vez mais injusto, temos um especialista nisso, o poderoso Orixá da justiça,
Xangô! Às vezes te falta coragem para tomar uma decisão, né? Já pensou em
pedir para Iansã? Êta Orixá arretada! É tiro e queda. Ela vale mais que um
milhão de dose de coragem. Ela é a própria coragem. Nossa, já perdi a conta
de quantos ela ajudou. Mas mesmo assim
seu coração ainda não está aberto para a humanidade? Não se preocupe, temos a
doce e meiga Oxum, que com seu poder de amizade, amor, compreensão vai dar
aquilo que você precisa. Ninguém te entende? Lógico que tem alguém, ou você
acha que uma mãe não vai te entender? Vai sim. É só se abrir com ela. Quem?
Iemanjá é claro. É o desabafo. Nada como o mais velho com sua sabedoria. Para
mostrar as coisas da vida, adivinha quem pode? Se você pensou em Nanã acertou
em cheio. Que time! E tem mais, muito mais, e coroando todos ainda temos
aquele que na sua infinita sabedoria te perdoará por tudo que fizeste, nosso
Pai Oxalá. Viu meu amigo quantos podem te ajudar? Basta você não esquecer
quem você é. Basta você lembrar dos Orixás no momento fácil e difícil da sua
vida. Basta você ter fé nos Orixás. Basta você ter fé em sua vida e ela se
transformará num mar de amor, amizade, prosperidade e paz. Sabe porque?
Porque você não está só! Valdir Persona – [email protected]
Fonte: Jornal Umbanda &
Candomblé nº 209/janeiro/2002 – pg. A-4. AGENDE-SE
06/03/02, 18hs00: Palestra sobre o desenvolvimento
das telecomunicações em Moçambique. Info: [email protected] 08/03/02, 17h: Grupo musical Mulheres de Ilú – Centro
Cultural Banco do Brasil – Rua Álvares Penteado – Centro/SP, grátis. 13/03/02, 19hs00: Lançamento de Cadernos Negros 24 em
Brasília – Restaurante Carpen Dien, SCLS 104, BL D, grátis. 16/03, 16hs00: Quilombhoje Sarau
Afro Mix – Biblioteca Mário de Andrade, R. da Consolação nº 94, Metrô
Anhangabaú, Centro/SP, grátis. |
CABEÇAS FALANTES
- Informativo afro-cultural brasileiro - Edição mensal Editor: Oubí Inaê Kibuko - Caixa Postal 30.255
– Cid Tiradentes – SP/SP-BR – CEP
08471-970 Por questão de espaço, matérias e mensagens podem
ser publicadas resumidamente. (N. E.) Fone (011) 9750-1542 - e-mails: [email protected]
e/ou [email protected] |
CABEÇAS
FALANTES - informativo
afro-cultural brasileiro - “nosso atabaque virtual” Edição especial nº 03 - Dia da Mulher Moçambicana - Editor: Oubí
Inaê Kibuko Home page: http://igspot.ig.com.br/orisfalantes
- http://igspot.ig.com.br/tamboresfalantes |
EDITORIAL
Amigo Leitor, demorou... mas chegou! Coisas boas são mesmo assim: às
vezes lentas como tempos construídos no alicerce da paciência - por mãos
masculinas e femininas - de um mundo igualitário para todos. “Não é que as
coisas sejam fáceis/ mas não é ser fácil que é essencial/ O girassol gira com
a luz/ e isso não é fácil e é belo/ É tempo de compreender/ que maçala e
malapa/ crescem em árvore forte/ na terra firme/ e não no lodo”.(1)
Estou diante da comovente e vitoriosa foto de Halle Berry: 1.ª atriz negra a
conquistar um Oscar, em 74 anos de história da Academia. Quantos sapos e
pedras suas antecessoras
engoliram?!... Nosso Amigo Antonio Matabele bateu aqui, fuçou ali,
mexeu acolá e novamente nos coroou com um texto digno, acreditamos, de
figurar nos CADERNOS NEGROS volume 25 – poemas. Gosto de pessoas persistentes!
Ele é um amante incondicional da sua terra natal: Moçambique. Orgulhosamente,
ele trouxe à luz, um pouco da história revolucionária sobre seu país.
Você poderá conhecê-la, acessando o Correio Virtual : http://igspot.ig.com.br/tamboresfalantes. Esta afeição
patriótica e solidária nos leva a refletir o amor que temos deixado a desejar
pelo nosso e por extensão à nossa gente. Certamente você vai me indagar: o
quê Hollywood tem a ver com uma nação africana e com nós, brasileiros? Talvez
minha resposta não convença.
Simplesmente atrevo-me a dizer: luta, irmão. Muita luta! Para estrelas
negras talentosas chegarem ao topo e serem premiadas por mérito, direito e
reconhecimento histórico: em nome daquelas, cuja existência, tem sido um mero
papel estereotipado e coadjuvante... Cá embaixo, há muitas outras anônimas
guerreiras, em singelas e cotidianas trincheiras, que na maioria das vezes
não recebem sequer um “muito obrigado”. Injustiças precisam ser reparadas. Um
dia institucionalizado, torna-se insignificante, se na manhã seguinte, nada
se avançou em ações concretas de políticas públicas. Igual candidatos que nos
convencem com docelábia, fisgam nosso voto, elegem-se, nunca mais o vimos e
sequer lembramos seu nome/fisionomia. Particularmente, sou avesso à datas
comemorativas. Porém, se a marcha de um povo, que se deu trilhando caminhos
espinhosos, vencendo obstáculos... e culminou com a conquista da
Independência Nacional: é justo este marco servir de referencial aos que
virão e para os que estão sem rumo
perante si mesmos. Certamente por estarem perdidos, ou presos em teias, para
não se dar conta da ogúnica labuta travada, almejando a libertação do
coletivo, inúmeras vezes manipulado por escusos interesses internos e
externos. Assim sendo, muito axé para o 7 de abril – Dia da Mulher
Moçambicana! E de todas as mulheres, conseqüentemente armadas, que municiam
suas vidas objetivando uma sociedade melhor, a começar por elas e pelo seu
país de origem, em nome do progresso democrático e rompimento de barreiras
discriminatórias. Amigo Leitor, Antonio Matabele, quilombelas, malungos: “Neste
lado da canoa também estou contigo/ ...Encomendando preces, juras, maldições/
...Mas nós queremos ainda uma coisa mais bela/ ...Queremos unir as nossas
mãos milenárias/ ...Para nos situarmos todos do mesmo lado da canoa”.(2) Sem ser partidário, transmito aqui meu Axé
à Benedita (Bené) da Silva. Primeira governadora negra a ocupar o mais alto
posto do estado do Rio de Janeiro, na história política do Brasil. Seu
mandato de 9 meses, será um árduo desafio. Que os Orixás... a iluminem nessa
gestação! E ajudem-na a minimizar a desastrosa vergonha legada por Celso
Pitta, ex-prefeito de São Paulo. Vejo vocês no especial de maio, sobre o
escritor Lima Barreto e outros assuntos referentes à Enganação da
Escravatura. Oubí
Inaê Kibuko – Editor responsável - [email protected]
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MULHER: MÃE, FILHA, IRMÃ, ESPOSA MOÇAMBICANAS Reflexões de António Matabele, escritas em Maputo, às
02,45 horas da manhã, do dia 04 de abril de 2002, a pensar na Dona Chica,
mulher que, há 50 anos atrás, andou comigo durante 9 penosos meses, para que em seu fértil ventre eu me formasse
e hoje pudesse estar sentado defronte ao teclado do meu computador cogitando,
cogitando, cogitando, logo existindo porque sou um HOMEM, companheiro
inseparável da MULHER... Eu
pensava que sabia amar-te Ensinaste-me,
afinal, a amar o mundo De
emoção em emoção eu pensava que te amava Afinal
buscava apenas – e só – a tua amizade Convencido,
andei anos a fio, que te amava Concluí,
graças a ti, que afinal queria apenas os prazeres emprestados pelo teu belo
corpo II Iludia-me
que te amava Ensinaste-me,
afinal, que no bordel não se ama ninguém Contigo,
nessa tua luta titânica, aprendi que afinal és HOMEM Foi
bonito ter estudado contigo que primeiro és HOMEM e então tens também a
grandeza de seres MULHER Contigo
aprendi que no bordel a carne apenas se comunica com essa outra carne de prazeres
comprados Contigo
materializei o sonho há muito sonhado de te amar de verdade, porque
te amo como pessoa e não como coisa III Tiraste-me
do erro grave e grande de não te ter amado estes anos todos Equivoquei-me
em sentimentos apenas bonitos em relação a ti Dado que
assim do teu maternal útero me construí Porque
dos teus fartos seios me fiz gente E sem
teus conselhos à escola não iria Como com
o teu carinho compreendi o mundo Eu
pensava que te amava, mas não te amava...Somente gostava muito de ti Mas com
a tua determinação ensinaste-me a amar-te E agora
sou feliz por isso mesmo IV Muita
gente, muito livro e brochuras sem fim testemunham que te viram de arma em
punho Dizem
que eras de uma bravura de animal ferido: leoa, leoparda??? Nada.
Estavas apenas ferida desse teu orgulho de não poderes ser moçambicana em teu
solo pátrio A
opressão feria-te fundo em feridas secularmente provocadas pelo coloniaslismo Eles
dizem que exortavas os teus camaradas do sexo que te complementa (não há
sexos opostos) a baterem-se com ainda mais bravura contra o colonialismo É
hipérbole? Não!!! É apenas ténue relato das tuas epopéias Através,
também, de ti hoje somos livres, livres, libérrimos como
pássaros nas densas matas de Nametil, Mogovolas em Nampula E como
depois disto tudo não posso reconhecer que me ensinaste a amar-te??? Ingratos
os que te espancam em nome de te corrigirem, como se tu só ouvisses a
linguagem da violência Violência,
essa forma vil e cobarde da pessoa humana tentar fazer valer as suas idéias
sobre os outros Quem te
bate ofende a sua própria mãe E
blasfema contra DEUS V Depois
veio a luz da liberdade grande As
grilhetas enferrujadas da opressão estouraram As
bandeiras foram trocadas: Vimos
naquela meia noite subir a bandeira mais bonita que os moçambicanos jamais
tinham desenhado A
Bandeira da Liberdade A
Bandeira da República Popular de Moçambique A nossa
linda Bandeira O ano
chamava-se 1975 – o dia 25 o mês era Junho Reconstruir
era a palavra de ordem para ser cumprida, meu Marechal Embora
cansada da luta dos 10 anos À luta
contínua te engajaste Machel
gritava bem alto: A LUTA CONTINUA Mas tu
já lá estavas na fábrica, na machamba, em tudo o que era coisa para
reconstruir Trabalhando,
suando lado a lado com o teu companheiro de luta Assim
sendo, reconstruindo o país, ensinaste-me a amar-te VI Contigo
quero continuar esta nossa luta Vamos
juntos reciprocar conhecimentos, forças e experiências As mães
têm muitas experiências para partilhar com os seus filhotes Todos
somos nada para as tantas tarefas que temos por realizar Mulher,
continua a comandar o mundo do jeito que sempre o fizeste desde que, em tua
barriga, nos geraste Mulher
com o teu exemplo de luta estóica e abnegada continua a ensinar como te amar
cada vez mais Mulher
moçambicana, porque és heroína anônima com nome grande continuarei a amar-te. ANTONIO
MATABELE - [email protected] * * * *
* INDIGNAÇÃO
Raízes debalde
vivendo em campos desertos contendo
em celas temerárias palavras...
gestos... atos... Inúmeras
raízes trazendo
presa em seus Oris a
sabedoria de Ifá e os
arquétipos de tantos majestosos Orixás Raízes inúmeras
raízes nos
vasos da repressão vegetando
estéreis nos canteiros da ignorância sob as
botas da submissão... Até
quando? (3) 1) PARA UMA
MORAL, Marcelino dos Santos, O Canto Armado, antologia temática de poesia
africana, organização: Mário de Andrade, Livraria Sá da Costa Editora,
Lisboa, 1979; 2) NO MESMO LADO DA CANOA, Alda Espírito Santo, É nosso o solo
sagrado da terra, poesia de protesto e luta, edição de José A. Ribeiro, 1978;
3) INDIGNAÇÃO, Oubí Inaê Kibuko, Canto à Negra Mulher Amada, poemas, Edição
do autor, 1986. |
CABEÇAS FALANTES – informativo afro-cultural brasileiro
– “nosso atabaque virtual” Editor: Oubí Inaê Kibuko - Caixa Postal 30.255 –
Agência Cidade Tiradentes – São Paulo/SP-Brasil – CEP 08471-970 E-mail: [email protected]
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F@L@NTES -Informativo Afro-cultural Brasileiro – Nosso Atabaque Virtual Editor:
Oubí Inaê Kibuko – Ano I – Edição 4 – Maio/2002 – Leia e Divulgue http://igspot.ig.com.br/orisfalantes
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EDITORIAL Amigo
Leitor, havíamos nos proposto a não mais tocar neste assunto: Abolição. Por
nós visto como “Dia da Enganação da Escravatura”. E ausentarmo-nos de
qualquer evento a ele referente, mesmo contendo outras proposições. Como é o
caso da Marcha Noturna Pela Democracia Racial, realizada anualmente na
capital de São Paulo, às vésperas do 13 de maio, organizada pelo Instituto Padre
Batista, em conjunto com demais organizações, para denunciar a situação do
negro na atualidade. Não concordamos, mas respeitamos. O histórico e a
programação da VI Marcha, cujo tema este ano é “POLÍTICAS AFIRMATIVAS JÁ!”
encontram-se no Correio Virtual de Cabeças Falantes: http://igspot.ig.com.br/tamboresfalantes.
Dois acontecimentos agitaram a galera. A Cohab Cidade Tiradentes, no dia 21
de abril completou 18 anos de fundação. Foi um circo onde houve de tudo um
pouco: atividades culturais, desfile cível e militar, atividades esportivas,
exposições, feira de artes, shows. “Depois que a banda passou tudo voltou ao
seu lugar” A maioria dos presentes
foi unânime sobre a viabilização de um espaço (inclusive pretensioso, e nós
assinamos em baixo semelhante ao Centro Cultural Vergueiro. Tendo em vista
que área disponível é o que não falta na Cidade Tiradentes. Vontade política
é que anda escassa e aparece somente em períodos eleitorais. Circo é bom. Porém
queremos pão todo dia. O segundo fato importante foi a festa de 5º
aniversário da Fala Preta! Organização de Mulheres Negras, liderada por Edna
Roland. Sem querer ser regionalista, sendo, o extremo da zona leste foi
homenageado na pessoa da sr.ª Arlete
de Lourdes Isidoro, presidente da Associação afro-brasileira Ogban. Não foi a
Arlete nem a entidade que foram finalmente reconhecidos, mas todas aquelas
que aos trancos e barrancos, vem cada uma à seu modo, realizando trabalhos
étnico-sociais, preenchendo lacunas abertas por falta de políticas públicas e
infelizmente também pelo descaso de algumas personalidades, lideranças e
organizações do Movimento Negro, que alegam não serem agentes sociais. E
quando se dispõe a descerem do pedestal é como se estivessem fazendo um
grandessíssimo favor à comunidade periférica. Que no 6º ano da Fala Preta,
outras se façam presentes, bem como a aniversariante, com os Axés dos Orixás,
tenha longa e longa vida. Oubí Inaê Kibuko – editor – [email protected] A ROTA DO ESCRAVO "A Unesco lançou em
Évora um guia sobre os lugares de memória da escravatura nos PALOP's (Países
Africanos de Língua Oficial Portuguesa), para lembrar ao mundo os locais de
onde partiram milhões de africanos, que tiveram um papel fundamental na
formação das sociedades ocidentais. O guia, elaborado pelo Comitê Português
do Projeto Unesco - "A Rota do Escravo" - será lançado oficialmente
em maio, em Cabo Verde, mas foi apresentado no âmbito do Colóquio
internacional "Escravatura e mudanças culturais", que (...)
analisou a influência cultural dos Escravos no mundo ocidental. Isabel Castro Henriques, sublinhou que
surgiram várias dificuldades na sua
elaboração, por falta de
registros e conhecimentos sobre os locais de
referência da escravatura nos Países Africanos de Língua Oficial
Portuguesa (PALOP’s). Para ultrapassar este problema, foi criada uma equipe
de historiadores destes países, que
tentaram recriar a realidade histórica da época da expansão ultramarina e recorreram também à tradição oral e à
memória das populações. Segundo Isabel Castro Henriques, a UNESCO,
em colaboração com a Organização Mundial do Turismo, pretende que este guia
sirva de referência a turistas nestes países, por forma a dar a conhecer-se a
história que "muitos tentam esquecer". O diretor de Projetos
Interculturais da UNESCO, Doudou
Diene, sublinhou que, para combater as atuais formas de escravatura, é preciso analisar esta
prática no passado e tentar mudar a "mentalidade escravagista que ainda
hoje persiste". Em relação ao colóquio, organizado também
pelo Centro de Estudos Africanos da Faculdade de Letras da Universidade de
Lisboa, Isabel Castro Henriques frisou que foi atingido o objetivo de
"provar que os homens têm a possibilidade de criar, mesmo quando submetidos às mais brutais
violências". "Apesar de despojados de quase tudo, os escravos
mantiveram o seu próprio imaginário e mostraram ao longo de séculos a sua
vivacidade intelectual e o espírito criador", acrescentou. Os
participantes no colóquio, na maioria historiadores, realçaram a influência
fundamental dos escravos na formação
das sociedades, em especial da norte americana, em aspectos como a língua, a
música, a dança, a agricultura e a própria arquitetura. A lingüista Dulce
Pereira, da Faculdade de Letras de Lisboa, referiu que os escravos, afastados
do seu ambiente natural, foram obrigados a adaptar-se às línguas maternas dos
países para onde eram levados e que este aspecto levou à criação, por exemplo,
do crioulo. Segundo Dulce Pereira, os escravos desenvolviam primeiro uma
linguagem de emergência - o jargão - que não era mais do que um conjunto de
palavras articuladas sem conseguirem construir uma frase. Esta linguagem era essencial
para a sua sobrevivência e composta por palavras restritas que se referiam a
duas coisas básicas: alimentação e trabalho. Depois, dependendo do grau de
contato que mantinham com os "senhores", aprendiam a língua local
ou desenvolviam o pigin, uma linguagem já com regras e com frases completas,
embora com aspectos próprios das línguas maternas africanas. O pigin, passado
de geração em geração, dava origem ao crioulo, que se tornava a língua
materna dos escravos numa sociedade que à força lhes fora imposta. Em relação à origem dos escravos, Angola e Moçambique
mereceram destaque. Os escravos angolanos, segundo o historiador Alfredo
Margarido, eram os mais caros porque "eram considerados os mais capazes
para aprender as técnicas utilizadas nas sociedades ocidentais". Os angolanos
eram assim selecionados para ocupações específicas, que requeressem
inteligência e capacidades técnicas, e considerados "ladinos", por
se integrarem mais facilmente na sociedade dos "senhores". Ao
contrário, os são-tomenses eram considerados os menos capazes. Abolida a escravatura, esta prática
continuou ainda durante muitos anos, porque os colonizadores arranjavam formas de fazer com que os colonos
realizassem trabalhos forçados. Um exemplo foi apresentado por Valdemir
Zamparoni, da Universidade da Bahia, Brasil, que descreveu a situação em
Lourenço Marques, atual Maputo, onde os portugueses criavam leis que
permitiam ao governador local sentenciar a trabalhos forçados os colonos por
embriaguez ou desordem pública.
Segundo a mesma fonte, em 1912, o governo de Lourenço Marques recrutou
mais de 140 mil homens para trabalhos forçados majoritariamente em empresas
privadas. O escritor brasileiro Ivan Alves Filho sublinhou a importância
do Quilombo de Palmares, no Brasil, um movimento de resistência que, apesar
de ter fracassado, subsistiu mais de um século. Durante este período, o quilombo, onde se supõe que tenham
vivido mais de 20 mil escravos, foi atacado mais de 30 vezes pelos
portugueses. Mas a capacidade de resistência dos escravos tornou-se um
símbolo, pela duração da luta. O
primeiro país a abolir a escravatura foi a França, em Fevereiro de 1794. Os
portugueses cultivaram esta prática até o século XX (perto de seis séculos),
ou seja, mesmo durante a I República
liberal e o regime de Salazar e de Marcelo Caetano, apesar de ter sido
oficialmente abolida em Fevereiro de 1867. O Brasil, principal consumidor de
mão-de-obra africana, só aboliu a escravatura em 1888". Fonte: Mensagem 116, Escravatura -
http://www.macua.com/localconversa, enviada por: [email protected] MEMORIAL
DE MAIO: LIMA BARRETO - UM TALENTO INJUSTIÇADO “Nasci pobre, nasci mulato... Pairei sempre
no ideal; e se este me rebaixou aos olhos dos homens, por não compreenderem
certos atos desarticulados da minha existência, entretanto elevou-me aos meus
próprios, perante a minha consciência, porque cumpri o meu dever, executei a
minha missão, fui poeta! Para isso fiz todo o sacrifício. A arte só ama a
quem a ama inteiramente, só e unicamente; eu precisava amá-la, porque ela
representava não só a minha redenção, mas toda a dos meus irmãos, na mesma
dor”.(1) “Até hoje perdura entre os
críticos a discussão sobre qual o maior dos escritores cariocas: Machado de
Assis ou Lima Barreto. Se Sérgio Buarque de Holanda atribui ao primeiro essa
láurea, para Agripino Grieco ou autor de Brás Cubas poderia ser assim
considerado se escrevesse... para os ingleses. Com quer que esteja a razão, a
verdade é que ambos formam a
principal dupla da crônica e romance cariocas. Afonso Henriques de Lima
Barreto nasceu a 13 de maio de 1881 em Laranjeiras, tendo vivido a maior
parte de sua vida em Todos os Santos. Faleceu em 1922, minado pelo alcoolismo
e após sofrer três internamentos psiquiátricos. Mulato, filho de escrava
negra e pai português, teve estudos regulares até a Escola Politécnica, em
1895, quando dificuldades financeiras obrigaram-no a abandoná-los. Amanuense
da Secretaria da Guerra, muito mais dedicado ao Jornalismo e a Literatura que
ao emprego, Lima Barreto pagou em vida um elevado tributo à pobreza, ao
racismo, à inveja ao seu talento. As perseguições de que foi
vitima refletiram-se em boa parte de sua obra, desde Triste Fim de Policarpo
Quaresma a Clara dos Anjos, publicada postumamente, tornando-a muitas vezes
irregular, sofrida e mesmo tendenciosa. Quase sempre, porém, o escritor
superava o homem doente e perseguido, e em vida relativamente curta produziu
nada menos do que 17 obras, quase todas de nível elevado. Criador admirável
de tipos, Lima Barreto conseguiu ainda em vida o reconhecimento público,
tarefa admirável para quem precisou lutar contra todos os tipos de prevenções
e preconceitos. A hipocrisia dominante não poderia aceitar, em hipótese
alguma, que um mulato pobre, filho de escrava, se equiparasse aos medalhões,
tivesse o seu nome literariamente reconhecido. Mas as obras se iam sucedendo:
Vida e Morte de M. J. Gonzaga de Sá, Numa e a Ninfa, Marginalia, Feiras e
Mafuás, Os bruzundangas, Histórias e Sonhos, etc., etc. Muito alto foi o preço a ser
pago: o refúgio na bebida, os delírios psiquiátricos, a morte prematura. Além
do esquecimento que durante vários anos sofreu a sua obra, lembrada apenas
por grupos de cultores, tentativas esparsas de edições que muitas vezes
passavam despercebidas do grande público. Nos últimos anos, felizmente, esse
erro vem sendo corrigido e o nome de Lima Barreto começa a figurar no lugar
que lhe cabe de direito, como se não o maior, pelo menos um dos maiores escritores
cariocas.(2) FONTE: 1) Vida Urbana, in “Calvário e Porres do
Pingente Afonso Henriques de Lima Barreto”, de João Agripino. Fragmento
extraído do livro “O Negro Escrito” - apontamentos sobre a presença do negro
na literatura brasileira, organização Oswaldo de Camargo, SEC/IMESP, 1987; 2)
Lima Barreto: A justiça que tardava, in Recordações do Escrivão Isaias
Caminha, Ediouro, Coleção Prestígio, s.d.
CONTAM
OS ANTIGOS “Ajalá é
Orixá muito antigo. Olorum deu a Ajalá a tarefa de modelar o ori das pessoas.
Todos os dias Ajalá faz muitas cabeças, que depois de prontas, são colocadas
ao Sol. Quando uma pessoa está para nascer, ela antes vai até Ajalá para
escolher uma cabeça”. (excerto do livro “Mito e Espiritualidade - Mulheres
Negras”, Helena Theodoro, Editora Pallas, 1996) MEU NOME
AFRICANO Aos que
forem registrar seus filhos, recomenda-se levar esta página para evitar
aborrecimentos. Não se trata de marketing induzido. Os cartórios, às vezes,
criam obstáculos para lavrar os registros, baseando-se em um “glossário
mundial de nomes”, no qual
referências africanas inexistem. Estranhamente, tais barreiras não são
extensivas às origens de outros continentes... Masculinos
Abede: homem abençoado, Etiópia; Abioye: nascido durante uma coroação, Ioruba; Abisogun: nascido na guerra, Ioruba; Abyodom: nascido no tempo de um festival, Ioruba; Addae: sol da manhã, Gana; Ambakisye: Deus tem sido misericordioso comigo, Tanzânia. Femininos
Abaynesta: você está acima de tudo, África oriental; Adeyefá: a coroa (de rei) adequa-se à Ifá, Ioruba; Afryie: veio na hora certa, Ashanti; Alamazê: jóia, Etiópia. Ayana: linda flor, Etiópia; Ayofemi: a alegria gosta de mim, Ioruba. FONTE: Nomes afros e seus significados – Quilombhoje; 300
names from the holy continent – G. K. Osei. MOMENTO
DE REFLEXÃO “Agradeço a Deus e aos Orixás, parei no meio do caminho e
olhei pra trás, vi que muitos manos foram longe demais, Cemitério São Luis,
aqui jaz”. (Racionais MC’s) “Um liberal branco, que desfruta as vantagens do seu mundo
branco, talvez não seja a pessoa mais indicada para dizer aos negros como
reagir”. (Steve Biko) “Abra-se para novas idéias. Nunca pare de
aprender... O mundo está sempre mudando”. (Anônimo) “Sobe mais alto quem ajuda o outro”. (Maria do Carmo
Valério) “Se negar-me negro, negarei por extensão pai, mãe,
parentes, avós, antepassados... Enfim, as raízes de uma árvore milenar da
qual sou fruto”. (Oubí Inaê Kibuko) “Precisamos revisar o dicionário. Com todo respeito
às aves e aos animais, mulato é cor de mula e pardo é pardal”. (Pietá) “É bom sempre ter informações úteis. A gente nunca
sabe quando vai precisar delas para sobreviver”. (Anônimo) ERÊS Uma lágrima brotou no
canto do olho e ia escorrendo rápida na bochecha negra de Alabá. A mão branca
de Estrelinha enxugou a cara redonda e luzidia. Pegou-o pela mão e o levou a
brincar com Samba Longa, Pé de Pavão, Beké, Cavunje, Deundá, Mbámbi, Rosinha,
Joãozinho, Bom-Nome, Dourado, Ás-de-ouro, Cardeal e todos os moleques.
Brancos, negros, mulatos, cafusos. Todos enlameados e com a mesma cor de
terra. Até que alguém lhes ensine o contrário estarão brincando de serem
irmãos. (Filhos de Olorum, contos & cantos de candomblé, Raul Longo, Coo
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Terceiro Setor - CETS FGV – EAESP – [email protected]
AGENDE-SE ·
A Graduação em Campo: Seminários de Antropologia, 6
à 9/05, 16h30m, Campus da USP, informações: Márcio Macedo [email protected] (veja programação
no Correio Virtual:http://igspot.ig.com.br/orisfalantes ·
Lançamento do livro SANGA –
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10/05, das 18h00 às 21h00, Rua Frei Caneca, 1402, metrô Consolação, São
Paulo; ·
SIMPÓSIO: O Brasil no Ano Internacional de
Mobilização Contra Racismo - Centro de Estudos Afro Brasileiros, Universidade
Candido Mendes, 13 a 16/05, 18h00 às 21h30m, Rua da Assembléia, 10, Centro, Rio de Janeiro, informações: [email protected];
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SOLANO O Centro
de Documentação e Biblioteca Comunitária “SOLANO TRINDADE”, em homenagem ao
grande poeta e folclorista
pernambucano (1908-1974), gerenciado em conjunto com os Jovens Agentes
Comunitários de Direitos Humanos, está solicitando doações de livros e
documentos sobre o seu patrono. Obras de outros autores também serão
bem-vindas. Informações no próprio CDBCST, Avenida dos Têxteis, 1050, Cidade
Tiradentes ou através do site: www.ncfativa.cjb.net
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C@BEÇ@S F@L@NTES Informativo Afro-cultural
Brasileiro – Nosso Atabaque Virtual Ano I – Edição n.º 5 – Junho/2002
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EDITORIAL Amigo Leitor, o Código
Penal precisa ser atualizado. Todo brasileiro que se preza deveria,
juntamente com a Constituição, conhecê-los de A a Z. Tanto quanto sabe de
futebol, samba, novela... A falta ou descaso a informação tem servido de
alçapão para inúmeras pessoas. Em ano político então, nem se fala. O povo
está anestesiado pela Copa e em quem vai ficar com quem no último capítulo,
enquanto parlamentares e candidatos preparam o bote, superproduzidos por
marqueteiros habilidosos. A fonte financeira para campanha ninguém revela.
Prepare-se. A conta virá depois com juros, correção monetária e taxa cambial
em forma de aumentos. O artigo de Alzira Rufino chegou em boa hora para
ilustrar uma situação crítica e reflexiva.
Dias passados tomamos conhecimento que uma delegada solicitou
relatório do hospital onde foi atendida a paciente - vítima de grave agressão
na face - para instaurar processo contra o marido. Por coincidência, eu e o
amigo Dimas Saldanha, havíamos rascunhado idéias para participarmos de um
concurso de fotografia, cujo tema é: POR UMA SOCIEDADE SEM VIOLÊNCIA. Entre
elas surgiu a imagem-denúncia de uma mulher amordaçada, pendurada pelos
tornozelos, sendo esmurrada por um boxeador. Desde remotos tempos, várias tem
sido silenciosamente tratadas como saco de pancadas e postas a nocaute.
Expondo nossa humilde opinião, o melhor remédio para relacionamentos que
chegam a pontos extremos é a separação. Independente das restrições impostas
pela sociedade, religião, família... Respeito e auto-estima caminham de mãos
dadas. Entre velas e flores são preferíveis pragas e lágrimas, livres de elos
mortíferos. Investigamos e descobrimos alguns indícios favoráveis a lei do esparadrapo:
amor doentio, pena, filhos, vergonha, temor a solidão e, sobretudo medo de
represálias. A morosa burocracia judicial os tem como aliados e cúmplices.
Quando se trata de pessoas comuns, a denunciante não tem direitos a proteção
policial. A queixa precisa apresentar provas concretas: ferimentos evidentes,
testemunhas idôneas, documentos, gravações telefônicas, fotos, vídeos e
sumir, caso esteja sendo ameaçada de morte, enquanto tramita o inquérito.
Segundo nossas fontes, somando-se hospitais públicos e privados cerca de
13,98% das mulheres medicadas mensalmente é agressão física. O índice de
óbitos gira em torno de 10%. A
incidência maior se dá nos finais de semana envolvendo pais, maridos e
inclusive irmãos. Não sejamos ingênuos em colocá-las no pedestal da
santidade, nem tolerantes e submissos à covardia. Algo precisa ser feito com
efeito. Amanhã, nossas filhas e netas estão sujeitas a serem as próximas
vítimas. O memorial de junho traz o poeta Lino Guedes. Dois poemas da sua
obra estão na http://igspot.ig.com.br/orisfalantes.
Aos iniciados e simpatizantes, compilamos um importante documento sobre os
princípios da Umbanda. Firmando nosso compromisso com a literatura,
reproduzimos um conto de Ramatis Jacino. Esta edição traz um importante
artigo de Gil Bocada Forte, inaugurando a seção Juventude Consciente. Nada
melhor que os jovens falando de si para a galera e afins, num contexto que se
apresenta como retratos crus da realidade nacional. E tem mais. Contamos com
a sua leitura, agradecemos a divulgação que você puder dispor e continuamos
abertos a colaborações, críticas e sugestões. Neste ensejo, apresentamos
nossas condolências às famílias, cujos membros foram vitimados por um trágico
acidente em Moamba, Moçambique, no dia 25 de maio, quando se dirigiam em
comboio para os festejos do 39º ano da Unidade Africana. Apesar da distância,
a notícia implantou em nós a mesma dor pelo desaparecimento de quase 200
irmãos. A maioria: mulheres e crianças.
O consolo fica por conta da vitória do Senegal sobre a França, a qual
cremos ter sido comemorada por todos os africanos. Vejo vocês na edição de
julho. Saúde, Axé, Paz... para
todos. Oubí Inaê Kibuko – editor responsável: [email protected] HEMATOMA INTERNO Perguntamos
por que nós mulheres agüentamos tantos anos de violência no lar e não
abandonamos o companheiro? Perguntamos por que nós negros e
negras toleramos tanta humilhação e tanto sofrimento? Os agressores acham que são
absolutos em sua maneira de pensar. Que temos menos-valia porque somos
negros, somos mulheres, somos gays e lésbicas, somos trabalhadores/as e
pobres. Ainda há timidez em nossas respostas. Temos que derrubar essas
muralhas do conformismo, pular todas essas barreiras, externas e introjetadas
e desatar os nós. Enquanto
profissional de saúde, acredito que muito pouco foi feito para amenizar a dor
da rejeição que marca profundamente a nossa afetividade, as nossas respostas
à vida, enquanto raça negra e enquanto mulheres. Trata-se de uma violência
diária que não pode ser vista apenas como um caso de polícia, ou de justiça. Racismo e violência contra a
mulher, não se trata só com medicamentos, com denúncias, com a punição da
lei, com indenizações. Os/as profissionais precisam oferecer escuta para essa
coisa azeda que faz mal para o estômago, o fígado, os rins.Que sufoca. A
banalização das nossas queixas nos
destrói. Entendemos
que qualquer caso de racismo provoca danos físicos e psíquicos SIM, na
infância, na segunda, na terceira idade. Os resultados disso podem se
manifestar como falta de motivação, acomodação, falta de perspectivas,
sentimento de inferioridade, desarranjos físicos e emocionais, ou negação da
sua identidade racial. Na
mulher vítima de violência doméstica ou sexual surge o sentimento de
desvalorização, a culpa, desamparo, desespero, o círculo vicioso de repetidos
relacionamentos violentos. Um século após a abolição, nós negros e negras,
ainda vivemos em liberdade vigiada. Há que
desmontar a condução dos fatos onde passamos de vítimas a réus. Desmontar as
cópias embranquecidas dos nossos gestos, diluindo nossa alma, nossa
força, nossa fé. Que expectativas as
escolas têm em relação à criança e ao adolescente negro? A mensagem, quase sempre nas entrelinhas,
é, se as coisas ficarem difíceis, desistam.
E aumentamos a evasão escolar. Se estamos passando um legado
para a nova geração, precisamos pensar que planeta vamos deixar para essa
nova geração negra e para essa nova geração de meninas. O nosso papel hoje
não é apenas tamponar as feridas que ainda sangram. E sim trabalhar novas químicas, novas fórmulas,
para que essas feridas não infeccionem e não envenenem nosso sangue, nossos
músculos e nos imobilizem. A violência contra a mulher é
invisível e silenciada. O hematoma interno do racismo não se cura na
sua superfície. Precisamos reforçar o lado de dentro dos/as sobreviventes, o
lado mais sensível, mais magoado. As pessoas e as instituições terão que ser responsabilizadas pela somatização do
dano psíquico ou moral em nosso corpo e mente. Este tratamento, estes
cuidados, devem ser estendidos não só às vítimas evidentes, mas aos
profissionais que trabalham esse atendimento na saúde mental, nas escolas e
na mídia, na elaboração e no cumprimento das leis, nas políticas afirmativas
e nos orçamentos para tornar viáveis essas ações. Alzira Rufino, escritora e profissional de saúde,
diretora da Casa de Cultura da Mulher Negra, Santos/SP. MEMORIAL DE JUNHO: LINO
GUEDES
Em
Socorro/SP, no dia 24 de junho de 1897, nascia Lino de Pinto Guedes. Os pais
de Lino foram os ex-escravos José Pinto Guedes e Benedita Eugenia Guedes. Foi
criado em Campinas, onde se diplomou pela Escola Normal "António
Álvares" e ainda jovem iniciou carreira de jornalista no Diário do Povo
e no Correio Popular, daquela cidade. Trabalhou após no Jornal do Comércio, 0
Combate, A Razão, no São Paulo — Jornal, Correio de Campinas, Correio
Paulistano e no Diário de São Paulo, onde por muitos anos chefiou a Revisão.
Teve também atuação na Imprensa Negra, sendo redator-chefe de Getulino, na
década de 20. Em 1924, acompanhava-o na direção desse jornal o contista de
Malungo, Gervásio Morais, que o secretariava. Lino Guedes teve boas relações
de amizade com escritores respeitados em São Paulo. E recebeu comentários,
com elogios, de nomes como Coelho Neto, João Ribeiro — o autor do clássico O
Folclore (estudos de literatura popular); de Silveira Bueno. Mas nem sempre
foi apreciado na coletividade negra paulistana. Apesar de fazer do negro tema
de seus versos, é acusado às vezes de certo escapismo no que dizia respeito à
luta social do elemento afro-brasileiro. No entanto isso, no caso deste
comentário, não é o mais importante. Importante é isto: Lino Guedes foi o primeiro
poeta negro que neste século, como escritor, se aceitou negro e publicou as
"conseqüências". Poeta que, logo após a morte de Lima Barreto, em
1922, dava a lume o seu Canto do Cisne Preto (1926), tornando-se, com isso —
como exigem alguns — o iniciador da "negritude" no Brasil. Andou
também pela prosa: Luiz Gama e sua individualidade literária (1924), Black
(1926), Ressurreição Negra (l 928). De todos os poetas negros que passaram
pela Imprensa Negra nas primeiras décadas do século, é o único que fez alguma
fortuna literária. Tanto que em 1954, três anos após sua morte, anunciava-se
uma edição completa de suas obras, compreendendo vários gêneros literários:
poesia, conto, romance, ensaio, biografia etc. Faleceu em São Paulo, em 4 de
março de 1951. Sobre Lino Guedes:
"Lino merece ser lembrado sobretudo, pela atitude transbordada em
Poesia. E essa atitude foi histórica. Vale por isso: porque seus versos, no
comum estreitos (geralmente em redondilhas maiores), são a revelação e a
fixação de um momento importante da coletividade negra, pós-Abolição. Foi
Lino que reatou, na Literatura que hoje o negro escreve, a possibilidade de
uma dicção afro-brasileira, 28 anos após a morte de Cruz e Souza. Foi ele
que, escritor, se situou como negro, quando havia apenas silêncio. Vale, e
fica por isso." (Oswaldo de Camargo.) A obra de Lino Guedes:
O Canto do Cisne Preto, 1926; Urucungo, 1936; Negro Preto Cor da Noite, 1956;
O Pequeno Bandeirante, Mestre Domingos, 1937; Sorrisos de Cativeiro, 1958;
Vigília de Pai João, Ditinha, 1938; Nova Inquilina do Céu, Suncristo, 1951. Fonte: O NEGRO ESCRITO,
apontamentos sobre a presença do negro na Literatura Brasileira, Oswaldo de
Camargo, Secretaria de Estado da Cultura, São Paulo/SP, 1987. OS
FUNDAMENTOS DA UMBANDA
Se o Espiritismo é crença à procura de uma
instituição, a Umbanda é aspiração religiosa em busca de uma forma. Cândido
P. Ferreira de Camargo. As religiões são oriundas de revelações
transmitidas ou por avatares que nem sempre pretenderam
criá-las ou são conseqüências de tomadas de manifestações
físicas ou hiper físicas, que humanos interpretariam como sendo
sinais do Supremo Ser. A Umbanda é uma religião revelada
por mentores do plano astral identificados com a formação
colonial brasileira, sequiosos por um resgate em nível
religioso abrangente a todos os seus irmãos de infortúnio, encarnados e
desencarnados, já que aqui viveram e vivenciaram plenamente
esta conjuntura perversa sócio-escravagista, durante
anterior encarnação. Após criarem o movimento religioso
no seu plano de eleição, decidiram enviar um mensageiro
de índole audaz e intrépida para esta importante empreitada,
o que veio acontecer através de um espírito que a si
próprio se denominou de Caboclo das Sete Encruzilhadas, e foi quem pronunciou
pela primeira vez a palavra Umbanda, dando em seguida para todos que
ali assistiam o seu significado: umbanda, uma manifestação, do espírito
para o caridade. Este fato histórico aconteceu
em 15 de Novembro de 1908, no bairro de Neves em Niterói,
sendo o médium um rapaz de 17 anos, Zélio de Moraes. Somente em 1978, setenta anos após o aparecimento da Umbanda
no Brasil, chega-nos em bases teológicas, os seus Fundamentos
também por via mediúnica, com aporte de alinhamento
de seus princípios, coerentes, lógicos e sensatos, concretizando
assim a aspiração de busca de uma forma doutrinária, aberta,
contudo, às manifestações de espontânea religiosidade de seus milhões
de seguidores. Os Fundamentos da
Umbanda: l. Deus Único = Olorum ou Zâmbi; II. Tríplice Aspecto =
Energia, Vida, Consciência; III.Sete Progressões Evolutivas = As Sete Linhas de Umbanda. 7.ª Linha dos Orixás;
6.ª Linha das Encarnações Humanas e Divinas; 5.ª Linha do Oriente (Carmo,
Reencarnação, Evolução); 4.ª Linha da Magia; 3.ª Linha das Almas; 2.ª Linha
Sacerdotal; 1.ª Linha dos Devotos. IV.Sete Tendências = Os Sete Raios; V. Profissão De Fé =
Credo Umbandista; VI. PODER EXPRESSO DA DIVINDADE = Pontos riscados e cantados. VI. As
Fórmulas Práticas = Rituais de Terreiros = As Romarias. FUNDAMENTOS
DE UMBANDA - Revelação Religiosa, 1978, Cesneiros, Israel e Omululá, Editora Equipe (esgotado). Fonte: Revista
Projeção Esotérica n.º 4, Pólo Mágico, 1987. O CERCADO Com violência sou atirado dentro daquele cercado e aterrizo de boca
no chão duro de terra seca e infértil. Após experimentar o mais terrível
desânimo, olho para os lados e minhas vistas ardem diante daquele sol
abrasador que também me castiga as costas nuas e cobertas de
feridas. Percebo, então, que não estou só. Sou rodeado por
uma multidão de homens e mulheres esfarrapados que, olhando com
curiosidade, conversam em voz baixa. Caminho sôfrego até a
sombra de uma árvore, tendo atrás de mim vários daqueles
maltrapilhos que prestam atenção a cada movimento que faço e
cochicham a respeito. As feridas ardem e vejo que as costas dos demais apresentam o mesmo
tipo de chaga. Corro os olhos pelo pátio e percebo o quanto é grande. Vejo a cerca que
me parece muito velha, baixa o suficiente para que uma
criança a pule. Resolvo, então, andar na direção do cercado. Não só aqueles que
observam no começo, mas todos que ali se encontram passam a
seguir-me e seus rostos carregados já esboçam sorrisos
alegres e esperançosos, como se tivessem adivinhado minhas
intenções e pretendessem fazer o mesmo. À medida, porém, que ando, me dou
conta de que a cerca está mais longe do que imaginara. Só conseguimos alcançá-la agora, já toda a população daquele
lugar quando o sol desaparece atrás dos montes verdes
que víamos além da cerca e que na verdade era aonde gostaríamos
de chegar depois de a ultrapassarmos. Quando nos encontramos ao pé do cercado, porém, percebo que este
é imenso, bem mais alto do que supúnhamos, e sua aparente
fragilidade se devia ao fato de antes o estarmos vendo de
muito longe, pois apesar de evidenciar uma velhice secular
encontrava-se firme como uma rocha. Sento no chão, cansado e triste. Enquanto
alguns voltam para o meio do pátio, um pequeno grupo se põe a chorar.
Há os que se atiram furiosos e desesperados ao madeirame,
socando até as mãos sangrarem. Não
demorou muito a se acomodarem "pra passar a noite" diziam
eles, mas eu sabia que pretendiam permanecer ali mais
tempo e já nem pensavam em ultrapassar a cerca. Depois de
muito pensar, me ocorre a idéia de que poderíamos usar
nossas roupas para fazer uma corda, com ela laçarmos a ponta de
um dos mourões, subirmos e pularmos para o outro lado. Quando expus a idéia houve discordância, pois muitos achavam
que apesar da liberdade ser importante seria uma indecência
se ficássemos todos nus. Insisto e o grupo começa a dividir-se entre os que
me apóiam dizendo que a liberdade é mais importante que a
"decência" e os que achavam que o pudor deve estar acima de tudo. Lutamos. Meu grupo
vence e começamos a nos despir, os outros não resistem
mais e entregam suas roupas. Usamos todas para fazer a
corda, amarramos na ponta uma madeira pesada. Após lançar
várias vezes, conseguimos atingir o alto da cerca, a madeira
fica presa e inicia-se a escalada. Subimos um por um e no
momento em que se pulava para o outro lado os demais
ficavam a imaginar que maravilhas encontrava. Quando da minha vez, subo com dificuldade; chego lá em cima
muito esgotado, sento e contemplo vitorioso o pátio que acabara
de abandonar, mas ao olhar para o outro lado percebo horrorizado
que havia um outro idêntico e que lá embaixo estavam todos os que haviam
pulado antes de mim, já devidamente acomodados, sentados no chão duro,
expostos ao sol escaldante. Vejo que mais um sobe pela corda
de pano. Penso em avisá-lo, mas o sorriso esperançoso que toma conta do seu
rosto me faz desistir. Deixe que tenha mais esses minutos de
ilusão! E de cabeça mergulho na terra dura e estéril do novo cercado que em
tudo lembra o anterior. RAMATIS
JACINO, As pulgas e outros contos de horror, Dandara Ltda, São Paulo/SP, 1997.
SENEGAL VITÓRIA DA ÁFRICA NEGRA Irmão
Daouda Dione parabéns pela vitória do Senegal!!! O alegre e
bonito futebol africano que inspirou o futebol do Brasil está de volta. Mais uma
vez a África mostra ao mundo como somos iguais. O time com as cores do Olodum
vibrou e fez a alegria de todos os povos do mundo que um dia foram
colonizados pela França. Aqui em Salvador me lembrei de
você e nossas conversas entre a Bahia e a França sobre a força e o vigor da
África... Lembrei da minha visita ao Senegal, à Dacar, à capital, e a ilha de
Goré de onde nossos antepassados comuns saíram para construir as Américas. Vibrei e
parabenizo a Dauoda Dione: o senegalês mais baiano que todos conhecemos, a
vitória da seleção nacional do Senegal sobre a outrora poderosa França. Neste
momento um líder do Senegal Cheik Anta Diop deve estar vibrando no além...
Cheik Anta Diop que tanta influência exerce entre nós do Olodum e na minha
formação, previu que mais cedo ou mais tarde os povos da África e seus
descendentes se colocariam como humanos na face da terra e o tempo do mal
ficaria para trás... Que bom que o som dos tambores
do Senegal ganharam, que bom que as cores do Pan- africanismo deu a primeira
vitória na Copa de 2002. Vamos comemorar muito este bom começo, dançando e cantando
as nossas canções de liberdade na Roma Negra: a Cidade de Salvador. Paz,
Honra e Força!!! João
Jorge Santos Rodrigues – Presidente do Olodum – www.olodum.com.br RESGATANDO A MEMÓRIA DO MESTRE
SOLANO TRINDADE O CENTRO DE DOCUMENTAÇÃO E BIBLIOTECA COMUNITÁRIA
“SOLANO TRINDADE”, em homenagem ao grande poeta e folclorista pernambucano (1908-1974), criado pelo
Núcleo Cultural Força Ativa e gerenciado em conjunto com os Jovens Agentes
Comunitários de Direitos Humanos, está solicitando doações de livros e
documentos sobre o seu patrono. Obras de outros autores também serão
bem-vindas. Informações no próprio CDBCST: Avenida dos Têxteis n.º 1050,
Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, CEP 08490-600. Informações através do
e-mail: [email protected]
JUVENTUDE CONSCIENTE
Combatente Não foi fácil chegar até aqui.
Entre mortos e feridos cheguei inteiro, ou melhor, quase inteiro e mesmo
assim não tenho muito que reclamar. Tem gente em situação bem pior que a
minha. Gente sem teto, com fome, frio e sede. Gente que não sabe ler ou
escrever e tem dificuldades para se expressar, gente que, como eu, carrega no
rosto e na alma as marcas do sofrimento. Tornaram-se duras por causa da
dureza da vida: pais sem filhos, filhos sem pais e ambos sem paz. Aliás essa
última já virou lenda em muitos lugares. Existem lugares onde o atraso e o
descaso social dos nossos governantes e do país fica evidente, um deles são os
trens e ônibus que vão para as periferias de São Paulo. Neles vejo uma
realidade que está muito distante da burguesia, que não por acaso comanda o
país, o que para o governo são apenas números e estatísticas, para mim são
seres humanos esquecidos e preteridos por interesses financeiros. Lá vem mais um número do
desemprego, carregando, escondido em um saco preto, água, sucos e
refrigerantes de uma multinacional, gritando pelo corredor. Precisa se
esconder e tomar cuidado com os PFs (Polícia Ferroviária), só faltava essa.
Sem emprego e quando tenta trabalhar de maneira honesta, por conta própria,
não pode. Os números do trabalho infantil também estão aqui, cheios de
malícia, fugindo dos PFs, longe da escola e bem perto da marginalidade. Não
brinca no parque, não tem vídeo game, nem carrinho de controle remoto, não
assiste desenhos e na adolescência não vai ir pra balada nem prestar
vestibular. Os números da aposentadoria também estão presentes no vagão da
discórdia junto com os deficientes físicos e todos os excluídos pela política
do PEB (Partido Excludente Brasileiro). Lidar com números é mais cômodo.
Eles não têm vida, não reclamam... Podem ser apagados pela borracha ou pela
tecla delete do computador. Será que o governo e seus matemáticos,
economistas, teóricos imbecis usam os serviços que nos oferecem? Que pergunta
mais inocente, não é verdade? Mas tenha certeza que muitas pessoas acreditam
neles e em suas campanhas. Posam de bons moços e conseguem iludir boa parte
do povo pobre. Aproveitam-se das carências de informação e educação, que eles
mesmos negam, para divulgar suas falsas promessas e conseguir os votos da
parte mais pobre da população. Não fui atingido pela rajada de mentiras.
Continuo resistente observando e aprendendo sobre o inimigo, me preparando
para o bote. Não posso compactuar com o descaso, com a falsa alegria da
balada nas sextas à noite e a mentira de gente que diz representar o povo.
Desde que entrei nesse "jogo" tenho como compromisso defender a
verdade e a justiça, combater o mal e não me unir ao inimigo mesmo que não
possa vencê-lo. Qualquer um que entrar nesse "jogo", deve, antes de
tudo, escolher de que lado vai ficar e procurar conhecer muito bem o inimigo.
Enquanto isso a luta continua,
segue o jogo, com a mudança de regras e a hereditariedade do poder. A elite
que manda no país há 500 anos continua seu reinado. O mais triste é saber que
muitos pobres contribuem para que a patifaria continue... Gil Bocada Forte - http://www.bocadaforte.com.br/br/informanos/gil/materias.asp
MEU NOME AFRICANO Navegando na rede, encontramos o site: http://www.nomeafricano.hpg.ig.com.br.
Alguém não identificado escaneou a edição brasileira de NOMES AFROS E SEUS
SIGNIFICADOS, e o disponibilizou na web. Confira. QUILOMBO VIRTUAL www.egroups.com/messages/discriminacaoracial
- www.firmaproducoes.com.br www.quilombhoje.com.br - www.afrofest.org.br - www.falapreta.org.br www.ncfativa.cjb.net - www.redejovem.org.br - www.afirma.inf.br - www.mulheresnegras.org LANÇAMENTOS ·
SANGA – poemas, Cuti (Luiz Silva), Mazza Edições Ltda, Belo Horizonte,
www.luizcuti.silva.nom.br ·
CAPOEIRA – romance, César Augusto Martins, Editora Borges, [email protected] ou pela
Internet: http://somlivre.globo.com/CatalogoLivro.asp?absolutepage=7&id%5Fcatalogo=2459&id%5Fpaigenero=1037 MOMENTOS
DE REFLEXÃO ·
Nenhuma condição humana é permanente. (Provérbio Ibo) ·
Não falamos da necessidade de viver em paz e em harmonia universal,
porque somos uns humanistas pacíficos que preconizam a resolução espiritual
do mundo. A unidade de todos os homens terá lugar quando a evolução das
espécies reconheça sua necessidade. Negro a reconhece. (Le Roi Jones) ·
Os direitos humanos não podem ser concedidos, só se pode exercer. (Mulana Ron Karenga) ·
Quando os missionários chegaram, os africanos tinham a terra e os
missionários a bíblia. Eles nos ensinaram a orar com os olhos fechados.
Quando abrimos os olhos, eles possuíam a terra e nós tínhamos a bíblia. (Jomo
Kennyatta) ·
O opressor nunca concede voluntariamente a liberdade; o oprimido deve
conquistá-la. (Martin Luther King) ·
Tô cansado de pagar um sapo. Te adianto um lado, não vejo resultado
nenhum. (Thayde e DJ Hum) CLASSIFICADOS · Sua
satisfação é a nossa melhor foto – Oubí Inaê Kibuko, fotógrafo, [email protected], F.
9750-1542. · Juarez
Serviços de funilaria – Rua Sóter de Araújo, 72, Cid. Tiradentes, SP/SP, fone
(011) 6285-1701 CORREIO VIRTUAL - MURAL DE
MENSAGENS E NOTÍCIAS ON-LINE http://igspot.ig.com.br/tamboresfalantes
· ATO
FINAL – poema em prosa de Oubí Inaê Kibuko, sobre relacionamento e conflitos
conjugais. ·
MULHERES NEGRAS
NA WEB: Lista criada com o objetivo de circular informações sobre o processo
preparatório para a III Conferência Mundial Contra o Racismo. ·
JOVEM NA
REDE é uma articulação que tem o objetivo de incentivar a participação da
galera em questões relacionadas à juventude, cidadania e outros assuntos
relevantes. · ESTADO
AMERICANO SUSPENDE APLICAÇÃO DA PENA DE MORTE. · DEFICIÊNCIA
VISUAL – abaixo assinado de Daniel Monteiro. ·
ILE IYA MI OSUN MUIYWA, promove Projeto "Negros Debates". ·
"OLODUM PELA VIDA" - MANIFESTO PELA PAZ – letra do enredo
para o Carnaval 2003. ·
ANTOLOGIA INTERNACIONAL DE POESIA. TEMA: MUNDO DE UM HOMEM. · BOLETIM
EPARREI ON-LINE, maio/2002, Casa da Cultura da Mulher Negra. · ESPAÇO
CULTURAL NO CENTRO DE PORTO ALEGRE. · CABEÇAS
FALANTES N.º 5 – informativo afro-cultural brasileiro, leia e divulgue. AGENDE-SE · Prêmio
Porto Seguro Fotografia 2002 – regulamento. Tema: Por uma sociedade sem
violência. Inscrições até 23/06. Informações: www.portoseguro.com/fotografia
· Concurso
NPCI 2002/2003 de fotografia. Informações e inscrições: http://www.ttanaka.com.br · Imprensa
e Racismo, palestra, dia 22/06, 10 horas, no Sindicato dos Jornalistas, Rua
Rego Freitas n.º 530, sobreloja, São
Paulo/SP, informações (11) 3257-1633, com Eloísa. · Inscrições
prorrogadas até 24/06. O Centro de Estudos das Relações de Trabalho
(CEERT) está premiando experiências de promoção da igualdade
racial/étnica no ambiente escolar, desenvolvidas entre 1999 e 2002.
Informações: http://www.ceert.org.br -
e-mail: [email protected] ·
Lançamento do CENTRO CULTURAL BRASIL ÁFRICA - Porto Alegre/RS, dia
19/06, 15 horas, na SEDAC-RS, Praça
da Matriz, s/n - Solar Palmeiro - Centro de Porto Alegre. |
CABEÇAS
FALANTES – informativo afro-cultural brasileiro – edição mensal
Editor:
Oubí Inaê Kibuko – Caixa Postal 30255 – Cidade Tiradentes – CEP 08471-970 –
fone (5511) 9750-1542 e-mail: [email protected] - [email protected] - [email protected] Se você
não quiser receber nossos e-mails, clique em Responder, escreva EXCLUIR na
linha Assunto. |
CABEÇAS
FALANTES Informativo afro-cultural brasileiro – Nosso
Atabaque Virtual Ano I – nº 06 – julho/2002 – Edição Mensal – Leia e
Divulgue http://igspot.ig.com.br/orisfalantes
- http://igspot.ig.com.br/tamboresfalantes
- www.cabecasfalante.hpg.com.br |
EDITORIAL
Amigo Leitor, conquistamos o Penta. Viva!!! Após a
anestesia, boas notícias vieram: tarifas de luz, telefone, combustíveis, taxa cambial, riscos de
investimentos... baixaram. Onde? Estamos procurando reativar o sistema para
saber. Houve falha de conexão e o download foi incompleto. Com o início da
corrida eleitoral, sabemos apenas que emissoras de tv e empresas jornalísticas
estão proibidas de emitirem opiniões sobre os candidatos. Cuidado, os ousados
e investigativos estarão sujeitos a receberem o mesmo tratamento dispensado
ao jornalista Tim Lopes. Cuja voz não foi calada. Dispensando maiores
apresentações, o poeta do povo, Solano Trindade é a personalidade em foco no
Memorial de julho, endossando novamente o trabalho realizado pelo Núcleo
Cultural Força Ativa. Remetendo-nos
aos manifestos de Martin Luther King e Malcon X, dois gigantes
afro-americanos que sacrificaram suas vidas pelos Direitos Civis, a forma
como estamos nos fazendo presentes e sendo retratados em campanhas
publicitárias é questionada, em leque, servindo de subsidio reflexivo às
propostas de Ações Afirmativas à coletividade afro-brasileira. Através de leituras
dramáticas e produções teatrais, o grupo Cabeça Feita está desfazendo os nós que nos limitam a
meras caricaturas. Aguardando seu acesso, o Correio Virtual está repleto de
notícias interessantes. Na Web,
encontramos um site sobre o candomblé, nação Angola, e compilamos um resumo
da página inicial. Registradas por cinegrafistas amadores, a nota revoltante,
amigo leitor, fica respectivamente para as cenas de violência policial, nos
Estados Unidos, contra um senhor e um jovem negro, cujo abuso e barbárie nos
são familiares. E a comemorativa, após quase um século, é para a anistia a
João Cândido, O Almirante Negro. Gradativamente estamos resgatando nossa
história e colocando-a no seu merecido pedestal. Fico por aqui. Boa leitura.
Vejo você na edição de agosto. Oubí
Inaê Kibuko, editor responsável: [email protected] AO TIM LOPES, JORNALISTA NEGRO SACRIFICADO NA
GUERRA SOCIAL Em branco anônimos um dia fomos e projetados por
uma nova consciência podemos nos tornar todos que por escolha nos
identificamos. Talvez, só não possamos escolher sem cometer um pecado como
morreremos, mas podemos até escolher, se preciso for pelo que morreremos.
Pela verdade, pela justiça, por mais igualdade, por um pouco de dor pelo
mundo, por um pouco da beleza do mundo, escondida por olhos tão tristes que
seu brilho se tornou convite à morte. A incúria dos desgraçados quando
alcança a graça dos gloriosos é menos sinal de sua vitória, e mais um anúncio
de sua derrota. Mas como segue num rito a vida como sacrifício, precisamos da
morte para valorizar a vida, precisamos da dor para valorizar a alegria,
precisamos da falta para valorizar a presença, precisamos da guerra para
valorizar a paz, precisamos nos levantar em consciência para vencer o
obscurantismo social em que estamos mergulhados para enxergar nos olhos dos
desgraçados com a energia cativante da justiça. Conheci o Tim Lopes entre
redações de imprensa, reuniões sindicais e o ressurgimento do movimento negro
nos anos 70/80. Sua figura ímpar, forte e migrante trazia algo que aos poucos
perdemos mergulhados no labirinto de desigualdades sociais que se tornou
nossa cidade. Cada um em sua trincheira, mais ou menos nítida por nossas
crenças e fantasias, mas que nos torna
absolutamente humanos e essenciais. Por isto, lamento sua perda,
apesar de distante pelo abraço não dado, mas presente em ideais desejados
pelos quais se pode até morrer. Que sua morte não seja em vão. Que seu
sacrifício seja uma causa. José Ricardo
- [email protected] MEMORIAL
DE JULHO: SOLANO TRINDADE – O POETA DO POVO
No dia 24 de julho de 1908, nasceu no bairro de São
José, no Recife (PE) Solano Trindade: poeta, pintor, teatrólogo, ator e
folclorista, filho de Manuel Abílio, sapateiro e Emerenciana (mãe Merença),
quituteira. Analfabeta, pedia que o menino lesse e lhe contasse as novelas de
capa-e-espada, histórias de princesa, versos de cordel. Solano cresceu.
Estudou um pouco. Fez o equivalente ao segundo grau e um ano de desenho no
Liceu de Artes e Ofícios, casou-se com Maria Margarida. Virou protestante,
escreveu seus primeiros poemas baseados em temas místicos, publicados numa
pequena revista do colégio XV de Novembro, de Garanhuns. A partir de 1930
começa a escrever poemas afro-brasileiros e, já integrado nesta corrente,
participa em 1934 do I e II Congresso Afro-brasileiro, no Recife e em
Salvador. Em 1936 fundou a Frente Negra Pernambucana e o Centro de Cultura
Afro-brasileiro. A finalidade do Centro de Cultura era divulgar os
intelectuais e artistas negros. Em
vida, Solano publicou quatro livros: Poemas negros (1936), Poemas de uma vida
simples (1944), Seis tempos de poesia
(1960) e Cantares ao meu povo (1962). Em 1959 fundou com sua esposa Maria
Margarida e o sociólogo Edson Carneiro, o Teatro Popular Brasileiro. Seu
elenco era formado por domésticas, operários, estudantes e comerciários. Eram
espetáculos de batuques, lundus, caboclinhas, jongos, moçambiques, congadas,
caxambus, cocos, capoeiras, maracatus, samba de umbigada, samba baiano,
guerreiros, folia de reis, candomblé, dança das fitas. Com esse espetáculo,
chegou a viajar para a Europa, apresentando-se em teatros e estádios
populares. Seus poemas foram publicados em algumas antologias estrangeiras.
Em 1961, conheceu o escultor Assis, que vivia no Embu. Apaixonou-se pela
cidade e para se mudou. Nela iniciou a fase mais séria do Teatro Popular
Brasileiro. Embu se tornou conhecida e acabou engolida pelo comércio e por
alguns artistas de talento duvidoso. Isso fez com que Solano abandonasse a
cidade de Embu para residir em Vila Sônia e em Ferreira, na capital de São
Paulo. Solano foi o que captou o espírito do Movimento de 1922. Poeta social, lírico, engajado. Foi o
poeta negro de várias gerações e é o mais estudado de todos. Solano é povo,
quase nunca está solitário em suas perplexidades. Faleceu no Rio de Janeiro,
em 19/02/1974. Compilamos dois dos seus poemas, disponíveis na http://igspot.ig.com.br/orisfalantes
Fontes: O negro escrito, apontamentos sobre a presença do
negro na literatura brasileira, Oswaldo de Camargo (1987), A poesia simples como a vida, prefácio
de Cantares ao meu povo (1981), Álvaro Alves de Faria. CORREIO
VIRTUAL - MURAL DE MENSAGENS E NOTÍCIAS:
http://igspot.ig.com.br/tamboresfalantes Imprensa
e Etnia – artigo de Ricardo Alexino Ferreira Carlinhos
Brown critica cotas para negros – artigo de Cláudio Bandeira Semana
de cultura negra na escola – artigo de Henrique Cunha Jr. O Centro de Documentação e biblioteca comunitária
“Solano Trindade”, em homenagem ao grande poeta e folclorista pernambucano (1908-1974), criado pelo
Núcleo Cultural Força Ativa ( www.ncfativa.cjb.net
) e gerenciado em conjunto com os Jovens Agentes Comunitários de Direitos
Humanos, está solicitando doações de livros e documentos sobre o seu patrono.
Obras de outros autores também serão bem-vindas. Informações no próprio
CDBCST: Avenida dos Têxteis n.º 1.050, COHAB Cidade Tiradentes, São Paulo/SP,
CEP 08490-600 ou através do e-mail: [email protected]
O
EMBRULHO
Todos que tinham olhos despertos
o evitavam. E recomendações para
manter distância recebia, quem dele, por descuido, se aproximasse. Adiante
era necessário passar aquele embrulho. Mas ninguém o queria. Sem solução final,
a questão se avolumava. Até o dia em que um cego, embrulhado, o aceitou em
papel de presente. (Oubí Inaê Kibuko, Cadernos Negros 14, contos,
edição Quilombhoje, São Paulo, 1991). JUVENTUDE
CONSCIENTE – QUESTIONANDO CAMPANHAS PUBLICITÁRIAS Lição de
casa: precisamos dar passos CONCRETOS. Sou uma jovem de 24 anos, chegando
agora, com muito a aprender. Certo ou errado existem realidades que não dá
para ficar omissa. É gratificante ver
nossas lindas caras pretas na mídia. Desde que sejam condizentes e nos
transmitam algo positivo para afirmarmo-nos como NEGROS e NEGRAS perante a
sociedade... Ironia ou descaso às nossas justas reivindicações, a talentosa
atriz Isabel Fillardis protagoniza um comercial do sabonete Lux, com fala
contestável. Uma artista respeitável e do porte da prezada irmã não poderia
questionar o roteiro sobre o termo “morena”? Ou o CACHÊ sobrepôs-se a
CONSCIÊNCIA? Se a questão é público alvo, não existe alguém nos departamentos
de criação e marketing do fabricante para contestar “pele morena e negra”?
Que obstáculo mantém a resistência de produtos para NEGROS, sem recorrer a
subtítulos paliativos? Onde trabalho, cuja predominância é feminina, tenho
tido contato, através da colega e revendedora com as publicações da Revista
DeMillus Shopping. Omitirei seu nome para evitar-lhe constrangimentos...
Parabéns! Ótimas fotos, belas modelos, produção impecável. A edição Campanhas
11, 12, 13/07, 08 e 09/2002, é sedutora. Qualquer mulher que se preza,
sente-se impulsionada a adquirir todos
os produtos. Um detalhe tem me chamado a atenção: mulher negra não usa
lingerie, acessórios, perfumes e cosméticos? Somente as brancas? Incluindo
homens e crianças? Tantas modelos
negras e negros, belos e talentosos, e nenhum dos inúmeros existentes se fazem
presentes nas revistas e no site (www.demillus.com.br)
desta empresa. Omissão, descaso ou preconceito? Estamos no Brasil, não na
Europa... Outra publicidade gritante
é a do Banco Real. A família oriental quer viajar para Hong Kong e Xangai, e
o casal negro almeja o quê? Não falam. Apenas sorriem. Eles não têm sonho,
desejo, projeto? O hipermercado BIG só é grande no nome. A única presença
negra (uma mulher) no comercial enfocando satisfeitos consumidores, aparece
fora de foco, em terceiro plano. Suponho ser um reflexo psicológico de como
temos sido historicamente tratados pelos educadores, empresários e
profissionais de mídia ou de como querem que sejamos vistos: no fundão
astigmático. O da Sadia mostra entre sombras um irmão rastafari, somente no
final, aplaudindo. No contexto passarela, platéia, fotógrafos estamos
ausentes. Mais lenha na fogueira: o comercial do analgésico Melhoral utiliza
Rap como trilha sonora e há somente um negro no elenco. Fato que me remete ao
que vem ocorrendo na maioria das escolas de samba e nos terreiros de umbanda
e candomblé: cultura negra expropriada, gerenciada e difundida por brancos.
Nos centros comerciais, lojas de roupas e discos black não fogem à regra.
Brancos, judeus, coreanos, turcos... no comando. Negros empregados (moças e
rapazes) para fisgar clientes negros. O dinheiro que sai, retorna, circula e
gera empregos entre nós? NÃO! Nossos circuitos financeiros estão restritos a
algumas equipes de bailes, barzinhos pagodeiros e empreendimentos
estéticos... Só isto não basta.
Quando tocamos em questão racial, ouvimos respostas evasivas,
convergindo para o social. Ao meu ver a cota de 20% e Ações Afirmativas
precisam ser revistas e com elementos legais mais exigentes. Caso contrário
continuaremos sendo meros figurantes decorativos em todos os setores. Depois
não vamos reclamar a perda ou falta de espaço. Na maioria das vezes temos
sido coniventes e muitos se calam por medo ou se vendem a troco de migalhas.
Um passo à frente, dez para trás. Recordando minha instigante professora de
História: “O Brasil que almejamos é uma nação de águias ou de tartarugas?”
Deixo aqui o meu protesto. Infelizmente sou apenas uma andorinha
crioula, questionando e pregando
articulado boicote. Espero que outras façam o mesmo, vestidas em 4P: “Poder
Para o Povo Preto”. Imagem também é ideologia. Mesmo em termos
comerciais... Tatiana Black People – [email protected] HISTÓRIA DE UMA NAÇÃO
No Brasil,
foram concebidas aquilo que conhecemos como nações-de-santo, isto é, o
Candomblé de Angola, o Candomblé de Keto, o Ewefon ou Jêje, o Ijexá e algumas
praticamente extintas como o Xambá e o Malê. No caso específico da nação de
Angola, sua denominação mais comum, os escravos trazidos da África eram provenientes
de Angola e do Congo e falavam inúmeros dialetos, com predominância do
quimbundo (da Angola) e o quicongo (do Congo). No Brasil, angolanos e
congoleses foram misturados e vendidos genericamente como escravos. Para os
senhores de engenhos e mercadores, eles não passavam de uma só coisa eram
negociados como negros bantos, denominação da etnia. Dessa forma, os escravos
desses dois países africanos passaram a conviver em senzalas como filhos da
mesma terra, com idiomas, rituais e costumes bastante parecidos. Em maior
número, os angolanos fizeram predominar seus fundamentos religiosos e mesmo
seu dialeto mais conhecido o quimbundo, com o passar dos tempos, angolanos e
congoleses não eram mais diferenciados, bem como seus rituais religiosos. Em
linhas gerais, tudo que se referia aos negros bantos era conhecido como parte
do ritual da nação Angola. A sobrevivência dos costumes e rituais religiosos
só foi possível graças a um enorme esforço de seu povo, que, mesmo humilhado
e vilipendiado, conseguiu levantar a tradicionalíssima bandeira branca de
Kitembo, patriarca dos angoleiros, mantendo viva a nação até hoje. Sejam
bem-vindos ao universo mítico-religioso dos bantos, ao mundo mágico dos
Munzangala Kitembo (filhos do tempo). Fonte: http://www.geocities.com/candomble_angola/inkise.htm
GRUPO CABEÇA FEITA O grupo foi criado em 1999, na Universidade de
Brasília, pela quilombela Cristiane Sobral, atriz, escritora e produtora
teatral, com o objetivo de discutir e
apresentar soluções para a inclusão do artista negro no mercado nacional de
teatro, cinema e TV. No repertório do grupo, formado por alunos negros
formandos do Bacharelado em Interpretação Teatral da referida Universidade
estão os espetáculos "Uma Boneca no Lixo", dirigido por Hugo Rodas,
e premiado pelo GDF em 1999, "Dra. Sida", premiada e patrocinada
pelo Ministério da Saúde em 2000/2001, e "Para gostar de ler, ver e
ouvir", que esteve nas escolas do DF e entorno em 2001 pelo projeto Arte
Por Toda Parte. Há quatro anos, desde a conclusão de graduação em
Interpretação Teatral na Universidade de Brasília, Cristiane Sobral questiona
a personagem negra no teatro, os papéis destinados aos atores negros, e sua
repercussão para o aumento da visibilidade e a construção de uma imagem
positiva dos cerca de 70 milhões de afro-descendentes de nosso país.
“Precisamos aprender a contar as nossas histórias, mostrar o negro como
autor, ator, produtor, pensador e fugir dos estereótipos que restringem as personagens
negras a meras caricaturas”, comenta. O II Ciclo de Literatura Dramática:
Autores Negros Brasileiros surge no cenário brasiliense para apresentar
soluções a estas questões, divulgar a dramaturgia negra e estimular futuras
montagens de textos ainda muito pouco conhecidos pelo grande público”.
Contatos: [email protected]
QUILOMBO
VIRTUAL
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www.redejovem.org.br - www.okun.hpg.com.br www.luizcuti.silva.nom.br - http://sites.uol.com.br/paulodoxala/
- www.nossogrupo.com.br/grupo.asp?grupo=15938 http://www.macua.com/localconversa - Emissoras africanas,
iniciando pela Macua (Moçambique) até a sul-africana: http://www.radios.com.br/africa.htm
ou a TV pública de Angola: http://www.radios.com.br/videoaf.htm
- Negros no cinema brasileiro,
matérias no Hotmail: http://www.cineclick.com.br/hotsites/negros/ “Eu gosto de catar o mínimo e o escondido. Onde ninguém
mete o nariz, aí entra o meu, com a curiosidade estreita e aguda que descobre
o encoberto”. (Machado de Assis) “Inteligência é uma arma dentro de cada cérebro”. (Mano LF, DMN). “Estou cansado do seu tititi, vou exigir sua atenção nesta
contagem regressiva”. (Sistema Negro). “Onde anda a ’democracia racial’ que nos permite uma
postura critica ou reivindicativa no tocante a questão racial, sem que
sejamos tachados de racistas ao contrário?” (Alagbara) “Apresentamos a outra face tantas vezes, que agora nada
mais resta que possamos oferecer”. (Oliver Tambo) “Rechaço o individualismo porque pertenço a todos os
negros. Sou José o peão, João o porteiro e Moisés o mineiro. Quando estão em
apuros estou também”. (Maulana
Ron Karenga) “O tempo não gosta que se faça nada sem ele”. (Provérbio
Nigeriano) “A culpa não cabe as estrelas, mas a nós mesmos”. (Jose
Honório Rodrigues) “É bom sempre ter informações úteis. A gente nunca sabe
quando vai precisar delas”. (Anônimo) SALVE,
ALMIRANTE NEGRO!
Depois de 92 anos da Revolta da Chibata, episódio
que em 1910 acabou com os castigos físicos na Marinha brasileira, o seu
líder, João Cândido Feslisberto, foi anistiado pela Comissão de Constituição,
justiça e Cidadania do Senado. O projeto de lei, apresentado pela senadora
Marina Silva (PT-AC), propôs anistia post-mortem a João Cândido, conhecido
como Almirante Negro. 'Mesmo retardada a anistia, isso representa um resgate
histórico a um militar que afirmou sua nacionalidade de outra maneira', disse
o senador Roberto Freire. |
CABEÇAS
FALANTES – informativo afro-cultural brasileiro – edição mensal
Editor:
Oubí Inaê Kibuko – Caixa Postal 30255 – Cidade Tiradentes – CEP 08471-970 –
fone (5511) 9750-1542/3495-3223 e-mail: [email protected] - [email protected] - [email protected] Se você não quiser receber
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CABEÇAS
FALANTES – Informativo Afro-cultural Brasileiro – Edição mensal
Ano I – nº 07 – edição de agosto/2002 – Leia e
Divulgue Editor:
Oubí Inaê Kibuko – Caixa Postal 30255 – Cidade Tiradentes – CEP 08471-970 –
(5511) 9750-1542 e-mail: [email protected] - [email protected] - [email protected] Home pages: http://igspot.ig.com.br/orisfalantes - http://igspot.ig.com.br/tamboresfalantes
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EDITORIAL Amigo
Leitor, você conhece a campanha “MANO, NÃO MORRA, NÃO MATE”? A idéia está
rolando no boca a boca, nas letras dos rappers e por escrito. Cientes da sua
importância fizemos dela o editorial para a edição deste mês: “A juventude no
Brasil é a principal vítima da violência que prolifera em todo o país,
matando, violentando, humilhando esta juventude composta na sua maioria por
pobres e negros. É necessário reagirmos a esta violência para não sermos
engolidos por esta barbárie. Os avanços tecnológicos, em especial a
informática e a robótica, que deveriam servir para melhorar as condições de
vida do povo, estão tornando descartáveis milhões de trabalhadores em todo o
mundo, totalmente excluídos do processo produtivo. Crises econômicas e
políticas se abatem com extrema gravidade sobre as populações pobres do
mundo, provocando conflitos bélicos na África, Ásia e América Latina. No
Brasil, o projeto neoliberal, através dos planos econômicos do governo
federal, agrava as condições de miséria da população brasileira, com alta
taxa de desemprego, degradação das escolas públicas, hospitais, creches,
meios de transporte e saneamento básico. A proliferação da cocaína e do crack
atinge níveis alarmantes, apresentando o narcotráfico como uma das poucas
alternativas de renda para a grande parcela da juventude pobre e negra, que
são discriminados no mercado de trabalho, trazendo como conseqüência o
aumento da violência sobre esta juventude, colocando-a à mercê da violência
policial, das gangues e grupos de extermínio. Temos que dar um basta a esta
violência. Participe desta campanha. Você também é responsável pelo presente
e futuro da juventude do nosso país”. Some-se ao Movimento Negro Unificado,
Comitê São Paulo Pela Libertação de Mumiah Abu Jamal, Grupo Cultural Cacorê,
Núcleo Cultural Força Ativa, Comissão de Promoção da Igualdade, Sindicato dos
Advogados, Negro Sim, Sociedade Comunitária Fala Negão, Comitê Permanente de
Solidariedade aos Povos em Luta, Instituto Mário Alves, Atividade Informal,
Posse Cultural UFQ, Grupo Afro de Impacto, Comitê de Solidariedade às
Comunidades Zapatistas de São Paulo, Juventude Negra Afro Consciente (JUNAC).
Informações com Alfredo: [email protected] Vejo você na edição de setembro. (Oubí Inaê Kibuko, editor responsável: [email protected]). OUTRO MUNDO É
POSSÍVEL
Este foi o tema usado por alunos do Colégio da
Fundação Santo André. Os alunos do 3º ano de ensino médio tiveram a
incumbência de apresentar trabalhos que abordassem movimentos sociais como o
MST (Movimento Sem Terra), o Núcleo do Bairro Montanhão em São Bernardo do
Campo e o MSU (Movimento dos Sem Universidade). Os alunos pesquisaram na
página virtual e usaram o jornal nº 3 do MSU. Com as luzes apagadas dramatizaram a cegueira da sociedade a respeito
da educação. Quem estuda em escola pública na consegue entrar na Universidade
porque no ensino público não há qualidade, então não se pode ingressar numa
Universidade Pública. Foi discutido o projeto de Universidade no Carandiru,
que atualmente é a principal bandeira de luta do MSU. Foram também
dramatizadas as reuniões do MSU que acontecem sempre no 3º domingo do mês.
Mesmo sem nenhum destes alunos terem participado ainda das reuniões, a
dramatização foi muito completa, mostrando que as informações obtidas na
página do MSU ajudam o debate e a formação. “Aprendemos como se faz a luta do
Movimento dos Sem Universidade e crescemos muito com este trabalho” (opinião
dos alunos). Artigo de Ricardo Rocha, coordenador. Ajude o MSU a coletar um
milhão de assinaturas pela Universidade Pública e Popular do Carandiru. O
abaixo-assinado está disponível no site:http://us.geocities.com/movimento_dos_sem_univesidade, E-mail: [email protected]
CAMPANHA
ARRECADA COMPUTADORES USADOS Desde junho, o comitê para democratização da informática
(CDI) está realizando a terceira edição da Campanha Mega Ajuda. Organizada em
parceria com a Câmara Americana do Comércio de São Paulo, apoiada pela Federação das Indústrias do
Estado de São Paulo (FIESP) e pelo Instituto Ethos de Responsabilidade
Social. A mega ajuda 2002 pretende arrecadar 3 mil computadores até o final
do ano. Nos últimos dois anos, a campanha arrecadou cerca de 3,1 mil
máquinas, que beneficiaram mais de 50 mil jovens em 200 comunidades de todo o
país. As doações de computadores podem ser feitas tanto por pessoas físicas
quanto por jurídicas. Neste segundo caso é possível deduzir a doação no
Imposto de Renda. Maiores informações: www.megaajuda.com.br MEMORIAL DE AGOSTO: O VELHO
MILITANTE JOSÉ CORREIA LEITE Amigo
Leitor, o que estamos fazendo não é novo. Apenas continua o processo iniciado
pelos pioneiros José do Patrocínio, Luis Gama, Cruz e Souza, entre outros
anônimos relevantes. Tanto que o nosso trabalho tem sido dividido em três
blocos: acervo, pesquisa e atualidades. Afinal, um povo sem memória é um povo
sem raízes. É preciso que a juventude conheça um pouco do que os antigos
fizeram. Segundo um provérbio oubiniano: “É sempre bom beber um gole de
sabedoria na caneca dos mais velhos”. Aqui enfocaremos uma personalidade,
cuja trajetória é imprescindível na história da Imprensa Negra Brasileira.
Estamos falando de José Correia Leite. Nascido em 23 de agosto de 1900, o
fundado do jornal “O Clarim da Alvorada”, José Correia Leite ergue-se como um
símbolo imperecível que prova, de forma eloqüente, a tenacidade e a natureza
insubmissa dos afro-descendentes. Imaginem os senhores, o que seria de penoso
e desgastante fazer um jornal dedicado exclusivamente para negros pelos idos
da década de vinte; pois foi o que José Correia Leite e Jayme de Aguiar
tiveram a audácia de fazer. Só este jornal ocupa a maior parte dos estudos
que hoje se fazem da imprensa negra brasileira nos meios acadêmicos e no meio
dos movimentos afro-descendentes. José Correia Leite era um negro simples,
dotado de uma argúcia, de uma capacidade de percepção da dura realidade que
envolvia um descendente de escravo que pretendesse transpor a linha ou
limites da cor impostas a ele por uma sociedade branca, machista,
escravagista e usurpadora. Poucos homens de sua estatura humilde, mas altiva
– como ele mesmo dizia: eu sou um autodidata – pode estabelecer-se como uma
luminosa referência no centro das dramáticas trepidações que fizeram com que
a primeira, ou a Velha República, viesse a ruir, inapelavelmente da forma que
se deu de 1890 a 1930 como se verificou com a vida amarga, mas gloriosa de
José Correia Leite (...) como epicentro desses acontecimentos, nós podemos
ter um corte amplo e profundo na carnadura da vida social, econômica,
política e cultural de São Paulo, do Brasil, e do mundo dos dias que este extraordinário personagem viveu, onde
os episódios se projetam em nossa etnia de modo quase cinematográfico.
Portanto, ler-se o livro de José Correia Leite, tão bem escrito e
interpretado pelo escritor, teatrólogo e ensaísta Cuti (Luiz Silva),
intitulado “...E disse o velho militante José Correia Leite”, é uma maneira
deleitosa e instrutiva de se enriquecer de novos conhecimentos. (Fonte: Quem
é quem na negritude brasileira, Prof. Eduardo de Oliveira. Informações: www.luizcuti.silva.nom.br). RESGATANDO
A MEMÓRIA DO MESTRE SOLANO TRINDADE O Centro de Documentação e Biblioteca Comunitária
“Solano Trindade”, em homenagem ao grande poeta e folclorista pernambucano (1908-1974), criado pelo
Núcleo Cultural Força Ativa e gerenciado em conjunto com os Jovens Agentes
Comunitários de Direitos Humanos, está solicitando doações de livros e
documentos sobre o seu patrono. Obras de outros autores também serão
bem-vindas. Informações no próprio CDBCST: Avenida dos Têxteis n.º 1.050,
COHAB Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, CEP 08490-600, fone (011) 6964-0401 ou
através do e-mail: [email protected]
CONSCIÊNCIA
NEGRA DO BRASIL: OS PRINCIPAIS LIVROS
“A inspiração deste trabalho se deu em uma reunião
sobre cultura, realizada no 22º Festival Comunitário Negro Zumbi (FECONEZU), em 1999, na cidade de
Botucatu. Esse evento ocorre desde 1978 no interior de São Paulo, no mês de
novembro. Ficamos sensibilizados para este empreendimento quando uma jovem
fez menção, de forma dramática, à falta de uma relação de livros que pudesse
nortear suas leituras”. (Cuti e Maria das Dores Fernandes, organizadores). Este livro relaciona as obras
mais importantes de autores brasileiros e estrangeiros, em língua portuguesa,
recomendadas por 65 pessoas, escolhidas por suas atividades intelectuais e/ou
militantes relacionadas com a vida afro-brasileira. Aos colaboradores, além
da indicação de 10 títulos no máximo, foram solicitadas, opcionalmente,
justificativas ou comentários que respondessem à questão: “Porque
recomendo”.Deu-se destaque às capas das vinte obras mais citadas, seguidas
das referentes à série Cadernos Negros, que teve um número expressivo de
indicações feitas ao seu conjunto. Estas figuram no final deste livro,
juntamente com as “obras completas” e “poesia completa”, por designarem
vários volumes sob uma mesma identificação. As recomendações de revistas
também foram citadas após a classificação geral das obras. A princípio, nesta
bibliografia comentada, seriam relacionados apenas os 100 títulos mais
indicados. Porém, para que não se perdessem comentários e referências
importantes, foram considerados todos os títulos sugeridos, num total de 291.
Com os parâmetros desta publicação, certamente o caminho para a
conscientização das questões raciais e para a auto-estima afro-brasileira
torna-se mais curto, aplainado e fecundo. A distribuição do livro
“CONSCIÊNCIA NEGRA DO BRASIL: OS
PRINCIPAIS LIVROS”. (Mazza Edições Ltda., Belo Horizonte/MG – 2002, 112
páginas) tem como público-alvo: bibliotecas e escolas públicas,
universidades, entidades negras, associações comunitárias e culturais.
Interessados deverão entrar em contato pelos sites: www.quilombhoje.com.br, www.luizcuti.silva.nom.br
ou por e-mail: [email protected]
e/ou [email protected] JUVENTUDE CONSCIENTE - O
EXTERMÍNIO DE UM CONTINENTE Alguns
cientistas se reuniram para comentar sobre os problemas que estão acarretando
o mundo hoje, e chegaram a uma conclusão, para que as pessoas vivam com
dignidade é preciso eliminar 40% da população mundial, só que esta eliminação
só está acontecendo no continente africano. Porque não em outros continentes?
O mundo foi contemplado com mais uma notícia corriqueira da África: a guerra
civil da República Democrática do Congo (ex - Zaire), Angola, Ruanda, etc. Isso
sem falar da AIDS na África do Sul e no resto do continente, na qual chegou a
um certo absurdo que o governante do Quênia pediu o fuzilamento de quem
contrair HIV. As guerras chegaram a matar em torno de um milhão a dois
milhões de seres humanos ao ano. Isto é faxina étnica. Cadê a ONU e a
sensibilidade do governo americano? Eu não vejo? E você? A mídia
internacional adora explicar que as guerras na África são conseqüências de
diferenças étnicas, particularmente entre os grupos Hutus e Tutsis, majoritariamente
na região. Aparentemente a explicação exata bastaria. Lembra a guerra entre
os Hutus e Tutsis, Ruanda e Burundi, que matou pelo menos um milhão de seres
humanos entre abril de 1994 a maio de 1997, além de deixar centenas de
milhares de seres humanos em miseráveis campos de refugiados expostos a todo
tipo de peste e desnutrição. A explicação é racista. As guerras são pelo
lucro, pela riqueza que tem naquele solo diamante, urânio, petróleo, ouro, e
além de ter uma abundância de água, terras férteis e grande diversidade de
espécies animais. Na década de 50 e 60 as ditaduras fiéis na África
gerenciadas pela Casa Branca e no final dos anos 60 começaram o processo de
descolonização da África, dezessete colônias da França e Inglaterra
conquistaram o status de nações autônomas. O EUA sempre ficou distante dos
países africanos quando se trata de liberdade da população e ajuda econômica.
Em 1998 Bill Clinton fez uma viagem de onze dias a seis países da África
subsaariana (Gana, Uganda, Ruanda, Senegal e África do Sul) foi a maior
visita já feita ao continente por um presidente americano. Na ocasião ele
declarou-se “satisfeito” com o surgimento de uma “nova geração de líderes
democráticos” que estavam ajudando os seus países a construírem uma “economia
vibrante e cheia de esperança”. Não podemos esquecer da África, terra mãe,
que foi violentada, saqueada pelos capitalistas que roubaram as riquezas
naturais, minerais e culturais, exterminando milhares de seres humanos e
aprisionando os que não se calaram com esta opressão. Um salve a Steve Biko,
Amílcar Cabral, Samora Machel, Patrice Lumumba, a todos os estudantes do
bairro de Soweto, que lutaram contra a opressão racista da África do Sul
durante o regime do apartheid. Um salve a todos os heróis anônimos que foram mortos
e presos pelo colonialismo. Somos todos africanos. É só pesquisar que a verdade está
lá. Reafirmando Martin Luther King: “Pessoas oprimidas não poderão viver
oprimidas para sempre”. (Agadabi, rapper do grupo Foco de Periferia: [email protected]). IDENTIDADE
NEGADA NO TRIBUNAL A ignorância ou descaso à
cultura de matriz africana e afro-descendente convocou novamente seu
faxineiro étnico. Noel Junior da Costa e Ana Cristina Santos Silva foram
impedidos de registrar seu filho, nascido em 22/04/02, no Cartório Civil de
Itaim Paulista, São Paulo, em 04/05/02. O Oficial de Registro Moisés Vitor
Ribeiro recusou-se a lavrar o documento com o nome de origem Nagô/Ioruba
(Nigéria), escolhido pelo casal:
AYODÉLÊ ADÔGUNSILE ODUDWA COSTA. Semelhante tratamento os pais receberam do
Juiz de Direito Márcio Martins Filho e da Promotora Cíntia Mitico Belgamo
Pupin, cuja sentença está documentada no processo: CP 389/02 RC. Interessante
notar que italianos, japoneses, judeus, alemães, portugueses, entre outros
possam registrar seus filhos de acordo com as suas origens. Os glossários mundiais de nomes presentes nos
cartórios são outro entrave. Os originários de países africanos neles
inexistem. Publicações alternativas têm surgido ao longo dos anos, incluindo
uma página na Internet: http://www.nomeafricano.hpg.ig.com.br Noel Junior da Costa e Ana Cristina Santos
Silva vão recorrer. A negação deste registro constitui-se numa violação à
democracia, cidadania e ética civil, por não reconhecer a contribuição do
povo africano na construção deste país.
LITERATURA -
O DIA EM QUE ANACLETO MORREU
Ninguém sabe, ninguém viu. Anacleto
morreu de repente. Era um dia qualquer, ensolarado e quente. Anacleto era
desses sujeitos comuns. Quase não saia de casa. Solteiro, gostava de assistir
aos domingos futebol pela televisão, principalmente os jogos de seu querido
"Timão". Sabia a escalação na ponta da língua. Era seu trunfo
intelectual. Seu porto seguro do saber. Deitava-se no sofá surrado pelo
tempo, em que mal cabia seu corpo longo e magro e ali babava pelo seu
"Curingão". A cada gol, socava o ar com cumplicidade quase
infantil. Esse era Anacleto. Aposentado desde a época do antigo IAPI. Ganhava
um salário mínimo por mês, que mal dava para pagar o aluguel do seu barraco
de madeira coberto por telhas de zinco. No calor era o inferno sobre a Terra.
Poucos sabiam, mas Anacleto tinha um grande amigo: Dr. Jofre Soares de Mello
e Silva, advogado de renome, filho pródigo da família "Mello e
Silva", "quatrocentona" da capital. Vez ou outra, ele recebia
a visita de seu amigo que fazia questão de chegar de táxi para não chamar a
atenção, trazendo apenas uma velha pasta debaixo do braço. Como essas visitas
se repetiam ano após ano, ninguém estranhava mais. E Anacleto dissera aos
curiosos que era um primo distante que vinha lhe visitar. Pronto, acabara a
curiosidade. Dentro do barraco, às escondidas do mundo, Anacleto assinava uns
papéis que Dr. Jofre trazia, com aquela letra meio tremida, sem se importar
em saber de que se tratava, pois se contentava com um pouquinho de prosa que
trocava nessas horas. O Dr. Jofre nem mais satisfação dava, chegava com
aquela fala mansinha e pedia quase em tom de ordem: Anacleto assina aqui no
xis. Ele assinava e trocava aqueles dois dedinhos de prosa e pronto, ficava
todo "satisfeito o resto da semana". Tinha proseado com seu amigo
"dotô". Um dia, já doente, Anacleto recebeu a visita de um sobrinho
que não via há muito tempo, também advogado, que trazia na lembrança o colo e
os afagos de Anacleto. Lembrava-se, quando ainda garoto, do colo do tio e ao
passar as mãos no rosto de Anacleto, sentia suas barbas como espinhos a lhe
cutucar os dedinhos de sua infância angelical. Lembrava-se das risadas do
tio, fortes e contínuas. Era uma imagem bem forte em sua memória. No dia
anterior, Dr. Jofre estivera no barraco de Anacleto e após aquela rotina
enfadonha, esquecera sobre o surrado sofá alguns papéis já assinados e
provavelmente voltaria para buscar. O sobrinho de Anacleto não segurando a
curiosidade, ao examinar os papéis ficou estupefato com o que estava vendo.
Seu tio, inocentemente, era laranja de um político famoso da capital que
havia sido governador do estado e Jofre Soares era seu advogado e controlador
das contas no exterior. Anacleto era titular em todas elas. Movimentava
milhões e milhões de dólares sem saber. De repente, o sobrinho de Anacleto
num pensar surrealista teve uma grande idéia. Pegou todos os papéis e levou
seu tio para um lugar escondido. Longe das garras de Jofre Soares e seu chefe
corrupto. Durante vários meses o ex-governador e seu advogado tentaram
encontrar Anacleto, procurando por inúmeras cidades e em casas de parentes,
não logrando êxito em tal empreitada. O desespero tomou conta de ambos e de
seu comitê de campanha, já que não era possível movimentar um centavo daquela
fortuna toda e as eleições para governador estavam se aproximando. Precisavam
de dinheiro para a nova campanha política. Num dia qualquer, ensolarado e
quente, a quadrilha recebeu uma triste notícia: Anacleto tinha morrido de
repente. E mais, ficaram sabendo por conta do tabelião da cidade, que
Anacleto tinha deixado um testamento. Toda sua fortuna, quase duzentos
milhões de dólares depositados em paraíso fiscal, seria distribuída para as
casas de caridade de toda região, que assim poderiam fazer o bem sem olhar a
quem. Ninguém sabe, ninguém viu. Apenas um político safado, louco da vida,
gritava a plenos pulmões: "Jofre
Soares, seu morfético, vá pra p...!" (Douglas Mondo: www.kyotec.com.br/poeta, www.kyotec.com.br/athena, [email protected]
) LEITURA
AFRO: BAQUAQUA - UMA RARA AUTOBIOGRAFIA Baquaqua,
pelo que se sabe, foi o único escravo com passagem pelo Brasil a deixar um
documento escrito sobre sua
trajetória. Sua autobiografia foi publicada em inglês, em 1854, e
também é considerada a única biografia existente de escravo americano nascido
na África - os documentos semelhantes que se tem notícia foram produzidos por
escravos nascidos nos Estados Unidos. O texto narra em detalhe o
percurso do autor, que nasceu na cidade Zoogoo, na África Central, trabalhou
no Brasil e conseguiu ser libertado em Nova Iorque. Repleto de notas e
com uma extensa introdução, esse mesmo texto acaba de ser publicado pela
Markus Wierner Publishers, de Princeton. Chama-se "The Biography
of Mohammah Gardo Baquaqua - His passage from Slavery to Freedom in Africa
and America (A Biografia de Mohammah Gardo Baquaqua - A sua passagem da
Escravidão para a Liberdade na África e na América"). A biografia
foi editada por Robin Law e Paul Lovejoy, acadêmicos conhecidos pela extensa
produção dedicada à escravidão africana. Baquaqua foi escravizado em meados
de 1840. Tinha vinte anos e trabalhava como guarda-costas de um
governante. Chegou ao Brasil em 1845, arrasado após um mês de travessia num
navio negreiro. "Coloque um defensor da escravidão num desses
navios; faça-o imaginar-se no lugar dos negros. Se ele não sair de lá um
abolicionista convicto, não haverá outro argumento em favor da
abolição", escreve Baquaqua, que no Brasil ganhou o nome de José da
Costa. Comprado por um padeiro de Olinda, assim que desembarcou em
Pernambuco, ele serviu por dois anos no Brasil: primeiro vendendo pão
nas ruas de Recife, mais tarde como auxiliar de bordo de um capitão de navio
mercante do Rio de Janeiro. Fez viagens ao Rio Grande do Sul, à Santa
Catarina e foi escalado por Clemente José da Costa, o capitão, para servir
numa viagem à Nova Iorque. Nessa cidade - os escravos sabiam - os
negros eram livres. Não o adiantou o capitão prendê-lo no banheiro do
convés quando chegaram ao porto de East River. Com uma barra de ferro,
Baquaqua arrombou a porta e fugiu. A corte de justiça da cidade julgou
que o escravo devia retornar ao navio, pois fazia parte da tripulação, e
ordenou sua prisão. Em duas semanas, com a ajuda dos carcereiros, ele
escapou - simpáticos à sua causa, os guardas dormiram e
"esqueceram" a chave da cela a seu alcance. Auxiliado por uma
comunidade religiosa abolicionista, ele foi para Boston e mais tarde para o
Haiti, onde a revolução de 1790 havia libertado os negros. Convertido
ao catolicismo, voltou aos Estados Unidos, aprendeu inglês e, em parceria com
o editor Samuel Moore, de Detroit, publicou seu relato. É ínfima, no entanto,
a possibilidade de um pesquisador descobrir outro documento semelhante no
Brasil. Por mais que assine catálogos de todas as casas de
leilão. Pelo simples motivo de que a alfabetização era praticamente
inexistente entre os escravos. Segundo o censo de 1872, apenas 0.1% da
"população servil" sabia ler. Nos Estados Unidos, uma década
antes, mais de 20% dos afro-americanos eram alfabetizados. Uma razão
para essa diferença é a religião. Em meados do século XVIII, num
processo conhecido como "o grande despertar", missões
abolicionistas correram os Estados Unidos na tentativa de converter os escravos
a religiões protestantes, que enfatizavam a necessidade de uma leitura
individual da Bíblia, e, portanto, da alfabetização. No Brasil, onde
predomina o catolicismo a conversão não trouxe conseqüência semelhante - a
interpretação do texto divino estava a cargo dos intermediários da
Igreja. Basta dizer que entre a população livre os índices de
alfabetização eram igualmente inexpressíveis: 23% entre os homens e 13% entre
as mulheres, ainda segundo o censo de 1872. Outro fator que contribuiu para a
existência de documentos de registro de escravidão (pesquise, por exemplo,
"The Bondwoman's Narrative", de Hannah Crafts), é a peculiaridade
da dinâmica populacional. Segundo o historiador Manolo Florentino,
professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, de todos os países onde
houve escravidão, desde a Grécia antiga, os Estados Unidos são o único onde a
taxa de natalidade entre os escravos superou a de mortalidade. Cerca de
400 mil africanos foram levados ao país, principalmente após o século XVII.
Na década de 1860, havia por volta de quatro milhões de
afro-americanos. No Brasil, na época da abolição, havia cerca de 1,5
milhão de negros, embora o total de mão de obra importada da África superasse
os quatro milhões. Não são desprezíveis as implicações desses números
para a integração dos estrangeiros à sociedade e, por conseqüência, para a
absorção pelos africanos de elementos da cultura ocidental - da qual o
romance de Hannah Crafts (Warner Books, 340 páginas) é um exemplo
acabado. Com perdão pela insistência nos números, é o caso de lembrar
ainda que, nas décadas de 1920 e 1930, ao perceberam que os últimos
ex-escravos estavam morrendo, pesquisadores americanos colheram mais de onze
mil depoimentos de testemunhas do período. No Brasil, iniciativa semelhante
foi tomada na década de 70. O resultado? "Quatro ou cinco
entrevistas, e todas muito ruins", na opinião do Professor
Florentino. Pelo menos houve um Baquaqua para contar história.
(Adaptação do original de Flávio Moura, Jornal Valor, de 17/07/02, Caderno Eu
& Cultura, página 6, Caderno D). Artigo enviado por Ebony Dee (Planet
Black Enterprise): [email protected] QUILOMBO
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- http://planetblack MOMENTOS DE
REFLEXÃO
“Quem
não luta pelos seus direitos não é digno de possuí-los”. (Anônimo). “De nada vale tentar ajudar aqueles que não se ajudam a si
mesmos”. (Confúcio). “Em dias de sol ou noites de lua-cheia, erga os olhos para
o céu e veja as únicas coisas no mundo maiores do que você”. (Provérbio
Mandinga). “Você sai do gueto, mas o gueto nunca sai de você”. (Mano
Brown). “Somos economicamente fracos, mas não o somos moralmente.
Tivemos poucas oportunidades de nos aprimorar intelectualmente, mas em
entendimento e em capacidade de percepção temos um potencial capaz de suprir
essas deficiências”. (Orlanda Campos).
UM
JUBILEU DE PRATA QUE VALE OURO Os preparativos para o lançamento de CADERNOS NEGROS 25
anos encontra-se a todo vapor. O Quilombhoje, em conjunto com os poetas
presentes neste volume, simpatizantes e colaboradores está organizando uma
tremenda festa comemorativa, a realizar-se nos dias 6 e 7 de dezembro/2002.
Agende-se, avise os familiares, amigos, vizinhos, o bairro inteiro para
formar uma carreata e chegarem em peso. Nas próximas edições de Cabeças
Falantes daremos mais notícias e
comentaremos um pouco da história desta série, cuja importância merece
entrar para o Guiness Book - o livro dos recordes. SERVIÇOS
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ROSANGELA & VANDERLI afro-cabeleireiros - Rua Igarapé Água Azul nº
688/11-B, COHB Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, fones: (011)
6964-5268/6964-3187. · OUBÍ INAÊ KIBUKO – fotógrafo - [email protected] - (011)
9750-1542. · JUAREZ - Serviços de Funilaria,
Rua Sóter de Araújo, 72, Cidade Tiradentes, (011) 6285-1701. ·
ÂNGELA – Serviços
Contábeis – [email protected]
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CABEÇAS FALANTES online - Informativo Afro-Cultural Brasileiro Ano I – Edição nº 08 – Setembro/2002 – Leia e
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|
EDITORIAL
Amigo Leitor, acrescentamos
online à frente de CABEÇAS FALANTES, em decorrência do retorno do jornal Hora
X – Consciência Negra ([email protected]),
publicado pela Sociedade Comunitária “FALA NEGÃO”, cujo site breve estará na
rede e no qual assinamos uma coluna
homônima desde o número 01. Dia 6 de outubro está próximo. Você já escolheu
em quem votará consciente? Pense nesta frase e reflita: “Não roube. Não faça
concorrência com o governo”. (Pára-choque de um veículo Gurgel). O futuro do
Brasil não se encontra apenas em suas mãos, mas também na sua mente,
independente de partido. O ser humano é um ser político e todos os nossos
atos são ações políticas. Há
candidatos e candidatos. Faça a coisa certa, votando naqueles que realmente
têm se mostrado comprometido com as reivindicações da sua comunidade e não se
esqueça: o número de parlamentares negros e negras nas esferas estaduais e
federais continua reduzido. Isto não significa deixar-se levar apenas pela
cor da pele e sim pelo conteúdo presente nas suas propostas. Pesquise,
observe, indague, converse com os amigos, familiares, vizinhos... Em caso de
dúvidas, acesse o site www.eleicoes2002.com.br
A coletividade afro-brasileira precisa de representantes afro-descendentes na
política, desde que não seja massa de manobra, semelhante a um desastroso
ex-prefeito paulistano, cujo padrinho, concorrente ao governo de São Paulo,
usou para conhecer nosso potencial eletivo.
Oubí
Inaê Kibuko – editor responsável – [email protected]
OS
PRESIDENCIÁVEIS E A CULTURA Luiz Inácio Lula da Silva
(PT): Devemos compreender o acesso
aos bens culturais como um direito básico do cidadão. Como aqueles direitos
que nos habituamos a defender em nossas lutas sociais nos últimos 20 anos: o
direito universal à educação e a saúde. O exercício desse direito é condição
para o exercício da cidadania, ou seja, para a inclusão social”. Ciro Gomes (PPS): “É fundamental
integrar cultura e educação como instrumento de valorização do indivíduo. O
setor cultural é responsável por milhares de empregos diretos e indiretos. O
investimento em cultura deve ser visto como uma prioridade na percepção de
que a cultura é um fundamental agente de transformação social”. José Serra (PSDB): “No meu
governo, a cultura será tratada como uma prioridade do desenvolvimento
social. Não será privilégio das elites nem objeto de luxo. Cultura é um
importante instrumento de afirmação das identidades e um elemento de formação
da cidadania. O seu processo de desenvolvimento gera riquezas e cria
empregos”. Anthony Garotinho (PSB): “A
política cultural em meu governo estará centrada na democratização do acesso
aos bens e serviços culturais e na ampliação, descentralizada e
interiorização das ofertas na área da cultura. Entre as medidas destaca-se a
gratuidade de ingresso aos museus e monumentos nacionais, ao menos uma vez
por mês”. O propósito desta matéria não é
a comparação das manifestações, mas o registro do que foi dito para uma
cobrança no futuro. FONTES:
Folha de São Paulo, caderno Ilustrada, 06/08/02, Editorial jornal Linguagem
Viva, pg. 2, agosto/2002. CABEÇAS
FALANTES - edições publicadas Gradativamente, pessoas de
várias áreas e localidades, interessadas nas primeiras edições de CABEÇAS
FALANTES ON-LINE – informativo afro-cultural brasileiro têm aumentado. A
todos manifestamos nossos sinceros agradecimentos. Visando atender aqueles
que nos solicitam as primeiras edições, estamos disponibilizando todos os
números para quem desejar conhecê-los a título de estudo, pesquisa,
documentação... Algumas alterações em termos de formatação tiveram que ser
feitas nos números 1, 2 e 3 sem prejudicar o conteúdo original. Com mais esta
iniciativa almejamos atender aqueles que porventura não tiveram acesso às edições
anteriores, bem como atender quem porventura deseja manter-se atualizado com
as posteriores, caso não tenha recebido. Acesse: http://igspot.ig.com.br/arquivocf
PENSÃO DA TIA ÁUREA Estudantes de São José do Rio Preto, região e outras
localidades, desfrutam nesta cidade um atendimento diferenciado para aqueles
que não desejam residir em repúblicas durante o período letivo. Trata-se da
Pensão da Tia Áurea. O estabelecimento, gerenciado por Maria Áurea de Souza,
a tia Áurea, está situado em área residencial, próximo ao centro
comercial, a cerca de 5 minutos da
estação rodoviária e 15 do aeroporto. Os pensionistas, somente rapazes, gozam de um ambiente familiar, no qual:
boa comida, serviço de rouparia, respeito, atenção, tranqüilidade, segurança
e carinho são alguns dos ingredientes peculiares para quem aprecia aquela
gostosa sensação de sentir-se em casa. Informações e reservas: (017)
231-6362, Rua Dr. Raul de Carvalho nº 1463, Bairro Boa Vista, São José do Rio
Preto/SP, CEP 15025-300. MEMORIAL
DE SETEMBRO – IZABEL HIRATA Izabel Hirata, nascida Maria
Izabel dos Santos, em 02/09/1942, natural do Carmo do Rio Claro, estado de
Minas Gerais, filha de António José dos Santos e de Maria José dos Santos. Izabel
Hirata viveu sua primeira infância em sua cidade natal, onde por tradição de
família, tomou conhecimento dos hábitos e costumes locais, ao lado da sua
saudosa bisavó, Inês, carinhosamente chamada pela população de Sáignes, negra
valente e orgulhosa de sua origem africana, e que, por sua postura
matriarcal, sempre esteve à frente da Irmandade de São Benedito, na condição
de Ialorixá, conduzindo os festejos da Folia de Reis, Ternos de Moçambique, e
dos Rotos do Cateretê. Estes projetos populares da cultura negra impregnaram
a alma e a sensibilidade da nossa futura poetisa e produtora cultural Izabel
Hirata, nos seus primeiros anos de vida, de tal sorte que a sua vinda para
São Paulo com apenas 8 anos (...) não se desvaneceram de sua memória ao
matricular-se no Externato Casa Pia São Vicente de Paula, no bairro de Santa
Cecília. É de se destacar que esta centenária instituição educacional de
procedência belga foi uma das primeiras a receber e educar alunos negros, de
onde vem a vertente da militância aguerrida e, por vezes, revolucionária de
Izabel Hirata que pertenceu à Ação Libertadora Nacional. Isto se explica em
razão da sua convivência com os padres dominicanos da Igreja das Perdizes, em
São Paulo, com os quais adquiriu a ideologia católica humanística e pelo fato
fez-se uma Jocista – da Juventude Operária Católica – de tempo integral. Frei
Beto, por exemplo, foi seu contemporâneo no histórico Casarão da rua Cardoso
de Almeida. Quanto à questão da negritude, Izabel Hirata, por influência de
seus pais, não teve dificuldades de se postar ao lado e à frente de
movimentos específicos afro-brasileiros do perfil político do MNU,
constituindo-se numa de suas fundadoras, em 1978. As escadarias do Teatro
Municipal e a rua Marquês Leão, no Bixiga, onde funcionou a sua primeira
sede, são testemunhas mudas da presença de ativistas como Izabel Hirata. Sob
este arco de inquietações, longe de imposturas, que incluía movimentos de
mulheres contra a carestia, contra a censura, pela anistia ampla, geral e
irrestrita, contra o apartheid da África do Sul, pela libertação
incondicional de Nelson Mandela, surge a literatura como arma e nela, a
figura festejada e combativa de Izabel Hirata na qualidade de escritora e
poetisa engajada, que se faz presente no mundo das letras com o livro de
poemas CICATRIZES, que obteve ampla repercussão nacional e internacional pelo
seu denso conteúdo estético e político (...). Para que aqui se note melhor o
valor desta obra, basta que se diga que a mesma foi impressa pelo renomado
editor Massao Ono, em 1982. Fonte:
QUEM É QUEM NA NEGRITUDE BRASILEIRA, Prof. Eduardo de Oliveira, 1998. JUVENTUDE
CONSCIENTE – “BRASIL, MOSTRA A TUA CARA” Em uma conversa com meu irmão
mais uma vez pude perceber o quanto o ser humano ainda é cheio de
preconceitos. Ele me relatou um fato ocorrido no dia 28/07, na cidade de
Jacareí em um ônibus que faz viagens intermunicipais. Alguns
jovens negros aparentemente vindos da Bahia munidos de instrumentos musicais
como timba e tamborim, cantavam alegremente no fundo do ônibus enquanto
aguardavam o horário da viagem. A demora era notável, mas ninguém se
manifestou, alguns passageiros até agitavam seus corpos ao som das batidas
que lembravam o Olodum. Inesperadamente surgem alguns policiais que convidam
os jovens a descerem do ônibus. Motivo? Por estarem “perturbando a ordem”. Para mim
os motivos são outros, arrisco dizer que o motivo é outro. Jovens negros?
Sentados no “fundo do ônibus?” Cantando e batucando? Sinal de ameaça através
de uma visão racista que está impregnada no coração de algumas pessoas. Mas somos um país democrático com uma
política igualitária onde o racismo não existe?!. Isso é coisa que os negros inventaram
e eles mesmos praticam. Se a sua visão ainda é esta continue a ler este
relato e tire suas próprias
conclusões. Não se
sabe ao certo quem chamou os policiais, desconheço a existência de alguma lei
que proíba cantar em ônibus, creio que se algum passageiro se sentiu
incomodado se manifestaria. Depois
de muita discussão o ônibus partiu rumo a São José dos Campos, a viagem
transcorria normalmente até ser interrompida novamente por policiais que
convidaram os jovens a descerem do ônibus para uma “conversa”. Poderíamos
achar que era uma medida de segurança, uma batida qualquer a qual vemos
diariamente nos ônibus, mas se fosse algo rotineiro todos os homens brancos,
negros amarelos, seriam convidados a saírem do veículo. Mas não, neste caso
somente aqueles jovens. Novamente
trava-se uma discussão onde se é sugerido que os jovens aguardem o próximo
ônibus para seguirem viagem, alguns são contrários à idéia já que não estão
transgredindo nenhuma lei. Os outros passageiros manifestam-se a favor dos
jovens impedindo que o ônibus partisse sem que o “mal entendido” fosse
resolvido. Finalmente os jovens embarcam em outro veículo e seguem viagem. O que
mais me chamou a atenção neste fato foi a postura que os jovens tiveram
diante da situação, eles não se intimidaram com a presença dos policiais,
eles questionaram, discutiram e exigiram seus direitos. Mal
entendido? Racismo? O que? Tire você mesmo a conclusão. Não
quero com este fato lamentar-me, quero sim demonstrar que vivemos em uma
sociedade onde o racismo existe, sim! É disso
que precisamos, é assim que temos que agir! Temos que ter atitude, postura,
auto-estima e conhecimentos históricos para combatermos este mal chamado
racismo. Chega de
choro e lamentações, é hora de nos unirmos, de nos organizarmos, de lutarmos
por uma sociedade verdadeiramente igualitária e feliz. Juntos somos mais
fortes!!! “...dos filhos deste solo és mãe gentil?! Pátria
amada, Brasil”. Eloísa
Helena, jornalista, [email protected]
QUILOMBO
VIRTUAL
www.quilombhoje.com.br / www.falapreta.org.br / www.planetapreto.hpg.com.br / www.okun.hpg.com.br http://br.groups.yahoo.com/group/negrosepoliticaspublicas
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www.portalafro.com.br www.redejovem.org.br http://br.groups.yahoo.com/group/discriminacaoracial/messages
/ www.midiaindependente.org /
http://www.macua.com/localconversa LITERATURA
– CONSCIÊNCIA NEGRA DO BRASIL: OS
PRINCIPAIS LIVROS
“A inspiração deste trabalho se deu em uma reunião
sobre cultura, realizada no 22º Festival Comunitário Negro Zumbi – FECONEZU,
em 199, na cidade de Botucatu. Esse evento ocorre desde 1978 no interior de
São Paulo, no mês de novembro. Ficamos sensibilizados para este
empreendimento quando uma jovem fez menção, de forma dramática, à falta de
uma relação de livros que pudesse nortear suas leituras”. (Cuti e
Maria das Dores Fernandes, organizadores). Este
livro relaciona as obras mais importantes de autores brasileiros e
estrangeiros, em língua portuguesa, recomendadas por 65 pessoas, escolhidas
por suas atividades intelectuais e/ou militantes relacionadas com a vida
afro-brasileira. Aos colaboradores, além da indicação de 10 títulos no
máximo, foram solicitadas, opcionalmente, justificativas ou comentários que
respondessem à questão: “Porque recomendo”.Deu-se destaque às capas das vinte
obras mais citadas, seguidas das referentes à série Cadernos Negros, que teve
um número expressivo de indicações feitas ao seu conjunto. Estas figuram no
final deste livro, juntamente com as “obras completas” e “poesia completa”,
por designarem vários volumes sob uma mesma identificação. As recomendações
de revistas também foram citadas após a classificação geral das obras. A
princípio, nesta bibliografia comentada, seriam relacionados apenas os 100
títulos mais indicados. Porém, para que não se perdessem comentários e
referências importantes, foram considerados todos os títulos sugeridos, num
total de 291. Com os parâmetros desta publicação, certamente o caminho para a
conscientização das questões raciais e para a auto-estima afro-brasileira
torna-se mais curto, aplainado e fecundo. A distribuição do livro
“CONSCIÊNCIA NEGRA DO BRASIL: OS
PRINCIPAIS LIVROS”. (Mazza Edições Ltda., BH/MG – 2002, 112 páginas) tem como
público-alvo: bibliotecas e escolas públicas, universidades, entidades
negras, associações comunitárias e culturais. Interessados em adquirir o
livro deverão entrar em contato pelos sites:
www.luizcuti.silva.nom.br
/ www.quilombhoje.com.br -
e-mail: [email protected] / [email protected] UM
JUBILEU DE PRATA QUE VALE OURO – PARTE 1 “Os CADERNOS NEGROS surgiram em
1978, em meio a um clima social efervescente, onde pontificavam greves e
protestos estudantis. A criação do MNUCDR (Movimento Negro Unificado Contra a
Discriminação Racial, depois somente MNU) dava-se ao lado do campo de batalha
dos setores progressistas, os quais contestavam o governo militar e exigiam
liberdades democráticas. Com a criação do MNU, a luta contra o preconceito
racial iria ser reequacionada. O FECONEZU (Festival Comunitário Negro Zumbi)
também foi criado em 1978, e reunia negros preocupados em preservar a herança
cultural e reorganizar-se politicamente. Havia também um incipiente movimento
de imprensa negra. Uma das mais contundentes manifestações dessa imprensa era
o jornal Árvore das Palavras. Subversivo,
falava de revoluções e consciência. Um dos seus organizadores, Jamu Minka,
poeta e jornalista, costumava distribuir os jornais no viaduto do Chá, ponto
de encontro de jovens afro-paulistanos, muitos dos quais eram atraídos até
aquele local por conta do movimento soul. Foi neste clima que os militantes e
escritores Cuti e Hugo Ferreira propuseram a criação do Cadernos. O primeiro
volume, lançando em 1978 no recém-criado FECONEZU, reuniu oito poetas. Hugo
sugeriu o nome, e os custos foram divididos entre os participantes. Os
escritores que iniciaram a série reuniam-se no CECAN (Centro de Cultura e
Arte Negra), naquela época situado na rua Maria José, no bairro do
Bixiga. (Continua na próxima edição) RESGATANDO
A MEMÓRIA DO MESTRE SOLANO TRINDADE O Centro de Documentação e Biblioteca Comunitária
“Solano Trindade”, em homenagem ao grande poeta e folclorista pernambucano (1908-1974), criado pelo
Núcleo Cultural Força Ativa e gerenciado em conjunto com os Jovens Agentes
Comunitários de Direitos Humanos, está solicitando doações de livros e documentos
sobre o seu patrono. Obras de outros autores também serão bem-vindas.
Informações no próprio CDBCST: Avenida dos Têxteis n.º 1.050, COHAB Cidade
Tiradentes, São Paulo/SP, CEP 08490-600, fone (011) 6964-0401 ou através do
e-mail: [email protected]
MOMENTO
DE REFLEXÃO “O hoje é hoje; o amanhã pode
não existir. Hoje estou ouvindo, vendo e participando; amanhã isto poderá não
estar acontecendo. Faça agora o que está ao seu alcance”. (Cícero Buark). “Tudo que fizeres em prol do teu
povo, farás por ti, pelos teus irmãos e por aqueles te sucederão”. (Anônimo).
“Tudo que se observa através de
um microscópio escancara sua loucura”. (Expressão Popular). “Vivemos num mundo onde valemos
mais pelo que possuímos do que pelo que somos. Em tempos difíceis, a família
e os amigos tanto podem ser nossos maiores aliados quanto nossos piores
inimigos”. (Anônimo). “Todo negro que se preza,
deveria periodicamente consultar um analista, para gradativamente desativar a
bomba instalada em sua auto-estima, tornando-o alvo de si mesmo”. (Oubí Inaê
Kibuko). “Não se deixe humilhar, se
alguém ofender sua crença, sua religião, saiba que há leis que o protegem e
cobre das autoridades competentes as devidas providências, previstas no
código penal”. (Revista Orixás nº 2, pg. 61). “Se é para somar, hei mano, é só
chegar”. (DMN). SERVIÇOS ·
ROSANGELA & VANDERLI Afro-cabeleireiros - Rua Igarapé Água Azul nº
688/11-B, Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, Fones: (011) 6964-5268/6964-3187. · OUBÍ INAÊ KIBUKO – fotógrafo - [email protected] - (011)
9750-1542. · JUAREZ - Serviços de Funilaria,
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FALANTES ONLINE - Informativo Afro-cultural Brasileiro Ano I – Edição nº 09 – Outubro/2002 – Leia e
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EDITORIAL
Precisamos refletir sobre esta militância que não
consegue chegar até o povo. Porque o nosso discurso não é entendido para quem o
dirigimos? (Margareth Ferreira) Amigo
Leitor, REVOLUÇÃO COMEÇA EM CASA. Talvez, ainda vamos
precisar de uns 500 anos, para entendermo-nos entre nós mesmos e
realmente sermos uma comunidade, a exemplo de judeus, orientais... Aqui
na COHAB Cidade Tiradentes, zona leste de São Paulo, tenho dito e repetido
aos dirigentes e conselheiros dos grupos aos quais sou simpatizante
e colaborador: "Vamos discutir
idéias e busca de soluções práticas. Não discursos tendenciosos... Martin Luther
King e Malcon X; Ganga Zumba e Zumbi eram inimigos ideológicos. Em
essência suas aspirações eram as mesmas" Traço um paralelo reflexivo entre duas
mulheres, com respeito às devidas proporções, ambas do PT, que
estiveram no Poder Executivo e foram, além de discriminadas, desamparadas
pelo partido no momento em que ele deveria estar mais do que presente: a
gestão Luiza Erundina, ex-prefeita de São Paulo e Benedita da Silva,
candidata ao governo do Rio de Janeiro. Se muitos sonharam com um segundo turno
a ser disputado pela nossa violeta negra e acordaram com um pesadelo
rosa-espinho, incluo-me entre eles. "Mesmo não sendo filiado, desde a sua criação, meu
voto tem sido e continua PT de ponta a ponta. Duas décadas
se passaram, vejo alguns avanços no partido, porém a resistência à questão
racial e outras imprescindíveis continuam sendo esbofeteadas pelo
descaso. Aqui na periferia falta formação política e de quadros.
Temos servido apenas de ser testa-de-ferro e bucha de canhão para conquista
de votos. Secretariado, assessoria, etc. não existem e quando criados
são apenas de fachada". Disse
mais ou menos isto aos assessores de dois deputados
estaduais na eleição municipal passada, que estavam orientando a
campanha de um irmão candidato a vereador. Senti o incomodo. Acendi isqueiro
perto de estopim... Para piorar a situação, alguns irmãos que têm
conseguido carguinhos, acomodaram-se, resolveram seu problema pessoal,
viraram as costas ou fazem ouvido de mercador, dando atenção apenas ao que é
de interesse à sua manutenção no posto que obtiveram à custa de
uma luta que não é somente deles. Não vou citar os nomes
destes mercenários e oportunistas... comuns em todos os povos; em todas
as raças. Eles são conhecidos nesta trajetória retomada em 1978, quando
desmascaramos a "democracia racial brasileira". Ao meu
ver, muitos dos grupos organizados do Movimento Negro precisam rever suas
posições, descer do pedestal, apagar a fogueira das vaidades,
rivalidades, comportamento elitista, abrir a panelinha e traçar novos
caminhos comuns a todos. Não estou pregando união. Isto é utopia. Acredito no
bom senso e na solidariedade. Alguns exemplos encontram-se nos livros:
“...E Disse o velho militante José Correia Leite”, depoimentos,
organizado por Cuti, edição SMC/CONE, 1992 e “Frente Negra
Brasileira”, depoimentos, organizado por Márcio Barbosa, edição
Quilombhoje/MINC, 1998, bem como no próprio alijamento político que
temos vivenciado. Como estamos na era digital, a Internet, apesar
de ainda ser um privilégio de poucos no que se refere à coletividade
afro-brasileira e acesso a computadores, somado ao nosso atraso
secular, pode vir a ser uma ferramenta poderosa na próxima
eleição municipal. Caso o Lula (www.lula.org.br)
vença o segundo turno presidencial ou até mesmo o Serra (www.joseserra.org.br) , precisamos
nos organizar, cobrar, exigir em peso respostas e soluções
concretas às propostas veiculadas para a "comunidade negra" no
programa e horário político de ambos. Um ministério à Benedita da Silva é
interessante, como tem sido proposto pelos grupos de discussão na Web. Desde
que tenha respaldo, caso se concretize. Não somente do PT como também
nossa. Corpo a corpo, via e-mail, postal, telefônico... Caso
contrário será outro desastre como os conservadores retrógrados querem
que assim o seja. Bené, Celso Pitta... foram um teste à nossa
força eleitoral. Os donos do poder sabem como nos manipular,
propagandear “mudanças igualitárias" e jogar-nos contra nós mesmos.
Lembrando uma frase do rap Oitavo Anjo, do grupo 509-E: "Hei mano, dê-nos ouvidos, não seja você mesmo o seu
próprio inimigo". Se
eu estiver errado ou repetindo o óbvio nessas reflexões, Amigo Leitor,
na humildade, estou aberto a correções... A luta continua. Oubí Inaê Kibuko –
Editor responsável – [email protected]
MOÇAMBIQUE ESTÁ EM FESTA!
Festa
almejada por toda a Humanidade. O nosso país está em festa porque comemoramos
o décimo aniversário do fim do conflito armado que pôs - durante 16 anos -
irmãos de armas na mão contra irmãos, matando-se mútua e reciprocamente. Foi
a 04 de Outubro de 2002 que os moçambicanos, representados por Joaquim Alberto Chissano, Presidente
da República e Afonso Dlhakhama,
Presidente da RENAMO - hoje partido na oposição - assinaram o armistício. Foi
um acto corajoso e despido de falsos orgulhos. Foi uma "victória sem vencidos" - título
de um livro escrito dois anos depois por Dom Dinis Sengulane - porquanto quem ganhou foi esse herói invencível
que se chama POVO. O povo, ontem vítima da guerra, é hoje o construtor dessa
mesma Paz que lhe fora negada durante quase duas décadas. Portanto, amigo, aí
nesse teu/nosso Brasil democrático vivendo a quente e bela euforia das
pré-eleições que se realizam no próximo domingo, dia 06 de Outubro de 2002,
convido-te a bebermos um cálice em saudação à data que hoje celebramos. E
faço votos que destas eleições saia o melhor filho do Brasil para bem
governar esse país desse belo e bom POVO abençoado por DEUS. Bem hajas. António Matabele: [email protected] MEMORIAL
DE OUTUBRO – JOSÉ DO PATROCÍNIO “José Carlos do Patrocínio,
natural da cidade de Campos, Rio de Janeiro, nasceu em 09/10/1853, filho
espúrio de branco trigueiro e acaboclado com negra afro-brasileira, deixou
seu nome com traços de grandeza indissipável não somente na história social e
política do país. (...) Conquistou, também, com igual elevação, um título nas
letras brasileiras. O grande libertador foi, ao mesmo tempo, escritor arguto.
Observador dos nossos problemas de envergadura, Patrocínio os trouxe para a
literatura e o fez como pioneiro, sendo, talvez, um dos precursores entre
aqueles que focalizaram por uma nova objetiva o homem brasileiro, seu
comportamento, sua reação e seus sofrimentos. O maior historiador da nossa
literatura sobre ele escreveu – “Na história literária, terá (Patrocínio) de
ser visto claro e distinto, pairando alto em quatro capítulos diversos: no
que for consagrado especialmente aos grandes prosadores, o mais perfeito
mestre da palavra escrita, porque ele era pelo colorido e pela vibração
inconfundível de sua frase, um dos mais genuínos representantes do gênero em
nossa língua; no capítulo dos oradores será forçoso destacar sua figura qual
a de um dos que mais eminentemente sabiam manejar essa força admirável e
perigosa – a palavra falada; entre os romancistas, porque foi um dos
primeiros que mais afoitamente levaram para a novelística as questões sociais
entre os brasileiros, estudando em Mota Coqueiro – um caso singularíssimo do
modo de julgar em nossas justiças locais; em Pedro Espanhol, um exemplo de
banditismo existente ainda hoje em todo o Brasil e nos começos do século
passado existente até na capital da colônia; em Os Retirantes – a pintura
terrível do fenômeno das secas do Ceará e das cenas pungestíssimas que as
determinam; finalmente, no capítulo dos jornalistas – sua presença se
imporá”. (Silvio Romero). (...) Nada deve Patrocínio aos heróis de origens
brancas”. Fonte: Grandes Negros do Brasil – Yvonildo de Souza, Livraria
São José, Rio de Janeiro, 1963. LITERATURA
– QUADRO “Carlos Gabriel nunca brigou
com seus irmãos. Nem mesmo por pequenas banalidades como usarem suas camisas,
calças, cuecas. Enfim a harmonia plantou a paz entre eles. Formavam um
quarteto: Carlos Gabriel, o mais velho, depois Marta, sem seguida Mauro e por
último Ruth. As idades variavam entre vinte quatro e trinta anos. No amálgama
de peles pretas, eles nasceram da cor do mel. O primogênito e o caçula
herdaram da mãe o traço esfíngico. Os outros dois herdaram a desenvoltura do
pai. A cooperação alinhavou-os num só sentimento. Mauro tivera provas dessa
cooperação. Ele não prestava. Muito mulherengo. Tinha “casos” aqui e ali. Em
conseqüência desse ato, no mapa de sua vida aparecia uma região pontilhada de
filhos. Para não pagar na justiça, distribuía migalhas aqui e ali. Ruth era
quem o ajudava na mesada. E Marta, então? Com o espírito masoquista encarnado
na alma, não tinha coragem de dar um basta ao namorado. Ele tinha um gênio
violento. Descuidaram, e o formato da terra estava moldando a barriga da
amada. O namorado, com raiva, chutou-lhe a barriga. Ela quase morreu. Carlos
Gabriel fez um duplo papel: de pai – já que o pai deles de nada ficou sabendo
– e irmão. Mas, o destino, em segredo, tramava esfacelar esta união”. FONTE: 1º Capítulo de Malungos
& Milongas, conto, Esmeralda Ribeiro, edição Quilombhoje, São Paulo,
1988. A
IMPORTÂNCIA DA FAMÍLIA “Qualquer que seja a estrutura
familiar vivida, ressalta como traço comum e absolutamente marcante, a
importância atribuída pelos jovens negros à família. A família representa o
resgate da identidade e do rumo. Qualquer que seja o grau de estruturação
familiar, a família de origem faz parte dos objetivos e planos para o futuro.
A família também está presente quando se discute modelos e referências.
Demarcando um espaço de acolhimento, de compreensão, de expressão de dúvidas,
das questões de interesse, dos limites a serem impostos, as conversas
familiares são importantes e devidamente valorizadas”. Fonte: Jovens Negros em São
Paulo, Revista Palmares Nº 4, Fundação Cultural Palmares, Brasília/DF, 2000,
página 13, www.palmares.gov.br - [email protected] RELIGIÃO
– OBI O FRUTO SAGRADO DOS ORIXÁS Segundo um antigo dizer da
Bahia, “quem planta obi não colhe”, esta era uma forma de expressar os longos
anos que uma árvore leva para frutificar. Então os velhos sacerdotes da Bahia
ensinaram que uma criança é que deveria plantar o obi, e este ritual é
rigorosamente obedecido por todos aqueles que pretendem viver para colher a
fruta. (...) Obi é um fruto sagrado e insubstituível, sem o qual não se faz
nenhuma obrigação, nenhuma confirmação de que os Orixás aceitaram as
oferendas. A resposta de afirmação do obi é fundamental para que os ritos
possam continuar. O obi de quatro gomos, o único que deve ser ofertado aos
Orixás, chama-se obi abata. Cada fruto é composto de dois casais, separam-se
os gomos excedentes e dividem-se em comunhão com todos os presentes ou
oferecem-nos a Exu. Os gomos são delineados pela natureza, portanto não pode
haver nenhum tipo de intervenção, sobretudo de faca, para dividir o obi.
Apenas nos rituais de Xangô o obi dever ser substituído pelo orobô. O obi
deve ser jogado sobre a água, em pratos brancos ou diretamente no chão. Seus
gomos devem ser jogados de uma só vez,
ou seja, simultaneamente. Não se pode manipular os gomos, nem jogar os que
caíram fechados sozinhos. Se a caída não for favorável, deve-se lançar todos
os gomos novamente. Só uma caída autoriza de imediato a continuidade dos
ritos ou confirma a aceitação. Quando todos os gomos do obi caem abertos,
isto é, com sua parte interna para cima, é o sinal de que os Orixás
abençoaram e/ou aceitaram o rito. Fonte: Revista Orixás, nº 1,
página 31, Editora Minuano, 2002, [email protected] MOMENTOS DE
REFLEXÃO
“Ser do
santo é totalmente diferente de ser para o santo”, Maria José. “Preto que é preto não tem vergonha do crespo”, Xandão
Afro Rude. “Não precisamos pedir licença para ser livres”, EZLN. “...entendemos que para dirigir um povo para a libertação
e para o progresso é fundamentalmente preciso uma vanguarda, gente que mostra
de fato que é a melhor e que é capaz de provar isso na prática. Durante a
luta de libertação muita gente tenta enganar, mas pouco a pouco é preciso
definir a sua posição como pertencendo àquela vanguarda, ao conjunto daqueles
que são os melhores filhos do nosso povo”, Amílcar Cabral. “...estou a par de minha história como uma pessoa de raça
negra neste mundo. Não é a melhor das histórias, mas temos que lutar por
respeito e dignidade”, Angela Basset. UM
JUBILEU DE PRATA QUE VALE OURO – PARTE 2 “Em 1980, reuniões e encontros
que tinham a finalidade de discutir os livros da série e livros individuais
dos autores acabaram resultando na criação do grupo Quilombhoje, cuja formação
inicial era a seguinte: Abelardo Rodrigues, Cuti, Mário Jorge Lescano, Paulo
Colina e Oswaldo de Camargo. As conversas aconteciam em bares e, nessa época,
era Cuti quem organizava os Cadernos. A partir de 1982, durante o processo de
organização do volume 5, novos autores se aproximaram do grupo. Os antigos
acabaram se afastando e o Quilombhoje passou a ser formado por: Cuti,
Esmeralda Ribeiro, Jamu Minka, José Alberto, Márcio Barbosa, Miriam Alves,
Oubí Inaê Kibuko, Sônia Fátima Conceição e Vera Lúcia Alves. O Cadernos
Negros de número 6 foi organizado por este grupo, que assumiu integralmente
as responsabilidades e os encargos que a edição da série demandava”. Em 1984
entrou Abílio Ferreira para o Quilombhoje. As reuniões nessa segunda fase do
grupo começaram a ser realizadas na casa do Cuti, então morador da rua dos
Ingleses, na Bela Vista. Nos anos seguintes, a tarefa de produção de livros e
o ativismo literário foram consumindo tempo e energia do grupo. As
necessárias regras de disciplina impuseram a saída de mais de um companheiro.
Crises pessoais fizeram outras baixas. Desde o início de 1995 o grupo conta
com apenas 3 componentes”. (Continua). CONSCIÊNCIA
NEGRA DO BRASIL: OS PRINCIPAIS LIVROS
“A
inspiração deste trabalho se deu em uma reunião sobre cultura, realizada no
22º Festival Comunitário Negro Zumbi – FECONEZU, em 1999, na cidade de
Botucatu. Esse evento ocorre desde 1978 no interior de São Paulo, no mês de
novembro. Ficamos sensibilizados para este empreendimento quando uma jovem
fez menção, de forma dramática, à falta de uma relação de livros que pudesse
nortear suas leituras”. (Cuti e
Maria das Dores Fernandes, organizadores) Este livro relaciona as obras
mais importantes de autores brasileiros e estrangeiros, em língua portuguesa,
recomendadas por 65 pessoas, escolhidas por suas atividades intelectuais e/ou
militantes relacionadas com a vida afro-brasileira. Aos colaboradores, além
da indicação de 10 títulos no máximo, foram solicitadas, opcionalmente, justificativas
ou comentários que respondessem à questão: “Porque recomendo”.Deu-se destaque
às capas das vinte obras mais citadas, seguidas das referentes à série
Cadernos Negros, que teve um número expressivo de indicações feitas ao seu
conjunto. Estas figuram no final deste livro, juntamente com as “obras
completas” e “poesia completa”, por designarem vários volumes sob uma mesma
identificação. As recomendações de revistas também foram citadas após a
classificação geral das obras. A princípio, nesta bibliografia comentada,
seriam relacionados apenas os 100 títulos mais indicados. Porém, para que não
se perdessem comentários e referências importantes, foram considerados todos
os títulos sugeridos, num total de 291. Com os parâmetros desta publicação,
certamente o caminho para a conscientização das questões raciais e para a
auto-estima afro-brasileira torna-se mais curto, aplainado e fecundo. A
distribuição do livro “CONSCIÊNCIA NEGRA DO BRASIL: OS PRINCIPAIS LIVROS”. (Mazza Edições Ltda., BH/MG – 2002, 112
páginas) tem como público-alvo: bibliotecas e escolas públicas,
universidades, entidades negras, associações comunitárias e culturais.
Interessados em adquirir o livro entrar em contato pelos sites: www.luizcuti.silva.nom.br
/ www.quilombhoje.com.br ou
e-mail: [email protected] / [email protected] RESGATANDO
A MEMÓRIA DO MESTRE SOLANO TRINDADE O Centro de Documentação e
Biblioteca Comunitária “Solano Trindade”, em homenagem ao grande poeta e
folclorista pernambucano (1908-1974),
criado pelo Núcleo Cultural Força Ativa e gerenciado em conjunto com os Jovens
Agentes Comunitários de Direitos Humanos, está solicitando doações de livros
e documentos sobre o seu patrono. Obras de outros autores também serão
bem-vindas. Informações no próprio CDBCST: Avenida dos Têxteis n.º 1.050,
COHAB Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, CEP 08490-600, fone (011) 6964-0401, www.forcativa.cjb.net ou através do e-mail: [email protected] QUILOMBO
VIRTUAL www.quilombhoje.com.br - www.falapreta.org.br - www.planetapreto.hpg.com.br - www.okun.hpg.com.br http://br.groups.yahoo.com/group/negrosepoliticaspublicas/ - www.firmaproducoes.com.br - www.portalafro.com.br www.redejovem.org.br - http://br.groups.yahoo.com/group/discriminacaoracial/messages
- www.bocadaforte.com.br www.midiaindependente.org - http://www.romancecapoeira.hpg.ig.com.br/index.htm# - http://www.macua.com/localconversa/index.shtml
CORREIO
VIRTUAL - RECEBEMOS Na
correria – periódico do Quilombhoje – literatura – [email protected] Informativo
Portal da Black Music – [email protected]
Informativo
Enraizados – [email protected]
Informativo
Bocada Forte – www.bocadaforte.com.br
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Afro-umbandista Creencias – [email protected]
- [email protected] Boletim
Eparrei Online – [email protected]
AGENDE-SE
26/10 – Sociedade dos Poetas Contemporâneos: Morabeza. O
sarau poético a “Arte do Bem Receber” homenageia a cultura de Cabo Verde
(África). Participação de poetas brasileiros e caboverdianos. Biblioteca
Mário de Andrade, Rua da Consolação nº 94, Metrô Anhangabaú, às 16h00,
(011)3241-3459, grátis. 6 e 7/12 – Lançamento de CADERNOS NEGROS 25 ANOS, poemas –
informações: www.quilombhoje.com.br
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Pensão da Tia Áurea – somente
para rapazes estudantes universitários. Informações: Rua Dr. Raul de Carvalho
nº 1463, Bairro Boa Vista, São José do Rio Preto/SP, CEP 15025-300 - (017)
231-6362. Rosangela & Vanderli afro-cabeleireiras
– Rua Igarapé Água Azul, 688/11-B, Cidade Tiradentes, São Paulo/SP,
informações: (011) 69648529/6964-5268/6964-3187. Oubí Inaê Kibuko – fotógrafo – [email protected] - (011)
9750-1542. Juarez – Serviços de Funilaria –
Rua Sóter de Araújo, 72 – Cidade Tiradentes, São Paulo, (011) 6285-1701. Orlando – Serviços de Manutenção
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FALANTES ONLINE - Informativo afro-cultural brasileiro – edição mensal Editor
responsável: Oubí Inaê Kibuko – Caixa Postal 30255 – Cidade Tiradentes –
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Brasileiro Ano I – Edição nº 10 – Novembro/2002 – Leia e
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EDITORIAL Amigo Leitor, 20 de novembro,
DIA NACIONAL DA CONSCIÊNCIA NEGRA. Data em que se comemora o desaparecimento
de Zumbi dos Palmares, visto na concepção de muitos como o primeiro Ogum
brasileiro! Versando em Novembro, 20, de Jamu Minka: “Demitimos a princesa
imposta. Fazemos a nova luta. Dignidade nossa tem data. Heroísmo crescido no
coração da mata. Rebeldia teve bendito fruto. Trilhas, rios, serra, roças,
cercas, fossos, flechas, palmeiras do orgulho afro, sem milhões, sem miséria.
Canhões do racismo contra a fartura. Lições da brutal brancura: o negro
negar-se sempre. Gerações famintas de corpo e espírito. Rebelião, este sonho
é bicho de mil fôlegos. Antigas trilhas da mata renascem no século XX. Nas
salas, salões, escadarias, esquinas, praças, palcos, telas, rádios, discos,
gráficas, jornais, revistas e livros cheios de Zumbilições”. Como tudo
não é flores, aberto a correções, indago: Por quê somente 20 de novembro se
existimos nos 365 dias do ano? Será que não estamos transformando esta data
num carnaval, onde cada negro e negra vestem uma típica fantasia irradiante
de identidade, auto-estima e outros adjetivos mais, e após a quarta-feira de
cinzas, a esquece e por extensão esquecem-se? Que dia é este que estamos
comemorando e em função do quê? Se muitos, principalmente nos bancos
escolares e nas relações familiares, ainda permanecem ignorantes do processo
histórico ao qual estamos expostos. Há muito que refletir e a fazer não
somente para resgatarmo-nos como também saber e exercer sobre nós mesmos.
Caso contrário, nossas reivindicações de cidadania igualitária, através de
ações afirmativas à coletividade afro-descendente serão efêmeras e vazias
como as mentalidades retrógradas querem que sejam no dia 21... Oubí
Inaê Kibuko – editor responsável – [email protected] PRESIDENTE
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA (PT) E A CULTURA “Devemos compreender o acesso
aos bens culturais como um direito básico do cidadão. Como aqueles direitos
que nos habituamos a defender em nossas lutas sociais nos últimos 20 anos: o
direito universal à educação e a saúde. O exercício desse direito é condição
para o exercício da cidadania, ou seja, para a inclusão social”. N.E. O propósito desta nota é o
registro do que foi dito para uma cobrança no futuro. FONTES: Folha de São Paulo,
caderno Ilustrada, 06/08/02, Editorial jornal Linguagem Viva, pg. 2,
agosto/2002. NOTA
REVOLTANTE PARA LOBBY DE PROTESTO VIRTUAL Você sabia que o reitor da
Unicamp (Universidade de Campinas/SP) não vai dar feriado no próximo dia 20
de novembro? Alegação: já tem muito feriado nesse mês e atrasará as provas.
Você teria uma lista de pessoas que pudessem enviar e-mails pressionando-o? O
endereço eletrônico do reitor é: [email protected] MATILDE
RIBEIRO INTEGRA A EQUIPE DE TRANSIÇÃO DO GOVERNO LULA Matilde Ribeiro é assistente
social, com mestrado pela PUC de São Paulo, e professora do Centro de Estudos
das Relações de Trabalho. Integrante da equipe que elaborou o programa sobre
raça e etnia do candidato Lula, Matilde foi coordenadora da Coordenadoria da
Mulher da Prefeitura de Santo André/SP, entre 1997 e 2001. Nos últimos 20
anos, como mulher negra e feminista, Matilde tem atuado no campo social e
político. LITERATURA
1 – NO POVO BUSCAMOS A FORÇA Não basta que seja pura e justa
a nossa causa. É necessário que a pureza e justiça existam dentro de nós. Dos
que vieram e conosco se aliaram muitos traziam sombras no olhar, motivos
ocultos, intenções estranhas. Para alguns deles a razão da luta era só ódio:
um ódio antigo, centrado e surdo como uma lança. Para alguns outros era uma
bolsa: bolsa vazia (queriam enchê-la). Queriam enche-la com coisas sujas,
inconfessáveis. Outros viemos. Lutar p’ra nós é ver aquilo que o povo quer
realizado. É ter a terra onde nascemos. É ter p’ra nós o que criamos. Lutar
p’ra nós é um destino – é uma ponte entre a descrença e a certeza do mundo
novo. Na mesma barca nos encontramos. Todos concordam – vamos lutar. Lutar
p’ra quê? P’ra dar vazão ao ódio antigo? P’ra encher a bolsa com o suor do
povo? Ou p’ra ganharmos a liberdade e ter p’ra nós o que criamos? Na mesma
barca nos encontramos. Quem há de ser o timoneiro? Ah as tramas que eles
teceram! Ah as lutas que ali travamos! Mantivemo-nos firmes: no povo buscamos
a força e a razão. Inexoravelmente como uma onda que ninguém trava, vencemos.
O povo tomou a direção da barca. Mas a lição ali está, foi aprendida: não
basta que seja pura e justa a nossa causa. É necessário que a pureza e a
justiça existam dentro de nós. Fonte: Jorge Rebelo, O canto
armado, antologia temática de poesia africana, Sá da Costa Editora, Lisboa,
1979. MEMORIAL DE NOVEMBRO – O CISNE NEGRO CRUZ E
SOUZA João da Cruz e Souza é
considerado, hoje – para a maioria dos escritores negros nas sendas de
expressar com Literatura o seu particularismo racial – o grande precursor.
(...) Cruz e Souza nasceu em 24/11/1861, dia da festa do grande místico
espanhol de que ele tem nome. Pais, desimportantes socialmente: o
mestre-pedreiro Guilherme da Cruz e sua esposa, Carolina. Já aos oito anos
tem propensões literárias; faz versos. Espantava já, por saber rimar. E é na
antiga Desterro (atual Florianópolis) que começa a sua formação. De Fritz
Muller, sábio alemão que fazia estudos de fauna e flora no Brasil, respeitado
na Europa, o negrinho Cruz e Souza mereceu esta frase: “Esse preto representa
para mim mais um reforço na minha velha opinião contrária ao ponto de vista
dominante que vê no negro um ramo por toda a parte (talvez sob todos os
aspectos) inferior e incapaz de desenvolvimento racional por suas próprias
forças”. 1881 é o início de sua amizade com Virgílio Várzea, e com ele
redigiu até 1889 a Tribuna Popular. Empenhou-se – está provado – na campanha
abolicionista. Virgílio Várzea testemunha que “Cruz e Souza tinha uma grande
paixão pelas idéias humanitárias e serviu-as sempre, com um fanático, sem se
poupar sacrifícios, na tribuna, na praça pública e principalmente no
jornalismo”. O primeiro livro sai em 1885, de colaboração com seu companheiro
da Tribuna Popular, sob o título de Tropos e Fantasias. Nesse ano funda O
Moleque, jornalzinho que, devido ao nome provocativo e, talvez, infeliz, lhe
trouxe problemas, oferecendo ocasião aos seus adversários para ofendê-lo.
Pesa o ambiente na Província, onde muitas vezes é desacatado por ser filho de
escravos. Viaja, então, em 1886, pelo Rio Grande do Sul com uma companhia de
teatro, sendo bem recebido em Pelotas (RS). Vai nesse mesmo ano, após breve
passagem por Santa Catarina, ao Rio de Janeiro, onde trava conhecimento com
Bernardino Lopes (B. Lopes), Luis Delfino e Nestor Victor, que seria seu
grande amigo. (...) toma contato com os simbolistas nacionais e estrangeiros,
esses por meio de leituras de Baudelaire, Sar Péladan, Villiers de
L’Isle-Adam. Em 1890 transferiu-se definitivamente para o Rio de Janeiro, tendo
aderido por completo ao Simbolismo. Tornou-se repórter da Folha Popular,
trabalhou na Cidade do Rio, de José do Patrocínio e colaborou no Novidades.
Não parando muito nos empregos, foi-lhe difícil firmar-se na Imprensa, e
passou por duras necessidades, que se agravaram a partir de seu casamento, em
1983, com Gavita, e o nascimento dos quatro filhos: Raul, Guilherme, Reinaldo
e João (póstumo). Faleceu em 19/03/1898. Obras: Missal, poemas em prosa;
Broqueis, poesia; Evocações, poemas em prosa. FONTE: O Negro Escrito –
Apontamentos sobre a presença do negro na Literatura Brasileira, Oswaldo de
Camargo, Secretaria de Estado da Cultura, São Paulo, 1987. NOSSO
SONHO Escrevo esta para todos aqueles
a quem eu chamo de irmãos e irmãs e que compartilham de um mesmo ideal, de um
mesmo sonho... A ascensão cultural, social, política e econômica dos pretos.
É evidente que alguns pensem de uma forma e outros defendem idéias ou métodos
diferentes. Mas todos nós de um jeito ou de outro acreditamos neste sonho e
fazemos dele nossa filosofia de vida, construindo-o a cada dia. A cada passo
dado por nós esta é uma atitude africana e cada dia nosso é um dia de
consciência, nas nossas conversas e bate-papos cotidianos estamos defendendo
nossos sonhos. Lutamos, todos nós por independência, poder e paz. Nos
reunimos, nos organizamos, promovemos palestras, oficinas, festivais, shows,
eventos, enfim, uma infinidade de atividades para nos reunir e transmitir aos
outros, esta nossa esperança. Escrevemos contos, poemas, artigos; editamos
jornais, zines, criamos sites, enviamos cartas, entregamos panfletos,
folders, textos em sulfite e tornamos público a nossa vontade de mudar. Somos
os frutos da resistência africana, carregamos em nós uma responsabilidade
muito grande: a de saber lidar com todo o nosso conhecimento e consciência e
transmiti-los aos outros milhões de filhos da África que estão espalhados no
mundo e necessitam de alternativas e respostas. Carregamos ainda a
consciência que o que sonhamos não virá fácil, será necessário que lutemos de
todas as formas, que preparemos outros para continuar nossa luta. Mas meu
sonho se faz real quando penso que como eu, existem inúmeros irmãos e irmãs
vivendo individualmente esse ideal. Penso que nosso quilombo existe, na
cabeça de cada um de nós, quando nos encontrarmos, viveremos nossa comunidade
e construiremos mais um pedacinho do nosso sonho. A nossa vida é a nossa
luta. Aprendi, na minha trajetória a conhecer, a respeitar aqueles a quem
chamo de irmãos e, que é necessário enquanto irmãos saber três coisas: quem
somos, o que queremos, e o que faremos. Digo sempre que é necessário dar o
primeiro passo para mudança; cada um de nós já deu seu passo e sabe que rumo
tomar, fazemos de cada dia nosso um passo dessa caminhada. Temos nossas famílias,
nossos trabalhos, e o nosso sonho. Vivendo os três, sonhando que um dia se
tornem uma realidade, que passamos viver este sonho com nossas famílias,
trabalhando para a melhoria da qualidade de vida para o nosso povo. Descobrir
que é necessário um sentido para a vida, que a vida sem sonho é vazia, e que
aqueles que constroem e lutam por seus sonhos não são mais esquecidos. Se
tornam referência e plantam as sementes de seus ideais. Conhecemos nossas
raízes, somos os frutos e plantamos as sementes de nosso sonho. Somos filhos
da África e defenderemos nossa mãe, nossa história, nossa cultura, nossa
paz... Sempre. FONTE: Boletim da UCPA (União
dos Coletivos Pan-Africanistas), nº 02, Set/2002, artigo de Agnis Orgen
Inago, LITERATURA
2 – DÍVIDA EM VIDA Chegava-se
à conclusão final da palestra sobre os direitos retroativos. Dentre o público
que lotava o anfiteatro, destacavam-se os Brancos cujos Melhores Amigos são
Negros, os Não Tive Intenção de Ofender, a Senhora Democracia Racial –
exibindo seu rosto de duas mil plásticas – e o Deputado Amor não Tem Cor. Bem
à frente do conferencista, notava-se o Reverendo Somos Todos Iguais, além de
outras autoridades políticas, militares, empresariais e eclesiásticas, bem
como o representante maior da nação. Cada qual com um sorriso amarelo que o
outro. O Dr.
Zumbi abandonou o microfone, levantou-se e abriu um antigo e enorme baú, que
ocupava mais da metade do palco. Foi retirando objetos e colocando-os sobre a
mesa. Havia pelourinhos, correntes, chicotes, grilhetas, máscaras de folha de
flandres, centenas de orelhas arrancadas à faca, cacetetes de vários tipos,
paus-de-arara e outros que tais. Um século depois, retomou sua exposição,
após um gole de Oceano Atlântico bastante avermelhado. Atento para o
amontoado saído do baú, o público seguia os gestos e palavras como quem
prepara um bote. Senhoras e senhores, são apenas, para
sermos humildes, como é sempre esperado, um total de 3.500.000 (três milhões
e quinhentos mil) trabalhadores chegados no país nos três últimos séculos,
sem levar em conta a reprodução interna, que foi grande. Considerando cada um
deles ter trabalhado no máximo dez anos, como querem certos historiadores,
tendo em vista as condições precárias de sobrevivência da época, chegaremos a
um total de 35.000.000 (trinta e cinco milhões de anos) ou 420.000.000
(quatrocentos e vinte milhões de meses). Tomando como referência o salário
mínimo de 100 (cem) reais – atendendo ao apelo das classes patronais para que
não sejam sacrificadas – tem-se um total de tão somente R$42.000.000.000
(quarenta e dois bilhões) de reais ou, convertendo para a futura moeda do
país, US$42,857,142,857.10 (quarenta e dois bilhões, oitocentos e cinqüenta e
sete milhões, cento e quarenta e dois mil, oitocentos e cinqüenta e sete
dólares e dez centavos) a serem ressarcidos, o que caberia a cada
descendente, levando-se em consideração um população afro-brasileira de
60.000.000 (sessenta milhões) de cidadãos, apenas US$714.28 (setecentos e
catorze dólares e 28 centavos). Não será cobrada nenhuma taxa de juros. Gostaria de salientar que, por
motivos patrióticos, não foram considerados décimo terceiro, férias em dobro,
semana inglesa, seguro desemprego, indenizações por invalidez e morte,
aposentadoria, vale refeição, insalubridade, PIS, vale transporte e outros
benefícios atuais. Os prejuízos psicológicos advindos de torturas, estupros e
outras formas de sadismo praticadas por seus antepassados, nada disso foi
computado. A crueldade refinada dos senhores, atualmente, também deixamos de
lado. Vamos inaugurar um novo tempo. Quanto à forma de pagamento... E o
Dr. Zumbi levantou os olhos de seus cálculos. A platéia estava vazia. Um
último personagem dissolvia-se em fumaça por debaixo da porta. Mas, para
surpresa do palestrante, sua Excelência o Sr. Presidente da República havia
deixado sua pasta. O Dr. Correu até ela e, sem escrúpulos, abriu-a. Saltaram
outras tantas contas a pagar. Todas com prazos vencidos. NEGROS EM
CONTOS, Cuti (Luiz Silva), Mazza Edições, Belo Horizonte, 1996 – www.luizcuti.silva.nom.br O OCASO DE
UMA GERAÇÃO
A
participação do movimento negro brasileiro na Conferência Mundial Contra o
Racismo em Durban na África do Sul, em setembro de 2001, talvez tenha sido o
último suspiro da geração de militantes formados nos anos 70 e 80.
Hoje, estão todos institucionalizados, burocratizados e comprometidos com o
fantasma de seus financiadores públicos e privados que não ousam ir além das
regras de cumprimento das normas de projetos produzindo com isso resultados
em geral medíocres e seguindo a sina de um sem número de organizações sociais
que atuam de modo incompetente e sem compromisso com transformação social.
Salvo uns poucos, onde está hoje a militância mais experiente, senão escondida
atrás de um cargo público ou supostamente entrincheirado numa ong? Alguns dos
mais competentes foram cooptados pela máquina do estado ou nela se jogaram
para defender sua própria sobrevivência. Alguns incompetentes, mas armados do
discurso de militantes ou ao menos de reclamantes, (cadê o meu!) também se
locupletaram com as míseras gratificações em seus cargos inoperantes. Os
outros militantes dispersos e desmobilizados são trabalhadores em geral,
funcionários públicos, estudantes, artistas, malucos, bem intencionados e
indignados de todas as opressões que vivem da memória da militância,
entrincheirados em seus refúgios profissionais ou mentais, possivelmente
perplexos com este padrão que se formou a custa de suas participações nos
anos 70/80. Onde anda a militância independente de partidos políticos ou do
vínculo profissional com algumas das poucas ONGs do movimento negro? Não
existem mais, porque qualquer quadro que se destaca é logo cooptado para o
projeto político de A ou B ou então será isolado ou massacrado por se manter
independente. Não falo apenas da posição de mais um indignado como eu ou
talvez você, mas da total ausência de iniciativas no fortalecimento ou
formação de lideranças que possam sucedê-los. Sucedê-los? Mas como, se ainda
continuam tentando chegar lá (onde?) afastando qualquer um que sua paranóia
suspeite ameaçá-los? Qual o projeto político dessa gente que vive se
apresentando como eternos candidatos? Qual o resultado daquele militante que
vive dos gabinetes políticos ou perambulando entre órgãos públicos em prol da
causa negra e que as vésperas de mais uma eleição estarão mais assanhados em
busca do voto do incauto eleitor negro. Qual candidato(a) negro(a) tem
oferecido credibilidade para o nosso voto? Como foi o relacionamento mantido
com o seu eleitorado ao longo do seu mandato ou para aquele que pleiteia
insistentemente seu voto, qual foi sua contribuição para a população
afro-brasileira? Quais das suas propostas foram amadurecidas no seio do
movimento negro que o legitime a se apresentar como líder ou expressão disso
ou daquilo? Movimento negro, que movimento negro neste ano de 2002? Às
vésperas da posse dos novos eleitos e de um novo ano, espero que possamos
renovar nossas lideranças políticas e que o movimento negro retome sua iniciativa
de liderar as demandas da população afro-brasileira por mais igualdade de
oportunidades, cidadania e mudanças sociais. José Ricardo
- [email protected] NEGRO LIMITADO - Aí mano, você tá dando febre, certo!
- O que é que é mano? -Você tem que ter consciência... - Que consciência que
nada, negócio de negro, consciência não tá com nada, o negócio é tirar um
barato, morô?! - Pô mano, vamos pensar um pouco. - Que pensar que nada, o
negócio é dinheiro e tirar uma onda! - Você não me escuta ou não entende o
que eu falo. Procuro te dar um toque e sou chamado de preto otário. Atrasado,
revoltado. Pode crer. Estamos jogando com um baralho marcado. Não quero ser o
mais certo, e, sim, um mano esperto. Não sei se você me entende, mas eu
distingo o errado do certo. - Hei mano, você vai continuar com essas idéias,
você tá me tirando? Dá licença... - A verdade é que enquanto eu reparo meus
erros, você se quer admite os seus. Limitado é seu pensamento. Você mesmo
quer falar sobre mulher, seu principal passatempo. O Don Juan das vagabundas,
eu lamento Vive contando vantagem, se dizendo o tal. Mas simplesmente, falta
postura, QI suficiente. Me diga alguma coisa que ainda não sei. Malandros
como você muitos finados contei. Não sabe se quer dizer, veja só você, o
número de cor do seu próprio RG? Então, príncipe dos burros, limitado. Nesse
exato momento foi coroado. Diga qual a sua origem, quem é você? Você não sabe
responder. Negro Limitado. - Então,
vocês que fazem um RAP aí, são cheios de ser professor, falar de drogas,
policia e tal, e aí, mostra uma saída, mostra um caminho e tal, e aí? -
Cultura, educação, livros, escola... Crocodilagem demais, vagabundas e
drogas. A segunda opção é o caminho mais rápido. E fácil. A morte percorre a
mesma estrada é inevitável. Planejam nossa extinção. Esse é o título da nossa
revolução; segundo versículo. Leia, se forme, se atualize, decore. Antes que
os racistas otários fardados de cérebro atrofiado, os seus miolos estourem e
estará tudo acabado. Cuidado...! Um boletim de ocorrência com seu nome em
algum livro, em qualquer arquivo, em qualquer distrito: caso encerrado. Nada
mais que isso. Um negro a menos contarão com satisfação. Porque é a nossa
destruição que eles querem. Física e mentalmente, o mais que puderem. Você
sabe do que estou falando. Não são um dia nem dois... São mais de 400 anos.
Filho é fácil qualquer um faz. Mas criá-los, não, você não é capaz. Ele
nasce, cresce, e o que acontece? Sem referência a seguir, você terá que ouvir.
Um mau aluno na escola certamente ele será. Mais um menino confuso no quarto
escuro da ignorância. Se o futuro é das crianças? Talvez um dia de você ele
se orgulhará! Você tem duas saídas: ter consciência ou se afogar na sua
própria indiferença. Escolha o seu caminho... Ser um verdadeiro preto, culto
e formado. Ou ser apenas mais um negro limitado. - É, consciência, consciência, e os outros manos, você é
consciente sozinho? - Faça por você mesmo e não por mim. Mantenha distância
de dinheiro fácil. De bebidas demais, policiais e coisas assim. Enfim, de
modo eficaz. Racionais declaram guerra contra aqueles que querem ver os
pretos na merda. E os manos que nos ouvem irão entender que a informação é
uma grande arma. Mais poderosa do que qualquer PT carregada. Roupas caras de
etiqueta, não valem nada. Se comparadas a uma mente articulada. Contra os
racistas otários é química perfeita. Inteligência e um cruzado de direita
será temido e também respeitado. Um preto digno e não um negro limitado. - Pode crê, tem tudo a ver, não é não?
Racionais, fio da navalha, podem contar comigo. - É isso aí, valeu.
Racionais MC’s, Escolha o seu caminho, Zimbabwe Records/1982 - www.geocities.com/Eureka/Plaza/1704
RELIGIÃO –
OGUM: O DESBRAVADOR
Entre os
Orixás da floresta, Ogum é o primeiro e maior entre todos os caçadores, o
Orixá que abriu as picadas na mata e conduziu a humanidade à civilização e ao
progresso. Contudo, ao descobrir os prazeres da guerra e da conquista, Ogum
percebeu sua grande vocação e utilizou sua arte, a de ferreiro, para produzir
as armas que garantiriam a vida e o sustento dos seres humanos. Com suas
habilidades de ferreiro, Ogum não criou apenas espadas e lanças, fez também
arados, enxadas, pás e outros instrumentos indispensáveis para o plantio.
Portanto, a grande guerra de Ogum é pela sobrevivência e suas ‘armas’ não
visam a destruição, pelo contrário, são utensílios que constroem: sejam as
leiras dos campos cultiváveis, auxiliando nas plantações, seja o progresso,
representado pelas estradas e pela tecnologia. Ogum é o Orixá do avanço, da
vanguarda. O guerreiro obstinado que jamais desiste de uma batalha sem antes
atingir seus objetivos. Ogum é o Orixá que insiste onde todos já desistiram,
por isso seu nome tornou-se sinônimo de guerra e vitória. Na África, Ogum
reinou na cidade de Ire, e expandiu seu território por diversas cidades
vizinhas. Ogum chegou a ser regente de Ifé quando Odudua, seu pai, esteve
impossibilitado. Não existe na África Negra cidade que não se curve diante de
Ogum, seja por seu poderio militar, seja por sua benevolência e senso de
justiça – que nunca permitiu que seu povo sucumbisse à fome. Ogum é o Orixá
mais cultuado e mais amado em toda a África. Nas terras de Irê, Ogum era o
senhor absoluto. Em sua honra, sem determinadas ocasiões, os moradores faziam
voto de silêncio, não diziam nenhuma palavra e jejuavam o dia todo. E foi em
um desses dias que Ogum chegou em sua aldeia. Ninguém atendeu os seus pedidos
nem respondeu as suas perguntas. Ele se irritou e passou a quebrar tudo que
achou pela frente, e logo reverteu sua ira sobre as pessoas. Muitas cabeças
rolaram até que seu filho trouxe suas oferendas preferidas e explicou que em
sua honra nenhum habitante da cidade deveria falar naquele dia. Então, Ogum
lamentou sua violência desenfreada e declarou que já havia vivido o bastante.
Baixou a ponta de sua espada ao chão e desapareceu no interior da terra entre
ruídos ensurdecedores, e disse algumas palavras que, repetidas no decorrer de
uma batalha, o trazem de volta em socorro de quem o evocou, mas se não
encontrar o inimigo é contra o imprudente que ele se voltará. Em todos os
cantos da África Negra, Ogum é conhecido, pois soube conquistar cada espaço
daquele continente com sua bravura. Matou muita gente, mas matou também a
fome de muitas pessoas, por isso, antes de ser temido, Ogum é amado. FONTE:
Revista Orixás nº 2, pgs. 10 e 11, Editora Minuano, 2002, [email protected] CADERNOS NEGROS 25 ANOS: UM JUBILEU DE PRATA QUE VALE
OURO O que os
Cadernos Negros significam para mim, como afro-americana? Cadernos Negros são
uma mostra do talento e da luta dos negros brasileiros. A primeira vez que os
vi, fiquei impressionada com as capas que afirmam a beleza do negro, da
família negra, e da mulher negra. Ainda mais importante foi verificar que em
cada volume havia informações sobre os participantes, valorizando-os
individualmente. A poesia e os contos dos Cadernos Negros nos convidam a
leituras múltiplas e por vezes nos estimulam a conhecer o próprio autor.
Cadernos Negros oferecem espaço para quem quiser investir seu tempo e coração
na aventura da leitura. Eles convidam os afro-americanos a aprender português
para entrar num outro mundo, onde às vezes nos encontramos com nós mesmos e
outras vezes gritamos por não termos entendido as experiências dos outros. Fonte: 4ª
capa Cadernos Negros 24, edição Quilombhoje, São Paulo, 2001, contos, Rhonda
Michele Collier, Vanderbilt University, EUA. MOMENTOS
DE REFLEXÃO “Não
pode ser seu amigo quem exige seu silêncio ou atrapalha seu crescimento”,
Alice Walker. “Nós
estamos vivendo em face de uma civilização altamente desenvolvida. Nós
estamos vivendo num mundo cientificamente organizado, em que tudo que é feito
por aqueles que controlam, é feito através de sistemas: preparação adequada,
organização apropriada e alguns desses métodos arranjados para controlar o
mundo, é esta coisa conhecida como “PROPAGANDA”. A propaganda tem contribuído
mais destruir as boas intenções das raças e das nações, do que a própria
guerra aberta. A propaganda é um método ou um meio utilizado pelos “países
organizados” para converter outros contra o seu desejo. Nós da raça preta,
estamos sofrendo os efeitos da propaganda mais do que qualquer outra raça no
mundo: propaganda para destruir nossas esperanças, nossas ambições, a nossa
confiança em si”, Marcus Garvey. “O
Movimento Negro precisa ser propositivo. Não somente crítico”, João Batista
de Jesus Felix. “A mulher negra, esteticamente falando, é uma jóia
rara em estado bruto, que ainda não foi devidamente lapidada, e sim,
amoldou-se a conceitos tidos como mais práticos, reforçando esteriótipos
pré-concebidos, alimentando a indústria e propaganda dominantes” Oubí Inaê
Kibuko. “Não somos cidadãos, e sim, meros consumidores”,
Milton Santos. “A
felicidade do negro é uma felicidade guerreira”, Gilberto Gil e Wally
Salomão. “Hoje
estou, simplesmente, em gestação de amor”, Geni Guimarães. “Seja
escuro, mas seja escuro e verdadeiro”, Thaide. “Não é
moda, quem pensa incomoda. Não morre pela droga, não vira massa de manobra”,
MV Bill. “Do
couro seco do atabaque um toque anunciando mudanças”, Sônia Fátima Conceição.
“Continue
preto. Os que não são permaneçam verdadeiros”, Mano Brown. “Quem
não se acostuma com o sistema se levanta contra ele”, RZO. “Às
vezes, o passado nos pega, imperativo à nossa vontade em vivermos apenas o
presente”, Oubí Inaê Kibuko. “Quando
as estrelas dormem, os dedos da paixão desenham em mim muitas paixões”,
Esmeralda Ribeiro. “Há
momentos em que perdemos a oportunidade de convivermos com alguém por medo
enfrentarmos a nós mesmos”, Adelina Fernandes. “Em tempos
in-certos a cidade terá poemas abandonados tomando-a de assalto” Miriam
Alves. QUILOMBO VIRTUAL Cabeças Falantes Online - edições publicadas: http://igspot.ig.com.br/arquivocf www.quilombhoje.com.br - www.falapreta.org.br - www.planetapreto.hpg.com.br --www.okun.hpg.com.br - www.enraizados.cjb.net http://br.groups.yahoo.com/group/negrosepoliticaspublicas/
- www.firmaproducoes.com.br -
www.portalafro.com.br www.redejovem.org.br - www.bocadaforte.com.br - www.ileaiye.com.br - www.midiaindependente.org http://br.groups.yahoo.com/group/discriminacaoracial/messages
- http://membro.intemega.com.br/educafro/ http://www.romancecapoeira.hpg.ig.com.br/index.htm#
- http://www.macua.com/localconversa/index.shtml
www.olodum.uol.com.br - http://www.brazilphotobank.com/photographers/andre_cypriano/photo20.html
FRANQUIA
SOCIAL: REDE COMUNITÁRIA DE EDUCAÇÃO
A Educafro está caminhando para grande rede comunitária.
Você sabia que há várias empresas do setor industrial que adotaram a Franquia
Social com sucesso, beneficiando a comunidade “carente”? A Iochpe-Maxion -
com o programa “Formare”, já profissionalizou 500 jovens através da doação
voluntária de seus próprios funcionários. Vamos nessa família Educafro, com
muito Axé e união, entrar em campo e darmos um “Show de Bola” em prol do povo
pobre e afro-descendente, partilhando os nossos serviços e socializando as
vitórias. Maiores informações: [email protected] AGENDE-SE -
AGENDE-SE - AGENDE-SE - AGENDE-SE
INTIMAÇÃO
LITERÁRIA
6 e 7/12 – Lançamento de Cadernos Negros 25 anos,
poemas. Dia 6, sexta-feira, das 19hs30 às 22hs00 na Biblioteca Mário de
Andrade, Rua da Consolação nº 94, Centro/SP, Metrô Anhangabaú, entrada
franca. Dia 7, sábado, das 20hs00 até o último presente, no Clube Piratininga,
Alameda Barros nº 376, bairro Santa Cecília, Metrô Marechal Deodoro, preço do
convite com direito a um livro, à confirmar. Caravanas e convites antecipados
em quantidade terão desconto. Informações e reservas: Telefax: (011) 6231-5783 – e-mail: [email protected] MÊS DE
FORMAÇÃO INTERNA – EXIBIÇÃO DE VÍDEOS
Dia
03/11/02: Quilombo;
10/11/02: Assalto ao trem pagador;
17/11/02: Black Panthers; 30/11/02: Geraldo Filme. Horário: 10:00 às
14hs00. Após o filme haverá debate. Entrada franca. Local:
Centro de Documentação e Biblioteca Comunitária “Solano Trindade”. Av. dos
Têxteis nº 1.050, Cid. Tiradentes, SP/SP, CEP 08490-600, (011) 6964-0401 [email protected] GRUPO DE ESTUDOS DE GÊNERO E FEMINISMO 04 à 18/11 - Três encontros com o feminismo. Local:
Campus Gragoatá/UFF/Niterói/RJ, sala 216, bloco “N”. Horário: 13hs00hs às
1500hs. Informações: (Andreza e/ou Fabiana): [email protected] RAPPERS DE
FORTALEZA MANDANDO SEU RECADO POR CONTA PRÓPRIA
9/11: Lançamento da Coletânea MCR
FAVELA POR CONTA PRÓPRIA. Local: Escola Municipal Frei Tito de Alencar,
Avenida Dioguinho nº 5925, Caça e Pesca, Fortaleza/Ceará, a partir das
19hs00. Essa coletânea reúne 9 grupos de rap da periferia de Fortaleza
e Região Metropolitana. Contatos: (085)
223- 8005/9119-0786, [email protected] FESTA
DA RAÇA NEGRA – REPARAÇÕES JÁ!
20/11 – Praça da República, São
Paulo/SP, das 14hs00 às 19hs00. Shows com MV Bill, Diário do Rap,
Max B.O., Grupo VZN, Tribunal MC’s, Jamal, De Menos Crime, Capoeira Abolição,
Associação Nossa Senhora Capoeira, Repercussão Urbana, Prof. Pablo Lino
Atalaia, Irmandade X e Tribo. Exposição de artesanato, culinária
afro-brasileira, Internet, dança afro, samba, literatura. Informações: (011)
6839-3481/3101-1913 ou por e-mail: [email protected] SEMANA DA
CONSCIÊNCIA NEGRA - APNS DE SALVADOR - PROGRAMAÇÃO GERAL
Dia 03/11 -
domingo: reflexão na Igreja Presbiteriana Unida de Itapagipe - Bíblia e
Negritude - às 9hs00; 13/11: quarta-feira - Debate com turmas do ITEBA às
19hs00; 16/11: sábado - Concurso de beleza
negra em Alto de Coutos às 18hs00; 18/11: segunda - reflexão sobre o negro e
o subúrbio com o professor José Eduardo - no Sofia Centro de Estudos - Escada
- às 19:00; de 18 à 23/11: Exposição Negritude - no Sofia - sempre das 9hs00
às 17hs00; 24/11: domingo - Arrastão Zumbi contra o racismo - às 9hs00 da
manhã: caminhada que sairá da Escadaria até o Parque São Bartolomeu -
participação: OLODUM.
ENCONTRO DE
JONGUEIROS EM PINHEIRAL/RJ
22/11, 18hs00: 1ª mesa redonda (clube Santos);
20hs00: 2ª mesa redonda e Abertura Oficial (clube Santos); 23/11 (CIEP);
09hs00: Chegada das comunidades jongueiras; 12hs30: Almoço; 14hs00: oficinas (as comunidades falaram sobre seus
trabalhos); Praça Brasil; 18hs00: Apresentação das comunidades jongueiras.
Algumas das Comunidades participantes: Pinheiral, Jongo da Serrinha, Valença,
Angra dos Reis, Guaratinguetá, Pádua, Miracema, Barra do Piraí. Contato:
Fatinha - Pinheiral (24) 9225-1311 FECONEZU
(FESTIVAL COMUNITÁRIO NEGRO ZUMBI) 2002
23 e 24/11 - Itapetininga/SP - Informações: telefax
(19) 3267-2375 – segunda à sexta-feira. Excursão cultural ao FECONEZU, dia 22/11, à meia-noite, saída Teatro
Municipal de São Paulo/SP. Informações: (011) 6107-3029 com Unla Debibi (à
noite) ou 5625-7916 com Nívea. SERVIÇOS ·
ROSANGELA & VANDERLI Afro-cabeleireiros - Rua Igarapé Água Azul nº
688/11-B, Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, (011)
6964-8529/6964-5268/6964-3187. · OUBÍ
INAÊ KIBUKO - fotógrafo - [email protected] -
(011) 9750-1542. · JUAREZ
- Serviços de Funilaria, Rua Sóter de Araújo, 72, Cidade Tiradentes, (011)
6285-1701. ·
ÂNGELA - Serviços
Contábeis - [email protected]
- (011) 6523-2797 e/ou 276-9952. ·
ORLANDO - Serviço de manutenção residencial e predial - (011)
6282-0329. ·
PENSÃO DA TIA ÁUREA - somente para rapazes estudantes. Rua Dr. Raul de
Carvalho nº 1463, Bairro Boa Vista, São José do Rio Preto/SP, CEP 15025-300 -
(017) 231-6362. |
CABEÇAS
FALANTES ONLINE - Informativo afro-cultural
brasileiro – edição mensal Editor
responsável: Oubí Inaê Kibuko – Caixa Postal 30255 – Cidade Tiradentes –
SP/SP-BR – 08471-970 [email protected]
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Assunto. |
CABEÇAS FALANTES ONLINE - Informativo Afro-Cultural
Brasileiro Ano I – Edição nº 11 – Dezembro/2002 – Leia e
Divulgue http://igspot.ig.com.br/orisfalantes
- http://igspot.ig.com.br/arquivocf
- www.cabecasfalantes.hpg.com.br |
EDITORIAL ...Amigo Leitor, o carnavalesco 20 de novembro passou.
Avanços ocorreram. Decepções e desvirtuamentos também. Dezembro 2002, fim de
ano, prenúncio de outros. Breve parada para balanço, reflexões, expectativas
e esperanças depositadas nos 365 dias e 8.760 horas que estão porvir. Qual
vai ser sua atitude? “CABEÇAS FALANTES ONLINE” completa onze edições
ininterruptas e três especiais. O saldo para nós é positivo! E o compartilhamos
contigo. Fomos contemplados por novas
amizades e relações construtivas. Ampliamos contatos e intercâmbios nacionais
e internacionais. Aprendemos muito. Agradecemos aos Orixás, a todos e a
todas, que direta ou indiretamente, têm colaborado conosco ao longo deste
percurso para chegarmos até aqui. E, continuam nos injetando forças
estimulantes para prosseguirmos. Como os nomes são muitos, omitiremos para
não sermos injustos... A dimensão, importância e conseqüência deste trabalho
não sabemos dizer. Afinal: “O barato é louco e o processo é lento”.
Por sermos suspeitos, passamos a palavra para você ser o porta-voz de CABEÇAS
FALANTES ONLINE. Apenas estamos cientes que saímos do estéril discurso, da
cômoda reclamação por falta de espaço nos meios de comunicação e partimos
para a prática, utilizando a ferramenta que dispúnhamos: a Internet. Um fenômeno que privilegia
poucos e coloca muitos à margem do processo. Inserirmo-nos nesta revolução
digital é imprescindível para avançarmos em termos de formação e informação.
Por isso, tornamo-nos militantes virtuais assumidos com a responsabilidade
social de lutarmos conjuntamente contra mais este mecanismo de exclusão.
Tanto que devemos pressionar o novo presidente da república, a realização e
comércio do computador popular desenvolvido pela UFMG (Universidade Federal
de Minas Gerais), cujo projeto prometido pelo governo FHC acabou sendo
protelado. Como também fortalecer iniciativas desenvolvidas pelo Comitê de
Democratização da Informática (CDI – www.megaajuda.com.br)
que está angariando computadores, através de doações voluntárias, dedutíveis
no Imposto de Renda. Se CABEÇAS FALANTES ONLINE necessita ser melhorado,
compete a você apontar as falhas e dispor-se a ajudar-nos a encontrar o
caminho correto, somando-se conosco em 2003... A coletividade afro-brasileira
precisa em peso ocupar, fazer-se presente, ser visível e, sobretudo,
respeitada em todas as esferas da sociedade como determina a Constituição
Brasileira para todos os cidadãos e cidadãs. Não se trata de esmola ou
piedade, compensadas através de cotas. Se temos deveres, por extensão temos
direitos de cidadania ainda não pagos, a serem ressarcidos com juros,
correção monetária e taxa cambial. Compete-nos cobrá-los com projetos,
atividades, ações reparativas e propositivas. CABEÇAS FALANTES ONLINE é
somente uma gota d’água, visando amenizar nossa imensurável sede secular,
tendo em vista nosso atraso e o muito a ser feito. Principalmente por nós
mesmos para sermos dignos da palavra: COMUNIDADE NEGRA. Pessoalmente, encaro
a questão de identidade como fator mais preponderante do que o debate racial.
A parceria com aliado sangue bom é mera conseqüência irreversível de tudo que
realmente nos propusermos a resgatar e empreender neste milênio. E bem-vindas as alianças serão se vierem
com o intuito de serem agentes multiplicadores no meio em que vivem sem
dividir, distorcer ou manipular nossas propostas... Como não comemoro Natal
por considerá-lo uma data comercial, recheada de falsidade, demagogia e
despida de seu verdadeiro fundamento. Independente de crença religiosa, abro
meu coração e o ofereço como presente, contendo o sincero e fraterno desejo
de Boas Festas e Feliz 2003 com saúde, axé, paz... a você, familiares e amigos.
EU ADORO ANO NOVO! E almejo que 2003 seja o ano internacional da consciência
negra em todos os sentidos. De nossa parte, nos empenharemos para que esta
aspiração torne-se realidade. A luta continua e o convite está feito. Vejo
você em janeiro... Oubí Inaê Kibuko – Editor responsável – [email protected]
...MISSA DOS QUILOMBOS: UMA REFLEXÃO PARA SUA CONFRATENIZAÇÃO NATALINA...
“Em nome de um deus supostamente branco e colonizador, que
nações cristãs têm adotado como se fosse o Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus
Cristo, milhões de Negros vem sendo submetidos, durante séculos, à
escravidão, ao desespero e a morte. No Brasil, na América, na África mãe, no
Mundo. Deportados, como “peças”, da ancestral Aruanda, encheram de mão de
obra barata os canaviais e as minas e encheram as senzalas de indivíduos
desaculturados, clandestinos, inviáveis. (Encheram ainda de sub-gente – para
os brancos senhores e as brancas madames e a lei dos brancos – as cozinhas, os
cais, os bordéis, as favelas, as baixadas, os xadrezes). Mas um dia, uma
noite, surgiram os Quilombos e entre todos eles, o Sinai Negro de Palmares, o
Moisés Negro, Zumbi. E a liberdade impossível e a identidade proibida
floresceram, “em do Deus de todos os nomes”, “que faz toda a carne, a preta e a branca, vermelhas no sangue”.
Vindos “do fundo da terra”, os Negros resolveram forçar “os novos Albores” e
reconquistar Palmares e voltar a Aruanda. E estão ai, de pé, quebrando muitos
grilhões – em casa, na rua, no trabalho, na igreja, fulgurantemente negros ao
sol da Luta e da Esperança. Para escândalo de muitos fariseus e para alívio
de muitos arrependidos, a Missa dos Quilombos confessa culpa cristã. Na
música do negro mineiro Milton e de seus cantores e tocadores, oferece ao
único Senhor “o trabalho, as lutas, o martírio do Povo Negro de todos os
tempos e de todos os lugares”. E garante ao Povo Negro a Paz conquistada da
Libertação. Pelos rios de sangue negro, derramado no mundo. Pelo sangue do
Homem “sem figura humana”, sacrificado pelos poderes do Império e do Templo,
mas ressuscitado da Ignomínia e da Morte pelo Espírito de Deus, seu Pai. Como
toda verdadeira Missa, a Missa dos Quilombos é pascal: celebra a Morte e
Ressurreição do Cristo. Pedra Tierra e eu, já emprestamos nossa palavra,
iradamente fraterna à Causa dos Povos Indígenas, com a Missa da Terra Sem
Males”, emprestamos agora a mesma palavra, com esta Missa dos Quilombos. Está
na hora de cantar o Quilombo que vem vindo: está na hora de celebrar a Missa
dos Quilombos, em rebelde esperança, com todos “os negros da África, os Afros
da América, os Negros do Mundo, na Aliança com todos os Pobres da
Terra”. FONTE: Texto de Pedro Casaldáliga, contra-capa do LP
“Missa dos Quilombos”. Milton Nascimento, Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra,
Caraça/MG, Ariola Discos, 1982. VIOLÊNCIA
HISTÓRICA – UM CARTUN AFIADO
O cartunista Maurício Pestana é
autor de notórias obras ativistas e engajadas em favor de um movimento de
conscientização racial do negro brasileiro, mantendo-se fiel a seu estilo
desde os seus primeiros cartuns publicados no O Pasquim. Com esta graphic
novel, VIOLÊNCIA HISTÓRICA, Pestana faz sua primeira investida no gênero de
quadrinhos de longa-metragem. Ele não mede palavras nem situações gráficas
para ser contundente e, muitas vezes, até mesmo agressivo para atingir seu
objetivo, que é brandir um grito de dor para lamentar a triste realidade que
o negro vive em nosso país. Esta obra passa a limpo a trajetória de milhares
de pessoas que foram arrancadas de suas tribos na África e, sob maltratos,
atiradas nos piores lugares de nosso Brasil colonial. Sua narrativa, em tom
direto e cru, transporta-nos, junto do protagonista de VIOLÊNCIA HISTÓRIA,
para uma viagem no tempo, retornando para Benin, na África de 1798. Depois,
salta para um quilombo no Brasil de 1895 e, sucessivamente, pula para vários
períodos da História, chegando até os dias atuais, sempre enfocando as
difíceis condições de vida de uma nação negra. Enfim, este álbum narra de
maneira implacável a sofrida e triste saga de um povo, vivendo à margem da
sociedade, lutando incessantemente por igualdades de condições.
FONTE: 4ª capa da obra, Editora Opera Graphica, Vinhedo/SP
- [email protected] - [email protected] UNIVERSIDADE
ZUMBI DOS PALMARES
A comunidade negra de São Paulo comemorou o Dia da
Consciência Negra lançando, na Assembléia Legislativa, as bases da futura
Universidade Zumbi dos Palmares, dedicada a afro-descendentes, que deverá ser
inaugurada em 2003, em São Bernardo do Campo. A faculdade de Administração,
idealizada para capacitar empresários negros, será a primeira da nova
entidade. A razão para a escolha do curso foi explicada pelo criador da
entidade, José Vicente: “Nunca ninguém nos ensinou contar dinheiro. Os
empresários e administradores que formamos vão trabalhar com um mercado de
produtos étnicos estimados em R$ 6 bilhões”. Vicente, presidente da
organização não-governamental Sociedade Afro-Brasileira de Desenvolvimento
Sócio-Cultural (AFROBRAS), recebeu uma primeira parcela de R$ 10 mil da
empresa americana Bellsouth para a biblioteca da nova unidade. O cheque foi
entregue por Joseph Beasley, diretor-geral da Rainbowpush, entidade da qual
participa o reverendo Jesse Jackson. O governador Geraldo Alckmin (PSDB)
assinou a cessão de uma área onde ficará o centro de ensino, que será montado
pelo Centro Paula Souza. Ao mesmo tempo, foram firmados convênios de
cooperação com a Universidade da Flórida, representada pela professora Eva
Watton, uma das 111 faculdades destinadas a negros nos Estados Unidos. Os
futuros alunos da Universidade Zumbi dos Palmares – nem todos necessariamente
negros – terão a oportunidade de estudar na Flórida, onde também deverão ser
capacitados os professores brasileiros. FONTE: Metrô News, Caderno Geral, pg. 12, 21/11/2002, [email protected] QUILOMBO
VIRTUAL 8Cabeças Falantes Online - edições publicadas: http://igspot.ig.com.br/arquivocf
- www.quilombhoje.com.br www.enraizados.cjb.net - www.falapreta.org.br - www.planetapreto.hpg.com.br - www.okun.hpg.com.br http://br.groups.yahoo.com/group/negrosepoliticaspublicas/
- www.firmaproducoes.com.br -
www.portalafro.com.br www.redejovem.org.br - www.bocadaforte.com.br - www.ileaiye.com.br - www.midiaindependente.org http://br.groups.yahoo.com/group/discriminacaoracial/messages
- http://membro.intemega.com.br/educafro/
http://www.romancecapoeira.hpg.ig.com.br/index.htm#
- http://www.macua.com/localconversa/index.shtml www.olodum.uol.com.br
- http://www.brazilphotobank.com/photographers/andre_cypriano/photo20.html
AFRO-INTERVENÇÕES
NOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO: IMPRENSA E ETNIA
Os conflitos étnicos e a reivindicação política de
diversos grupos minorizados são os
grandes desafios que se impõem para o jornalista. Como
cobrir todos estes fenômenos sem reforçar estereótipos e preconceitos? A década de 90 talvez seja um
dos mais importantes períodos da história mundial. É nela que os conflitos
tomam uma outra dimensão e a velocidade dos acontecimentos – sociais,
políticos e culturais – se impõe de uma maneira turbinada. Um fenômeno que se
verifica também no Brasil e tende a se fortalecer, ainda mais, nestas
primeiras décadas do século XXI. Para a imprensa, o excesso de pautas e a
precipitação de acontecimentos têm representado desafios de coberturas
jornalísticas. Hoje não existe mais a
bipolarização do mundo (Estados Unidos versus antiga URSS), que foi a
principal característica de quase 50 anos de Guerra Fria. Ao contrário, o que
se verifica é uma recrudescência de projetos de autonomia nacional, étnicos
ou religiosos, separatistas e de luta armada em vários países europeus,
africanos, asiáticos e das Américas. Para se ter uma idéia os conflitos podem
ser agrupados por motivações étnicas ou religiosas (Afeganistão, Argélia,
Armênia, Azerbaijão, Bósnia-Herzegóvina, Burundi, Egito, Israel, Líbano,
Libéria, Palestina, Ruanda, Somália, Sudão, Tadjiquistão e Zaire); lutas
separatistas (Chechênia, Córsega, Curdistão, Espanha, Geórgia, Irian Jaya,
Irlanda do Norte, Saara Ocidental, Sri Lanka, Tibet, Timor Leste) e o
ressurgimento, na década de 90, de movimentos armados de extrema esquerda em
países latino-americanos, como tem sido o caso da Colômbia e mesmo do México.
BRASIL E OS GRUPOS MINORIZADOS -
Não se pode afirmar que os conflitos entre brancos e negros no Brasil tenham
a mesma dimensão dos conflitos étnicos internacionais. Por ser um país
marcadamente mestiço, o separatismo e os confrontos diretos se tornam mais
diluídos, porém não menos graves. Apesar disso, é possível observar na
realidade brasileira a conformação, ainda embrionária, de conflitos étnicos
que podem insurgir de forma mais intensa no futuro. Este tipo de conformação
começa a ser percebido pelo isolamento e confinamento da população negra em
alguns espaços (tanto no âmbito físico como social). Na conformação
territorial das grandes cidades, por exemplo, a maioria dos afro-descendentes
brasileiros está confinada nas favelas, cortiços ou periferias. Ao sair deste
espaço, esta população negra é subjugada pelas forças auxiliares do governo
(Polícia Militar) ou por seguranças particulares, contratados por empresas ou
pessoas físicas, que quase sempre a tomam por “marginal” e como uma ameaça
natural ao patrimônio, à vida e à manutenção do status quo das classes
economicamente dominantes ou, até mesmo, da classe média (que introjeta os
valores dos grupos dominantes). Quando esta maioria negra não é subjugada por
estas forças militares ou de segurança privada, é discriminada por outros
elementos sociais, que exercem controle de acesso de pessoas (como porteiros,
selecionadores de vagas de empregos e outros profissionais), que dificultam o
seu acesso a prédios, empregos, enfim, ao pleno exercício da cidadania. Este
controle do acesso de afro-descendentes também acontece nos meios de
comunicação social. Em um país com mais de 70 milhões de indivíduos negros, o
que corresponde a mais de 40% da população brasileira, conforme dados do
IBGE, é de se estranhar uma parcela tão pequena de negros ocupando espaço nos
veículos. Porém, não se pode negar que houve alguma mudança nesta última
década. Mudanças pouco significativas na publicidade, nas telenovelas e,
pequena, também, ao verificar a quantidade de apresentadores e repórteres de
telejornais negros. No entanto, enquanto informação, notícia, é possível
perceber que desde 1988 o segmento afro-descendente teve uma mudança não
somente quantitativamente significativa, mas também no conteúdo da
informação. Conforme a pesquisa de Mestrado A representação do negro em
jornais no Centenário da Abolição da escravatura no Brasil, que defendi
em 1993, pela Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo,
foi possível perceber que o ano de 1988 representou um desafio e uma mudança
na forma de tratamento da imprensa sobre o segmento afro-brasileiro.
Considero um marco na forma de tratamento que a imprensa dava para o segmento
afro-descendente. Esta mudança foi impulsionada por alguns acontecimentos
básicos, que faziam emergir a questão das relações étnicas no Brasil. Estes
acontecimentos eram o Centenário da abolição da escravatura no Brasil, a
organização mundial contra o apartheid e a elaboração da nova
Constituição brasileira. Os jornais, na cobertura de notícias envolvendo o
segmento afro-brasileiro, em 1988, se mostraram bastante diferenciados da
mídia eletrônica ou da publicidade. Foi neste tipo de veículo que o negro
teve maior espaço enquanto notícia. Um fenômeno que vem se repetindo
continuamente desde o final dos anos 80. A postura da imprensa frente a todas
estas mudanças políticas tem sido bastante oscilante. Ora a imprensa avança
na discussão, outras vezes fica num discurso superficial e inócuo. O
jornalista, através do improviso, vai pela intuição, transitando entre estes
fenômenos. Porém, este modelo já não tem mais dado conta das muitas
realidades sociais. Assim, os profissionais de imprensa que não estiverem
preparados para coberturas jornalísticas sobre o segmento negro podem
reforçar atos de racismo, discriminação e estereótipos, mesmo quando a linha
editorial do jornal não for esta. Vale mencionar aqui que os jornais fazem
questão de anunciar que não compactuam com qualquer tipo de discriminação ou
racismo. O que de fato parece acontecer. Mas, se existe esta preocupação, é
porque o problema anda rondando as redações. DA FORMAÇÃO DO JORNALISTA -
Todos estes elementos que povoam o cotidiano da imprensa brasileira foram
suficientes para chamar a atenção de que o jornalista faz, mas nem sempre
sabe porque faz. Este tipo de problema abre espaço para uma outra questão, a
de que os cursos de Jornalismo, dentro das Universidades, precisam se
repensar. Atualmente, a universidade tomou para si a responsabilidade de
formar jornalistas-técnicos para o mercado, quando deveria estar formando
jornalistas com grande conhecimento interdisciplinar. Pergunte a algum
profissional da área de imprensa diplomado se ele sabe quais são os teóricos
da área de Comunicação ou do Jornalismo, se ele sabe a história da imprensa,
se sabe dissertar sobre a contextualização da imprensa na reconfiguração do
planeta? Infelizmente, a maior parte não vai estar apta a demonstrar
conhecimento em tais questões. A culpa não é apenas do jornalista, mas de
todo um sistema mecânico, industrial, que o leva a se tornar uma mão-de-obra
executora, repetitiva. A universidade não dá oportunidade para que ele
conheça com profundidade os teóricos da sua própria área de conhecimento e os
cursos têm se tornado aberrações. Tanto que é comum o próprio estudante de
Jornalismo classificar o curso como sendo light.
A melhor expressão da lei do menor esforço. Por outro lado, os empresários
dos veículos de comunicação insistem em desprezar a necessidade de um curso
de Jornalismo para se formar jornalista. "Para que o curso de jornalismo
se o jornalista se faz no dia-a-dia?", argumentam. No entanto se esquece
que o jornalista é um profissional diferenciado que mexe com as realidades
passadas, presentes e futuras e, por isso mesmo, deve ter uma visão além do
senso comum. É aí que deve entrar a universidade para que o estudante de
Jornalismo possa entender passado-presente-futuro dentro de um mesmo
processo. Ao abordar um fato presente entendê-lo como uma conseqüência do
passado e projetá-lo para o futuro. As universidades e os cursos de
Jornalismo estão ruins, reconheço, mas não é possível matar os carrapatos,
matando a vaca. Faço todas estas colocações enquanto jornalista, professor de
Jornalismo e pesquisador - em nível de Doutorado. Como jornalista, observo a
limitação de muitos colegas que sequer têm tempo de ler um livro ou até mesmo
jornais e revistas; como professor, analiso o comportamento dos alunos e
observo que existe um pacto de pouco se fazer e pouco se exigir; como
pesquisador tenho constatado que o produto da imprensa, que é a informação,
está sofrendo cada vez mais agressões. Tenho analisado matérias publicadas,
programas de televisão e rádio e constato que no Jornalismo o critério, a metodologia,
a reflexão, ainda funcionam de maneira relativa. A improvisação ainda é a
grande sacada da nossa imprensa. Faz, se der certo bem, se não der muda. Este
tipo de comportamento pode trazer conseqüências desastrosas. A proposta do
meu trabalho tem sido o de concentrar esforços para que a realidade de jornalistas mal-informados e
mal-formados, sem um espírito crítico ou inquieto, possa se transformar. A
primeira tentativa de mudança tem sido a de instrumentalização dos estudantes de Jornalismo na cobertura
de grupos minorizados. Isto levaria a compreender que uma matéria
jornalística pode ser um elemento de inquietação e reflexão social,
extrapolando a visão do senso comum. Na tese de Doutorado, Olhares negros:
percepção crítica de afro-descendentes sobre a imprensa e outros meios de
Comunicação, defendida na Escola de Comunicações e Artes, da Universidade
de São Paulo, constatei que os profissionais negros da área de Comunicação
reprovam a maneira como os veículos retratam os afro-descendentes e outros
segmentos. Mas, constatei também que eles ainda não sabem qual seria o melhor
modelo de abordagem desta temática pela imprensa. Tudo isso significa que
para as próximas décadas a imprensa passa a ter o desafio de cobertura
jornalística de segmentos sociais com pouca representação política na
sociedade. Aliás, os conflitos étnicos e a demonstração de insatisfação e
exigência de representação social e política de outros grupos minorizados
(como homossexuais, mulheres, portadores de deficiências e outros segmentos)
vêm eclodindo em todo o mundo. O desafio é resgatar a cidadania destes
grupos, denunciar os crimes de discriminação sem cair no estereótipo e
promover a justiça social. Ricardo
Alexino Ferreira, jornalista, [email protected])
LITERATURA 1
- O TANTO QUE EU ERA IGNORANTE
Você sabia que existiam grandes cidades na África
maiores que Milledgeliville e ate Atlanta, milhares de anos atras? Que os
egípcios que construíram as pirâmides e escravizaram os israelitas eram
pretos? Que a
Etiópia sobre a qual nos lemos na Bíblia era antigamente a África toda? Pois eu li e li ate que eu achei que meus olhos iam cair. Eu li que
os africanos nos venderam porque gostavam mais do dinheiro do que dos
próprios irmãos e irmãs. Como viemos para a América em navios. Como fomos
obrigados a trabalhar.
Eu nunca tinha percebido o tanto
que eu era ignorante, Celie. O pouco que eu sabia sobre mim mesma não teria
dado para encher um dedal! E imagine que Miss Beasley sempre dizia que eu era
a criança mais inteligente que ela já tinha ensinado! Mas eu agradeço a ela
por uma coisa em particular que ela me ensinou, me mostrando como aprender
por mim mesma, lendo e estudando e escrevendo claramente. E por Ter mantido
dentro de mim de alguma forma vivo o desejo de SABER. (...) Ah, Celie, neste mundo tem
pessoas pretas que querem que a gente aprenda! Querem que a gente enxergue as
coisas com clareza! Nem todos são maus como papai e o Albert, ou esmagados
como a mamãe. A Corrine e o Samuel têm um casamento maravilhoso. A única
tristeza deles no inicio foi não poder ter filhos. E aí, eles dizem, “Deus”
enviou Olívia e Adam para eles. Eu
queria dizer, Deus enviou também a irmã e a tia deles, mas não disse. Sim,
Celie, os filhos que “Deus” enviou para eles são os seus filhos. E eles estão
sendo criados com muito amor, caridade cristã e consciência de “Deus”. E agora “Deus” me enviou aqui para
olhar por eles, protegê-los e amá-los. Cobri-los com todo o amor que eu sinto
por você. É um milagre, não é? E sem dúvida, impossível para você acreditar. Mas, por outro lado, se você
pode acreditar que estou na África, como estou, você pode acreditar em
qualquer outra “coisa”. Sua irmã, Nettie. FONTE: A Cor Púrpura, Alice Walker, Circulo do Livro,
1982. MOMENTO DE
REFLEXÃO: NINGUÉM CONHECE VOCÊ QUANDO VOCÊ ESTÁ POR BAIXO
Eu já vivi como um milionário. Gastando todo o meu
dinheiro sem me preocupar. Sempre pagando as farras com os meus amigos.
Comprando champagne, gin e vinho. Mas assim que eu fique de caixa baixa, eu
não pude encontrar um amigo, um lugar aonde ir. Se um dia eu puser as mãos
num dólar de novo, eu vou apertar e apertar até fazer a águia sorrir. Ninguém
conhece você quando você está por baixo. Se o seu bolso está vazio, você não
tem amigo algum. Mas assim que você se recupera todo mundo é seu amigo. É um
bocado estranho, sem dúvida. Mas ninguém quer você quando você está por
baixo. FONTE. J. Cox, Ray Charles. Revista Rock, seção Letras traduzidas, por Ana Maria
Bahiana, RELIGIÃO - ALGUMAS CONSIDERAÇÕES A palavra candomblé é sinônimo de religião
africana. Sempre foi e é usada ainda neste sentido. Isto explica muitas
coisas. Vejamos. O negro foi arrancado de sua terra e vendido como uma
mercadoria, escravizado. Aqui ele chegou escravo, objeto; de sua terra ele
partiu livre, homem. Na viagem, no tráfico, ele perdeu personalidade,
representatividade, mas sua cultura, sua história, suas paisagens, suas
vivências vieram com ele. Estas sementes, estes conhecimentos encontraram um
solo, uma terra parecida com a África, embora estranhamente povoada. O medo
se impunha, mas a fé, a crença - o que se sabia - exigia ser expresso.
Surgiram os cultos (onilé - confundidos mais tarde com o culto do Caboclo,
uma das primeiras versões do sincretismo), surgiu a raiva e a necessidade de
ser livre. Apareceram os feitiços (ebós), os quilombos. Os trezentos anos da
história da escravidão do negro no Brasil, atestam acima de tudo, a
resistência, a organização dos negros. A cultura africana sobreviveu para o
negro através de sua crença, de sua religião. O que se acredita, se deseja, é
mais forte do que o que se vive, sempre que há uma situação limite. A
religião, sua organização em terreiros (roças), foi como muito já se
escreveu, a resistência negra. Resistiu-se por haver organização. A
organização consigo mesmo. Cada negro tinha, ou sabia que seu avô teve, um
farol, um guia, um orixá protetor. No meio dos objetos traficados (os
escravos) haviam jóias raras: Babalorixás e Iyalorixás. Estes sacerdotes,
inteiros nas suas crenças, criaram a África no Brasil. Esta mágica, esta
organização reestruturante só é possível de ser entendida se pensarmos no que
é a iniciação , todo processo que implica e estabelece. A cana de açúcar do
Senhor de Engenho era plantada por Iaôs recém saídos das camarinhas, dos
roncós. A força se espalhou, o axé cresceu e apareceu na sociedade sob a
forma dos terreiros de candomblé (religião de negros yorubá como é definido
no Dicionário de Aurélio Buarque). Era coisa de negros, portanto escusa, ignorante,
desprezível e rapidamente traduzida como coisa ruim, coisa do diabo, bem e
mal, certo e errado, branco e preto. Antagonismos opressores, sem
possibilidades alternativas. O negro resolveu tentar agir como se fora
branco, para ser aceito. Ele dizia: - meu Senhor, a gente tá tocando para
Senhor do Bomfim, seu Santo, nhô! Não é para Oxalá, quer dizer, Oxalá é o Pai
Nosso, é o mesmo que Senhor do Bomfim. Sincretismo. Forma de resistência que
criou grande onus, severas cicatrizes desfiguradoras. O processo social, a
dinâmica é implacável. A imobilidade não se mantém. O filho do africano já
dizia que não confiava em negro brasileiro (o sìgìdì, por exemplo, um
encantamento de invisibilidade e criação de elemental, não foi ensinado).
Muito se perdeu, a terra africana reduziu-se a pequenos torrões, o candomblé
era eficaz; o Senhor procurava a negra velha para fazer um feitiço, para que
lhe desse um banho de folha, lhe desse um patuá. Proliferação de terreiros.
Massificação, turismo, folclore. Mas os grandes iniciados, iguais àqueles
criadores da terra africana no Brasil, ainda existem. Odé Kayode - Mãe Stella
de Oxossi, em 1983, dizia: "Iansã não é Santa Bárbara", e
explicava. Mostrou que candomblé não era uma seita, era uma religião
independente do catolicismo. A terra tremeu; algumas pessoas falavam: "-
sempre fomos à missa, sempre a última benção, depois da iniciação, era na
Igreja, fazemos missa de corpo presente quando alguém morre, não pode mudar
isso". Era a tradição alienada versus a revolução coerente, era a quebra
do último grilhão. A represa foi quebrada e as águas fertilizaram os campos
quase estéreis da sobrevivência. O negro é livre. Veio da África, tem uma
história, tem uma religião igual a qualquer outra e ainda, não é politeista,
é monoteista: acima de todos os Orixás está Olorum. Nina Rodrigues conta que
uma vez perguntou a um Babalorixá porque ele não recebia Olorum, já que este
existia. Ouvindo a seguinte resposta: "- Meu Doutor, se eu O recebesse,
eu explodia". Agora um novo limite, uma nova configuração se instala.
Neste fim de século com a corrosão das instituições religiosas tradicionais,
com o surgimento de novas religiões, com as doutrinas esotéricas
alternativas, o candomblé, agora considerado religião, é visto também como
uma agência eficiente: resolve problemas, cura doenças, acalma as cabeças. Os
brancos querem ser negros, já não se ouve "o negro de alma branca",
agora o privilégio é ser um branco de alma negra, ter ancestralidade,
"ter enredo, história com o Santo". Mais do que nunca as Iyalorixás
e Babalorixás se questionam. As armadilhas, os "caça-fugitivos"
estão instalados. São os congressos, a TV - é a mídia - os livros, a 'web',
em certo sentido. Tudo isto é transformado, por nós, em pinças para separar o
joio do trigo, por isso estamos aqui. Dizendo o que somos, damos condição
para que se perceba o que está posto e se entenda o suposto, o oposto e o
aposto. Diferenciação é conhecimento, candomblé é religião, não é seita. As
Iyalorixás organizam as cabeças. O processo de organização do ori é awo
(segredo). O candomblé é uma religião que trabalha com o segredo, o lado mudo
do ser, o que a Olorum pertence. O candomblé organiza o fragmentado, abrindo
canais de expressão para o ser humano. FONTE: Site do Ilê Axé Opô Afonjá, Salvador/BA: http://www.geocities.com/Athens/Acropolis/1322/introvp.html LITERATURA 2
– CADERNOS 25 ANOS: UM JUBILEU DE PRATA QUE VALE OURO
2002 –
Este volume é um marco. Vinte e cinco anos, um quarto de século, longevidade
conquistada com garra e na marra. O significado é maior porque poucas
iniciativas afro-descendentes têm a oportunidade de chegar a tanto. A série
Cadernos Negros, porém, vem atravessando o tempo sem perder a vitalidade, mantendo
sua capacidade de inspirar e motivar.
Literatura afro para todos. Literatura universal com a nossa vivência, com as
nossas emoções, com o nosso raciocínio, com a nossa sensualidade, com o nosso
sangue e as nossas lágrimas. Literatura para todos os que gostam de boa
leitura, que se interessam por textos que trazem a cara e a cor dos homens e
mulheres que constroem o Brasil diariamente. Quando foi lançado, em 1978, o
primeiro volume da série Cadernos Negros, que também era de poemas, trazia o
projeto de uma nova identidade nacional a partir da literatura. A identidade,
no entanto, é um processo, e seu projeto vai se modificando ao longo do
tempo. Os textos deste volume 25, de certa forma, atualizam aquele projeto
inicial. Aqui está em foco não só a experiência individual, mas também a
coletiva, o fato de a maioria dos afro-descendentes estarem sujeitos a viver
certas situações em virtude de sua origem. Mas o mundo que esses poemas
retratam é bem diferente daquele de 78. Em termos políticos, o país se democratizou
e o discurso libertário negro contaminou a sociedade. No campo da escrita,
nossa literatura atingiu público e universidades. Ao longo da existência da
série Cadernos Negros, alguns poetas ficaram pelo caminho e outros continuam
editando até hoje. A série está alicerçada em todas essas contribuições, que
enriqueceram e continuam enriquecendo o campo da literatura negra. Além
disso, há a colaboração dos que não escrevem, mas que ajudam com trabalho e
incentivo. Nos Cadernos, alguns temas foram se firmando: a religiosidade, a
reflexão sobre a estética do corpo negro, o protesto contra a discriminação
e, de uma forma cada vez mais constante, o tom mais intimista, o olhar para
dentro de cada um, para várias faces do sentir e do existir. Terreno privilegiado
de significados, a poesia transborda das páginas para a vida. Cruz e Souza,
Lino Guedes e Solano Trindade foram poetas que se preocuparam com a questão
racial. Cada um, na sua época, era uma voz isolada. Cadernos Negros ajuda a
espantar a solidão do escritor e do leitor com sua existência calcada no
esforço coletivo. É o espírito guerreiro dos ancestrais que está em cada
poema, em cada autor deste livro: Al Eleazar Fun, Andréia Lisboa de Souza,
Atiely Santos, Conceição Evaristo, Cristiane Sobral, Cuti, Domingos Moreira,
Edson Robson dos Santos, Esmeralda Ribeiro, Jamu Minka, José Carlos Limeira,
Luis Carlos de Oliveira, Márcio Barbosa, Miriam Alves, Oliveira Silveira,
Oubí Inaê Kibuko, Ruth Souza Saleme, Sebastião JS, Sidney de Paula Oliveira,
Thyko de Souza e Zula Gibi. Axé! FONTE:
Apresentação CADERNOS NEGROS volume 25, poemas afro-brasileiros, Esmeralda
Ribeiro e Márcio Barbosa, organizadores, 22 autores, 210 páginas, São
Paulo/2002, [email protected] SERVIÇOS
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Tiradentes, (011) 6285-1701. ·
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EDITORIAL Amigo
Leitor, saudações! Janeiro/Fevereiro/2003: devido a problemas técnicos e
divergências internas esta edição chega à sua tela atrasada. O importante é
comemorarmos um ano (16/02/2002 – 16/02/2003) de comunicação virtual. Nosso
trabalho permanece. Mesmo que seja sozinho, falando no plural, expressando a
grande maioria sem voz no dia a dia... Os incentivos, merecedores do nosso
sincero agradecimento, vieram por parte daqueles que nos enviaram
congratulações estimulantes via e-mail ou as escreveram no Guestbook (Livro
de Visitas – www.cabecasfalantes.hpg.com.br).
E, sobretudo, por parte de uma mensagem, cujo remetente, por questões de
respeito, transformamos seu nome na sigla C.R.S.: “Eu até poderia ajudar como
colaborador. Mas meu problema é tempo. Estou correndo atrás de um grande
prejuízo: nasci preto, pobre e feio”. Esta baixa auto-estima, contendo uma
possível falta de perspectiva não é um fato isolado. Se começarmos pela
Cidade Tiradentes, encontraremos outros exemplos pró e contra. Por aqui há
irmãos e irmãs que estão trilhando caminhos que superem barreiras... Somados,
apenas reforçam nosso compromisso conjunto, de A à Z, na busca de equações e
direitos para a coletividade afro-brasileira. Tanto racial quanto
social. A luta continua. Se outros se
achegarem sem estrelismos e
interesses estritamente lucrativos: Cabeças Falantes Online renovará
suas forças, ampliará espaços e terá vida longa. O ano inicia-se com novo
presidente, novas expectativas. Propostas e esperanças reacendidas. Atenções
voltadas para o campo social. Além do Programa Fome Zero, há outros projetos
esperando serem saciados: inclusão digital, emprego, salário digno, ampliação
de espaços culturais populares, respeito à diversidade religiosa, erradicação
de enchentes, moradia em lugar seguro, habitação para os milhares que ainda
alimentam o sonho da casa própria, educação qualitativa, etc. Somos
contribuintes diretos e indiretos. Merecemos e cobramos direitos
constitucionais que ainda nos são negados. E quando atendidos, vem em porções
de quirelas. Se 10% do bilionário orçamento mundial para fins militares fosse
aplicado em ações afirmativas, o mundo seguiria rumos menos caóticos. Porém,
ficarmos apenas reclamando de braços cruzados, aguardando vontade política
não basta. No editorial da edição nº 11 indagamos: “Qual será a sua atitude?”
A resposta encontra-se dentro de você, a começar pelo meio em que vive.
Cabeças Falantes, céptico à utópica união (em 99,99% das famílias ela
inexiste) e crente na solidariedade, continua disposto a colaborar naquilo
que for possível para o avanço da coletividade afro-brasileira, do país, da
humanidade. Como o progresso caminha junto com a tradição, abrimos este
número 12 com um texto circular enviado pela iyalorixá Sandra Epega, movidos
pelo conteúdo universal que ele contém. Esperamos que ele lhe seja útil e de
alguma forma sirva de guia neste ano. Lembrando Max Freedom Long: “A natureza
está pronta a nos ajudar, desde que façamos a nossa parte”. As notas tristes
são: o assassinato do rapper Sabotage, o falecimento de José Craveirinha,
escritor moçambicano e a eminente guerra EUA x Iraque! Um absurdo brutal.
“Cidade de Deus”, indicado ao Oscar, não vai concorrer na categoria melhor
filme estrangeiro, por ter sido considerado “muito violento” pela academia de
Hollywood. Vejo você na edição especial de março – mês internacional da
mulher de todo dia! Oubí Inaê Kibuko – editor responsável: [email protected] O ANO DE 2003 NA CONCEPÇÃO DO CANDOMBLÉ
O odu do ano é Ose-Obará. Quem rege o ano é Sàngó.
Quem ama Sàngó não fuma e não mente. É um ano quente, o calor vem da
terra, do céu, dos montes, das plantas. Muitos raios, muitos trovões, muito
fogo, que trarão tanto destruição como recomeço. Casamentos futuros devem ser
reconsiderados, é perigoso fazer vida com quem já tem família instituída e
ciumenta. Ano em que famílias se reestruturarão e se unirão de novo ou se
separarão. Ano de prestigiar as famílias constituídas, equilibradas, de
cuidar das crianças, de fazer com que enxerguem o lado bom da vida, através
do esforço e do trabalho. Necessidade de dar responsabilidade aos jovens e às
crianças. Ninguém é tão fraco que não possa trabalhar. Todos têm o que
ensinar e o que aprender. Ensinar o que se sabe e aprender tudo o que é
possível. Os que mentirem ou enganarem durante este ano estarão sujeitos à
ira de Sàngó. O devedor, o traiçoeiro, o mentiroso, todos estão sob os
olhos de Sàngó. Traição e mentira atrairão a ira de Sàngó. Só Sàngó
queima. Ele é o poder do fogo, ele é
o calor, ele é a fumaça. Não queimar, não incinerar, não fumar. A única
fumaça boa e aceitável é a proveniente da comida, da defumação e aquela que é
feita em homenagem a Sàngó. Grandes cataclismas, grandes brigas entre
fogo e água, terra e fogo. O vento está solto. O fogo está solto. O céu
mostra-se perigoso e dele virão problemas e soluções. Trabalho árduo,
intenso, pouco dinheiro e muita atividade e esforço. Sàngó tem o dom
de resolver problemas encruados de negócios, de justiça, de famílias. Apelar
para ele nesses casos. Bons amigos, e recomenda-se interagir com sócios,
familiares, parceiros. Doenças ressurgem, curas aparecem. O próprio corpo se
cura. Há que descobrir o poder de cura que o ser humano tem em suas mãos e em
suas bocas (palavras). As cobras ensinarão os caminhos de cura. Bem como as
plantas e muitos animais. Evitar inimizades porque é melhor abater um pouco o
orgulho e viver em paz. Ano bom de vestir vermelho, de reformar casas com
criatividade e pouco gasto, de mudar de emprego, de montar negócios, de beber
pouco e de ser alegre. Comer com tempero, com dendê e muita pimenta. Chamar
amigos para comer, louvar ancestrais, louvar Orisa em grandes comemorações.
Invocações e grandes ebó aos ancestrais serão necessários neste ano. Religião
só une. O que separa é o mau gênio, a inveja, o desejo de poder, a
intolerância, a ganância, o dinheiro mal distribuído. O cabelo tem força física, a palavra tem
força vital. Os gestos são a demonstração do poder da família. Conhecer
sempre novos caminhos e novas possibilidades. Por vezes, a morte vem para corrigir,
para consertar. Tem muita gente que, enquanto viva, impede a vida de fluir e
de resolver por si mesma as questões. Quem se baseia na violência não chega
ao fim do caminho. Não entrar em guerra, não fazer guerra, não apoiar guerra.
Se a guerra for desencadeada, não haverá prazo certo para que termine, e
poderá envolver muita desgraça para todos os seres humanos que moram em Ilu
Aiye. Há que coibir muito poder para um homem só. Seja ele, rei, chefe ou
sacerdote. Grandes amigos brigam. Pais, filhos, irmãos, cunhados, inimigos
brigarão ainda mais. Mesmo dentro do mercado, do trabalho, da família, da
multidão, o ser humano pode ficar só e em paz consigo mesmo. Basta propiciar
seu Ori. Todos precisam se sentir importantes, se distinguir, ser pessoas
prósperas na comunidade, mas com honradez e dignidade. Dinheiro sem honra é
lama. Descendência é essencial ao ser humano. Quem não tiver filhos, que
adote. Pagar dívidas até com o próprio sangue, com o trabalho de toda a
família, mas pagar. Quem fala demais gasta a língua. Quem dá tudo que tem, a
pedir vem. O impossível acontece, o possível é mais fácil. Tolerância é
essencial. Não se meter no que não é chamado. Cada um resolve os seus
problemas. Aconselhar só se for solicitado. Quem vive cercado de muita gente,
pensa pouco. 2003 será um ano em que será necessário pensar por si mesmo,
consultar Ifá nas dúvidas, respeitar os amigos e os inimigos, se isolar de
vez em quando para pensar melhor, ter paciência com os menos capazes. 2003
será um ano em que cada ser humano vai plantar para a próxima década, vai
repassar aos filhos e aos discípulos parâmetros morais e religiosos, vai
ensinar aquilo que gostaria que fizessem para si próprio. É um ano de ser
bom, generoso, trabalhador, honesto, esperto e equilibrado. Ilu Aiye depende
de cada um de seus habitantes para ser melhor a cada dia. É como um ileke
(colar de contas). Se uma conta se quebrar e cair, as restantes quebram e o
ileke se desmancha. Sandra
Epega - Ilê Leuiwyato: www.sandraepega.com.br
CONVITE RELIGIOSO
Padre Luiz Fernando de Oliveira convida os amigos e amigas
quilombolas, para participar do aniversário da sua Ordenação Sacerdotal. Foi
Ordenado no ano do Centenário da Abolição em 1988, pelo Bispo negro Dom Zumbi
da Paraíba. A igreja católica refletiu na Campanha da Fraternidade o tema do
negro. Portanto são 15 anos, a serviço do povo de Deus, a partir da causa do
Povo Negro. Dia 30 de março/03. Paróquia Santo André Apóstolo, Jardim Santo
André, São Mateus. Rua Dias Moréia nº 18, às 16hs00. Informações: (011)
6751-3100, Beep 5508-0737 - código 437-0637, e-mail: [email protected] MENSAGENS DOS LEITORES
· Por
ventura tem dúvidas acerca da necessidade vital que temos de ler o seu
trabalho? E não se deixe intimidar por eventuais detractores à qualidade do
seu trabalho, pois há um dito popular moçambicano que diz que só não erra
quem nada faz. E há aquele outro que diz a caravana passa e outros falam...
Parabéns e continue a esforçar-se para melhorar a qualidade daquilo que tem
feito. Abraços. António Matabele, Maputo, Moçambique. · Parabéns,
manooo!!! Só você sabe o quanto foi embaçado fazer 1 ano de e-mail pro povo.
*.¤SanÐru HiLL™¤.*, São Paulo/SP, Brasil. · Parabéns
Companheiros Quilombolas pelo importante
trabalho desenvolvido para denunciar as injustiças e desigualdades que
contribuem para um mundo excludente e racista. A informação é fundamental
para o nosso povo. Faremos Palmares de Novo!!! Benilda Regina Paiva de Brito,
coordenadora do N'zinga - Coletivo de Mulheres Negras de Belo Horizonte. Rua
Nair Pentag'na Guimarães nº 300/203, Heliopólis, BH/MG, Brasil, CEP. 31760
–100. · Congratulações
pela contribuição social que este veículo tem desempenhado. Parabéns a todos
que direta ou indiretamente, envolvem-se na veiculação de Cabeças
Falantes Online. Dimas Saldanha, fotógrafo, São Paulo/SP, Brasil. · Parabéns
pelo aniversário. Continue com este trabalho importante de divulgar noticias
de interesse para as comunidades afro-descendentes. Abração! Vera L.
Benedito. ·
Que este seja o 1º de
muitos anos que virão Axé Bi Axé! Roza Dêkàó, São Paulo/SP, Brasil. · Cabeças
Falantes é uma grande contribuição para a afirmação do povo negro, que se
concretizará com o respeito às diferenças. Axé! Cláudio Melo, Grupo
Ìfaradá/UFPI – Teresina/PI. ·
O Brasil precisa de mais iniciativas como esta. (...) somos mais de
50% da população, merecemos estarmos informados sobre o que ocorre na nossa
comunidade. A educação é o ponto fundamental para mudarmos a situação do
negro no Brasil e através deste informativo e de outras iniciativas como
essa, com certeza estamos caminhando para um futuro melhor e mais digno.
Veridiana Mattoso Serpa, produtora, Firma Produções. · Preservar
a cultura é preservar a memória. É resgatar a nobreza deste povo sagrado que
passa e passou toda espécie de sacrifícios, que tudo fez por esta nossa
nação. Deu sua vida, suor e sangue... (...) não percamos o espírito e luta,
haveremos de tentar toda forma de comunicação, para assim alcançarmos o
resultado que esperamos, até nossa voz ecoar por todos os cantos possíveis.
Vamos a luta! Felix Augusto Sechin, Didet, Prodam, São Paulo/SP, Brasil.
·
Longa vida ao
informativo eletrônico Cabeças Falantes. Que ele seja lido por mais e
mais internautas de todas as cores e credos. Ítalo Cardoso,
deputado
estadual, PT/SP. ·
Caros irmãos
continuem na luta, a imprensa negra é fundamental. Carlos Medeiros, Rio de Janeiro/RJ. ·
Parabéns Cabeças Falantes pela manifestação contínua deste Axé durante
o ano que se passou. Por ele permanecem vivas as nossas raízes. Sueli Chan. · Caros
guerreiros continue mantendo contato a luta tem que continuar. Forte abraço -
Zulu King Nino Brown.
MEMORIAL DE JANEIRO – TEODORO SAMPAIO
Aqueles que passam diariamente por uma rua situada em
cerca de seis bairros e municípios da capital paulista, talvez não sabem que
Teodoro Fernandes Sampaio, mais conhecido como Teodoro Sampaio, nascido em
Santo Amaro/BA, em 1855, foi um grande negro a que a historiografia não dá
muito destaque, em razão de sua origem negro-africana. Foi geógrafo,
historiador e engenheiro civil. É nessa condição que participou de uma
comissão de engenheiros incumbida, por Cansanção de Sinimbú, de estudar quais
as formas para melhorar os portos brasileiros e a navegação no interior dos
rios que desaguavam no Oceano Atlântico. O seu trabalho “O Rio São Francisco
e a Chapada Diamantina” despertou, na ocasião, tanto interesse, que o mesmo
acabou sendo reimpresso mais tarde para a Revista do Instituto Histórico e
Geográfico, no Rio de Janeiro, em 1937. Teodoro Sampaio publicou diversos
livros, entre os quais, “O Tupi na Geografia Nacional” – 1901, o “Atlas dos
Estados Unidos do Brasil” – 1908. Em 1922, ano do primeiro centenário da
Independência do Brasil, “escreve para a introdução geral, do “1º Volume do
Dicionário Histórico, Geográfico e Etnográfico do Brasil”, os capítulos
segundo, terceiro e sétimo (Geografia do Brasil, hidrografia, cachoeiras,
saltos, lagos, minerais e constituição geológica)”. Os préstimos profissionais de Teodoro Sampaio encontram-se
também em São Paulo, que como chefe da Companhia Cantareira, quer como
sanitarista e consultor para as áreas técnicas ligadas ao serviço de águas e
esgoto, além de ser um dos organizadores da Escola Técnica de São Paulo. FONTE: Quem é quem na negritude brasileira, volume I,
Prof. Eduardo de Oliveira, escritor e organizador, CNAB/SNDHMJ, 1998. LITERATURA – POESIA NEGRA BRASILEIRA
A antologia (...) objetiva reunir, em um período de cem anos de
história literária brasileira, a construção e a evolução de uma consciência
negra e sua expressão através do texto poético. O projeto desta antologia se
fundamentou: no interesse em resgatar a participação de uma identidade negra
expressa através do discurso poético, (...) a partir de uma perspectiva
crítica; na preocupação em recuperar textos poéticos que, apesar de seu valor
estético e de se constituírem no espaço privilegiado da emergência de uma
consciência de ser negro no panorama da literatura brasileira, são muito
pouco valorizados pela história literária “oficial”, não fazendo portanto,
parte dos currículos das escolas; na quase inexistência de antologias e de
bibliografias sobre literatura negra no Brasil, ao contrário de outros países
com grande população de descendência africana, onde abundam as obras
antológicas, elemento indispensável não apenas para nortear futuras pesquisas
como para divulgar esta vertente da literatura brasileira em escolas e
universidades, alargando assim, o horizonte dos alunos e provendo-os dos
subsídios necessários à sua tomada de consciência de integrarem um país
multiétnico e plurirracial. FONTE: Apresentação do livro Poesia Negra Brasileira, Zilá
Bernd, organizadora, Editora Age, 1992.
É NÓIS NA FITA
A COHAB Cidade Tiradentes, situada
na periferia do extremo leste de São Paulo, está na tela. “DEFINA-SE”,
selecionado para o Festival Internacional de Curtas Metragens, está sendo
exibido nas tvs universitárias de 40 países. O trabalho surgiu a partir de
uma oficina de cinema, que envolveu 25 jovens da comunidade local. INDICAÇÃO DE FILMES Faça a coisa certa; Uma amizade colorida; Ao mestre com
carinho 2; Os donos da rua; Uma amizade proibida. SAÚDE - A PERSONALIDADE A personalidade é múltipla e
acomoda muita coisa. Nela ficam depositados o karma das existências
anteriores e o karma em vias de cumprimento ou a cristalização dele. As
impressões não digeridas convertem-se em novos agregados psíquicos e o que é
mais grave, em várias personalidades. A personalidade não é homogênea e sim
heterogênea e plural. Devemos selecionar as impressões da mesma forma como se
escolhe as diversas coisas da vida. Se alguém se esquece de si mesmo em um
dado instante, diante de um novo acontecer, formam-se novos eus e, se são
muito fortes, novas personalidades dentro da personalidade. Eis aqui a causa
de muitos traumas, complexos e conflitos psicológicos. Uma impressão não
digerida que chegue a formar uma personalidade dentro da personalidade e que
não for aceita, converte-se numa fonte de espantosos conflitos. Nem todas as
personalidades que se carrega na personalidade são aceitas, dando isto origem
a muitos traumas, complexos, fobias, etc. Antes de tudo, é necessário se
compreender a multiplicidade da personalidade, a qual é múltipla em si mesma.
De maneira que pode haver alguém que tenha desintegrado os agregados
psíquicos, porém se não desintegrar também a personalidade, não poderá
conseguir a autêntica iluminação e a alegria de viver. Quando alguém conhece
mais e mais a si mesmo, conhece cada vez mais aos outros. O indivíduo com Ego
não vê claramente as coisas e se equivoca. Os que têm Ego falham porque lhes
falta juízo, ainda que haja uma tremenda lógica em sua análise. Se as
impressões não forem digeridas, criam-se novos eus. Há que se aprender a
selecionar as impressões. Não se trata de ser melhor! O que interessa é
mudar. O Ser surge quando alguém mudou e deixou de existir. Os elementos
indesejáveis que carregamos em nosso interior são os que controlam nossas
percepções, impedindo-nos de ter uma percepção integral que nos traga sorte e
felicidade. Fonte: FRAGMENTOS GNÓSTICOS, Samael Aun Weor, enviado por Moína
Braga, para http://groups.yahoo.com/group/literaturaindigena
RESGATANDO A MEMÓRIA DO MESTRE SOLANO TRINDADE O Centro
de Documentação e Biblioteca Comunitária “Solano Trindade”, em homenagem ao
grande poeta e folclorista
pernambucano (1908-1974), criado pelo Núcleo Cultural Força Ativa e
gerenciado em conjunto com os Jovens Agentes Comunitários de Direitos
Humanos, está solicitando doações de livros e documentos sobre o seu patrono.
Aceitam-se temas e obras de outros autores para ampliar o acervo, que atende
a população local e adjacente, principalmente estudantil, por falta de
biblioteca municipal. Informações no próprio CDBCST: Avenida dos Têxteis n.º
1.050, Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, CEP 08490-600, fone (011)
6964-0401, ou através do e-mail: [email protected] EDUCAÇÃO – APROVADOS! Aprovados
é uma lição de como parar de falar e começar a agir. A obra é pioneira em
publicações a respeito dos cursinhos “pré-vestibulares” sobre os quais há
raros registros. O acesso da população negra à universidade é a perspectiva
das análises. No circuito que envolve professores, donos de cursinho e alunos
a presença negra é o foco. O exame de redações sobre o tema racial, as
questões racistas de vestibular, a invisibilidade da imagem negra na sedução
à faculdade, a estratégia dos cursinhos para “negros”, os índices nessa
particularidade, o debate no cotidiano das disciplinas são alguns dos
aspectos que discutem a peculiar condição universitária do alunado negro
nesse momento de passagem. Organizada por professores de cursinho, a reunião
de especialistas (Antonio Carlos Pezzi, Benedito Carlos dos Santos, Clayton
Wenceslau Borges, Eduardo F. Fonseca, Eduardo Silva, Frei Davi, Geraldo José
Covre, Heloisa Pires Lima, Henrique Cunha Junior, Joel Rufino dos Santos,
Rachel de Oliveira, Rosa Maria T. Andrade, Rosângela de Santa Bárbara, Wilson
Silva) dessa história articulada com depoimentos sinceros certamente irá
enriquecer a reflexão a respeito da sociedade brasileira. FONTE:
Quarta capa do livro “Aprovados! Cursinho pré-vestibular e população negra”,
Rosa Maria T. Andrade, Eduardo F. Fonseca (organizadores) editora Selo Negro,
São Paulo/2002: [email protected]
INDICAÇÃO DE LIVROS Cadernos Negros
25 – antologia de poemas afro-brasileiros, Quilombhoje; Longo caminho para a
liberdade (uma autobiografia) – Nelson Mandela, Editora Siciliano; Filho
nativo – romance; Richard Wright, Companhia Editora Nacional; O negro
brasileiro e o cinema, João Carlos Rodrigues, Editora Globo; Consciência
negra no Brasil: os principais livros, Cuti e Maria das Dores, Mazza Edições.
MOMENTO DE REFLEXÃO – AS COISAS SEMPRE FORAM ASSIM POR AQUI
Um grupo de cientistas colocou cinco macacos numa jaula, em cujo
centro puseram uma escada e, sobre ela, um cacho de bananas. Quando um macaco
subia a escada para apanhar as bananas, os cientistas lançavam um jato de
água fria nos que estavam no chão. Depois de certo tempo, quando um macaco ia
subir a escada, os outros enchiam-no de pancadas. Passado mais algum tempo,
nenhum macaco subia mais a escada, apesar da tentação das bananas. Então, os
cientistas substituíram um dos cinco macacos. A primeira coisa que ele fez
foi subir a escada, dela sendo rapidamente retirado pelos outros, que o
surraram. Depois de algumas surras, o novo integrante do grupo não mais subia
a escada. Um segundo foi substituído, e o mesmo ocorreu, tendo o primeiro
substituto participado, com entusiasmo, da surra ao novato. Um terceiro foi
trocado, e repetiu-se o fato. Um quarto e, finalmente, o último dos veteranos
foi substituído. Os cientistas ficaram, então, com um grupo de cinco macacos
que, mesmo nunca tendo tomado um banho frio, continuavam batendo naquele que
tentasse chegar às bananas. Se fosse possível perguntar a algum deles porque
batiam em quem tentasse subir a escada, com certeza a resposta seria:
"Não sei, as coisas sempre foram assim por aqui..." Você não deve
perder a oportunidade de passar esta história para seus amigos, para que, vez
por outra, questionem-se porque estão se batendo. Colaboração enviada por:
Wellington – [email protected] QUILOMBO VIRTUAL CABEÇAS FALANTES ONLINE - edições publicadas: http://igspot.ig.com.br/arquivocf
- www.olodum.uol.com.br www.enraizados.cjb.net - www.forcativa.cjb.net
- www.pr15.hpg.ig.com.br - www.militantehp.hpg.com.br www.pvnc.hpg.ig.com.br
- www.quilombhoje.com.br www.falapreta.org.br
www.planetapreto.hpg.com.br
www.okun.hpg.com.br - www.firmaproducoes.com.br - www.ileaiye.com.br http://br.groups.yahoo.com/group/negrosepoliticaspublicas/
- www.portalafro.com.br www.redejovem.org.br www.midiaindependente.org
- www.quilombovirtual.hpg.ig.com.br http://br.groups.yahoo.com/group/discriminacaoracial/messages
- http://membro.intemega.com.br/educafro/ http://www.romancecapoeira.hpg.ig.com.br/index.htm#
- http://www.macua.com/localconversa/index.shtml UM INCONFORMADO APELO MATERNO Olho-me
no espelho e vejo o espectro do que fui outrora. Sinto que os policiais que
assassinaram meu filho, também me mataram. Não a carne, mas a alma. Pois
respiro, mas não vejo motivação para viver. Por favor, seja solidário,
preciso muito de sua ajuda. Reenvie o endereço desta página onde conto o ato
covarde de uma companhia da Policia Militar do Estado de São Paulo: www.desistirjamaisjustica.hpg.com.br SERVIÇOS · ANDRÉIA
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688/11-B, Cidade Tiradentes, São Paulo/SP, (011)
6964-8529/6964-5268/6964-3187. CABEÇAS FALANTES Nº 13 Visando
um trabalho interativo, solicitamos a sua colaboração para edição especial de
Cabeças Falantes 13. Esta edição será dedicada ao mês internacional
da mulher de todo dia e, será colocada na rede a partir do dia 03/03/03.
Se você dispõe de artigos de até 20 linhas (história, educação, arte, cultura,
religião, saúde, memória, literatura, cidadania,
reflexão), sites, associações, instituições e ong's
femininas, agenda, notícias, serviços, etc, referentes ao
tema, envie até o dia 28/02/2003. Caso conheça pessoas
interessadas, repasse esta mensagem para a sua lista. Informações sobre
a linha editorial de Cabeças Falantes Online estão na home page http://igspot.ig.com.br/orisfalantes,
seção “AOS MALUNGOS, QUILOMBELAS E ALIADOS”. |
CABEÇAS FALANTES ONLINE - Informativo afro-cultural
brasileiro – edição mensal Editor responsável: Oubí Inaê Kibuko – Caixa Postal 30255
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CABEÇAS FALANTES ONLINE - Informativo
afro-cultural brasileiro Nosso Atabaque Virtual Ano II - Edição especial nº 02 -
Março/2003 MÊS INTERNACIONAL DA MULHER DE TODO DIA - LEIA E DIVULGUE Formato e peso original enviado: 45KB - 08
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CABEÇAS FALANTES ONLINE Informativo afro-cultural
brasileiro – Nosso atabaque virtual Ano II - edição nº 14 -
maio/2003 - leia e divulgue |
Este número
encontra-se disponível em: http://igspot.ig.com.br/infocabecasfalantes Home page: http://igspot.ig.com.br/orisfalantes - www.cabecasfalantes.hpg.com.br |
EDITORIAL
Amigo Leitor, maio, 115 anos pós
Enganação da Escravatura. Eventos e movimentos estão sendo realizados em todo
país, braço erguido com punho cerrado na esquerda e prato vazio estendido na mão
direita. Compilamos abaixo um conto que retrata esta comédia muita ainda
comemorada nos dias atuais. Novembro, 20, é a data que reflete nossos avanços
e vitórias. O direito a liberdade não se concede nem se mendiga...
Conquista-se no dia a dia, através da consciência, seriedade e fortalecimento
da nossa organização. Seja de forma coletiva ou ações individuais, que na
essência confluem-se contribuindo afirmativa e solidariamente por melhores
condições de vida à coletividade afro-brasileira. Oubí
Inaê Kibuko – Editor responsável – [email protected] SOB A
ALVURA DAS PALPEBRAS Meu avô
me disse que matasse a princesa. Peguei de suas mãos as tripas do bisavô e
com elas trucidei a Madame da Liberdada. - Criminoso! – vociferou Rebouças, pensando na última
contradança. Tinha sido deixado num canto pela arianice aguda de todos os
presentes, mas a Dona Treze viera na direção do engenheiro negro
(“”””””maravilhado””””””) e tirara-o para dançar. Esta lembrança, um arco
disparando réguas e compassos pontiagudos. - Assassino! – gritou Patrocínio
desesperado. Eu tinha a ele negado “a mão ao menos” quando enterrei o
cadáver. Ele não conhecia o Cemitério da Indignação Profunda. Não pôde mais
beijar aquela alvura principesca cheia de dedos e anéis. - Traidor! Traidor! Traidor! –
escravos, recém-libertos debaixo das flores, me perseguiram até a entrada do
quilombo do meu avô: O Coração de Nós Todos, um pouco acima da Barriga, do
lado esquerdo sempre. - Lá entrando, não fui aplaudido
nem censurado. Apenas o Conselho dos Ancestrais me disse, em coro: - Bom sirviço, minino. E Zumbi, sorrindo: - Pod’scansá. Já é dia 14. Eles
vão pensar. Fonte: Quizila, contos, Cuti
(Luis Silva), Edição Quilombhoje, 1987.
MEMORIAL DE MAIO - ESCRAVA
ANASTÁCIA Nos meios em que militam as
lideranças negras masculinas ou femininas, fala-se muito sobre quem foi e
como teria sido a vida e a história da Escrava Anastácia, que muitas
comunidades religiosas afro-brasileiras, gostariam de propor para que fosse
santificada, dentro dos processos canônicos. Pelo pouco que se sabe, foi uma
das inúmeras vitimas da escravidão no Brasil Pode-se dizer que o seu calvário
teve início em 9 de abril de 1740, por ocasião da chegada de um navio negreiro,
de nome Madalena, com carregamento de 112 negros bantos, originários do
Congo. Delminda, mãe de Anastácia, era uma jovem formosa e muito atraente.
Foi arrematada no cais por um mil réis. Indefesa, acabou sendo violentada por
um homem branco, motivo pelo qual Anastácia, sua filha, possuía olhos azuis,
cujo nascimento se verificou em Pompeu/MG, em 12 de maio. Antes do nascimento
de Anastácia, Delminda teria vivido, algum tempo, no estado da Bahia, onde
ajudou a muitos escravos, fugitivos da brutalidade, a irem em busca da
liberdade. A história nefanda se repete: Anastácia, por ser muito bonita,
terminou sendo, também, sacrificada pela paixão bestial de um dos filhos de
um feitor, não sem antes resistir bravamente o quanto pôde a tais assédios;
perseguida e torturada a violência sexual aconteceu. Apesar de toda
circunstância adversa, Anastácia não deixou de sustentar a sua costumeira
altivez e dignidade, o que provocou o ódio dos brancos dominadores, que
resolvem castiga-la colocando-lhe no rosto uma máscara de ferro, só retirada
na hora de se alimentar. As mulheres e as filhas de escravos eram as que mais
incentivavam a manutenção de tal máscara, morriam de inveja e ciúmes da
beleza da negra. Anastácia, já muito doente e debilitada, é levada para o Rio
de Janeiro aonde vem a falecer, sendo que seus restos mortais foram
sepultados na Igreja do Rosário que, destruída por um incêndio, não se teve
como evitar a destruição também dos poucos documentos que poderiam nos
oferecer maiores informações. “A Santa”, além da imagem que a história ou a lenda deixou em volta
de seu nome e na sua postura de mártir e heroína, ao mesmo tempo. FONTE: Quem
é quem na negritude brasileira, biografias, volume 1, Prof. Eduardo de
Oliveira, CNAB/SNDHMJ, 1998.
POESIA HIP HOP
Na aridez do paredão de concreto Alguém grafita o colorido sonho de uma negritude de
esperanças. São arvores e moleques imaginários Que não se
deixaram morrer entre os mortos. São caminhos das afro-descendências Procurando demolir a solidez da injustiça num
continuo gesto de paz. E assim seguimos nós grafiteiros sem tintas Presenças de outras inspirações Marcando o lugar da posse de consciências livres e
de esperanças negras. Henrique Cunha Junior, Professor Titular da Universidade Federal do Ceará, [email protected] OXÓSSI –
O GRANDE CAÇADOR Garantir a alimentação ao seu
povo é o grande atributo deste Orixá, que protege os caçadores e os animais,
pois ambos são elementos do mesmo espaço, ou seja, a floresta, e preservar a
mata, e conseqüentemente a natureza, é a principal missão de Oxóssi, rei e
senhor de Kêto, reverenciado em todos os terreiros de Candomblé que pertencem
a esta nação. As festas de Oxóssi são momentos de de muita fartura e atraem
inúmeros adeptos. Oxóssi é também um Orixá avesso à morte, pois é expressão
da própria vida. Para ele não importa o quanto se viva, desde que se viva
intensamente. Os que querem contar com a proteção de Oxóssi podem evoca-lo
com o seguinte oriqui: “Orixá, quando fecha, não abre caminho. Caçador que
come cabeça de bicho. Caçador que come coco e milho. Mora em casa de barro.
Mora em casa de folha. Quando entra na mata o mato se agita. Ofá – o seu
fuzil. Um flecha contra o fogo e o fogo apagou. Um flecha contra o sol e o
sol sumiu. Okê Aro!!!” Fonte:
revista Orixás, nº 02, Editora Minuano, [email protected] VIVA O DIA 1º
DE MAIO OU 1º DE ABRIL?
Quando eu era criança eu escutava da
boca dos colegas e familiares que não acredite em nada que se fale no dia 1º
de abril porque tudo é mentira. Tudo
bem, captei bem esta idéia só que quando ligo a TV e vejo a reportagem do 1º
de maio em São Paulo Capital com um milhão e meio de pessoas atrás de prêmios
que variam de cinco automóveis zero Km e 10 apartamentos e um shows(zinho)
com uma dupla sertaneja que são artistas descompromissados com o social,
alias não é só eles, os organizadores também . Perguntei-me: - que 1º de maio
é esse? Passaram a borracha na historia do 1º de maio que é bem recente esta
borracha. O 1º de maio foi selado pelo quarto congresso dos trabalhadores
(as), que organizaram uma greve geral em Chicago, nos EUA, em 1886, com 110
mil trabalhadores (as) para a diminuição das horas de trabalho que era de 16
horas por dia para 8 horas diárias. Parece-me que não sensibilizou certos
sindicatos ou se acharem melhor (cinicatos) e uma leva de trabalhadores (as)
e desempregados (as) que são a maioria nesse país e nesse estado que é São
Paulo fazendo festa em velório porque
a situação do trabalhador (a) é de morte e não de festa "Força
Sindical". Pensando nessa situação já estou confuso com esta certa data,
conseguiram transformar o 1º de maio em 1º de abril pelo fato dos trabalhadores
(as) serem despolitizados, os sindicatos serem pelegos, submissos... Viva o
dia 1º de abril! Dia nacional da verdade. Porque a verdade no Brasil está difícil de achar e de
acreditar. Colaboração de Agadabi,
rapper do grupo Foco de Periferia, [email protected] SERVIÇOS ANDRÉIA ANISKIEVICZ e ELIZABETE SANCHES – garrafas
ornamentais, Rua Maria Vieira Ribeiro nº 86, Vila Carrão, São Paulo/SP, fone
(011) 9806-1756, http://igspot.ig.com.br/mulheresdinamicas ÂNGELA - Serviços Contábeis - [email protected]
- (011) 6523-2797 e/ou 276-9952. JUAREZ - Serviços de Funilaria, Rua
Sóter de Araújo, 72, Cidade Tiradentes, (011) 6285-1701. ORLANDO - Serviço de manutenção residencial e predial -
(011) 6282-0329. OUBÍ INAÊ KIBUKO - fotógrafo – www.oubitelapretaprodu.hpg.com.br
- (011) 9750-1542. PENSÃO DA TIA ÁUREA - somente para rapazes estudantes. Rua
Ivete Gabriel Apiceque nº 305, Bairro Boa Vista, São José do Rio Preto/SP,
CEP 15025-400 - (017) 3212-5143. PODER PARA POVO NEGRO Celso Pitta é um capitulo a ser estudado na historia
do Movimento Social Negro. São correntes de pensamento que perceberam que na
prática seja direita ou esquerda não há muitas praticas de ações em favor dos
descendentes de escravos africanos. Claudete Alves, vereadora negra do PT de
São Paulo, foi submetida a uma blitz policial suspeita de prática racista,
mas não vimos os presidentes dos diretórios municipais, estaduais ou
nacionais da legenda falar nada a respeito em defesa da filiada. Avançamos de
FHC para cá na representação negra na cúpula do poder? Em parte. Não havia
ministros negros em 8 anos de tucanato, mas o Gilberto Gil no Ministério da
Cultura, Benedita da Silva no Ministério da Ação Social, Marina Silva no
Ministério do Meio Ambiente e agora Matilde Ribeiro na Secretaria Nacional de
Promoção de Igualdade Racial estão nas exatas pastas com pouco ou sem verba
alguma. José do Patrocínio e André Rebouças – herói da Abolição dos Escravos
freqüentavam a corte real, sem qualquer poder de decisão. Foi e é pouco para
gente, que é 45% da população e 70% dos pobres. Voltando a Celso Pitta e
Benedita da Silva. Pitta nunca participou do Movimento Negro, mas o Movimento
Negro nunca o procurou antes de ser político. Lula é da mesma raiz – saiu
correndo das influências tradicionais de esquerda, para se formar na prática.
Mas o preconceito partidário também prejudicou Benedita da Silva.
Colaboração: Marco Antonio dos Santos, CMPDCN, Bebedouro/SP, [email protected]
AFINAL,
DO QUE É FEITO O RACISMO? Novas
pesquisas nas ciências humanas e biológicas mudam o conceito de raça e
mostram os estragos que o racismo faz na sociedade. Finalmente os cientistas
estão prontos para responder algumas das perguntas mais incômodas a respeito
de nós mesmos Poucas coisas mudaram no mundo
nos últimos 100 mil anos. Naquela época, os primeiros seres humanos modernos
surgiam na África e começavam a se espalhar por outros continentes. Eles eram
praticamente idênticos aos mais de 6 bilhões de pessoas que habitam hoje o
planeta. De lá para cá, os únicos retoques que a nossa espécie sofreu foram
pequenas adaptações aos diferentes ambientes – mudanças exteriores para lidar
melhor com lugares mais frios, secos ou com ventos mais fortes. O lado triste
dessa incrível capacidade de adaptação é que as diferenças físicas foram
usadas para avaliar pessoas à primeira vista e atribuir-lhes qualidades e
defeitos. Milhões foram escravizados, mortos ou discriminados por causa da
aparência física.Por que só agora os cientistas começam a entender as
diferenças entre os seres humanos? Tanta demora em tratar do assunto tem um
motivo: as primeiras tentativas científicas de analisar as raças humanas
levaram quase sempre à conclusão de que algumas eram mais inteligentes e
criativas – ou seja, superiores – às outras. Os resultados foram as
tentativas de criar uma raça "pura" e as ideologias que levaram a
genocídios. "As tragédias geradas por essas teorias fizeram a ciência
aceitar que as raças não tinham nada de biológico e que eram apenas um produto
da sociedade. O que vemos agora é a tendência de volta à biologia", diz
o antropólogo João Baptista Borges Pereira, da Universidade de São Paulo
(USP). Os cientistas estão confiantes que dessa vez o resultado será
diferente. "Estudar as diferenças humanas é perigoso porque sempre
existirão pessoas que distorcerão os estudos, mas acredito que os cientistas
e o público amadureceram o suficiente para seguirmos com as pesquisas",
diz a antropóloga Nina Joblonski, da Academia de Ciências da Califórnia, Estados
Unidos. Ao mesmo tempo, as ciências humanas avaliam como o racismo é
difundido e prejudicial. Nesse ponto, o Brasil está entre os piores países do
mundo. O problema é complexo, mas podemos amenizá-lo. Só que, antes, é
preciso saber como tudo começou. NA LIVRARIA: Classes, Raças e
Democracia, Antonio
Sérgio Alfredo Guimarães, Ed. 34, 2002; Genes, Povos e
Línguas, Luigi Luca Cavalli-Sforza, Companhia das Letras, 2003; Homo Brasilis, Sérgio D.J. Pena (org.), Funpec-RP, 2002; Psicologia Social do Racismo, Maria Aparecida Silva Bento
(org.), Vozes, 2002; A História da Humanidade, Steve
Olson, Campus, 2002. NA INTERNET: www.ipea.gov.br
- www.ceert.org.br - www.palmares.gov.br - www.afirma.inf.br/home.htm
Fonte: Revista Superinteressante, abril/2003. QUILOMBO VIRTUAL CABEÇAS
FALANTES ONLINE - edições publicadas, acesse e divulgue: http://igspot.ig.com.br/arquivocf
www.olodum.uol.com.br
- http://br.groups.yahoo.com/group/somosagrande_familia
- www.enraizados.cjb.net
www.forcativa.cjb.net
- www.pr15.hpg.ig.com.br - www.militantehp.hpg.com.br - www.pvnc.hpg.ig.com.br - www.falapreta.org.br
- www.planetapreto.hpg.com.br
- www.okun.hpg.com.br http://br.groups.yahoo.com/group/negrosepoliticaspublicas/
- www.firmaproducoes.com.br www.portalafro.com.br - www.redejovem.org.br - www.bocadaforte.com.br www.ileaiye.com.br www.midiaindependente.org - www.quilombovirtual.hpg.ig.com.br
- http://br.groups.yahoo.com/group/discriminacaoracial/messages
- http://membro.intemega.com.br/educafro/
http://www.romancecapoeira.hpg.ig.com.br/index.htm# - http://www.macua.com/localconversa/index.shtml
- www.asusm.hpg.com.br - www.cinemafeijoada.com.br USP NA ZONA LESTE PARA QUEM? Para os filhos e filhas dos
trabalhadores ou para os ricos? O governo do Estado de São Paulo
está se apropriando da luta histórica dos movimentos populares da Zona Leste
que há quase duas décadas lutam pela construção da Universidade Pública na
região. Alckmin assinou o decreto de implantação da USP da Zona Leste, no
entanto, à revelia da vontade da população, vem determinando um perfil de
universidade que não atende às necessidades nem os anseios da população,
mantendo a atual estrutura para a elite. Queremos a USP da Zona Leste voltada
aos interesses da juventude e da comunidade. Os filhos e filhas dos
trabalhadores/as devem ter o direito de entrar e permanecer na universidade
em condições dignas de estudo e aprendizado. Defendemos: Imediata construção do campus para funcionamento
pleno em 2004; Só mil
vagas não dá, queremos muito mais; Rever o estatuto da USP, possibilitando a
oferta dos cursos mais concorridos da FUVEST; Garantia de acesso e permanência de estudantes de
escola pública; Garantia
de acesso e permanência da população negra; Fim das taxas do vestibular; Assistência estudantil decente (moradia, habitação,
bolsa- trabalho, transporte, bolsa-alimentação entre outras necessidades),
para garantir a permanência dos filhos/as dos trabalhadores/as na
universidade; Gestão
democrática no novo campus, com a participação direta e efetiva da
comunidade. Toda à luta por uma USP da Zona Leste aberta aos filhos e filhas
dos trabalhadores e trabalhadoras! Assinam este documento:
APEOESP- Subsede Itaquera, CADESC, CEDEMA, CMP, DANDARA, FORÇA ATIVA, FALA
NEGÃO, MSE, PCO, PSTU, PT, PJMP, UPOGI, CABEÇAS FALANTES ONLINE. AGENDE-SE – AGENDE-SE –
AGENDE-SE – AGENDE-SE DOMINGO NEGRO A melhor festa black de todos os tempos. A iniciativa
surgiu através da realidade vivenciada no dia-a-dia do povo
afro-brasileiro: violência, drogas, inveja, maldade, injustiça, traição,
exclusão, guerra... Enfim, perdemos os valores do ser humano, que é ter
consigo mesmo o amor e a paz com seu próximo e lembrando que isso nos
acompanha desde criança e no decorrer da caminhada vamos deixando de lado.
Segundo os organizadores: “O objetivo é mostrar aos mercenários que produzem
festas e eventos, sem se quer ao menos pensar nos irmãos e irmãs que vivem
totalmente excluídos da sociedade e que precisam de muita consciência,
cultura, auto-estima e infelizmente não oferecem nada disso. A preocupação é
voltada para o quanto vão faturar na bilheteria. Estaremos organizando esta
festa a preço popular (R$15 reais, convite antecipado), com muita
positividade e sem esquecer de resgatar as nossas origens, existentes desde
que o mundo é mundo, mas sempre tratada como sub-raça. Temos certeza de uma
coisa, se 10% dos organizadores destas festas tomasse esse tipo de
atitude, a realidade da nossa juventude negra e pobre totalmente diferente.
Pretendemos realizar o “Domingo
Negro” de três em três meses, fazendo Hip-Hop original e resgatando a
cultura negra”. LOCAL: Chalé 7 Praia (chácara), Estrada do
Alvarenga nº 5013, 7 Praia. Informações: (011) 9262-2281/5615-5012, [email protected] SITE DE
ESCRITORES AFRO-DESCENDENTES
O Quilombhoje, com o propósito de
proporcionar maior visibilidade a autores e autoras afro-descendentes, está
organizando um novo site na internet. A proposta desse site é
possibilitar um mapeamento dos afro-descendentes que escrevem e publicam, ou
têm o desejo de publicar, textos que proporcionem reflexões sobre a
experiência afro-brasileira, em todos os seus aspectos: íntimos,
psicológicos, filosóficos, sociais, culturais etc. Cada autor(a) terá uma
página. O foco do site será os autores, um pouco de sua biografia e de
suas idéias, e não textos ou livros, embora as obras obviamente tenham de ser
citadas. O que estamos procurando é oferecer a leitores, professores,
pesquisadores e interessados em geral a possibilidade de conhecer escritores
afro-descendentes, através de um meio que vem sendo cada vez mais utilizado:
a Internet. No site estarão os dados dos autores, fotos e informações
relevantes. O nosso desejo é de que aqueles que se expressam através da
criação literária participem desse site. Por isso esse site será dedicado aos
que se ocupam da ficção (contos, poemas, romances, peças de teatro) de
qualquer estilo. No Brasil, tal iniciativa é necessária. Nos Estados
Unidos, por exemplo, podem ser encontrados mais de 50 sites dedicados aos
autores afro-americanos na internet. Sites dedicados à literatura afro em
nosso país ainda são poucos. Por isso, esperamos que você também ajude a
construir essa obra. O site faz parte de um projeto do Quilombhoje aprovado
pelo CERIS (Ação Durban). A inserção dos dados dos escritores no site
será gratuita. Mesmo escritores inéditos e rappers que ainda não têm nada
publicado até o momento terão a oportunidade de participar., desde que
publiquem conforme especificado abaixo. Não haverá processo de seleção para a
inclusão, que será feita a partir dos seguintes critérios: 1. Os autores
deverão ter trabalho publicado em livro (individual ou coletânea) ou em site
literário na internet (é preciso indicar o nome do site; o trabalho deverá
estar acessível). 1a. Autores que nunca publicaram nada até o momento
poderão publicar texto (conto ou poema) em jornal, revista ou site até o
prazo de 13 de maio (data de nascimento do escritor Lima Barreto). O site do
Quilombhoje é uma das alternativas, e a publicação é gratuita no: www.quilombhoje.com.br. 2. Os textos
devem mostrar, de alguma maneira (explícita ou não), a preocupação do autor
em refletir sobre algum aspecto da vivência afro no Brasil. 3. O autor
deve enviar ao Quilombhoje a Ficha de Adesão que pode ser
encontrada para download ou preenchimento on-line (Devolver até o dia 31 de
maio de 2003) no site do Quilombhoje acima especificado. O Quilombhoje
salienta que os autores que participarem do site não serão remunerados e as
despesas de xerox, fotos e envio de materiais pelo correio ou internet não
serão cobertas pelo grupo, cabendo a cada um a responsabilidade pelo envio de
seu próprio material. VEJO-ME
NO QUE VEJO Agentes Comunitários de Saúde e
representantes de entidades locais governamentais e não governamentais da
Cidade Tiradentes, com apoio do Instituto Brasileiro de Estudos e Apoio
Comunitário – IBEAC, estão organizando a mostra fotográfica “Olhos da
Cidade”. O objetivo é contrapor-se à
imagem negativa que se tem da região e resgatar a auto-estima dos moradores,
destacando e divulgando ações construtivas que têm sido desenvolvidas
historicamente no bairro e que são reveladoras de valores positivos, que
devem ser assumidos e vividos por todos. O trabalho teve início em 2001,
quando o IBEAC com apoio do Programa Paz nas Escolas do Ministério da Justiça
e em parceria com a Secretaria Municipal de Saúde de São Paulo, implementou o Programa de Formação de
Agentes Comunitários de Saúde em Direitos Humanos. Cidade Tiradentes é um dos
seis Distritos de Saúde onde, estão sendo construídos Planos de Promoção e
Ações de Cidadania – PPAC. A mostra “Olhos da Cidade” pretende envolver
moradores, escolas e entidades. Os moradores podem participar emprestando
fotos de seus melhores momentos em Cidade Tiradentes; os estudantes serão
envolvidos como entrevistadores e desenhando o que pensam e o que desejam
para seu bairro; alguns grupos estão organizando painéis temáticos, como o de
“imagens de mulheres que fizeram Cidade Tiradentes”; organizações estão
recuperando a memória de suas conquistas; uma outra ação será a de recuperar
matérias de jornais, revistas, vídeos etc que tragam boas notícias de Cidade
Tiradentes. Assim, o que o bairro oferece, as ações que vêm sendo
desenvolvidas, sua história e de seus protagonistas serão reunidos na
montagem da Mostra. Os Agentes Comunitários de Saúde estão recolhendo as
fotos, e as reportagens sobre Cidade Tiradentes podem ser entregues na
Biblioteca Comunitária Solano Trindade, localizada na R. dos Têxteis
1050. Participe você também!
Informações: 38643133, Bruna, Nil ou Niela, e-mail: [email protected] Assembléia Estadual do Movimento Negro – MNU/SP –
dia 18/05/2003, das 10 às 17 horas, Rua Silveira Martins nº 147, Metrô
Sé. PROJETO CINEMA NA RUA. Toda
última quinta-feira do mês, 19 horas. As exibições fazem parte de um pacote
cultural criado pelo MOCUTI (Movimento Cultural Cidade Tiradentes) em
parceria com o MAM (Museu de Arte Moderna), escolas e entidades do bairro.
Local: Av. dos Metalúrgicos nº 1.111,
Cidade Tiradentes/SP. Informações com Ana Rita Eduardo: (011)
6282-9429/6282-0320,
[email protected] |
CABEÇAS FALANTES ONLINE -
informativo afro-cultural brasileiro - edição mensal Editor responsável: Oubí Inaê
Kibuko - Caixa Postal 30255 - São Paulo/SP-Brasil - CEP 08471-970 E-mail: [email protected] - [email protected]
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Falantes Online são de inteira responsabilidade de seus autores. Se você não quiser mais receber
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CABEÇAS FALANTES ONLINE
Informativo Afro-cultural Brasileiro - Nosso
Atabaque Virtual - Leia e Divulgue |
Ano 2 – Edição nº 15 – junho/novembro/2003 – www.cabecasfalantes.hpg.com.br Esta edição encontra-se disponível no http://geocities.yahoo.com.br/tamboresfalantes/ |
EDITORIAL
Amigo Leitor estamos voltando, após um jejum
de quase seis meses, devido a problemas técnicos e internos. Não era nosso propósito esta pausa
forçada. Ela se deu por razões extremas. A partir desta, as edições de
Cabeças Falantes passarão a ser bimensais. Se dependesse da nossa vontade,
este informativo seria diário. Assunto é o que não falta e ainda temos muito a
fazer. Somos redatores e editores da nossa própria e contínua história.
Felizmente, a coletividade afro-brasileira ao soltar a voz, gradativamente
está conquistando espaço e ganhando visibilidade. Fato que apenas aumenta a
nossa responsabilidade. Seja individual ou coletiva. Tanto para negros quanto
para brancos. Queiramos ou não, vivemos num país multirracial e é dever de
todos, independente de cor, sexo, credo, posição, seja por qual meio for,
contribuir no empreendimento de uma identidade brasileira construtiva;
solidamente alicerçada pelo sentimento, respeito, solidariedade,
companheirismo. Lembrando a escritora e professora Geni Mariano Guimarães: “Não
há necessidade de passadas longas. É necessário sim, que não fiquemos
parados.” Agradecemos aos e-mails recebidos, cobrando a ausência de
Cabeças Falantes na rede. Contamos com a compreensão de todos, que direta e
indiretamente têm contribuído neste projeto de imprensa cultural, alternativa
e virtual. Não vamos dizer até janeiro de 2004, porque certamente nos veremos
em dezembro, trocando mensagens positivas para fecharmos este ano, com as
chaves de ouro que merecemos. Um abraço-amigo e um beijo no seu coração, com
muito Axé! Que o 20 de novembro, Dia Nacional da Consciência Negra, comece a
ser cotidiano... Oubí Inaê Kibuko – editor responsável – [email protected] MEMORIAL DE
NOVEMBRO – CANDEIA
Fonte: Revista Raça Brasil, nº 71, edição
novembro/dezembro 2003, pgs. 64 e 66.
LITERATURA – CADERNOS NEGROS 26 NO PRELO
Leitores, militantes e colecionadores da série Cadernos
Negros, podem ir reservando dezembro, dia 12, em local a confirmar, nas suas
agendas. O Quilombhoje, grupo de escritores negros paulistas, capitaneado por
Esmeralda Ribeiro e Márcio Barbosa, está colocando no prelo o volume 26,
dedicado a contos. Os textos presentes nesta edição estão com ótima qualidade
e reitera a diversidade temática e de estilo. E como reza a tradição que já
se repete a 25 anos, o lançamento do vigésimo sexto Cadernos promete uma
grande festa à literatura afro-brasileira contemporânea, fruto de esforço
coletivo, iniciado em 1978. Cadastre-se no site para receber convites e
informes: www.quilombhoje.com.br
Se preferir, envie e-mail para [email protected] Sua presença é imprescindível. Portanto vá
preparando aquele traje que você adora vestir em noites especiais, convide
familiares, amigos, vizinhos, enfim a turma toda para participar de mais esta
celebração literária, onde o axé vai rolar solto e com muitas histórias a
serem contadas depois. PORQUE SER A
FAVOR OU CONTRA AS COTAS PARA NEGROS
Muitas pessoas se colocam contra cotas, inclusive muitos
negros. O mais ilustre deles é o Ministro do Supremo Tribunal Federal, o Dr.
Joaquim Gomes Barbosa. Na verdade, essas pessoas mudariam de opinião se, em
vez de cotas, se falasse em ações afirmativas. Ora, cota nada mais é do que
um dos itens das ações afirmativas. Há vários itens que devem ser reparados
dentro das ações afirmativas, e um deles se chama: cota no ensino superior. Muitas pessoas são contra esse dispositivo, e muitos a favor também.
Porém, eu pergunto: qual o conhecimento histórico que temos da comunidade
negra, para tecer comentário? Devido ao assunto “moda”, qualquer pessoa se
sente apta a emitir uma opinião, seja ela positiva ou negativa. O problema é
que essa opinião, na maior parte das vezes, não é suficientemente
fundamentada. Eu gostaria de indicar para essas pessoas, uma “pequena” grande
biografia. Para começar, sugiro NAVIO NEGREIRO, de Castro Alves, A
ESCRAVIDÃO, de Joaquim Nabuco, CASA GRANDE E SENZALA, de Gilberto Freire, O
NEGRO NO BRASIL – com subtítulo “Da senzala à Guerra do Paraguai”, de Júlio
Chiavenato, e por fim, A BUSCA DE UM CAMINHO PARA O BRASIL, do Prof. Dr.
Helio Santos. Depois de ler esses livros, a pessoa com certeza terá sua
opinião fundamentada, a favor ou contra, acerca das ações afirmativas. Lendo essas obras, vocês vão vislumbrar o massacre, o
genocídio e a aniquilação de uma etnia. A estratégia desumana usada contra o
povo negro foi tão eficaz, que até hoje sentimos o efeito, e não sabemos até
quando vai perdurar. A ação dissolveu a família negra: destruiu a dignidade
do pai, violou a honra da mãe, tentando apagar o amor a sua vida. A filha,
ainda na impuberdade, era usada como objeto de prazer de senhores, e mais
tarde geravam filhos dos quais só era mãe por tê-los dado à luz. Aliás, a mulher foi especialmente oprimida nesse
contexto: as negras e mulatas forras não tinham outro recurso de
sobrevivência senão a venda do próprio corpo. Quem não se lembra das chamadas
“negras de tabuleiro”, constantemente retratadas nas gravuras de Rugendas,
como partes do cenário das Minas Gerais no ciclo do ouro? Mulheres que,
reprimidas e oprimidas, não vendiam somente os quitutes e refrescos de seus
tabuleiros, mas acabavam por se prostituir, muitas vezes arrastando atrás de
si as filhas... E assim perpetuando uma história de trágica desigualdade. As pessoas não querem, de forma alguma, abrir mão de suas
conquistas pessoais. Ninguém quer se lembrar da importância do processo
histórico, e muito menos sobrepor a reparação histórica às vitórias
individuais. Elas não estão erradas – porém, não podemos admitir que esses
anseios suplantem às lutas pelas imprescindíveis reparações sociais a que têm
direito os descendentes de todos aqueles que foram objetos de opressão. Por fim, gostaria de assinalar que o Estado alemão está hoje procedendo à reparação social a que tem direito o povo judeu. Mas os descendentes das vitimas do holocausto não está se satisfazendo com as propostas do governo (5 milhões de euros por família!) – eles sentem que merecem muito mais. Nós também merecemos, mas nossa reparação não vir de forma de compensação financeira, porém, no campo das oportunidades. As cotas universitárias de hoje podem fazer toda diferença na inclusão social do negro de amanhã. Devemos questionar o que desejamos para os nossos filhos, para nossos netos. Claro que há ajustes a serem feitos na forma de distribuição das chamadas cotas. Assim, concordamos que sejam necessárias inúmeras melhoras no programa de cotas, mas elas devem ser asseguradas por lei. EUFRATE ALMEIDA – repórter fotográfico e pesquisador cultural: [email protected] LINGUAGEM DE CINEMA AJUDARÁ EM SALAS DE
AULA NA ZONA LESTE
A idéia surgiu para contribuir com o acesso da população
dos bairros da periferia da cidade à produção audiovisual brasileira: filmes
e vídeos produzidos em diferentes épocas e regiões do país e em geral
ausentes da programação da TV, dos cinemas dos shoppings centers e das
locadoras de vídeo. Este acervo é destinado às comunidades escolares em seu
trabalho educativo, bem como pelos moradores do entorno em seu tempo livre.
Os recursos foram capitados com a venda dos produtos “Crer Para Ver” Humberto
Mauro, Gláuber Rocha, Antunes Filho e Cacá Diegues – alguns dos cineastas
brasileiros neste projeto – destinados na ajuda de 24 mil crianças e de
adolescentes matriculadas em 11 escolas públicas da zona leste de São Paulo e
para melhor entender melhor a cultura brasileira. Com recursos financeiros do
Programa “Crer para Ver” – iniciativa da Fundação ABRINQ e da Natura
Cosméticos – e parcerias com a Ação Educativa e a TV USP (Canal
Universitário), o desenvolvimento do projeto começou a partir de 2001, na
EMEF Antonio Carlos de Andrada e Silva, em São Miguel Paulista e na EE Madre
Paulina, no Itaim Paulista. Participação:
Neste período, as videotecas realizaram 3.272 empréstimos
para 267 pessoas inscritas. O curso de leitura da linguagem Audiovisual
contou com a participação de 81 professores. Filmes do acervo também foram
exibidos e discutidos em eventos como a “Semana do Cinema Brasileiro” – com
296 diretores, coordenadores pedagógicos e professores de escolas do Núcleo
de Ação Educativa (NAE–10) – e, em encontros de cineastas com as comunidades
escolares. Agora o projeto tem duração de quatro anos, abrangendo 11 escolas
e quatro órgãos administrativos da rede escolar – dois municipais e dois
estaduais. Isso surgiu de um grupo de 30 pessoas, incluindo nove
instituições: equipe do projeto, professores e diretores das três escolas,
cineastas, representantes dos órgãos administrativos da rede escolar, da
Fundação ABRINQ e da Ação Educativa. Os novos desafios são: ampliar o
repertório cultural de educadores, alunos e comunidade; promover a
articulação intra-escolar, das escolas entre si e com as comunidades de seu
entorno. Para tanto, outras ações foram previstas: mostras de vídeos
organizadas pelas escolas e grupos locais; visita de professores e alunos às
salas especiais e festivais de cinema; implantação de equipamento de filmagem
e edição digital para a produção local de vídeos iniciada nos cursos. Fonte:http://portal.prefeitura.sp.gov.br/noticias/sec/educacao/2003/06/0015
PARA AS
NEGRAS, POR QUÊ UMA "DUPLA PROTEÇÃO"?
Todos nós sabemos que os últimos anos trouxeram ao negro,
novos caminhos, momentos de reflexão, ação e principalmente, a força de luta
contra o preconceito e o racismo. Surgiram várias formas de expressão e de
busca dos objetivos, formas essas que trouxeram ao homem, ao mundo, um pouco
mais de liberdade e razão de viver. O movimento Hip Hop, por exemplo, que manifestado nas periferias traz
ao jovem marginalizado e quase sempre esquecido uma esperança demonstrada
através da sua voz, de suas rimas, de sua dança, dos seus grafites. Mostrando
que o jovem da periferia, na maioria negro, é um artista, um artista das
ruas, que faz de sua cultura um grito de apelo à sociedade. Um grito que
todos precisam parar pra ouvir. Além disso, sabemos que o negro precisa de oportunidades, meios e
instrumentos que o ajudem a crescer cada vez mais. Não podemos negar que o negro
precisa sim, de produtos, acessórios, cosméticos (xampu, cremes, maquilagem)
que realce sua beleza, mas que acima de tudo reforce, mantenha e faça ser
reconhecidos e admirados a sua raça, a sua cultura e o seu privilégio de ser
negro. Mas um fato muito me indignou nessa última semana: quando folheava
uma revista e vi uma propaganda de um desodorante de uma linha já conhecida.
Esse desodorante era lançamento, a propaganda dava uma página inteira, uma
foto chamativa e bonita. Era um desodorante para negros! A linha de
desodorantes da Rexona, desenvolveu um desodorante pra negros, chamado Rexona
EBONY. Na revista dois modelos negros, uma mulher e um homem juntos,
abraçados "ilustrava" a página, que não apresentava nenhum detalhe
quanto aquele "novo" produto, o ápice da propaganda era mesmo o
casal. Não gostei muito da idéia, porque várias dúvidas me vieram à cabeça:
porque um desodorante específico pra negros? Os demais desodorantes que já
tinha usado ou que uso, inclusive alguns da mesma linha, não mais serviriam
para mim? A intenção é de que o perfume desse novo desodorante seja o cheiro
que todos nós negros deveremos ter de agora em diante? Bom, meio
"encucada" e aflita fechei a revista e comentei com algumas colegas
a minha inquietação, que também se incomodaram e dividiram as mesmas dúvidas
comigo. Qual foi minha indignação maior, quando no dia seguinte, ao ver em
uma farmácia o tal "Rexona EBONY", tampa marrom escura, meio
metálica, com um perfume extremamente forte ao meu gosto e ao de minhas
amigas que me acompanhavam e o pior é que em seu rótulo, meio inclinada uma
tarja azul, anuncia: DUPLA PROTEÇÃO. Pronto, minha revolta estava completa, além de todos aqueles meus
questionamentos, de desodorante exclusivo e específico pra negros, agora uma
"dupla proteção" me intriga. Considero o desodorante um produto de
higiene pessoal. Porque o desodorante "criado" para a raça negra
teria que ter dupla proteção? A necessidade de proteção quanto aos odores da
transpiração ou suor do negro requerem uma proteção reforçada? Duas vezes
maior que os desodorantes comuns? Atentei-me aos outros desodorantes dessa
mesma linha e num outro apresentava essa "DUPLA PROTEÇÃO". Será que
os negros transpiram, ou seu suor é mais forte que o dos brancos? Vejo os produtos de higiene pessoal, como produtos que atendam às
necessidades de todo e qualquer ser humano normal, que necessite de todas as
rotinas de higiene pra seu dia-a-dia, sendo eles negros ou brancos, pobres ou
ricos. O branco toma banho, escova os dentes, o negro também! É igual! A
criação desse desodorante foi como se eles tivessem criado um papel higiênico
para negros, um fio dental para negros, uma escova de dente para negros ou
até um absorvente específico para mulheres negras. Reforço que o negro precise sim de produtos voltados para sua raça,
mas produtos que ajude na manutenção de sua beleza, de seus traços de seu
estereotipo (como sabonetes para peles ressecadas - como sabemos, que isso é
comum à pele negra, cremes de pentear - para cabelos crespos, batons – que
realce a cor escura de seus lábios, etc). Não sei até onde chegou o meu grau de interpretação da criação desse
novo desodorante Rexona Ebony (para negros). Sei que fiquei muito indignada,
quanto ao sentido de seletividade e segregação que ele atribui ao negro. Vi
nessa especificidade, ou nesta forma de agradar aos negros, com aquela idéia
de que "estamos criando produtos pra vocês...", um ato de segregar
o negro ou excluí-lo ainda mais da sociedade. Temos que pensar em integração,
em tomar parte, em participar. Não é criando produtos pros negros do Brasil e
fazendo-os participar do desenvolvimento econômico do país como meros
consumidores que se deixará pra traz a consciência de muitos anos de humilhação
e racismo que sofremos. O negro não pode deixar-se diminuir, dividir, separar, selecionar,
rotular, extinguir... O negro tem que ser reconhecido como protagonista da
construção histórica brasileira, como agente principal e significativo de sua
cultura, de sua evolução social e principalmente como transformador de toda
essa realidade medíocre que está permeando o nosso país. O negro não precisa
de um desodorante com dupla proteção! Estefânia Nazário de Souza - [email protected]
UM TRECHO DE
ZENZELE* (...) Muitos meses depois, quando viemos do mato parra a cidade a fim
de difundir a pregação de Chimurenga, certa noite passamos por aquela loja.
Vi o vestido e contei a história a um dos companheiros. Ele quis quebrar tudo
e tocar fogo. Mas eu não deixei. Disse que devíamos poupar nossas energias e
munições para a batalha maior. Eu não queria simplesmente comprar o vestido,
queria que ele me pertencesse, assim como todas as outras coisas pelas quais
ansiasse. Através da aprendizagem da luta, minhas ambições ultrapassaram
aquela simples roupinha para abranger a nação. Isso se tornou minha obsessão,
o verdadeiro sinal de meu progresso, dos sonhos de meu pai. E isso eu não
permitia que ninguém me negasse. Eu não podia comprar a liberdade, soube
disso já aos 15 anos, mas descobri que podia lutar por ela. Tomei consciência
de que, quando possuíssemos o território, o resto viria junto, porque é da
terra vermelha da savana que brotam a riqueza e a beleza do Zimbábue. Percebi
que, se tomássemos o solo, se cultivássemos e fiássemos o algodão, se
enchêssemos a bobina e cortássemos o molde, se costurássemos o tecido e
fossemos os donos da loja, nunca mais teríamos que implorar. *Romance de J. Nozipo Maraire, pg. 196, Editora Mandarim, 1996. HAROLDO OLIVEIRA Iniciou-se na música ainda adolescente compondo trilhas para os
espetáculos do “Grutemon Amadores Teatrais”. Apresentando-se pela periferia
de São Paulo, teve a oportunidade de musicar “Torturas de um Coração” de Ariano
Suassuna, “A Arvore que Andava” de Oscar Von Pful, “A Rua do Mundo” criação
coletiva, co-musicou “Morte e Vida Severina” de João Cabral de Melo Neto numa
remontagem do grupo. Participou do primeiro grupo de musica Afro brasileira o
”Lwalaba”, dirigido pelo
maestro Estevão Maia Maia. Autodidata, fez diversos cursos com diferentes professores dentre os quais:
Félix Wagner, piano e harmonia, Cláudio Celso, guitarra
e improvisação, Ná Ozzetti, canto e preparação vocal. Atua com destaque da
cena da música paulistana, possui composições gravadas pelas cantoras Ana
Luiza, “São Luís”, selo Dabliú, Juliana Amaral, “Dois Tempos” e “Bolero das
estrelas” lançado pelo selo Lua e Ana Luiza, “Cajaíba” em disco com produção
de Natan Marques que, dentre outras, já trabalhou com Elis Regina. Singular em suas composições, busca
elaborar o qualitativo e propor um diferencial.O compositor possui dois
discos, “Saopunkpiripaqueindustrial”, elaborado com muito Afro beat, no qual
mistura ritmos dançantes da M.P.B. ao Reggae, em composições como “Guerra
Santa”, “Alô Moisés” e “Ficar”, gravado e lançado pela gravadora RGE em 98.
Seu segundo disco, “Fruto” foi gravado em Liss na Suíça, é ainda inédito no
Brasil, onde podemos destacar as composições “Céu da Manhã”, “Sereno” e “Fruta
no Quintal”. Na área tecnológica Haroldo Oliveira
cursou Pró-Tools no Instituto de Áudio e Vídeo, software de ponta, utilizado
em estúdios de gravação e work-stations de última geração, opera Cakewalk,
software para gravação, edição e mixagem de Áudio e Midi, fala Inglês,
Espanhol. Contatos: [email protected]; [email protected] ou (55-11)3865-9662 e 9354-3742 MOMENTO DE
REFLEXÃO - NOSSOS MEDOS
Nosso medo mais profundo não é o de sermos inadequados. Nosso medo
mais profundo é que somos poderosos além de qualquer medida. É a nossa luz,
não as nossas trevas, o que mais nos apavora. Nós nos perguntamos: Quem
sou eu para ser Brilhante, maravilhoso, talentoso e fabuloso? Na realidade,
quem é você para não ser? Você é filho do Universo. Você se fazer de pequeno
não ajuda o mundo.Não há iluminação em se encolher, para que os outros não se
sintam inseguros quando estão perto de você. Nascemos para manifestar a
glória do Universo que está dentro de nós. Não está apenas em um de nós: está
em todos nós. E conforme deixamos nossa própria luz brilhar,
inconscientemente damos às outras pessoas permissão para fazer o mesmo. E
conforme nos libertamos do nosso medo, nossa presença, automaticamente,
libera os outros. Nelson Mandela, ex-presidente sul-africano. Texto compilado e
enviado por Aflorisbela para [email protected] DIÁLOGO
COM PRODUTORES NEGROS Artistas Negros participaram de encontro com
a Secretaria Cláudia Costin. A reunião faz parte da política de maior inserção cultural de
afro-descendentes. O encontro
realizado em 15/07/03, no auditório
da Secretaria de Estado da Cultura contou com a participação de mais de 150
artistas negros entre atores, músicos, escritores, cineastas, dançarinos e
pintores. A iniciativa faz parte das ações do grupo de trabalho para promoção
da diversidade cultural. Criado no dia 13 de maio, em comemoração ao dia de
libertação dos escravos esta comissão visa propor estudos e formular
programas para uma maior participação do negro nos principais setores
artísticos, como cinema, teatro, artes plásticas, dança e música em geral. Na
ocasião da reunião foram debatidas várias questões entre elas a inclusão
cultural, a adoção de uma política de cultura voltada para o cidadão. Fonte: http://www.cultura.sp.gov.br/ultimasnoticias/afrodescendentes.htm
- [email protected] NEGRA
CINEMATOGRAFIA Ver é ver-se, rever-se... Para os
cinéfilos da coletividade afro-brasileira, estudantes e público interessado, uma
relação de filmes com temática negra ou protagonizados por atores negros
encontra-se disponível na Internet. Está sendo realizado um trabalho de
pesquisa e em breve, cada filme terá sua ficha técnica. Acesse: http://www.portalafro.com.br/cinema/cinefilmes.htm UMA ONG EM DEFESA DOS
TELESPECTADORES O TVer
nasceu de uma iniciativa de Marta Suplicy que, a partir da indignação
manifestada pessoalmente ou através de carta, por distintas pessoas, propôs a
especialistas em diversas áreas a constituição de um grupo de trabalho para
refletir sobre a responsabilidade social e pública da televisão no Brasil.
Formou-se, assim, em junho de 1997, um grupo de trabalho que se denominou
TVer, cujo objetivo é contribuir com elementos de reflexão sobre esse difuso
mal-estar gerado pela baixa qualidade da programação televisiva. É também
objetivo do TVer analisar as conseqüências e responsabilidades da TV no
desenvolvimento infanto-juvenil, na formação das mentalidades e nas questões
da legislação brasileira, levando em conta a
regulamentação existente em países democráticos. Para os participantes do TVer qualquer
tentativa de conscientização sobre cidadania, problemas de violência,
gravidez na adolescência, exploração sexual ou de trabalho das crianças,
desrespeito à mulher, à população negra e às minorias sexuais tem que,
necessariamente, levar em conta a atuação da TV. Principalmente porque as
pesquisas indicam que as crianças brasileiras passam, em média, 3 horas
diárias assistindo a televisão e isto representa quase o mesmo tempo que elas
permanecem na escola. Num ajuste da proposta inicial, o TVer se transformou,
em agosto de 1998, numa organização não-governamental (ONG), sem fins
lucrativos. Essa decisão foi tomada para que o TVer possa implementar uma
estratégia de responsabilidade social, pública e de valorização da cidadania
e dos direitos dos telespectadores. O objetivo da criação da ONG foi
facilitar ao TVer se pronunciar, sempre que sentir necessário, face ao
incômodo da população frente a certos temas. Isso não significa que o TVer
pretenda fazer uma "crítica televisiva", tal como é feita de
maneira interessante e plural em diferentes meios de comunicação, mas que
buscará aprofundar questões levantadas pela crítica, pelos telespectadores e
pelas pesquisas. É importante ressaltar que o TVer não foi criado para
defender a censura e esse não é o seu objetivo. O TVer se propõe a discutir a
respeito das responsabilidades sociais e públicas em relação ao conteúdo das
mensagens. Para o TVer, a censura real só pode ser efetivamente exercida
antes da difusão do programa por televisão. Depois da exibição, as formas de
censura ou de exigência de mudança de comportamento decorrem de negociações
ou da formação de uma opinião pública influente. Nesse sentido, nenhuma
organização não-governamental tem realmente o poder ou a atribuição para
censurar a um meio como a televisão.
Entendemos, entretanto, que corresponde aos cidadãos e telespectadores
e aos seus representantes políticos a tarefa de exigir responsabilidade
daqueles que ocupam a esfera publica através da televisão. As concessões são
propriedade pública entregues às emissoras na qualidade de serviço publico e
este deve ser exercido com responsabilidade e em nome do bem comum. Por
último, o TVer pretende estimular a criação de outros grupos similares para
que, nos diferentes cantos do país, se discuta a televisão e os direitos dos
telespectadores e, quem sabe, se ponha um fim ao monólogo que hoje está estabelecido
entre TV e sociedade. Fonte:
compilação do site: www.tver.org.br MOVIMENTO OU INÉRCIA
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CABEÇAS FALANTES ONLINE - Informativo
afro-cultural brasileiro Editor responsável: Oubí Inaê Kibuko –
Caixa Postal 30255 – Cid. Tiradentes – SP/SP-BR – 08471-970 E-mail: [email protected] - [email protected] – Fone: (55-11) 9750-1542 Edições publicadas encontram-se disponíveis no www.arquivocabecasfalantes.hpg.com.br Colaboraram nesta edição: Agadabi, Estefânia Nazário de Souza, Eufrate Almeida, Lourenço Cardoso. Valdo França. Os artigos publicados em Cabeças Falantes Online são de inteira responsabilidade dos seus autores. |