O Brasão da Luz - parte I

A porta do quarto foi aberta cuidadosamente, o que não evitou que rangesse
e acordasse a pequena ocupante, que estava dormindo sobre sua cama coberta de lençóis de cetim branco.

-- Kitsunemon?

O jovem digimon ajoelhou-se ao lado da cama. Como seu nome já indicava, era uma espécie de  digimon raposa, com rabo castanho e orelhas pontudas, e longos cabelos da mesma cor de sua cauda. Tinha faiscantes olhos dourados e mesmo sua fisionomia carrgada não era o bastante para deixá-lo menos belo do que era. 

-- Pois não, majestade?
-- Kitsunemon, meu pai! Eu quero notícias dele!
-- Seu pai está no mundo dos humanos. 
-- Mas... -- a garota encolheu-se na cama -- ele não tem mandado notícias? Por favor, me fale, Kitsunemon?

Era sempre assim. Há duas semanas Kitsunemon era pressionado pela princesa Kyuuketsukimon, mas não podia contar a verdade para ela. Sempre dizia a mesma coisa na tentativa de esconder a verdade, mesmo sabendo que mais dia, menos dia, a jovem descobriria o que sucedera ao seu pai.
Ele estava cansado dessa pressão e sabia o quanto Kyuuketsukimon estava angustiada. O melhor que  ele poderia fazer no momento seria contar-lhe toda a verdade.

A um sinal os dois lacaios que entraram no quarto com ele se retiraram silenciosamente.
Kitsunemon sentou-se próximo à princesa e segurou suas delicadas e pequenas mãos. 

Hesitando, analisou a princesa de cima a baixo. Seus cabelos loiros e cacheados estavam presos por  fitas de cetim rosado, e ela vestia uma camisola branca toda bordada. Apesar de seu corpo e trejeitos infantis, vivera séculos e séculos trancada naquele quarto escuro, sem jamais ver a luz.
E ainda que pudesse sair, de nada adiantaria -- ela era cega. 
O digimon raposa conseguia sentir um pouco do nervosismo que Kyuuketsukimon guardava para si.
Enfim, encheu-se de coragem e decidiu falar.

-- Seu pai... está morto. Ele foi ao Mundo dos Homens para buscar a luz para você, mas foi derrotado. 

Um silêncio mortal tomou conta do quarto por longos segundos, até que a princesa respondeu ao choque.

-- Compreendo. -- as palavras foram ditas num fiapo de voz. Dos olhos azuis vítreos escorreram lágrimas para a sua face pálida. Desnecessário dizer que Kitsunemon sentiu seu coração partir naquele instante, mas preferiu o silêncio como resposta.

-- Por mais quanto tempo eu terei que esperar para me libertarem dessa prisão? -- a voz de Kyuuketsukimon soou quase autoritária, mas a única resposta foi o ruído da porta se fechando novamente.

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"Minha querida, não se preocupe, eu trarei sua luz para você..."

Continua...

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