AVISO SÉRIO: Não
é uma songfic - mas poderia ter sido. Também não é um poema - mas
"flerta" timidamente com a poesia. Planejada para ser uma SS/HG e
escrita de modo a possibilitar perfeitamente uma leitura como D/G - mas, no
final, aberta a todos os shippers e a nenhum. Se alguém quiser arriscar...
AVISO IDIOTA (e
desnecessário, já que nem cito nome nenhum - aliás, acho que eu até poderia
publicar este texto como "original fiction", ao invés de "fanfiction"!...
Hum, gostei da idéia): Nada que tem a ver com Harry Potter me pertence -
a não ser o exemplar do livro cinco que ganhei de Natal da minha prima e a
autoria e a tradução de um punhado de fics que, monetariamente falando, pelo
menos, não valem nada - e nada disso me faz ganhar dinheiro - muito pelo contrário,
só me faz perder, com energia elétrica, conta telefônica e entradas para o
cinema. Sem contar o tempo - que, dizem, também é dinheiro. Portanto, você
provará ser mais retardado do que eu se pensar em me processar por isso.
Narcisos
Que Se Lamentam
Por
Noctivague
Acordar
sozinha mais uma vez.
Um outro
amanhecer oferecia-se-lhe pela janela.
Acordar
sozinha de uma vez por todas.
E por
vontade própria, dessa vez.
Ela ainda não
conseguira dormir, não naquela noite.
Mas estava
certa de que conseguiria, tão logo sentisse que as coisas estavam certas,
afinal.
E que,
claro, havia feito a coisa certa.
Porque tanta
gente tinha certeza de que ele não era o cara certo pra ela...
E eles
estavam certos, porque ele não era mesmo.
Mas poderia
ter sido, se ele tivesse tentado fazer as coisas darem certo também.
Ela, sim,
sempre tentara, do primeiro ao último dia.
Mas poucos
foram os dias em que ele, realmente, esteve presente.
Talvez ele
nem soubesse disso, então.
De que ela
tentara, de que ela fracassara, de que ela, finalmente, o deixara.
Para sempre
e para o bem de todos, era o que ela esperava.
E, olhando
pela janela, ela esperava um novo dia começar.
Pacientemente,
enquanto caíam as últimas gotas da chuva da noite.
Ela estava
se sentindo bem, apesar do frio.
Apesar do
reflexo daqueles olhos cansados no vidro da janela, ela estava se sentindo bem.
Os trovões
haviam passado, a chuva diminuíra, o sol não tardaria a brilhar.
Ela se
aproximou mais do vidro e sorriu.
Sorriu para
a sua imagem refletida, sorriu para si mesma.
Pois sabia
que sentiria falta dos seus narcisos.
Dos seus
adoráveis narcisos, dos seus sempre adorados narcisos.
(FIM)
*
* * * * * * * *
N/A:
Contrariando os meus hábitos, vou tentar ser meio sucinta nessa nota, pra ela não
ficar muito maior do que a fic. ;) Só queria levantar os itens fundamentais
para uma possível compreensão de uma possível beleza que, muito
possivelmente, só a autora enxerga nesse texto:
1) as metáforas
- óbvias mas, espero, ainda não totalmeentte desprovidas de valor - e o conseqüente
jogo entre denotação (o uso mais "objetivo" das palavras) e conotação
(o contrário, claro, o mais "subjetivo");
2) os vários -
e igualmente óbvios - significados do termo "narciso" (botânica,
mitologia e, por que não?, psicanálise);
3) o principal:
a letra (que segue abaixo, com uma "diagramação" e com uma sugestão
de tradução um tanto quanto pessoais) de "Daffodil Lament"
(numa tentativa de tradução o mais "neutra" possível, "Lamento
de Narciso" - "especulações" mais adiante), uma (estranhamente
bela, na minha opinião) música da banda The Cranberries.
Daffodil
Lament
holding
on... that’s what I do... since
I met you...
and
it won’t be long... would you notice...
if I left you...
and
it’s fine for some... cause you’re
not the one... you’re not the one...
there...
there... there... there... there... there...
all
night long... I laid on my pillow...
these things are wrong...
I
can’t sleep... here...
so
lonely... so lonely... so lonely...
I have
decided to leave you forever
I have
decided to start things from here
Thunder and
lightning won’t change what I’m feeling
And the
daffodils looked lovely today
And the
daffodils look lovely today
Look lovely
today
Ooh, in your
eyes I can see the disguise
Ooh, in your
eyes I can see the dismay
Has anyone
seen lightning?
Has anyone
looked lovely?
And the
daffodils looked lovely today
And the
daffodils look lovely today
Look lovely
today
Look lovely
(look lovely) - look lovely (look lovely) - look lovely (look lovely) - look
lovely (look lovely) - look lovely (look lovely) - look lovely (look lovely) -
look lovely (look lovely) - look lovely (look lovely) - look lovely
Lamento de
Narcisos
[OBS.: Se você,
como eu, é um "tarado" por tradução ou só curioso mesmo, pode dar,
se quiser, uma olhada no P.S. imenso, que trata do título dessa canção; se não
é, simplesmente ignore-o, ok?]
persistir... é
o que eu faço... desde que conheci você...
e não vai
levar muito tempo... você perceberia... se eu te deixasse?...
e isso é ótimo,
pra alguns... porque não é você... não é você...
ali... ali...
ali... ali... ali... ali...
a noite
inteira... eu me deitava no meu travesseiro... essas coisas estão erradas...
não consigo
dormir... aqui...
tão solitária...
tão solitária... tão solitária...
Decidi te
deixar pra sempre
Decidi começar
as coisas a partir daqui
Raios e trovões
não vão mudar o que estou sentindo
E os narcisos
pareciam adoráveis hoje
E os narcisos
parecem adoráveis hoje
Parecem adoráveis
hoje
Ó, nos seus
olhos posso ver a dissimulação
Ó, nos seus
olhos posso ver o desalento
Alguém viu
algum raio?
Alguém pareceu
adorável?
E os narcisos
pareciam adoráveis hoje
E os narcisos
parecem adoráveis hoje
Parecem adoráveis
hoje
Parecem adoráveis
(parecem adoráveis) - parecem adoráveis (parecem adoráveis) - parecem adoráveis
(parecem adoráveis) - parecem adoráveis (parecem adoráveis) - parecem adoráveis
(parecem adoráveis) - parecem adoráveis (parecem adoráveis) - parecem adoráveis
(parecem adoráveis) - parecem adoráveis (parecem adoráveis) - parecem adoráveis
P.S.: Só o título
dessa canção já dá bastante "pano pra manga", pelo seguinte: em
português, por um lado, ele "ganha", creio eu, com a tradução de daffodil
(que, apesar da inevitável ligação com o mito, é um termo mais específico
para a planta mesmo - também existe a palavra narcissus, usada, acho, em
ambos os casos) para narciso (que, por reunir em si ambos os significados
- "botânico" e "mitológiicoo" -, acaba se tornando um termo
semanticamente mais "rico", mais propício a jogos de palavras); por
outro, no entanto, "perde" com a tradução de lament (que,
acabo de descobrir, além de meramente "lamento", significa também
"canção ou poema de lamentação, pranto, luto, dor, pesar,
tristeza" - ou seja, pode ser sinônimo de "elegia" -
"poesia consagrada ao luto e à tristeza" -, "réquiem" -
"música sobre o ofício dos mortos que começa pela palavra latina requiem"
- ou simplesmente "música fúnebre ouu canção triste, melancólica")
para lamento (que, geralmente, exclui uma referência mais explícita aos
campos da poesia e da música - apesar de, em um dos meus dicionários, constar
o seguinte significado como também sendo possível: "nos primórdios da ópera,
episódio lírico-dramático para canto ou para recitativo que precedia o
desfecho do entrecho dramático"). Quanto à tradução de daffodil,
não há muito o que questionar, acredito; já com relação à de lament,
apresento dois motivos básicos para a minha escolha de "lamento", ao
invés de "réquiem" ou "elegia": a maior proxim idade (gráfica
e sonora) com o termo original e a nova dificuldade que seria ter que optar por
um dos dois campos, o da música ou o da poesia - lembrando que lament reúne
ambos em si e que existem também as palavras, mais específicas para cada um
dos casos, "requiem" e "elegy", não faria sentido eu
realizar uma escolha que "limitaria", em certa medida, o sentido do título
e que, ademais, o(s) autor(es) da letra preferiu(-ram) não fazer.
Nota
final
(FINALMENTE!): Passei a gostar mais dessa música depois de ter acesso à letra
e de, acidentalmente, descobrir a espécie de "jogo de palavras" que há
por trás do título - seria uma verdadeira pena se eu os
"traumatizasse" com as baboseiras todas que escrevi (fic e notas) e
vocês não quisessem ouvir falar dela nunca mais, muito menos a ouvir.
Ela me chamou a atenção justamente pela letra - que (no original, claro) se
parece incrivelmente com um "poema de verdade" - e pela interpretação
(no sentido musical do termo mesmo) - ao meu ver, bastante "catártica"
(no sentido teatral do termo, o do efeito que a representação de uma peça -
original e mais especificamente, de uma tragédia - provoca nos espectadores)
também. Definitivamente, uma coisa que mexe com os sentidos - em todos os
sentidos do termo. ;)
Um GRANDE abraço
e meu MUITO obrigada aos pouquíssimos que conseguiram chegar até aqui - e também
aos pouco mais que pouquíssimos que não conseguiram.