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Entrevista
Segunda
parte da entrvista com Janer Cristaldo no Caneca na Rede.
John
pergunta:Janer, a esquerda não arregimentou tanta
gente e tanta gente intelectualmente capaz do nada, alguma coisa convenceu
estas pessoas de que a promessa de paraíso na terra era factível.
Por que a esquerda é tão sedutora? Qual a relação
dos intelectuais com o poder a justificar uma adesão em massa
à esquerda marxista?
Janer
responde:Como patinhos
Toda utopia é sedutora, John. Basta lançar uma idéia
e depois sustentá-la com mentiras. Os marxistas mentiram um
século inteiro. A revolução de 17, desde seu
início, foi um fracasso. Mas era saudada no mundo todo como
a esperança dos oprimidos, dos “damnés de la terre”,
na expressão de Frantz Fanon.
Enquanto
Stalin massacrava a magotes, seu nome era louvado como se louva a
um deus no Ocidente. Idem quanto a Mao. Promoveu massacres monumentais
na China e era visto como um libertador pelos intelectuais europeus.
China e União Soviética, como os demais países
socialistas, viviam à beira da miséria e eram tidos
como modelos de organização social no mundo inteiro.
O
gosto dos intelectuais pelo poder é antigo e já foi
denunciado em 1927, por Julien Benda, em seu célebre panfleto,
"La trahison des clercs". Não é difícil
enganar intelectuais.Stalin sabia manipular a vaidade e o apego ao
vil metal dos escritores. Jorge Amado e Graciliano Ramos, por exemplo,
mal eram conhecidos no Brasil e já eram traduzidos ao russo
em tiragens de milhões de exemplares.
Qual
escritor resiste a tais cantos de sereia? A maioria dos escritores
do século passado, os melhores cérebros da época,
caíram como patinhos no conto do comunismo. Os que resistiram
foram pichados como reacionários, agentes da Cia, defensores
do imperialismo e gentilezas que tais.
Geraldo
pergunta:Na sequência da resposta anterior dirigida
a mim, quando admitiu ocorrer muitos erros na escrita jornalística
pelos veículos de comunicação de massa, a saber
jornais, revistas e telejornais. Faço antes algumas afirmações
e peço que me aponte onde fugi à verdade e, se possível,
corrigindo-me.
a)
Os erros acometidos nesse formato de informação pelos
jornalistas são normalmente perdoados pelo público em
geral face a rapidez exigida tanto pela presença da concorrência
quanto pela avidez do próprio público em saber.
b) Não fosse a direção desses veículos
de comunicação, que também são compostos
de homens e passiveis dos mesmos erros, os jornalistas estariam ainda
mais suscetiveis a erros mais escabrosos. Claro que estou supondo
que todos envolvidos no processo estejam comprometidos com a verdade.
c) Porém, esse compromisso com a verdade poderá sempre
ser prejudicado uma vez que estamos num mercado livre, competitivo
e custoso havendo, peremptoriamente, um sensacionalismo das notícias.
Às vezes, até mesmo, distorcendo certos FATOS. Fatos
esses a matéria prima da verdade.
d) Essas distorções ou dramatizações das
notícias nos veículos impressos e televisiveis centralizavam-se
na figura da direção dos jornais, estando os jornalistas
quase que isentas de qualquer responsabilidade.
d) Essa política o fez se retirar dessa mídia encontrando
um nicho que lhe proporcionou mais liberdade; O MSM entre outras
e)Acontece que voce É o Janer Cristaldo, que fez nome naquela
mídia. E que facilitou sua entrada no mundo virtual, garantindo-lhe
o público.
f) Voce convive nessas mídias eletrônicas com jornalistas
não tão renomados e que, por serem humanos, desejam
igual reconhecimento.
Daí
Pergunto após me confirmar as afirmações acima.
Como
os novos jornalistas, sem os recursos que os grandes jornais propiciavam
para cobrir grandes reportagens, conquistarão seus públicos?
Obrigado!
Janer
responde:Começar de zero
Não, Geraldo, não acho que o público perdoe tais
erros. Ocorre que o público em geral os ignora. Tem gente até
hoje acreditando que houve um massacre de ianomâmis em 93. Mais
ainda: tem gente que acredita que existam ianomâmis no Brasil,
só porque uma fotógrafa romena a serviço de multinacionais
assim batizou quatro tribos distintas, falando quatro idiomas diferentes.
O governo caiu na armadilha da imprensa e doou a cinco mil bugres
um território equivalente a três Bélgicas. O público,
se esclarecido fosse, não perdoaria isto aos jornalistas.
Não
é que eu seja o Cristaldo. Tenho 58 anos e desde os vinte venho
trabalhando na imprensa. Sem falar na publicação de
alguns livros e muitas traduções. Este trabalho, bem
ou mal, acaba sendo reconhecido. O novo jornalista, para ser reconhecido,
terá sempre de começar de onde se começa: de
zero.
Com
a vantagem de que hoje existe a Internet. Em meus dias de correspondente
em Paris, eu tinha de mandar minhas matérias pela Varig, que
chegavam em Porto Alegre três ou quatro dias depois. Além
disso, dependia de um vínculo empregatício. Morreu a
Folha da Manhã, fiquei pendurado no pincel.
Hoje,
você pode ser seu próprio editor, tanto como jornalista,
tanto como escritor. Os tempos mudaram. Verdade que o grande público
ainda não chegou à leitura eletrônica. Mas isso
é o de menos. O grande público só interessa a
demagogos. Se você consegue atingir um público seleto,
sem ter de submeter-se à censura inerente a todo jornal, me
parece que já está bom.
John
pergunta:Racionalizar a sociedade
Janer, o socialismo tem como uma de suas fundaçãoes
a racionalização da sociedade, como se vê da idéia
de planificar a economia, regrar costumes, interferir em comportamentos
julgados nocivos, etc..O componente racionalista do socialismo é
uma explicação plausível para a preferência
dos intelectuais por este regime? Se a racionalização
não é possível e nem desejável, significa
que estamos sujeitos a uma sociedade irracional, selvagem?
Janer
responde: Estado não sabe gerir
O problema, John, é que quem racionaliza a sociedade ou planifica
a economia é um Estado com poderes absolutos. A História
tem mostrado sobejamente que isto não funciona. Eu andei por
países de economia planificada. Em todo esses países,
onde os produtores privados eram vistos como inimigos de classe, havia
miséria e escassez generalizada de bens. Conto apenas um episódio,
que vivi em pleno verão na Mangália, balneário
romeno às margens do Mar Negro.
Estou
na praia, é quase meio-dia, dois garçons abrem um bar.
Pensei cerveja, fui lá buscar. Santa ingenuidade. Não
havia cerveja, nem água mineral, nem coca-cola, nem uísque
ou vodca, nem mesmo o haidouc, a cachaça típica do país.
Não
há nada para beber, então? Nada. E para comer, o que
é que tem? Nada. Nada não entendia eu. Era aquilo um
bar? Era, disse o garçom. Estava aberto? Claro que estava,
o senhor não está vendo? Eu estava vendo. Mas não
há nada para comer ou beber? Não. E por que não
há? Porque o distribuidor não trouxe, ora bolas! E por
que o bar está aberto? Por que eu sou funcionário, tenho
de abri-lo, disse o garçom.
Onde
não há propriedade, não há lucro nem comércio.
Ao abolir a propriedade privada, os bolcheviques apostaram num desprendimento
inato do ser humano, que o capacitaria a trabalhar sem pensar em lucro.
Deu no que deu: tirania, o massacre de milhões de pessoas,
para se chegar a um conglomerado de países à beira da
fome.
Ora,
dirás, faltar cerveja não condena um sistema. O problema
é que quando falta bebida, falta também comida. Vi gente
se pegando aos tapas em Mangália, disputando um pedaço
de carne, quando o pedaço de carne dava o ar de sua graça.
A Romênia tinha grandes plantações de batatas.
Mais da metade apodrecia na lavoura. Como quem a colhia não
tinha lucro algum, pouco estímulo havia para a colheita.
A
interdição da propriedade privada e do lucro afundou
o mundo socialista. Não há graça alguma em produzir
qualquer coisa a troco de nada.
John
pergunta:Janer, o episódio que relatou me parece deveras
didático. Porém, insisto na mesma questão: Se
a racionalização não é possível
e nem desejável, significa que estamos sujeitos a uma sociedade
irracional, selvagem?
Janer
responde: Sociedade selvagem é a nossa
Bom, eu não sei o que você entende por sociedade irracional,
selvagem. Conheço dezenas de países onde não
há economia planificada, e tudo funciona muito bem. Suécia,
Alemanha, França, Espanha, enfim, todos os países da
Europa ocidental. As necessidades vão sendo supridas pela iniciativa
privada. Evidentemente, necessita-se de uma legislação
que regulamente a extensão dessa iniciativa.
O
camelô, por exemplo, que constitui a praga das grandes cidades
no Brasil. Ele é iniciativa privada, é claro. Mas não
pode apropriar-se do espaço público, como acontece aqui.
Tampouco pode vender contrabando ou piratear produtos eletrônicos.
A isto eu chamaria de irracional e selvagem. Não vamos encontrar
isso – a não ser como exceção – numa
cidade européia. Entre nós, virou norma.
Quando
a polícia quer reprimir a camelotagem, os camelôs reagem:
querem que nós passemos a roubar, assaltar? Ocorre que eles
estão roubando. Roubam o espaço público, roubam
o comerciante que paga impostos, roubam a força de trabalho
nacional quando vendem contrabando, roubam direito de autor quando
vendem produtos pirateados. Em verdade, nós estamos dominados
pela sociedade irracional da qual falas. Pois o Estado há muito
tempo perdeu a guerra contra esta contravenção generalizada.
Sociedade
selvagem é a nossa.
Geraldo
pergunta:Perdoe-me por tê-lo feito ler todas aquelas
afirmativas no questionamento anterior mas eu precisava delas para
fundamentar uma linha de raciocício.
Voce
afirmou que um jornalista hoje deve começar do zero. Perfeito.
Esse zero subentende-se, portanto, que ele deva trilhar um caminho
semelhante ao seu, ou seja, publicar livros e trabalhar na imprensa
escrita que voce mesmo declarou existirem o controle e as tendencias
nas redações dos jornais e nas editoras de livros.
Digo isso porque hoje ainda é muito difícil garantir
a estabilidade financeira que voce consquistou se utilizando somente
do espaço virtual dos tempo modernos.
A
menos que minha avaliação esteja incorreta, o novo profissional
na área de jornalismo deverá sofrer todo o controle
e a violação do pensamento que voce sofreu do decorrer
da sua vida?
Em
tempo:
O quanto que importância de ser alguém explica passar
por tudo isso que voce passou?
Obrigado
novamente pela paciência despendida por nós!
Janer
responde:Não me queixo
Jornalismo virtual, no Brasil, não garante estabilidade financeira
a ninguém. Talvez nos Estados Unidos, não sei...
O
novo profissional, se tiver bons padrinhos em jornal, pode começar
por cima. Mas eu não me queixo das tribulações
passadas. Fazem parte da vida.
O jornalismo me proporcionou belas viagens, conheci pessoas interessantes,
curti o planetinha.
Pior
teria sido viver engravatado, chamando juiz de Meritíssimo.
Geraldo
pergunta:o mundo viveu muitos regimes diferentes mas sempre
a expressão, seja ela artística ou dos fatos, sobreviveu
a todos. Se bem observarmos, o desejo de expressão e sua qualidade
sempre foi diretamente proporcional ao controle dos regimes passados
ou, mais precisamente, à censura e à informação
manipulada por estado regulador.
Em outras palavras, os controles regimentais, de uma certa maneira,
contribuiram para as diversas formas de se fazer arte e para as mais
criativas maneiras de informar sem despertar suspeitas da censura.
Voce viveu essa época e, provavelmente, cresceu fazendo essa
arte de qualidade; onde fez seu nome.
Voce
admitiu a necessidade de um jornalista ter que trilhar um caminho
semelhante para se tornar reconhecido.
E
em resposta a uma pergunta que fiz mais acima, voce sugeriu que, apesar
de somente atingir um público seleto, fazer notícia
ou arte estando fora dos olhares da censura, seja ela estatal ou empresarial,
é uma meta a ser alcançada.
Daí
Pergunto, se ainda me permitir:
As expressões jornalística ou artística sem a
censura do estado ou empresarial, num veículo fácil,
aberto a todos e liberal como o da internet, atrofiaria a engenhosidade
do ser humano de fazer arte e notícias com a beleza que ele
sempre demonstrou?
Em
outras palavras: A éguinha pocotó e a volatilidade das
notícias denuncistas e sem comprometimento com qualidade informativa
são resultados direto da liberdade de expressão proporcionado
pelo liberalismo?
Obrigado!
Janer
responde:Todo o espaço para a egüinha pocotó,
Sílvio Santos ou Jô Soares. O leitor ou espectador que
eleja o que quer ver, ler ou ouvir. Sou defensor inclusive da pornografia.
Imagina,
por exemplo, um crente que está fissurado assistindo o canal
do pastor. Uma zapeada, e ele cai num pornô. Talvez lhe seja
salutar. Talvez ele se afaste um pouco mais do fanatismo e do ódio
à mulher e ao prazer, típico das religiões monoteístas.
Fernando
pergunta:Sempre fui a favor da premissa de que, se não
quer ver estrelas, não olhe para o céu, e do livre direito
de escolha, inclusive com acesso à pornografia, com os devidos
cuidados com os menores. Vc não acha que a Internet veio fazer
aflorar esta questão do desejo das pessoas, da sua liberdade
de escolha e do quanto o estado sempre quer tutelar estas escolhas?
Um exemplo é a pedofilia. Quer se justificar uma mair censura
da rede por causa do aumento dos casos detectadas na internet. Mas
é apressada essa análise, pois o pedófilo existe
e não é cria da internet, mas consegue expressar sua
perversão através dela e, esse aumento, é só
uma percepção mais exata da dimensão do problema.
A mesma coisa quanto ao nazismo e outra excentricidades. A exceção
quer balizar o que é regra e os justos pagarão pelos
pecadores. Como vc avalia essa questão?
Janer
responde:Hipocrisia
Se os pedófilos se valem da telefonia para encontrar suas vítimas
vamos proibir os telefones? O mesmo diga-se do nazismo. Mas há
muita hipocrisia nessa discussão sobre pedofilia. O número
de adolescentes grávidas no Brasil, entre 10 e 14 anos, está
na faixa dos milhões. Seriam então milhões os
pedófilos?
Não.
É que as relações entre menores da mesma idade
não constituem, para os juristas, pedofilia. Só é
pedofilia quando um adulto quer usufruir desse campo de caça
privado, reservado aos adolescentes. Isso neste nosso mundo ocidental,
cujo ícone maior, a Virgem, engravidou aos 13 anos.
Geraldo
pergunta:Liberdade é tudo, realmente. É um
lema e uma meta a se perseguir porque, com ela, nós todos teremos
a ganhar.
A
arte, o jornalismo, até mesmo a sexualidade, se popularizam.
Com a liberdade todos têm acesso a tudo. équinhas pocotó,
jôs soares, silvos santos, paulos coelhos e gravidez aos 15.
Tudo barato, sem qualidade, sem cuidado, e tudo em nome da lberdade
e da garantia de que todos tenham acesso e que, estranhamente, todos
já apreciam. Tv´s abertas gratuitas gerando mais lucros
e as Tv´s a cabo minguando, com uma vertente cada vez maior,
também, para a arte moderna de maior público.
É a força invisível equalizante que corre paradoxalmente
frouxa; sem intervenções do Estado opressor, sem as
censuras, sem a utópica equidade através da força
socialista, sem a esperança da utopia divina e sem as incertezas
instigantes do transcendental.
Para
finalizar pergunto.
Esse atual panorama isonômico social, cultural e econômico
conquistado pelo liberalismo nos revela que não mais precisaremos
ver as enfadonhas genialidades de beethoven, vivaldi, michelangelo,
rodin, leonardo, nietzsche, tomás, e jorge amado?
Obrigado!
Janer
responde:Dois botões
Uma tv tem dois botões. Um liga, outro desliga. Se você
quiser, não precisa usar nem o primeiro.
George
pergunta:
Caro Janer, mesmo que tenhas respondido em outros tópicos,
insisto em ver tua resposta num único "tema"...
Pergunto:
quais foram os prejuízos de teres batido de frente e ainda
continuares a batendo, contra o "politicamente correto"
brasileiro? Achas que tua carreira seria diferente se fosse omisso?
O que viste na tua vida profissional que agraciava os cronistas "chapas
brancas"?
Pergunto:
Janer, na tua opinião há algo que zele contra as obras
gaúchas, tanto literárias, como musicais? O que?
Pergunto:
Janer, em algum momento sentiste vontade de além de denunciar,
participar politicamente da vida nacional?Com que te identificas....
Pergunto:
Janer...no atual mercado brasileiro, achas que há linha editorial´para
todas as "ideologias"?
Pergunto:
Janer, qual tua opinião sobre a universidade brasileira? É
manipuladora?
Janer:Prejuízos?
Prejuízos? Perdi muitos empregos, perdi o acesso a editoras.
Só um exemplo: em 82, fui convidado para fazer uma coluna no
jornal Diário Catarinense, de Florianópolis. Enviei
uma para o número zero do jornal. Nela eu dizia que as esquerdas
deviam rezar pela saúde de Stroesner e Pinochet. Não
que eu fosse fã destes senhores. Ocorre que, uma vez mortos,
Fidel seria o último tirano vivo do continente. A crônica
rolou pelos computadores e meu nome foi vetado por uma redação
indignada. Perdi outros empregos. Claro que se eu fosse petista de
carteirinha, ou um bajulador das esquerdas, como Luis Fernando Verissimo,
não perderia.
Quanto
às obras gaúchas, elas não têm vez no centro
do país. A imprensa mais poderosa do país, a do eixo
Rio-São Paulo, não considera o Rio Grande do Sul como
Brasil. Lembro um episódio muito conhecido nas redações
paulistas. Mequinho certa vez perdeu uma partida de xadrez. Um redator
já ia mancheteando: “Campeão brasileiro de xadrez
perde...” . Foi quando o editor interferiu: põe campeão
gaúcho. Mequinho só é brasileiro quando ganha.
No
mercado editorial brasileiro praticamente só há lugar
para obras de esquerda ou, no mínimo, politicamente corretas.
Dificilmente um editor publicará livros que denunciem as mazelas
da esquerdas. Alguns, mais corajosos, já traduziram obras que
denunciam os crimes do socialismo. Mas são raros. E denunciar
os crimes do socialismo depois da queda do Muro e do esboroamento
da União Soviética não exige muita coragem.
De
participar politicamente da vida nacional, vontade nenhuma. Nenhum
político se elege sem mentir. Não faz meu gênero.
A
pergunta sobre a universidade brasileira é muito ampla, não
poderia respondê-la. O que posso dizer é que os cursos
da área humanística estão infestados de marxistas
e constituem verdadeiras fábricas de ideologia.
Mauro
pergunta:Janer, esse regionalismo que vemos na imprensa é
uma das coisas que mais me causa ascos.
Um
desses ascos é quando se referam, com desdém, a Daiane
Dos Santos como brasileirinha (ela não é minha prima),
isso enquanto ganha, quando perde é fracasso.
Sou
paulistano, como morei em diversos estados meu sotaque é misturado,
vez ou outra me perguntam de onde sou. Respondo que sou brasileiro.
Tudo
isso acontece, pois não se aprende na escolinha a historia
do Brasil e dos estados como se deveria, refletindo na universidade.
As
universidades não são um reflexo das escolinhas?
E
quanto a importação do método cubano de alfabetização
pelo governo, como se fossemos menores que Cuba, seria esse mais indício
que a esquerdalha intelectual brasileira sofre baixíssima auto-estima?
Janer
responde:Daiane e Cuba
Não me parece que chamar a Daiane de brasileirinha reflita
desdém. Ela é brasileirinha porque é baixinha.
Quanto
a Cuba, o problema não é baixa auto-estima. É
que o sonho do PT sempre foi impor ao país o regime socialista
cubano. Daí, tudo que ajudar o companheiro Fidel é bom,
digno e justo. Já se importaram as famosas vacinas cubanas
(ainda no governo Fernando Henrique), que só servem para mandar
dólares para Cuba. Médicos cubanos estão sendo
importados, sem que estes tenham de submeter-se aos exames requeridos
para qualquer médico formado no Exterior. E por aí vai.
Luiz
pergunta:Eurábia, Aculturacao e Intolerância
Janer,em
alguns artigos recentes, você defende a tese de que a imigracao
muculmana para a Europa coloca em risco a sobrevivência da regiao
como espaco cultural, político e econômico relevante,
que poderia ser asfixiado pela infiltracao dos valores muculmanos
mais obscurantistas. Você chega a comentar que haveria o risco
de que a Europa "tradicional" seja "colonizada"
pelos muculmanos, que usariam para isso da chamada "estratégia
do baixo ventre" - ter muitos filhos, rápido, e com isso
aumentar sua participacao na composicao da populacao e com isso seu
poder político e econômico.
1)
Porque o fenômeno da "arabizacao" da Europa seria
diferente, por assim dizer, da "Hispanificacao" dos EUA
(ou nao é? Ambos sao parte do mesmo fenômeno mais amplo?)?
2)
Porque seria crível a tese de que as comunidades muculmanas
na Europa sejam menos suscetíveis ao processo de aculturacao
que costuma marcar as colônias de imigrantes em todo o mundo?
Porque os filhos ou netos dos muculmanos originalmente vindos do oriente
médio nao tenderiam a afastar-se dos radicalismos e obscurantismos
de seus pais e abracar o laicismo e a tolerância ocidentais?
O que acontece na Franca, por exemplo (onde já temos 3 ou 4
geracoes de magrebinos) nao é sinal de que esse processo de
aculturacao pode acontecer no resto da Europa, dado tempo?
3)
Em seus artigos sobre o tema, às vezes tenho a sensacao de
que você visualiza algum tipo de coordenacao nesse suposto esforco
de "arabificacao" da Europa. É isso mesmo?
4)
O argumento da arabificacao é frequentemente usado na Europa
por grupos identificados com a intolerância religiosa e com
o racismo. Porque você acredita que a denúncia da arabificacao
que você faz nao é intolerância?
Janer
responde: Cinturões de ódio e ressentimento
Não há maiores abismos entre hispanos e americanos,
Luís. Pelo menos, nada tão profundo quanto o abismo
entre muçulmanos e europeus. Os muçulmanos querem impor
à Europa práticas religiosas típicas de Estados
teocráticos, que na Europa constituem crime. Por exemplo, a
ablação do clitóris e a infibulação
da vagina. Querem feriados às sextas-feiras e que suas mulheres
portem véus, não só na escola como também
na carteira de identidade. Isto é, trata-se de um conflito
religioso, algo muito mais grave do que o que separa hispanos e americanos.
O hispano quer, no fundo, integrar-se ao way-of-life americano. O
árabe que submeter a Europa a seus valores.
Pelo
que se vê na Europa, não há aculturação
significativa dos árabes. É como se eles se refugiassem
no gueto de seus valores religiosos. As grandes cidades européias
estão cercadas por cinturões de ódio e ressentimento.
Não lemos na imprensa daqui, mas não são incomuns
os arrastões árabes em Paris, provocados por imigrantes
da periferia. O migrante está afastado de sua cultura nativa
e não consegue se inserir na nova. Isto já está
perturbando inclusive pequenas cidades. Uma amiga da Suécia
me conta que cinco mil suecos abandonaram Malmö para fugir da
hostilidade árabe que se vê na cidade.
O
que você chama de “grupos identificados com a intolerância
religiosa e com o racismo” são em verdade os velhos comunistas
e simpatizantes, que ainda não abandonaram o sonho de Marx,
a destruição da Europa e seus valores. E estão
conseguindo o que querem.
Carlos
pergunta:Sobre o comentário sobre a cidade de Malmø,
na suécia, nesse endereço existe um bom texto e links
para as notícias referentes aos imigrantes dessa cidade.
"Malmø,
Sweden. The police now publicly admit what many Scandinavians have
known for a long time: They no longer control the situation in the
nations's third largest city. It is effectively ruled by violent gangs
of Muslim immigrants."
"The
number of people emigrating from the city of Malmø is reaching
record levels. Swedes, who a couple of decades ago decided to open
the doors to Muslim "refugees" and asylum seekers, are now
turned into refugees in their own country and forced to flee their
homes."
Mais
em http://www.freerepublic.com/focus/f-news/1222484/posts
Carlos
pergunta: Eurabização
Janer,ainda sobre o mesmo tema, e aproveitando os dados sobre a Suécia,
não seria essa uma situação propícia ao
ressurgimento ou recrudescimento dos movimentos de extrema direita
nacionalista na Europa?
Janer
responde:Quem é extrema direita?
Os franceses tacharam o Le Pen de extrema direita. Que queria o Le
Pen? Apenas reenviar a seus países os imigrantes em situação
ilegal. Que é o que estão fazendo os atuais governantes
europeus.
Ninguém
considerou extrema direita o Mitterrand, que foi condecorado com a
Francisque, comenda que os nazistas conferiam aos colaboradores franceses.
Andrei
pergunta:Em primeiro lugar, fico feliz de poder conversar
contigo aqui. Achei interessante a iniciativa e fico feliz em finalmente
encontrar um fellow comparativist no Orkut (Estou terminando um Doutorado
em Literatura Comparada na University of Pennsylvania). Mas, dito
isso, discordo de algumas interpretações que você
faz no seu último post. Não pretendo aqui ofender, mas
elas refletem uma compreensão bastante limitada da sociedade
Americana – além de alguns equívocos primários
sobre como a cultura funciona.
“O
hispano quer, no fundo, integrar-se ao way-of-life americano. O árabe
que submeter a Europa a seus valores.”
Em
primeiro lugar, me parece delirante a premissa de que a assimilação
e homogeneização cultural sejam coisas desejáveis
para fundar uma civilização – premissa compartilhada
por todo e cada Milosevich, Stálin e Hitler da vida. Qualquer
pessoa com um mínimo de compreensão da história
da cultura sabe a importância cultural daqueles que resistem
assimilação. Pense, por exemplo, nos Judeus. Mesmo representando
uma fração reduzida da população Ocidental,
eles respondem por quase metade da produção cultural
do Ocidente – de Leibniz a Marx, de Spinoza a Cordovero, Luria
a Derrida, de Freud a Berlin. E respondem por causa desse entrelugar
que ocupam, de seu bilingüismo fundamental. Não por acidente,
os principais pensadores judeus sempre fizeram desse deslocamento
o ponto de partida de sua pensamento. (Penso aqui nas comédias
judaico-alemãs do século XVIII, com seus luftmenschen,
seus judeus flutuantes). A cultura Européia, Janer, NASCEU
da resistência à assimilação.
Andrei:(continuando)
Mas vamos aceitar a premissa Hitleriana-Stalinista. E vamos ignorar
a generalização contra-producente implícita no
termo “árabe” (Você realmente acha que um
Maronita resiste assimilação?). Mesmo ignorando tudo
isso, há uma ironia imensa e evidente no fato de você
fazer esse post um ano depois do Huntington – um dos principais
intelectuais da direita norte-americana há 40 anos, desde o
“Political Development and Political Decay” – publicar
Who We Are, na qual atribui a (suposta) decadência dos EUA à
resistência dos hispânicos a se assimilarem à cultura
norte-americana.
Dizer
que os hispânicos se assimilam é um delírio. E
tem muito dado feio que desmente a teoria bonita. Mais da metade dos
hispânicos NASCIDOS NOS ESTADOS UNIDOS falam não inglês,
mas el viejo Español. Mesmo entre os filhos dos filhos de imigrantes,
mais de 7% falam Espanhol. Esse índice, curiosamente, é
mais de duas vezes maior do que o dos próprios árabes
norte-americanos – que, por motivos demográficos e culturais,
tendem a assimilar o Inglês MUITO mais rápido. (Além
de serem, em sua maioria, comerciantes que vivem perto de suas vendas,
e não em guetos, os árabes muçulmanos são
quase todos bilíngües, pois lêem tanto o dialeto
de seus países de origem quanto o árabe clássico.
Por isso, têm uma grande facilidade em aprender o Inglês,
que é sua terceira língua).
Andrei:
(continuando)
Além disso, segundo Huntington, os Latinos resistem também
ao próprio sistema educacional norte-americano – além
de ter menores chances de votar em eleições. A única
atividade “nacionalista” na qual os latinos participam
ativamente nos EUA é nas guerras, porque o alistamento militar
virtualmente garante o green card. Para Huntington, essa recusa representa
a maior ameaça já enfrentada pelos EUA. "If this
trend continues, the cultural division between Hispanics and Anglos
could replace the racial division between blacks and whites as the
most serious cleavage in U.S. society", ele escreve.
Estou
nos Estados Unidos há cinco anos. E, além disso, já
morei aqui outros oito anos. E dizer que o hispano pretende integrar-se
ao estilo de vida americano é simplesmente absurdo. Ensinei
redação em quatro universidades norte-americanas. E,
em todas, os alunos que mais resistiam à cultura norte-americana
“standard” eram não os árabes, mas os próprios
latinos. É muito mais fácil convencer um árabe
a parar de escutar Uhlm Khalthoum do que convencer um hispânico
a parar de dançar salsa. E se a questão é violência,
compare os índices de criminalidade entre Latinos e Árabes
nos Estados Unidos. Não tem comparação. A violência
nos EUA, mesmo corrigindo por população, se concentra
entre Latinos, Negros e o que se costuma descrever como “white-trash”
– brancos pobres de ideologia conservadora sulistas.
Janer
responde:O que não se pode admitir
De acordo, Andrei. De fato, é delirante a premissa de que “a
assimilação e homogeneização cultural
sejam coisas desejáveis para fundar uma civilização”.
Mas eu nunca afirmei isso. Essa premissa não é minha.
O
que não se pode admitir é que os árabes queiram
impor à Europa – em nome de seus valores religiosos –
práticas que o Direito europeu capitula como crime. A Europa
não criminaliza as relações sexuais pré-matrimoniais
ou o adultério. Mas poligamia é crime. E ablação
do clitóris também: é mutilação
física.
Fora
da esfera do Direito, mas na faixa do “ethos”, tampouco
é admissível dentro da cultura européia o papel
inferior ao qual é relegada a mulher no universo muçulmano.
Se os árabes querem viver em paz na Europa, não podem
ignorar estes fatores. Na França, por exemplo, é comum
uma menina árabe, estudando com francesas em uma escola laica,
descobrir um dia que havia sido prometida a um tio ou a um primo.
Eivada dos valores ocidentais, ela não aceita esta imposição.
Está criado o conflito. Ora, ninguém pode, seja árabe
ou não, desrespeitar as normas da sociedade em que vive. Particulamente
as normas legais.
Janer
responde: Tampouco...
... afirmei que o hispânicos se assimilam. Quando disse que
o hispano quer no fundo integrar-se ao way-of-life americano, eu me
referia a padrão de vida, dinheiro, carro. Isto é, o
latino pouco está preocupado com ablação do clitóris
ou horário das preces. O que existe não é um
conflito religioso, muito menos fanatismo. O conflito é cultural,
o que é menos grave.
Você
diz ser “muito mais fácil convencer um árabe a
parar de escutar Uhlm Khalthoum do que convencer um hispânico
a parar de dançar salsa”. Pode ser. Mas seu conceito
de latino é bastante estrito. Você está falando
do caribenho. Aqui, na América do Sul, salsa pouco ou nada
nos diz. Que os hispânicos prefiram o espanhol e os árabes
prefiram aprender o inglês também se entende: para os
hispânicos já há uma massa crítica nos
Estados Unidos onde podem navegar. Não é o caso do árabe.
Ou ele aprende o inglês ou não consegue comunicar-se.
Por
outro lado, não sei como reage um árabe à cultura
americana. Mas na França eles continuam curtindo a Oum Kalsoum,
freqüentando mesquitas e madrassas e odiando o francês.
Quem proveio de país de colonização francesa,
fala o francês. Mas geralmente é analfabeto nas duas
línguas: fala mas não escreve. Não sou adepto
da assimilação pura e simples. Mas o ódio não
pode ser o sentimento dominante entre duas comunidades que dividem
o mesmo território.
Em
suma, cada país, uma circunstância. Aqui no Brasil, por
exemplo, o árabe se integra sem maiores conflitos. Pelo menos
até agora. Mas as mesquitas estão se multiplicando.
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