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Como Um
Vigarista Constrói
Seu Pedestal
Habitantes
do ano da graça de 1997, vimos desmoronar no Brasil um dos
mitos mais frágeis criado pela intelligentsia brasileira.
Ou talvez fosse melhor falarmos de burritzia. O mito em questão
é o senador monoglota Darcy Ribeiro, que construiu toda sua
vida e carreira sobre mentiras. Morreu em fevereiro deste ano e deixou
um lixo póstumo, "Mestiço é que
é bom" (Editora Revan, Rio, 97). Antes de entrarmos
nas falcatruas do senador, leiamos algumas pérolas de seu pensamento.
Neste livro, Darcy é entrevistado pelos mais ilustres comunossauros
tupiniquins, como Antonio Callado, Antonio Houaiss, Eric Nepomuceno,
Ferreira Gullar, Oscar Niemeyer, Zelito Viana e Zuenir Ventura. A
relação destes nomes é importante. Não
fosse o testemunho destes seus amigos, seria difícil de acreditar
nos parágrafos seguintes.
O
terror das virgens
Uma
das revelações surpreendentes de sua obra póstuma,
é o prazer cultivado pelo ilustre humanista de Minas Gerais
em espancar mulheres. Oscar Niemeyer, um dos mais sólidos bastiões
do stalinismo no Brasil, levanta a bola e Darcy chuta em gol:
OSCAR
NIEMEYER - Teve uma história que
você me contou uma vez que era mais complicada, que jogaram
você numa estrada de ferro.
DARCY
- Foi em Paris, na primeira vez que eu fui a Paris,
em 54. Lá, encontrei uma coisa incrível, uma menina,
de família turca, libanesa, de Rio Claro, em São Paulo.
Ela tinha ganho, aos dezoito anos, o prêmio de língua
francesa, era estudante. Eu cheguei lá, vindo da Suíça,
tinha passado um mês na Suíça, trabalhando. Quando
cheguei em Paris, por acaso encontrei com a menina, gostei da companhia,
fiquei andando com ela.
Ela
estava com uma vergonha enorme de ser virgem a francesa é muito
mais cuidadosa da virgindade que a brasileira, a francesa de família
burguesa mas ela, vivendo na Rive Gauche, lá ela estava com
vergonha de ser virgem, porque os meninos namoravam e queriam trepar.
Eu também quis trepar e ela não trepou. Eu já
estava enjoado dela e ela me procurando como um carrapato, agarrada
em mim, mas não me dava. Ia na minha pensão e não
me dava. Pensão daquele tempo, em Paris! Essa menina estava
com muita vergonha de ser virgem, mas com muito medo.
Então,
fiquei passeando com ela em Paris. Num certo momento, nós fomos
pegar o último metrô, tínhamos que pegar ou andaríamos
quarteirões. Fomos para o metrô, estávamos na
beira do metrô, esperando, e ela sabia que, quando chegássemos,
ela ia ser comida, porque senão eu quebrava a cara dela. Logo
depois eu iria embora, então era o dia dela ser comida, ela
estava muito nervosa. Então, a filha da puta, num certo momento,
me jogou na linha do metrô, lá embaixo. Aquele negócio
é eletrificado, eu podia ter morrido! Eu fiquei querendo levantar,
apoiado com a mão na beirada da plataforma, e ela pisando na
minha mão. Eu fiquei com uma raiva danada e dei uma surra nela.
HOUAISS
- Você conseguiu se levantar e sair de lá?
DARCY
- Consegui levantar hoje, não conseguiria , ela pisando
na minha mão. Dei uma surra nela, rapaz! Ela ficou quietinha,
chorou muito e depois me deu.
Por
isso é que eu estava, agora, faz pouco, andando com minha chefe
de gabinete, que é uma mulher muito bonita, e com o marido
dela na feira de Montes Claros e eu cheguei e disse para uma daquelas
feirantes muitas delas me conhecem:
-
Como vai?
Ela
perguntou:
-
Quem é essa, é sua mulher?
-
Não, trabalha comigo e não me dá.
-
Bate nela que ela dá.
O
Don Juan da aldeia
Não
satisfeito em proclamar seus dotes de espancador emérito, o
senador passa a gabar-se de suas aventuras sexuais como etnólogo,
quando faturava algumas "índias decadentes". Quem
levanta a bola, desta vez, é o também finado Antônio
Callado:
CALLADO
- Darcy, a primeira vez que eu fui ver os índios, em 50
ou 51, já estava muito estabelecido que índia não
se comia, para não bagunçar muito o coreto, era mais
ou menos tradicional, para não começarem a comer as
índias todas. Tanto é assim que, quando eu estive lá,
o Leonardo Villas-Boas já estava na Fundação
Brasil Central, sendo forçado a deixar o Serviço de
Proteção ao Índio porque ele tinha comido uma
índia, com quem se casou. Quando é que você chegou
lá pela primeira vez? Nessa época já tinha essa
lei?
DARCY
- É verdade. Eu comecei com os índios
em 46. Essa lei existe até hoje, por causa do Rondon e da antropologia
clássica. Eu fui educado para não trepar com índia
porque, para o antropólogo, no meu caso específico,
pesquisas longas eram difíceis. Hoje em dia é que as
moças começaram a dar para os índios, as antropólogas
dão para os índios, gostam de transar com eles, para
fazer intimidades. Tão dando mesmo, dão para eles também.
Coitado, índio também é gente. Então,
dão. E como elas dão, os homens também começaram
a comer as índias, antropólogos de primeira geração.
(...) Eu passei meses com os índios, arranjava um jeito de
ter uma. Por exemplo, eu não comia as índias Urubus-Kaapor
porque eu estava trabalhando com os Kaapor, mas comia índia
Tembé, que eram umas índias decadentes que havia lá.
Teologia
barata e anti-semitismo
Vejamos
esta brilhante interpretação do "Gênesis"
proposta pelo senador:
DARCY
- Aliás, eu preciso contar para vocês uma coisa muito
interessante que eu desenvolvi ultimamente, meio literária
mas muito bonita. E uma história sobre Eva, eu estive meditando
sobre Eva e descobri que Eva é trotskista. É a primeira
revolucionária da história. Nós devemos coisas
fundamentais a Eva.
Primeiro,
Eva fundou a foda. Adão era um bestão, estava lá,
com aquele penduricalho dele e não sabia o que fazer. Eva disse:
-
Vem cá Adãozinho.
Ele
pôs dentro dela e foi aquele gozo, ele teve o orgasmo e, quando
deu aquele gozo, o anjão desceu e disse:
-
Deus não gosta, Deus está puto com vocês, fora!
E
os pôs para fora do Paraíso. O Paraíso era uma
merda, não era de matéria plástica porque não
existia matéria plástica, era de papel crepom. Porque
a flor é o órgão genital das plantas, fode, não
poderia ter no paraíso flor fodendo. Era de papel crepom. Quando
o anjão pôs eles para fora, obrigou o seguinte:
-
Vamos fazer o comunismo, vamos fazer o Paraíso lá fora.
Eva
também foi fazer o comunismo.
E
já que falamos de temas bíblicos, cabe dar uma olhadela
na concepção que tem Darcy Ribeiro dos judeus:
DARCY
- Os judeus são tão filhos da puta que, de vez em
quando, colocam na menina o nome de Lilith. Lilith é a Eva
pecaminosa, a que dá a bocetinha ambulante, fogosa.
Racismo anti-branco
Admitamos
que estas confissões sejam produto de muito álcool na
cuca. O que aliás as torna mais graves: in vino, veritas. Mas
é de supor-se que o senador monoglota não estaria bêbado
quando escreveu na Folha de São Paulo: "A expansão
do homem branco foi a maior catástrofe da história humana".
Fosse
esta afirmação feita por um analfabeto qualquer, sem
maiores noções de história ou geografia, a frase
passaria como mais uma das tantas bobagens reproduzidas diariamente
pela mídia. Ocorre que ela foi proferida por um senador da
República, cujo pensamento, profissão, vida e carreira
apesar de seu monoglotismo e carência de cultura universitária
foram nutridos pela Europa. Partindo de quem parte, tal bobagem merece
algumas considerações.
Que
os brancos europeus mataram, tanto em seu continente como nos que
conquistaram, ninguém em sã consciência vai negar.
Mas também mataram os chineses, os mongóis, os turcos,
os árabes, os japoneses. Também negros e índios
mataram e continuam matando. Em se tratando de seres humanos, a única
afirmação abrangente que podemos fazer, sem incorrer
em falácia, é que os homens verdes, como também
os azuis, jamais mataram seus semelhantes. Pelo singelo fato de que
não existem homens verdes nem azuis.
O
primeiro homem a criar embriões de universidade mundo a fora
e isso 300 anos antes de Cristo saiu matando e conquistando, a patas
de cavalo, desde a Macedônia até a Ásia. Não
fosse Alexandre, o diálogo entre Oriente e Ocidente se atrasaria
por séculos. Houve tempos em que a cultura seguia a espada
e estes tempos não estão muito distantes de nós.
O conquistador europeu abafou o neolítico de Pindorama? Que
bom! Não fosse isso, Darcy Ribeiro não teria acesso
à bomba de cobalto que, nos anos 70, lhe deu longa sobrevida.
Virando o cocho
O
branco europeu matou e destruiu, como matam e destróem todos
os homens, exceto os homens verdes e azuis. Mas também descobriu
a penicilina e a fissão nuclear, foi à Lua, já
está pensando em Marte e seus olhos eletrônicos já
se aproximam de Plutão. Nos deu Mozart e Vivaldi, a ópera
e o cinema, as comunicações e o computador. O próprio
cristianismo, apesar de sua fúria assassina medieval, nos legou
uma estética que não pode ser jogada na famosa lata
de lixo da história. Não há termos de comparação
entre a Notre Dame e um terreiro de umbanda. Nem se pode confundir
uma oca de bugres com a torre Eiffel. Muito menos o cacique caiapó
Paiakan com Casanova.
Rechaçar
a expansão do branco, ou seja, a cultura européia, é
negar Sócrates e Platão, Cervantes e Shakespeare, Dante
e da Vinci, Schliemann e Champolion, Fernão de Magalhães
e Armstrong, Pasteur e Einstein. Sem falar em Hegel e Marx, que no
fundo embasam a "Weltanschaaung" de Darcy Ribeiro. Se aceitamos
sua ótica fundamentalista, que as telas de Van Gogh ou Bosch
sejam largadas aos papeleiros, para reciclagem industrial. Os grandes
acervos dos museus poderiam servir para construir diques na Holanda.
Que sejam fechados o Louvre e o Hermitage, queimadas as bibliotecas,
hemerotecas e filmotecas, e proibidos os computadores e as antenas
parabólicas, como aliás já está ocorrendo
no mundo islâmico. A primeira providência dos fanáticos
talebans, ao entrar em Cabul, no Afeganistão, foi destruir
os aparelhos de televisão.
A
tecnologia branca transportou Darcy Ribeiro com seus jatos aos países
onde degustou "o amargo caviar do exílio". Na hora
de escolher refúgio, optou por países de cultura branca,
a cultura que, ao expandir-se, segundo sua acusação,
foi a maior catástrofe da história. Já perto
da morte, Darcy decidiu virar o cocho em que se nutriu.
Hierático,
gozando da absolvição que a morte confere, morreu em
aura de santidade. Nem por isso podem ser perdoadas as infâmias
que proferiu postumamente, graças ao esforço editorial
de seus "compagnons de route". Tantas besteiras proferidas
por um intelectual de renome internacional têm uma explicação:
Darcy foi toda sua vida um embuste.
O escroc acadêmico
Além
de gabar-se de ser monoglota, exibia como titulação
universitária um diploma da Escola de Sociologia e Política,
de São Paulo, curso que jamais foi reconhecido pelo Ministério
de Educação e Cultura. Em seu currículo enviado
ao Senado, espertamente se intitulou etnólogo, ofício
que, como o de antropólogo, prostituta ou psicanalista, ainda
não foi regulamentado no Brasil. Gozou de três aposentadorias
federais, uma delas pela Universidade de Brasília, com a qual
jamais teve vínculo de emprego. Sua carreira é a de
um escroc acadêmico.
Não
bastasse isto, dizia ter fundado a Universidade de Brasília.
Não fundou. Nem nela lecionou, embora tenha por ela se aposentado.
Segundo o Dr. José Carlos de Almeida Azevedo, ex-reitor da
UnB, Darcy nela jamais teve um só aluno e foi "reintegrado"
para "aposentar-se", sem jamais ter vínculo de emprego
com a universidade, já que era "requisitado". A propósito,
cito artigo do ex-reitor, publicado em 24/06/96 na Folha de São
Paulo:
"Servidor
do antigo SPI, hoje Funai, e da UFRJ, Darcy apareceu na comissão
convocada pelo então ministro da Educação, Clovis
Salgado, para cumprir determinação de JK, no sentido
de "...fundar Universidade Brasília... em moldes rigorosamente
modernos...". Na comissão, presidida por Pedro Calmon,
Darcy era o único que jamais havia concluído, ou iniciado,
um curso superior, mas foi Reitor da UnB e ministro da Educação,
poucos meses em cada lugar, sem deixar qualquer vestígio do
que fez".
A
citação será longa, mas pertinente. Continua
Azevedo:
"No
final de 1968, cinco anos depois que Darcy deixou a reitoria, os esgotos
da UnB eram a céu aberto; não havia galeria de águas
pluviais, e tudo inundava; porque só havia uns mil metros de
asfalto, era um lamaçal; havia uns cinco telefones, um computador
de 6k nunca usado; uma só quadra de esportes, simples chão
cimentado e dita "polivalente"; nenhum curso reconhecido
havia, além de Direito e Economia. Toda a administração
era na "munheca", nada mecanizado. Em uns seis barracos
de madeira, amontoavam-se o restaurante, o alojamento estudantil,
algumas unidades de ensino e os serviços gerais. À beira
do lago, outros três barracos, malocas de índios e sebastianistas.
Era ver para crer. Os alunos, uns 2.000, amontoavam-se em três
prédios de dois andares, com uns 2.000 m² cada um, com
a pequena biblioteca e laboratórios. (...) Nem as escrituras
do imóveis tinha e, por isso, perdeu uma centena de terrenos
comerciais e um enorme prédio".
Concluí
o ex-reitor:
"Ao
autoproclamar-se "fundador" e "criador" da UnB,
beneficiando-se disso ad perpetuam, o Darcy usurpa méritos
exclusivos de Juscelino Kubitschek, de seu ministro Clovis Salgado
e de Anísio Teixeira, comprovados em relatório oficial
do MEC e em depoimento do ministro. O primeiro mandou criar a universidade,
compreendendo sua importância; o segundo criou todas as condições,
e Anísio a organizou. (...) A construção, institucionalização
e consolidação da UnB devem-se aos reitores Caio Benjamin
Dias, Amadeu Cury e, em escala menor, a este modesto escriba, que
a ela serviram, a convite exclusivo do Conselho da Fundação
UnB".
O
senador monoglota dizia ainda ter fundado a Universidade Nacional
de Costa Rica. Tampouco a fundou. Aliás, nem existe tal universidade.
Conforme nos informa o professor Augostinus Staub, "existe, sim,
a Universidade Nacional, na cidade de Herédia, criada em 1970,
pelo presbítero Benjamin Nuñez Gutierrez, e não
por Darcy Ribeiro".
Gabava-se
de ter um diploma de Dr. Honoris Causa pela Sorbonne. Pura fraude
intelectual. O Honoris Causa, Darcy o recebeu em 1978, quando não
mais existia a Sorbonne. O diploma foi conferido pela Universidade
de Paris VII e entregue em uma sala do prédio da antiga Sorbonne,
o que é muito diferente. Sem falar que diploma Honoris Causa
só serve para enfeitar cartão de visita e não
confere nenhuma capacitação acadêmica a seu portador.
Rumo à lata de lixo
Darcy
sabia muito bem que, neste país sem maiores critérios
de avaliação da inteligência, enganar é
o recurso mais ao alcance do homem inculto para subir na vida. Mentindo
sempre, foi guindado a um ministério e ao Senado. Uma vez no
poder, do alto de seu cursinho secundário, o senador monoglota
condenou, em uma só frase, a cultura na qual nasceu e mamou.
Ao
tentar fugir da morte espiritual, Ribeiro não optou pelo tantã
ou pelo relato oral sob a sombra de um baobá, mas por gráficas
modernas montadas pelo branco que tanto abomina. Tentando fugir da
morte física, reação instintiva de todo ser humano,
o antropólogo não recorreu a pajelanças, mas
a hospitais de primeira linha. Quando Jesus estava chamando, não
buscou salvação junto a xamãs. Preferiu pedir
água a representantes da cultura que o gerou e, depois, virando
o cocho, passou a abominar.
A
maior catástrofe da história humana, "a expansão
do homem branco", gerou este país que gerou Darcy Ribeiro,
temperou este caldo cultural no qual o senador, com suas manhas de
mineiro, fez sua carreira e prestígio. Antes de morrer, organizou
uma fundação, para que seu "pensamento" não
morresse. Grafômano contumaz, tem obra tão vasta que
já nem sabe quantos livros escreveu nem em quantos idiomas
está traduzido. Graças a quem? A um europeu chamado
Gutenberg.
É
moda entre antropólogos, sociólogos, psicológos
e outros óologos, negar sistematicamente os valores da cultura
ocidental, ou seja, da cultura branca, cujas bases estão na
Grécia e em Roma, em favor de culturas primitivas, que muitas
vezes nem chegaram a um alfabeto e, se lá chegaram, hoje vivem
encharcadas no sangue de guerras tribais. Mais que moda, esta tendência
é uma verdadeira conspiração dos derrotados da
História, que assestam seu ressentimento surdo contra o que
de melhor a humanidade produziu.
Em
vida, o senador Darcy Ribeiro chutou neste imenso time de ressentidos.
Morto,
virou estátua. Por mais monumentos e salas com seu nome que
lhe outorguem seus amigos e compagnons de route, sua trajetória
é a de um escroc acadêmico. Quando a burritzia
tupiniquim receber notícias de que o Muro de Berlim já
caiu, Darcy assumirá seu merecido espaço, a famosa lata
de lixo da história