CAPITULO III - LENDAS E FOLCLORE

Lendas

Personagem da Quadrilha Arraiá Flor do Sertão da

Agrovila do  Massangano

         "Era uma vez, uma índia chamada Iratí, a bela filha da Serra da Canastra. Contam que sua beleza era tanta que todos os animais das matas paravam para admirá-la. Certo dia, os tambores inimigos tocaram distante, chamando para a guerra os bravos guerreiros de Iratí. A pedido dela, desceram a serra rumo ao desconhecido e nunca mais voltaram. Iratí passou a seguir-lhes os rastros diariamente e nos campos pisoteados foi formando um caminho comprido, onde o mato não mais brotava. Desiludida, ela chorou. E sobre o pranto de Iratí e das árvores caiu o pranto do céu. Dia após dia, noite após noite as lágrimas cairam incessante. Gotejando sobre as pedras, deslizando, enchendo as cavidades, avolumando-se, encachoeirando-se, segundo sempre adiante. Impetuoso e incontido, cobrindo os buracos abertos pelos pés dos bravos guerreiros. Foi do pranto de Iratí, a bela filha da Serra da Canastra que nasceu o RIO SÃO FRANCISCO". (1)

Minhocão

O minhocão, segundo a crendice popular, é uma cobra muito grande que escondida nas águas do rio São Francisco infernizando a vida dos barqueiros e dos pescadores e, pessoas que moram nas proximidades das margens do rio.segundo a lenda o que ela mais gosta de fazer, é cavar buracos por debaixo da terra passando sob as casas e por onde passa, o buraco tão grande que as casas chegam a cair. Quando fica zangada qualquer barco que passar por perto ela dar enormes pancadas com o rabo fazendo as embarcações irem parar no fundo do rio. Acreditam também, os barranqueiros, que é ele, o minhocão é quem cava as grutas nas margens do Rio São Francisco. 

Nêgo D‘Água 

Estátua em Juazeiro

Dependendo de quem conta que já viu ou até mesmo brigou com um deles, as estórias são cada uma mais espetacular que a outra. Vamos descrever um nêgo d’água de acordo com uma das estórias que costumamos ouvir: “é uma figura do tamanho de um menino de doze anos que domina as águas do São Francisco e manda nos peixes. Bajula os amigos e compadres e persegue ferozmente os barranqueiros e pescadores, pois, os considera seus inimigos naturais. Por isso, tenta afugentá-los derrubando as ribanceiras, provocando ondas enormes nas águas e virando canoas. Apesar de se achar muito bonito, o nêgo d’água é descrito pelos seus desafetos, (pescadores e barranqueiros), como uma figura bem feiosa. Segundo eles, o nêgo d’água só tem um olho no meio da testa, não tem cabelos, tem unhas exageradamente grandes, é preto e nanico. 

Mãe D‘Água ou Sereia

 Conhecida como Sereia, barranqueiros e pescadores são apaixonados por ela, sempre a descrevem de forma carinhosa, como figura espetacular da cintura para cima, corpo de mulher e da cintura para baixo, forma de peixe. Para eles, o São Francisco dorme por dois minutos a meia-noite e nesse momento tudo no rio fica paralisado, as cachoeiras param de cair, os peixes param de nadar e repousam no fundo do rio, as águas param de correr, as cobras perdem o veneno. E, nesse momento, que a sereia sai das profundezas do rio para procurar uma pedra confortável para sentar-se e pentear seu longos e lindos cabelos. Mas qualquer pescador e barranqueiro que veja a Sereia se embelezando normalmente é castigado ou fica doido ou abestalhado com tanta beleza.  

Serpente da Ilha do Fogo

         Segundo a crendice popular, existe uma serpente enorme no interior da montanha que fica no extremo oeste da Ilha do Fogo, a que serve de apoio para a ponte Presidente Dutra em Petrolina/Juazeiro. Acredita-se que a grande cobra tem asas e está amarrada com fios de cabelos de Nossa Senhora, e no dia em que eles se romperem, a fera sairá da montanha e destruirá as cidades ribeirinhas do São Francisco. 

Mula Sem cabeça 

As pessoas que afirmam de pés juntos que já viram e, ou correram com medo ou a enfrentaram (os mais valentes). Dizem que esse ser estranho é uma mula, cujo corpo só vai do rabo até o pescoço, mas corre atrás de qualquer um atrevido que atravessar seu caminho para devorar mesmo, sem piedade. Aqueles que juram já ter visto uma delas sabem até a origem das feras. São viradas de pessoas “amancebadas” com padre. Em noite de quinta para sexta-feira de lua cheia se viram no tal animal e correm às sete “freguesias” adjacentes. 

Caipora ou Curupira 

Ente fantástico da mitologia tupi, que se apresenta de formas diversas, de acordo com a região. Em algumas regiões é conhecido como “Curupira” em outras como “Caipora”; (aqui em nossa região é Caipora). O Caipora, para os caçadores, é o gerente de todas as matas, é ele quem toma de conta das caças,  e alguém só consegue pegar uma delas se ele autorizar, segundo eles os caçadores (que mentem tanto quanto os pescadores), (que afirmam ter visto várias vezes) o Caipora, é um indiozinho cujos pés são virados para trás, na noite em que ele não quer que ninguém pegue suas caças, faz os cachorros ficarem abestalhados, correndo para um lado e para outro, e, se o caçador insistir, ainda “cai na peia”. Dizem que o indiozinho é danado, usa cipó ou caruá para dar “surra” nos desobedientes, mas pode ser corrompido com uma boa porção de fumo para fumar o seu cachimbo. Aí sim, pode levar caça à vontade. 

Pesadeira 

Ente agonizante, tem as mãos exageradamente grandes e gosta de judiar das pessoas quando estão dormindo.  Com sua mão enorme coloca a no rosto da pessoa fechando o nariz e a boca. A sorte das vítimas é que a mão dela é furada, mas a pessoa passa por um sufoco danado (é o pesadelo). Quem quer ter um pesadelo?  Ninguém, não é? Não é bem assim, conhecemos pessoas ambiciosas acima do normal que vivem pedindo para serem atacadas pela Pesadeira, pois acreditam que o serzinho malvado usa um capacete de ouro e quem conseguir derrubá-lo quebrará o encanto e ficará rico.  

Romãozinho 

Moleque travesso que vive aprontando com as pessoas, tirando as coisas do lugar e ainda fica do lado gozando com a cara de suas vítimas. Para que as coisas voltem aos seus lugares é preciso dar umas boas “ralhadas” com ele. (Romãozinho! Romãozinho! Se comporte!!!), aí ele vai e devolve as coisas para os lugares onde estavam. (2)

 Muitas outras lendas fazem parte da crendice popular por essas bandas, como a Pedra do Aloquê no Rodeador, Nossa Senhora da Rapadura, em Juazeiro, o Vapor Fantasma no rio São Francisco, Pé-de-garrafa e A mão pelada

Carranca 

Na verdade a carranca não é uma lenda e sim um mito e os barqueiros acreditam até hoje que elas protegem as embarcações contra os maus espíritos. Tanto a crença quanto a própria figura não são coisas novas. Desde o Egito antigo já eram usadas para essa finalidade e também para enfeitar as embarcações. Há quem diga que as primeiras carrancas do São Francisco datam de 1875 a 1880, mas não há nenhuma comprovação histórica oficial. O que se sabe, até que se prove o contrario, é que o criador das Carrancas do São Francisco, com data marcada na história, é Francisco Biquiba Dy Lafuente Guarany, nascido no dia 02 de outubro de 1884, em Santa Maria da Vitória, Bahia. Aos 17 anos de idade, 1901, esculpiu sua primeira carranca, para atender a uma encomenda feita pelo senhor Conrado Correia de Almeida, dono da barca “Tamandaré”. No período de 1901 a 1940, Guarany se tornou o primeiro e único carraqueiro oficial da época. Foram mais de 80 carrancas esculpidas. (3) Guarany faleceu no final dos anos 90 aos 104 anos de idade. 

Para falarmos com mais segurança sobre as carrancas do São Francisco resolvemos procurar dona Ana das Carrancas para entrevista-la. Isso ocorreu num certo dia do mês de julho de 1997, quando preparávamos um trabalho em fita de vídeo sobre a degradação do rio São Francisco. O qual foi apresentado para alunos, professores e comunidade convidada no auditório da Faculdade de Formação de professores de Petrolina - FFPP. Em setembro daquele ano quando comemorávamos a semana do geógrafo. Naquela época, a degradação do rio ainda não estava em evidência como hoje.  

Nesse trabalho alem de Ana das Carrancas participaram também: alunos, professores, radialistas, jornalistas, ilhéus, comerciantes, ambientalistas, e autoridades como: O deputado Pedro Alcântara da Bahia;

Dr. José Luciano Lima funcionário da EMBRAPA;

Dr.Celito Kespering de Sobradinho, na época Assessor de Meio Ambiente;

O historiador da navegação Hermi Ferrari (in memória);

Dr. Carlos Vanderley-engenheiro de pesca do IBAMA-Juazeiro;

A diretora da FFPP-Socorro Ribeiro;

O biólogo do IBAMA de Juazero, Ulmar Biquiba Guarany;

O biólogo do CRA professor Gessé.

 Ao chegarmos na residência e oficina de Dona Ana, encontramos algumas de suas peças já prontas. Ficamos por ali curiosos com a criatividade exibida em cada um de seus trabalhos. Enquanto isso, dona Ana conversava conosco (mas não parava de mexer com as mãos), modelando um bolo de barro que seria, mais tarde, mais uma carranca. Por detrás dela uma cabeça se movimentava como se tivesse dançando. Curiosos fomos conferir, era seu esposo, Zé Vicente, amassando mais um bolo de barro pra fazer carranca. 

Antes de começarmos a gravar a entrevista com dona Ana perguntamos algo sobre aquele lugarzinho de que ela dispunha para morar e trabalhar. Ela, então respondeu: Isso nem é meu. Eu moro aqui há muitos anos, mas não é meu não senhor. Eu espero com a graça de Deus e de meu glorioso São Francisco, que vou ganhar meu atelier. “Os home já disseram que o projeto já está pronto e eu vou ganhar, com fé em Deus!” E ganhou mesmo, parabéns dona Ana a senhora merece!. 

Começamos então a entrevista, com rainha da arte em barro, para o nosso documentário “SOS São Francisco”. Não foi necessário fazer muitas perguntas para que D. Ana expusesse o assunto do qual queríamos ficar informados, ela falava com muita sabedoria, entusiasmo e simplicidade. Esta foi a primeira pergunta que lhe fizemos: 

         SOS - Para que servem as carrancas do São Francisco e quem as criou?

         D.Ana – pra espantar os maus espíritos, assim diz o pessoal. A carranca não foi inventada não. Quem começou as carrancas foi seu Francisco Guarany, de Santa Maria da Vitória, não foi daqui de Petrolina o começo delas foi em Santa Maria da Vitória, seu Francisco Guarany foi quem começou. Daí, ele fez uma visita e soube de mim que fazia de barro e veio me visitar, quando chegou aqui tinha meu genro que fazia de madeira, aí ele “teve uma aula  com meu genro e achou de acordo meu genro conseguir fazer as peças, tanto que nesse trabalho Reinado da Lua” (referindo-se a uma publicação sobre as carrancas), tem peça de Francisco Guarany no trabalho dele. Aí ele trabalhou um bocado, ainda foi pra Recife fazendo exposição, aí depois ele achou que não dava pra sustentar a familia com artesanato, aí ele foi e deixou, agora ele é “camioneiro”.

          SOS – O cidadão de Santa Maria da Vitória criou a carranca ou ele viu alguma coisa parecida e copiou?

          D. Ana – Não, ele mesmo criou e a de barro eu fui no rio São Francisco buscar água e quando eu cheguei lá tinha um pé de muçambê e tava com dificuldade de barro, aí eu fui e olhei, vi o pé de muçambê, o senhor conhece o muçambê, não é? É uma planta verdinha com florzinha branca (explica). Aí eu vi o pé de muçambê e me deu aquele pensamento, eu disse aquí tem barro, aí eu falei e pedi: ah meu glorioso São Francisco me dê a graça que eu melhore de situação, que minha filha estude e se forme, meu marido deixe de pedir esmola, que eu não tenho cerimônia de dizer como foi que mudei. Aí eu voltei em casa peguei um “picarete” e levei. Quando cheguei lá, eu cavei o lugar onde tava o pé de muçambê, quando cavei clareou, bateu numa pedra, aí eu fui e falei: ah meu glorioso senhor São Francisco que a luz da fé... Tenho fé em Deus que de hoje em diante eu serei feliz. Aí quando bateu na pedra, eu tirei a pedra e em baixo tinha barro. Aí eu fui e amassei um pedacinho de barro e fiz logo uma carranquinha, um barquinho, aí eu botei logo o nome de “gangula”, mas não que eu já tivesse visto ou tivesse conhecimento com as carrancas, chegou em meu pensamento aquilo que eu podia fazer e botar e com aquela fé que eu ia fazer carranca e ia ter saída.

           SOS – Isso já faz quantos anos?

           D. Ana trinta e três anos.

         No decorrer de nossa conversa notamos uma certa inquietação por parte de seu Zé Vicente, esposo de D. Ana que continuava amassando bolos de barro sem parar, mas deixando transparecer uma enorme curiosidade com a nossa entrevista, até que, não agüentou mais tanta curiosidade e interrompeu perguntando: agora deixe eu lhe fazer uma pergunta. Essa reportagem vai passar na televisão? D. Ana respondeu carinhosamente: não meu velho é só um trabalho pra escola! Seu Zé Vicente por sua vez, após matar sua curiosidade riu e entrou definitivamente em nosso papo. Foi aí que percebemos que ao lado dele e dos bolos de barro havia alguns montinhos de pequenas pedras e ele continuava jogando sempre mais uma, aí fomos conversar com ele:

          SOS – O senhor não enxerga nada, não é verdade?

            Ele É verdade.

            SOS – Então como é que o senhor consegue encontrar essas pedrinhas tão pequenas no meio de tanto barro?

            Ele – Ah meu amigo, aquí eu enxergo com os dedos, pois Deus é muito sábio. Quando Ele “tira os dentes enlarguesse a goela”. Eu não tenho olhos, mas em compensação tenho uma sensibilidade nesses dedos! Todos riram. Voltamos então a conversar com D. Ana.

            SOS – O que a senhora acha da transposição das águas do Rio São Francisco para outros estados?

             D. Ana – O movimento do Velho Chico nós têm que entender a validade, a vantagem  que ele tem pra nós. Se nós pudesse tirar de longe de onde fosse, uma gota d’água pra ajudar ele, ou se fosse cavar pra ele não se acabar nunca, é como era bom se nós pudesse apanhar toda folhinha que caísse dentro do Velho Chico era um “adgitório”, é como diz aquele ditado do beija-flor: apanhamos gotinha por tinha e levamos para enchê-lo, pra fazer dele um rio corrente. Mas se isso não é possível, pode ser as condições de..., pode ser que alguém pode achar que eu tô falando errado, as condições de tirar água do rio São Francisco pra longe, nós vamos ficar na falta mais logo. (4)

           Este foi o depoimento de dona Ana das Carrancas gravado em fita de vídeo e aquí reproduzido fielmente do jeito que ela falou, com sabedoria e simplicidade. Ana das Carrancas, criadora das carrancas de barro, hoje conhecidas em todo o Brasil. Na mesma ocasião conversamos também com Roque, artesão, que fez questão de nos mostrar a diferença entre as carrancas do estilo Guarany e as outras reinventadas por artesãos da atualidade. Segundo ele, as carrancas criadas por Guarany são inconfundíveis, elas têm a cara de cavalo e cabelos de corda. Roque também nos manifestou o desejo de mudar sua produção passando a fabricar menos carranca e mais imagens de santo, nos apresentando uma explicação bastante lógica. Com o mesmo pedaço de madeira que ele pode fazer uma imagem de santo e faturar dois mil reais, fazendo dele uma carranca não fatura nem a metade desse valor e muitos artesãos já mudaram de ramo, principalmente por falta de incentivo no mercado. (5).

 

 1. O Rio São Francisco – Filme da Opará Vídeo de Belo Horizonte-MG (Mensagem de abertura).

 2.Bebela 1998, (entrevista).ABC do São Francisco - Sávia Dumont/2000 e conhecimento próprio do autor.

 3.Osório Alves de Castro – Almanaque Vale do São Francisco/2001(CODEVASF). Pág 399, História das carrancas – professo Paulo Pardal. Pag 148 a 150

3.   Ana das Carrancas – Entrevista para o documentário SOS São Francisco/1997.

4.   Roque Artesão – Entrevista SOS São Francisco/1997.

 Folclore

             No sertão nordestino, em cada localidade há sempre uma data marcada para a realização de um evento folclórico. Deles que já existem há centenas de anos e movimentam anualmente centenas e até milhares de pessoas para assistirem. As festas e os outros eventos folclóricos normalmente retratam algum acontecimento histórico ou supostamente acontecido no passado, ou ainda simplesmente uma dança com coreografias extravagantes.           

            O que é folclore no sertão nordestino brasileiro? Reisado, Quadrilha de São João, Pastoril, roda de São Gonçalo, ciranda, capoeira, cantoria de viola, samba de coco, bloco carnavalescos, boi fubá, cangaceiros, chegança ou marujada, coco de roda, banda de pífano, toré, caboclo ou quilombo, bacamarteiros, guerreiros de São Jorge, samba de véio, bendito, cantigas de Louvor, malhação de Judas, frevo, penitentes, congada, menino no rancho, vaquejada, corrida de argolinha, dança do cansancão, mamulango, mineiro-pau, corrida de mourão e tantos outros. Este acervo folclórico presente também no Vale do São Francisco vai de Minas Gerais ao litoral alagoano. Vamos descreve-los por ordem alfabética. 

Bacamarteiros 

             De origem e tradição sertaneja, se apresentam simbolizando as guerras que aconteceram no passado. A arma utilizada para as apresentações é o bacamarte (um tipo de espingarda soca-soca com cano grosso de estampido impactante), o grupo de bacamarteiros é dividido em tropas comandadas por um “sargento”, a animação é feita pelo toque de zabumba e bandas de pífanos. Os bacamarteiros detonam grandes cargas de pólvora seca, em homenagem aos santos padroeiros, os trajes são típicos da região: Roupas de zuarte, chapéus de couro, alpercatas e cartucheiras de flandre e fabricam suas próprias armas usadas nas apresentações. “Nos efeitos mágicos dos estampidos, afirmam seus grandes efeitos em refregas e escaramuças de antigas guerras”.

 Bandas de Pífanos

 São formadas por flautistas (tocadores de pífanos), essas bandas são encontradas em pequenas cidades ou zonas rurais sertanejas e vivem se apresentando em festas religiosas e populares. Os instrumentos indispensáveis são: a zabumba e caixa (antigamente chamada de caixa de guerra) e pífanos ou “pife”, antes feitos de gomos de taboca ou bambu, hoje já se fabrica de canos de metal leve ou PVC. O pífano é originado da antiga Roma, a espontaneidade, singeleza e espiritualidade dão o tom nos seus acordes inspirando os “pifaneiros” a comporem suas músicas ou a tocarem grandes clássicos feitos por grandes mestres. 

Bendito

 Nas capelas e residências rurais do Nordeste é comum a realização de festejos para comemorar o dia do padroeiro do lugar, ou simplesmente em pagamento de promessas feitas pelos donos do santo. No ciclo litúrgico de tradição nordestina são rezados e cantados louvações durante a “novena”. Essas rezas são conhecidas pelo nome de bendito, em alguns lugares existe a figura do capitão e seu arauto, responsáveis pela entoação das rezas ajoelhados no altar, em sua volta ficam pessoas sentadas ou encostadas nas paredes ou até mesmo ajoelhadas em reverencia e contrição. A cerimônia se encerra com o ato do beijamento do altar, pelos fiéis que retornam durante nove noites quando se trata de novena. Em alguns lugares para cada noite são escolhidos os  noiteiros, são eles os responsáveis pela arrumação da igreja, pelos fogos e velas, mas a festa grande, mesmo, é na ultima noite quando se realiza os leiloes para arrecadar dinheiro para a igreja, somando-se ao arrecadado através das esmolas deixadas pelos beijadores do altar. Isso é tradição na maior parte do sertão nordestino. 

Caboclinho 

Os Caboclinhos estão entre os mais antigos eventos folclóricos e mais importantes do carnaval nordestino, seus componentes trajam tangas, enfeites e cocares de penas de aves, portam arcos e flechas na marcação do ritmo da dança. São acompanhados por grupos de músicos ao som de pífanos e instrumentos de percussão, tipo caixa-surdo e ganzá. Sua coreografia bizarra e ritmos peculiares representam os ciclos indígenas: O caçador, as batalhas e as vitórias do seu povo.

Caboclo ou Quilombo 

Uma manifestação folclórica de origem afro-portuguesa, tem como característica a figura de um negro como personagem principal. Essa manifestação ocorre nos ciclos natalinas, na verdade é uma variação do reisado. 

Cantigas de Louvor 

Sanfonas, pandeiros, violas e outros instrumentos são usados para acompanhar as cantigas entoadas pelos os grupos de cantadores que improvisam versos de louvor para homenagear personagens locais, religiosas e santos. Essas manifestações ocorrem normalmente durante os festejos juninos e na festa de Nossa Senhora da Boa Morte, em agosto. Sua origem é nordestina. 

Cavalhada 

               A Cavalhada é composta por doze cavaleiros divididos em dois grupos de seis, sua origem é portuguesa, teve início na Península Ibérica, baseada nas lutas de cristãos contra os mouros. As equipes são diferenciadas através das cores das vestimentas, azul e vermelha. Portando lanças, chapéus e lenços, os cavaleiros desfilam até o local da disputa que normalmente, é uma pista com cerca de 200 (duzentos) metros. A partir dos mastros que sustentam uma argola suspensa no ar, os corredores iniciam a disputa: lança empunhada, o cavaleiro parte em disparada na tentativa de retirar a argola.  Os acertos são aplaudidos, um “juiz” faz a contagem dos pontos o grupo que obtiver o maior número de pontos será declarado vencedor, no final. Em alguns lugares, durante a apresentação, os cavaleiros amarram uma fita colorida na ponta da lança e escolhem alguns dos presentes para oferecê-la, em troca de gorjetas. Em algumas regiões como o submédio do São Francisco é conhecida também como corrida de argolinha. 

Chegança ou Marujada 

Os personagens da Marujada, esse bailado de origem portuguesa, são homens simples caracterizados de “marujos”, capitaneados por um “velho pescador” Manoel Inácio.  

 O ritual compõe-se de páginas dos feitos náuticos lusitanos no qual se representa, em forma de auto popular a conversão do infiel à religião católica-romana. Os participantes entoam hinos e glosas populares de sabor luso, ao som de pandeiros e castanholas. O lado profano e satírico deste auto é representado pelo exibicionismo dos personagens jocosos, envolvendo a platéia presente em seus folguedos e brincadeiras. 

Ciranda 

Esta dança tem origem do litoral do Nordeste onde homens, mulheres e crianças se reúnem em praças ou ruas, terreiros etc. para dançarem, normalmente de pés descalços. Na verdade, a ciranda é um misto de cânticos e dança de roda onde os participantes segurando nas mãos uns dos outros, vão dançando e rodando ao som de uma bandinha maestrada por um mestre cirandeiro, encarregado de tirar as cantigas e improvisar versos e comandar a festa. O balanço da dança é mais ou menos imitando as ondas mar. 

Coroação do Rei do Congo 

Conhecida também como “Congada” é um auto de origem africana que representa a coroação do rei do Congo. Os personagens mais importantes são: O rei, a rainha, o feiticeiro, o príncipe, e do lado destes, rondam princesas, damas de honra, capitães, capatazes e guerreiros. A Congada espalhou-se pelo Brasil após ter sido adaptada aos moldes portugueses. Desenvolve um enredo curioso e complexo, acompanhado, por instrumentos tipo tamborins, ganzás, marimbas, pianos de cuia e agogôs. A história do Congo é contada, seus feitos em batalhas e lutas.  

Dança do Cansancão

Esta dança foi criada pelos índios para festejar o inicio da safra do umbu, fruto considerado medicinal pelos índios. A dança é realizada todos os sábados e domingos do mês de março, início da safra do umbu, anunciando a colheita da fruta. Os “praias” (índios vestidos de roupas de caroá uma espécie de espada de São Jorge) começam a dançar no sábado, dançam  a noite inteira e o domingo o dia todo. Pescoara a dança são chamadas as mais belas índias que lhem seus parceiros, são elas quem colhem os umbus colocam em cestas para serem vendidos. Os dançarinos, por sua vez, levam um molho de cansancão nas costas pra “queimar” aqueles que erram os passos da dança. São formados circulo de dançarinos, e à medida que se estreitam vão passando cansanção uns nos outros. As mulheres dançam usando roupas leves e com rostos pintados, os homens dançam quase nus para melhor sentir o efeito do cansancão. O que se queixar, é considerado fraco.  

O ultimo dia é considerado um dia sagrado, mulheres e crianças não dançam. Todos os integrantes da aldeia são reunidos no terreiro para esperar alguém muito importante. Trata-se do maior dos “encantados” que não pode se revelar. Os homens dançam com muito respeito e o segredo do encantado é mantido.  

Dança do Coco 

Tem origem no litoral do nordeste, a dança do coco de roda é formada por um círculo onde os pares sapateiam, pisoteando forte cadenciado ao ritmo ditado pelo tirador. A dança segue o som de um ganzá onde os pares se permutam trocando umbigadas dançando tomados pelo vigor e resistência, muitas vezes até o dia amanhecer. É chamada também de samba de coco. (1) 

Frevo

O frevo é um ritmo típico do carnaval pernambucano. Sofreu influência musical, do maxixe e da polca, do pastoril e da modinha. Dessa mistura surgiu um estilo de musica explosiva com nomes impactantes, como: Madeira de dar em doido, Segura essa Brasa, Pernambucana de Raça, Metralhadora Pesada etc. A regra dos passos é o livre arbítrio e suas figurações marcam coreografias que exigem verdadeiros malabarismo dos “passistas”. Assim como as composições, os passos também têm nomes impactantes, como “dobradiça”, “parafuso”, “saca-rolha” e assim por diante. Os metais são instrumentos que fazem a alegria nos clubes pedestres, isto é, os foliões desfilam no chão, e não há carros alegóricos e muitos desses clubes são  até centenários. Na época do carnaval percorrem as ruas e avenidas levando milhares de foliões a caírem na folia alegremente dando-se cotoveladas sem jamais tocar nos integrantes da banda que vai no meio da multidão que é respeitada como se fosse um andor de procissão. O passista é livre.  Cada um dança a seu modo, sem contudo se preocupar com harmonia, quem determina o ritmo da dança é a banda que no final termina formando uma massa humana que dança com fervor e sincronizada entre si, onde todos sobem e descem ao mesmo tempo.  

Guerreiros de São Jorge 

De origem portuguesa é formado por um grupo de homens que percorrem as ruas, empunhando espadas sem pontas, realizando coreografia de luta e cantando hinos de louvor a São Jorge. Na frente vão dois integrantes portando bandeiras com imagem do santo. Na verdade esse auto folclórico é uma variação do Reisado. 

Malhação de Judas 

Segundo a Bíblia Sagrada foi Judas Iscariotes quem traiu Jesus, fazendo do beijo (Ósculo Santo) um código para que os Faraós soubessem quem era o Messias entre os seus discípulos. Para simbolizar o ato, os portugueses inventaram a malhação de Judas. O Judas da Malhação é representado por um boneco de pano que fica pendurado em postes ou árvores para serem malhados e queimados na madrugada de sábado de aleluia. A queima de Judas simboliza o castigo ao traidor de Jesus. 

Mamulengo 

O mamulengo é um teatrinho de bonecos confeccionados de madeira e pano, que se apresenta nas festas populares rurais e urbanas no Nordeste. Sua origem é européia, surgiu na Idade Média, na  tentativa de animar os presépios instalados nas portas de igrejas na Idade Média. Curiosamente, seu elenco é quase sempre composto por bonecos pretos. “Mané Redondo” é o boneco branco e, normalmente, é executado. morre no pau, e é sempre o vilão das estórias. O eterno herói é o “Negro Benedito”, com seu código de honra e boas ações. As peças apesar de existir sempre um roteiro, na maioria das vezes são improvisadas e quem determina o desenrolar das apresentações é a reação do público presente. 

Menino no Rancho 

Os antepassados acreditavam que nas locas das pedras habitavam criaturas malignas que gostavam de maltratar as crianças. Sendo uma cultura indígena, quando um menino da aldeia fica doente os pais fazem promessas aos “encantados” (espíritos que protegem a aldeia) e leva ao curandeiro que a coloca num rancho para protegê-la dos maus espíritos. Os pais patrocinam a festa com muita comida e bebida. Convidam uma menina para representar o papel de noiva, duas madrinhas, os “praias” (índios vestidos de roupas de caroá) e padrinhos, ou defensores do menino. A cerimônia começa de manhã com a chegada da noiva e das madrinhas. Começam a dançar. Quando dançam três rodas, os “práia” tentam carregar o menino que prontamente é defendido pelos padrinhos. Essas tentativas se repetem até à tarde quando o menino é devolvido aos pais. As investidas são sempre intercaladas com danças de três rodas.  

Mineiro-Pau 

De origem mineira é uma das danças de pares soltos mais populares do Nordeste e do centro do Brasil. Esta dança está ligada ao corte da cana verde por causa da virada de um lado para o outro, ao cateretê por causa das batidas de palmas ou ao batuque paulista, onde se insinuam as umbigadas, Inicia-se com mocas e rapazes formando um círculo de mãos dadas. No centro, um solista com seu instrumento a fim de animar o folguedo. Os dançarinos voltam-se ora para a direita, ora para esquerda, enquanto sapateiam acompanhando o ritmo e compasso da melodia. O mineiro-pau é uma dança animada, viva e rica em movimentos. 

Pastoril 

Auto popular para homenagear o nascimento do menino Jesus. A bandinha formada por um pistão, trombone, clarinete, bombardone e bombo dá o ritmo para as pastoras, vestidas de azul e encarnado, entrarem em movimento. Inicialmente elas formam duas fileiras (os cordões) separados pela Diana, vestida metade azul, metade encarnado. O cordão encarnado é puxado pela mestra, o cordão azul é puxado pela contra-mestra, ambas tocam pandeiros e maracás. As apresentações são realizadas em tablados rústicos, enfeitados com cordões e bandeirolas coloridas. Nessa apresentação o público participa fortemente manifestando preferência pelo cordão azul ou encarnado. Em bairros populares, onde surgiram variações do pastoril, aparecem figuras que tomam vários apelidos como: (cebola, canela de aço, catota, galo velho etc). Em dialogo com as pastoras provocam risos na platéia. 

Penitentes 

Os Penitentes surgiram desde a Idade Média. Eles se apresentam durante a quaresma, vestidos de túnicas pretas ou brancas e capuz, para praticar auto-flagelacão. Saem em fila indiana pelas estradas mais desertas e reúnem-se durante a madrugada em torno de cruzes nas estradas ou cemitérios, utilizando-se de um instrumento sagrado para eles, chamado de disciplina, constituído de uma tira de couro ou cordão, com uma lâmina de aço afiada amarrada em uma das pontas para praticarem o autoflagelo comandado por um mestre. 

Reisado 

Auto popular religioso profano que tem período certo para apresentação. De 24 de dezembro a 06 de janeiro, em homenagem aos Três Reis Magos. Os músicos, cantores e dançarinos vestidos de saiotes de cetim colorido e adornados com galões dourados, ou prateados, chapéus de abas largas, enfeitados com pedaços de espelhos, flores artificiais e fitas de cores variadas. Alguns dos personagens portam espadas prateadas, saem batendo de porta em porta para anunciar a chegada do Messias e pedir donativos. Existem muitas variações do Reisado como: Os Guerreiros, as Folias de Reis, o Boi de Reis etc. Os cânticos são acompanhados de sanfona, pandeiro, viola ou rabeca. Os principais personagens são: o rei, a rainha, o mestre ou secretario de sala, contra-mestre e palhaços. Algumas apresentações incluem a “farsa do boi” onde é simulada a morte, partilha e ressurreição de um boi, durante a representação em alguns casos personagens dançarinos entregam as pessoas presentes, lenços, espadas e chapéus, para depois recolherem com gorjetas. 

Roda de São Gonçalo

 

 

A Roda de São Gonçalo é de origem portuguesa e segue alguns critérios pré-estabelecidos. As rodas de São Gonçalo de Amarante tem como marco festa de Nossa Senhora do Rosário. Participam da dança as moças casadouras da cidade, que em pares e vestidas de branco empunham arcos  ornamentados  de flores e fitas e após a missa matinal saem da igreja, pelas ruas, em cortejo, cantando loas ao santo casamenteiro, acompanhadas de músicos tocando violas, rabecas, violões e pandeiros. A dança se estende pela noite, na frente das igrejas ornamentadas com arcos de flores, iluminados por velas acesas.                                               

Observam-se variações nos grupos folclóricos dos estados de Alagoas, Bahia, Pernambuco e Sergipe: erm Alagoas, a dança incorpora elementos litúrgicos, e as moças vestem-se inteiramente de branco, formam duas colunas com seis pares que dançam acompanhados pelos tocadores; Pernambuco, as moças vestem-se com saias azuis e blusas brancas; na Bahia, a indumentária é livre; em Sergipe, a tradição tem a referência do padre português que introduziu a    dança, como pretexto para atrair os fiéis à igreja, caracterizando-os e incutindo-lhes a prática do casamento. O grupo é conduzido por um “mestre”, um “contra-mestre” que toca, um “meio-cuia” e dois guias. A dança é executada em nove rodas divididas em treze partes apresentando coreografias diferenciadas e a indumentária é livre.

        Já na região do Submédio São Francisco, pra começo de conversa, São Gonçalo não considerado“santo casamenteiro”, este título é atribuído a Santo Antonio, assim como em outras partes do país. Nessa região, as Rodas de São Gonçalo não exigem vestimentas específicas e época pré-estabelecida. Quem determina a época para a realização é o dono da promessa, que normalmente a faz para pedir chuva e uma boa safra, pois acredita que São Gonçalo é muito influente lá no céu: pedindo a ele Deus atende. Nessa região, dançam homens e mulheres, moças e rapazes, meninos e meninas. São doze pares, no mínimo. A diferença está apenas, nas rodas que são realizadas para pagamento de promessas de pessoas que morreram devendo ao Santo. Neste caso, só dançam os homens e vestidos de roupa social. Pois acredita-se, a roda não for bem feita o falecido vem através de aparições, pedir para fazê-la novamente. Em qualquer das situações, a roda de São Gonçalo é constituída de doze partes chamadas de “mudança” e mais uma chamada de “mudança do povo”. 

Em alguns casos, a dança é acompanhada por sanfona, zabumba, pandeiro e triângulo. Os tocadores ficam sentados debaixo da latada onde fica o santo e os dançadores são puxados pelos guias e contra-guias através de arcos, mas, em alguns lugares, os dançadores não usam arcos e os próprios guias tocam as suas violas enquanto dançam e os dançadores vão atrás cantando louvores a São Gonçalo. (1) 

Samba de Velho ou “Véio” 

O Samba de Veio, embora seja mais conhecido na Ilha do Massangano, situada no rio São Francisco, entre os municipio de Petrolina – PE e Juazeiro – BA, é também realizado por todo o Vale, rio – abaixo, principalmente Nova Descoberta, Pedra Grande, Poço da Cruz e por aí vai. É comum os dançarinos de Roda de São Gonçalo quando terminam a ultima mudança exibirem a frenética dança do Samba de Véio. 

Já na Ilha do Massangano, esse folguedo tem suas exibições mais freqüentes. Os ilhéus, realizam esse entretenimento nos fazendo lembrar o reisado  com adaptações próprias.. Conforme apurou Bernardo Alves, com muita propriedade, no seu livro A PRÉ – HISTÓRIA DO SAMBA, o Samba de Véio está cada vez mais evoluindo na Ilha do Massangano, atraindo turistas e a imprensa nacional para conhecê-lo. Lá pelos idos de 1983-84, eu convivi com aquela gente durante vários meses e recebi muito carinho. Era uma época em que o lugar ainda era muito atrasado: tinham poucas casas, não havia escola, não tinha nada. Foi exatamente na época em que nós estávamos lá construindo equipamentos públicos como: a escola, sistema de irrigação, sanitários em cada casa, posto telefônico, creche, casa de farinha industrial e rede de energia elétrica. Era uma ação conjunta do poder municipal de Petrolina e o governo do estado de Pernambuco.

Até então, havia pouca gente de fora morando naquela ilha, a partir daí muitas pessoas da cidade adquiriram pequenos pedaços de terra e construíram grandes casas por lá. Era um tempo também em que o Samba de Véio não era conhecido, só havia exibição basicamente no dia da festa do padroeiro, Santo Antonio, dia 13 de junho, e, uma vez ou outra, em inaugurações. Mas o que não falhava mesmo todo fim de semana era o forró nos barzinhos improvisados que já existiam na época. 

Nesta época convidaram-me para ir a um desses forrós, juntamente com minha equipe, (que trabalhava nas construções dos equipamentos públicos da ilha) e eu, preocupado perguntei a um cidadão se não era perigoso à realização de forrós num lugar cercado de água por todos os lados e se não havia muitas brigas nessas festas. Ele então respondeu-me que não, pois quando alguém ousava brigar nas festinhas eles davam uma surra e “sapecavam” do outro lado do rio e mandava o brigão  ir embora. Assim fiquei mais calmo e daí em diante nunca mais perdi um forró enquanto estive por lá. 

Hoje o Samba de Véio está bem organizado. Já existem vestimentas próprias e instrumentos mais modernos, como o violão e o triângulo embora ainda acompanhados por batuque de tamborete, cabaças e palmas.

“A dança consiste num sapateado, onde o dançarino treme todo da cintura para baixo, mantendo a parte superior do corpo quase imóvel e os braços pendidos ao longo do corpo. O movimento da perna direita consiste em dobrar o joelho 45 graus e bater o pé no chão, como quem chuta, querendo ao mesmo tempo esmagar algo com o carcanhar. Com o bater de pé eles marcam o ritmo. Um dos passos mais usados é o tradicional parafuso (rodopio). Após sua exibição de aproximadamente 10 segundos o sambista tira um dos expectadores para substitui – lo” (ALVES; pg. 281 a 283)

Toré 

De origem indígena, o toré é uma cerimônia onde os participantes buscam, através da dança e da magia do velho mestre, expiação para minorar seus males e sofrimentos. Nos rituais eles usam defumação com plantas e a dança os conduz  aos espíritos caboclos enjuremados (espíritos em processo de caboclização). As cantigas entoadas e danças iniciadas pelos pajés são acompanhadas por pífanos e trombetas. As apresentações são realizadas nas aldeias, além de eventos culturais nas cidades e povoados. 

Vaquejada 

A vaquejada é realizada em lugares apropriados, denominados “parques de vaquejada”. É a mais tradicional festa nordestina originada do ciclo do gado. A vaquejada consiste na derrubada de boi, ou novilho, em disparada pelo vaqueiro, montado em seu cavalo que corre no encalço do novilho para segurar-lhe o rabo, manejando a queda da presa. As pelejas acontecem em meio a diversas festividades populares, atraindo um grande público das redondezas e de outras localidades para assistirem ao combate entre boi e vaqueiro. Que por sinal, considero um divertimento de muito mau gosto. 

                            Os Cangaceiros 

Apresentam coreografias que representam as escaramuças dos cangaceiros com as volantes policiais. O grupo folclórico procura retratar os costumes e práticas dos cangaceiros que viveram no sertão nordestino durante o chamado “ciclo do cangaço” no inicio do século passado. Trajam roupas típicas da época, chapéus de couro e alpercatas. O grupo é acompanhado por uma banda de pífano e finalizam as apresentações dançando baião e xaxado, tem como principais personagens Lampião e Maria Bonita. 

Blocos Carnavalescos 

Agremiações Carnavalescas formadas por moças e rapazes que se reúnem para desfilar no carnaval dançando e cantando o “Frevo-Canção” ou marcha de bloco ao som de orquestra de pau e corda. Ostentando fantasias coloridas ornadas com enfeites caprichosamente bordados, encenam episódios históricos, enredos de lendas, obras da literatura etc. 

Quadrilha de São João 

A Quadrilha de São João é uma dança popular apresentada durante o ciclo junino no nordeste. São homens, mulheres e crianças que se vestem com fantasias feitas geralmente de chita colorida com estampas de flores ou quadriculadas. Essa dança foi originada do período colonial retratando e representando os luxuosos bailes da aristocracia européia, é formada por duas alas. O primeiro par de cada ala conduz os demais. O marcador da quadrilha vai anunciando os passos, numa terminologia própria desse tipo de dança de origem francesa como: anarriê, alavantu etc. O ritmo da dança é marcha, gerado por sanfona, pandeiro, zabumba e triângulo. Essas apresentações são normalmente ensaiadas por cerca de quinze dias ou mais, quando os integrantes se preparam para participarem de concursos nas festas juninas, ou simplesmente, para se apresentar em festas oficiais das prefeituras. O casamento matuto é uma das principais atrações da apresentação, onde o casal de noivos participa de toda a dança, sempre acompanhado pelos pais, pelo padre, pelo juiz, pelos padrinhos e pelo delegado, cujo objetivo é obrigar o noivo a casar-se, porque normalmente ele quer fugir na hora do “sim”. A cerimônia ocorre com muitas brincadeiras e termina com ditos jocosos de sabor popular como, por exemplo: “Eu os declaro marido e marida em nome do pato, do pinto e do filho da pura e bela pátria” para todo sempre, “a mãe”.  

Repentista (violeiro) 

Figuras típicas da cultura brasileira, respeitados e admirados pela habilidade criativa e original de improvisar versos e melodias. Obedecendo a técnicas e regulamentos específicos da literatura popular, os repentistas e violeiros criam seus versos e melodias a partir de uma única palavra ou “mote”, são capazes de compor estrofes rimadas por vários minutos com terminologia sempre na palavra ou mote que foi iniciado. Eles se apresentam individualmente ou em duplas tocando suas violas de dez cordas, cantando o “repente” em festivais e congressos de violeiros em forma de quadras, quadrões, sextilhas, galope a beira-mar, martelo agalopado, moirão, etc. Onde sobressaem nas pelejas e desafios dos violeiros mais hábeis. (Atlas Região dos Lagos do Rio São Francisco/Chesf, Sebrae-BA, PE, AL, SE). 

1. toda a parte de folclore neste capitulo (exceto o samba de véio) foi pesquisada no Almanaque  Regiao dos Lagos do rio são Francisco, projeto elaborado pela Chesf em convênio com o Forum de Desenvolvimento da Regiao dos Lagos do Rio São Francisco.

2. A Pré – História do Samba, livro de Bernardo Alves, Petrolina – PE/2002. pag 281 a 283.

 

SUMÁRIO

 

 
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