APITULO I - HISTÓRIA

Origem

Pouco se sabe, sobre o surgimento do rio São Francisco no planeta Terra. Apenas presume-se que ele tenha nascido ha mais ou menos sessenta milhões de anos. Assim sendo, vamos voltar ao tempo até a era Paleozóica há duzentos milhões de anos, quando o planeta era constituído apenas por duas porções: uma de terra emersa denominada ”Pangéia” e outra de água, denominada Oceano Thethys. Há cento e oitenta milhões de anos a Pangéia começou a se fragmentar, formando dois supercontinentes: Laurásia, ao norte, e Gondwana ao sul do planeta. Isso ocorreu na era Mezozóica. Há sessenta e cinco milhões de anos a América do Sul começou a se separar da África, dando início ao surgimento do Oceano Atlântico. Da parte sul do que fora a Pangéia e depois Terra de Gondwana, apenas a Austrália e a Antártida continuavam juntas, mas já começando a desligar-se. A pressão exercida sobre os sedimentos, quando a porção de terra que formou o que é hoje a América do Sul, na direção oeste, causou dobramentos os quais deram origem à Cordilheira dos Andes na América do Sul e as Montanhas Rochosas na América do Norte.

         A teoria da deriva dos continentes e das placas tectônica foi desenvolvida pelo astrônomo alemão Alfred Wegener. (A teoria de Wegener) defende a idéia de que os continentes flutuam sobre uma parte pastosa no interior da Terra, assemelhando-se ao gelo ou madeira flutuando na água, por isso os continentes estão sempre à deriva deslocando-se de um lado para o outro. Essa teoria só veio a ser comprovada cientificamente, nos anos 50, do Século XX pela “Geofísica”, por meio de técnicas modernas geológicas que pôde comprovar que os continentes flutuam sobre o magma do interior da Terra. Essa comprovação se tornou possível com a teoria das placas tectônicas. (2)

 Mas, o que são placas tectônicas? Imagine uma bola de futebol toda modulada com pedaços de couro, costurados uns aos outros. Cada um deles é como se fosse uma placa tectônica formando a crosta terrestre. O Brasil por exemplo, está localizado mais ou menos no centro de uma delas. A placa sul americana que limita-se à leste e nordeste com a placa africana, ao sul com as placas da Antártica e Scótia, a noroeste com as placas norte americana e do Caribe, a oeste, com a placa de Nazca e a sudeste com a placa da Antártica.

 Como já falamos no início, pouco se sabe sobre o surgimento do rio São Francisco, mas agora, depois que demos um mergulho no passado, vimos que, segundo os estudos dos últimos sessenta e cinco milhões de anos o Planeta Terra tomou forma de casco de tartaruga ou de bola de futebol, na sua parte mais externa é tudo dividido em placas flutuantes, as quais se movimentam constantemente. A nossa, é a placa sul americana, que continua se afastando da placa africana a uma velocidade de três centímetros por ano, enquanto a placa de Nazca está mergulhando por debaixo dela, a uma velocidade de dez centímetros por ano, e tudo isso começou há sessenta e cinco milhões de anos. São pressões astronômicas. Será que a explicação não está aí? Com esses movimentos poderá ter havido uma fissura, e daí, o surgimento da calha principal do rio São Francisco, e pelo processo erosivo pode ter ocorrido o aparecimento de seus afluentes. Ou será que todos eles surgiram por meio do processo erosivo? E, se foi, como se explica o formato do Cânyon Sanfranciscano que, grosso modo dá uma impressão que ocorreu uma fissura na Terra durante as eras geológicas, dando caminho ao nosso Velho Chico? É claro que estamos apenas fazenda suposições, quem tiver outras explicações mais convincentes, por favor, fique a vontade. Fizemos esse caminho do passado para o presente apenas para apresentar nosso pensamento hipotético, uma vez, que o mundo acadêmico aparentemente não tem se preocupado com esse assunto, a preocupação tem sido apenas com a história do seu “descobrimento”. 

Por esses e outros motivos, Vicente Licínio Cardoso sugere que Euclides da Cunha ao falar do vale do amazonas (terra sem história), encantado com aquele ambiente, um verdadeiro mundo em formação deveria ter dito também quando esteve num trecho de terras voltadas para o São Francisco: o São Francisco é rio sem história”.(5) Uma frase que define nossa ignorância falta de responsabilidade e compromisso com aquilo que Deus nos deu inteiramente de graça. 

            “Rio sem história... porque, de fato não há história sem seqüência e do povoamento e penetração do vale do São Francisco ficaram-nos apenas depoimentos isolados, dados escassos ou detalhes insignificantes (...), rio sem história. De fato não há como seguí-la no emaranhado desconexo de dados isolados, sem datas que se superponham ou referências que se completem(...)” (CARDOSO 1979, VOL. 13)

 De fato o único mapeamento completo já feito no rio São Francisco foi o de Fernando Halfeld entre 1852 e 1854, de Pirapora até a foz, tipografado em 20 de Julho de 1859 na Tipografia Moderna de George Bertran, na cidade de Paraibuna Rio de Janeiro. As demais histórias que são contadas em diversos documentos na sua maioria deixam muito a desejar, cada um conta de um jeito. Por isso concordamos com Licínio Cardoso. 

Mas, existem outras probabilidades que podem justificar o surgimento dos rios no Planeta Terra. Uma delas pode ser traçada a partir do processo do ciclo hidrológico, pois a chuva e a neve quando caem, encontram vários caminhos a seguir, antes de voltar para á atmosfera via evaporação e evapotranspiração. Grande parte evapora alí mesmo no local onde ocorre a chuva ou neve, outra parte é absorvida pelas plantas, e depois, também será transformada em vapor d‘água, uma certa quantidade se infiltra no solo,  onde se junta à água subterrânea existente e o restante corre pelos vales entre as elevações formando córregos e riachos, removendo partículas dos solos e rochas por onde passa. Inicialmente, flui intermitentemente, mas com o passar do tempo, vão se abrindo sulcos até alcançar o lençol freático (água subterrânea) somando – se essas potencialidades transformam-se em rios permanentes. As fontes naturais também contribuem com a formação desses rios, principalmente nas cabeceiras. 

O regime pluvial, topografia, idade de um rio e a carga transportada são os determinantes para a velocidade das correntes de água, sendo normalmente a maior velocidade no seu eixo pelo fato do atrito ser menor, por conta da profundidade da calha. As calhas dos rios são aprofundadas ou assoreadas de acordo com a força das correntezas. Quando a velocidade das águas é grande, vai arrastando os resíduos removidos das rochas por dissolução e como o transporte de carga pesada é feito por arrasto descrevendo rotação, os fragmentos vão se desgastando e desgastando também o fundo da calha do rio, e como conseqüência o aprofundamento. Se a velocidade for pequena o efeito é ao contrario, os detritos como: argila dissolvida, areia e pequenas rochas se depositam no fundo da calha causando o assoreamento. (3) Os rios transportam material de três formas: por solução, suspensão e arrasto, ou ainda por rolamento e salto. 

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1. In Revista Geográfica Universal – Agosto de 1999.

2. Geografia, O Subdesenvolvimento e o Desenvolvimento Mundial e o Estudo da América, vol 3. Melem Adas, Editora /Moderna/2000.

3. Geologia geral – José Henrique Popp, 2ª  ed. 1981, pág 106

 4.Geologia Geral – José Henrique Popp, 2ª ed. 1981, pág 107.

5. Margem da História do Brasil, volume 13, Vicente Licínio Cardoso, Brasiliana 3º ed. Editora Nacional (Brasília).

6. Idem. 

Descobrimento

         A  história oficial do Brasil da conta de que o rio São Francisco foi descoberto no dia 04 de outubro de 1501, quando da exploração da costa brasileira por André Gonçalves e Américo Vespúcio, data alusiva ao santo peregrino italiano, São Francisco de Assis. Américo Vespúcio também era italiano, mas navegava no Atlântico a serviço de Portugal, quando ele encontrou a foz do rio os nativos o chamavam de OPARÁ (rio-mar), depois foi chamado também de “PARANAPETINGA (Paraná=peixe miúdo usado como isca, Petinga=braço de rio caudaloso separado por uma ilha)”. (1) Como naquela época era costume da Igreja Católica batizar pessoas observando o nome do santo do dia, Américo Vespúcio seguiu o mesmo hábito batizando tudo que ia descobrindo com o nome do santo do dia. Por isso, rebatizou o velho OPARÁ com o nome de Rio São Francisco, pois, além da força do hábito o santo padroeiro da ecologia também era seu conterrâneo.

          Os tempos passaram e o velho OPARÁ ou São Francisco, foi ganhando outros nomes, por carinho dos seus ribeirinhos ou pela sua importância econômica e sua beleza. Primeiro chamaram-no de “rio dos currais”, pelos seus primeiros desbravadores portugueses comandados por Garcia D’Ávila, depois “Nilo brasileiro” por J.V.Couto, “Rio da Unidade Nacional” por Capistrano de Abreu, “Linha de Comunicação” segundo Burton, “Grande caminho da Civilização Brasileira” por João Ribeiro, “Rio da Redenção Econômica” pelo ex-presidente Emilio Garrastazu Médici ou “Chicão” como é chamado até hoje carinhosamente pelos seus barranqueiros(2)

 Todo o carinho que um ser humano pode dispensar a alguém é pouco para retribuir o que o Velho Chico nos oferece, só que poucos lembram desse detalhe principalmente aqueles que mais precisam dele para tirar o seu sustento e de sua família. A maioria só o destrói impiedosamente. Lamentamos profundamente que tenham acumulado tantos problemas que ofuscam a beleza e as potencialidades do rio São Francisco, se aparecer alguém disposto a lhe atribuir mais um nome, que seja rio da preocupação nacional. Para que no futuro não tenhamos que atribuir outro ainda mais doloroso: rio da desintegração nacional. 

O rio São Francisco tem sua história bastante fragmentada. Muitos fatos importantes não foram sequer registrados e muitos que o foram não existem nem em cartórios, pois foram extraviados pelas traças e pelos homens. (3)

“(...) remirei-os silencioso. Triste, porque soubera que nos distúrbios cangaceiros de 1920 até os papéis antigos dos cartórios serviram de buchas para pica-paus antiquados, processos de utilização no interior do Brasil, nas regiões onde escasseia o papel com o que em tempo de guerra se substitui a bucha dos foguetes na adoração inadiável do” divino ”  (Cardoso, 1979 vol. 13)

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1.O Rio São Francisco – Filme da Opará Vídeo, Belo Horizonte – MG.                 

2.O Velho Chico, Wilson Dias/1985

3.  Brasiliana vol 13, A Margem da Historia do Brasil  3º ed – Editora Nacional (Brasília) 1979.

 

 Fatos que Marcaram a História do Vale

           Tudo começou em 1522, quando o primeiro donatário da Capitania de Pernambuco Duarte Coêlho entrou pela foz do Rio São Francisco e fundou a vila de Penêdo, fato esse, que deu início à colonizacão do vale do São Francisco. Garcia D’Ávila, enviado pelo Rei de Portugal para colonizar a região do Recôncavo Baiano nessa época já estava na Bahia cuidando de sua criação de gado da raça malabar. Como as coisas por lá não andavam muito bem, por conta da praga de carrapatos que atacou a criação resolveu fazer suas primeiras visitas à região do Vale do Velho Chico, em 1543. Encontrando por aqui melhores condições para o desenvolvimento de uma pecuária recebeu da coroa portuguesa as primeiras terras na região, 18 anos depois, em 1561, aqui estava ele com sua gente instalando currais, segundo a história, em cada curral ficava um vaqueiro e a família, 10 novilhas, 01 reprodutor e 01 casal de eqüino. 

Com o passar dos tempos, muitos dos currais se transformaram em fazendas, as quais paulatinamente se desenvolveram e formaram vilas em sua volta. Depois foram surgindo as cidades. Com a vinda de Garcia D’Ávila, muitos outros fazendeiros vieram também para o Vale, principalmente depois que começou a decadência do cultivo da cana-de-açúcar na Zona da Mata e a corrida do ouro no alto São Francisco.

1578: surgiram os entradistas do Baixo São Francisco com objetivo de capturar os índios para escravisá-los na colonização do território. A primeira entrada foi formada por um grupo comandado pelo provedor Francisco de Caldas, auxiliado por Gaspar Dias de Ataíde, todos foram vencidos e devorados pelos índios. A segunda entrada foi comandada pelo capitão Francisco Barbosa da Silva, que também foi derrotada pelos índios da tribo Tabajara.

 1593 a Bandeira de Belquior Dias Moréia chega às terras de Pambú no extremo norte da Bahia, onde hoje é o município de Curaçá. 

1637: o conde Maurício de Nassau foi nomeado governador dos territórios conquistados pelos holandeses no Brasil. A exemplo de Pernambuco, a cidade alagoana de Penedo é tomada pelos espanhóis, que constroem um forte às margens do rio para controlar a navegação e a produção de cana-de-açúcar. Oito anos depois os holandeses foram expulsos. Em 1646 houve uma segunda invasão.

 1654: os bandeirantes promoveram incursão pelo interior do Brasil, dando início ao processo de extração de ouro e diamantes e ao tráfico de escravos, que dominavam a atividade econômica no vale.

 1675: foram encontradas as primeiras jazidas de ouro no rio São Francisco. Os índios Cataguás, habitantes das cabeceiras do São Francisco foram dizimados pela Bandeira de Lourenço de Castanho.  

1678: a Bandeira de Salmeron chegou à Cachoeira de Pirapora e trava uma sangrenta batalha com os índios Cariris ocupantes do território. Com o início da exploração do ouro e do diamante, em Minas Gerais, nas cabeceiras do rio São Francisco, os trabalhadores da zona canavieira começaram a emigrar para o Alto São Francisco, a partir daí, a pecuária iniciada com a instalação dos currais de Garcia D‘Ávila teve que produzir bastante para suprir as necessidades de milhares de pessoas que se mudaram da cultura da cana para o garimpo. Os currais, do lado da Bahia, chegaram a mais de 550 e do lado de Pernambuco eram muito mais. Segundo Barbosa Lima Sobrinho. 

1691 a gruta de Bom Jesus da Lapa foi descoberta pelo monge Francisco de Mendonça Mar, onde até hoje é ponto de convergência da fé do Brasil inteiro. Lá onde mora o Bom Jesus, para os devotos mora também o milagre. A fé de cada um é renovada sempre, há mais de 310 anos. 

1697 Vila Rica atual Ouro Preto Minas Gerais passou a ser alvo das atenções dos caçadores de minérios quando lá foram descobertas jazidas de ouro. 

1720: foi criada a província de Minas Gerais, que recebeu, do imperador D. Pedro II, parte do território do estado de Pernambuco, uma área quase correspondente ao estado atual. Depois Mina cedeu a referida área para a Bahia, aumentando consideravelmente o território desse estado, área esta, que continua anexada até hoje.

 1832 o povoado de Pambú passou a vila, mas só em 1880 passa a se chamar Curaçá. Antonio Conselheiro andou pelas terras desse município, onde deixou “seus ensinamentos” e marcou sua passagem com a construção do cemitério de Riacho Seco e a igreja de Chorrochó, município vizinho.Em 1833, o município de Juazeiro é criado, oportunidade em que seu território foi desmembrado de Sento Sé. Localizado na porção norte do estado da Bahia, à margem direita do rio São Francisco, Juazeiro se destaca como uns dos maiores e mais promissores municípios baianos.

1847: nasceu o distrito de Pirapora em Minas Gerais, onde mais tarde, em 1852, se iniciou a expedição do engenheiro Halfeld onde também foi definida pela província da Bahia, a construção da estrada de ferro ligando Juazeiro a salvador. 

1851: o Imperador D.Pedro II contratou o engenheiro civil, alemão Henrique Guilherme Fernando Halfeld, para fazer o mapeamento do Rio São Francisco, de Pirapora Minas Gerais ao Oceano Atlântico. 

1859: o Imperador D. Pedro visitou Penedo em Alagoas e a Cachoeira de Paulo Afonso na Bahia, onde ordenou a realização de estudos sobre o potencial energético. 

1862 foi dado inicio pelo jesuíta Luis de Gran, a catequização dos índios que habitavam o Vale do São Francisco.

1871 Sabará Minas Gerais recebeu o imperador D. Pedro II para inaugurar o vapor Saldanha Marinho, lançado no rio das Velhas, um dos principais afluentes do São Francisco, dando inicio à navegação dos gaiolas na bacia do rio São Francisco.

1886: surgiu a primeira proposta apresentada pelo engenheiro Trist Franklin Alencar, para a transposição das águas do São Francisco para o semi-árido, Por causa das dificuldades técnicas da época, a idéia foi arquivada. 

1880 as cidades de Januária, em Minas Gerais e Malhadas, na Bahia, foram aterrorizadas pelo jagunço “Neco”. 

1901 o regulamento do tráfego marítimo impôs o fim das barcas no rio São Francisco e em 1902 foi inaugurada, oficialmente, a navegação a vapor com a chegada do Saldanha Marinho a Pirapora que navegava no rio das Velhas, um dos seus principais afluentes. 

1906 o rio São Francisco transbordou e chegou a sete metros acima do seu nível normal. O fato se repetiu em 1919 quando uma grande enchente provocou novamente a subida do seu nível para nove metros e em 1926, segundo a história, ocorreu a maior de todas as enchentes registradas até hoje: nove metros e sessenta centímetros acima do nível. Isso se não levarmos em consideração a enchente que Halfeld mencionou em seu relatório, ocorrida em 1792, que segundo ele, atingiu 45 palmos acima do nível normal do rio, o que transformando em metros vai para cerca de 9,90m.

 1930 o governo oferece recompensa a quem capturar Virgulino Ferreira o Lampião, o qual em 1938 foi morto em combate com a polícia.

1945 foi criada a CHESF—Companhia Hidrelétrica do São Francisco. Em 1947, saíram as primeiras verbas para a construção da usina de Paulo Afonso e em 1957 foi dado início à construção da barragem de Três Marias, em Minas Gerais, transformando parte daquela região num verdadeiro mar doce. (1) 

1948 o governo criou a CVSF– Comissão do Vale do São Francisco, “19 anos depois, em 1967, criou a SUVALE – Superintendência do Vale do São Francisco” (2) que virou CODEVASF—Companhia de Desenvolvimento do Vale do São Francisco, em 1974. Também em 1974, foram instalados os projetos pioneiros de irrigação: Bebedouro em Petrolina e Mandacaru em Juazeiro.

1952 foi registrada a menor vazão no rio são Francisco, apenas quinhentos e noventa metros cúbicos por segundo. 

1979 já com a barragem de Sobradinho em operação, ocorreu uma grande enchente cuja vazão chegou a quase 18.000m3/s. 

1984 entrou em operação o Projeto Massangano, hoje denominado Projeto Senador Nilo Coelho. Nove anos depois, em 1993, começou a funcionar o Projeto de Irrigação de Itaparica e mais recentemente o Maria Tereza já em operação, e o Pontal em fase de instalação. 

1994 começou a encher a barragem de Xingó, a maior geradora de energia do complexo Chesf e volta às mesas de discussões o projeto de transposição das águas do rio São Francisco para o restante do semi-árido nordestino. (3) 

2000 o potencial começou a se esgotar causando em 2001 o racionamento de energia no Nordeste, assim como ocorreu em outras regiões. 

Antes de ser oficialmente inaugurada a navegação a vapor no trecho de Pirapora a Juazeiro, alguns vapores foram lançados ao rio em outros trechos, como por exemplo: a introdução da navegação no Baixo São Francisco no trecho de Piranhas a Penêdo em Alagoas em 1867 e o lançamento do vapor presidente Dantas no porto de Juazeiro em 1872. Já o vapor Saldanha Marinho responsável pela inauguração do trecho navegável, em 1902, analisado e liberado por Halfeld foi fabricado no Mississipi e trazido desmontado para o rio das Velhas. Segundo contam os mais velhos muitas de suas peças foram carregadas em lombo de jegue e burro lá em Sabará Minas Gerais, onde fora montado.

Foram esses projetos que elevaram Petrolina, Juazeiro e os demais municípios ao cenário nacional e internacional, como o novo pólo produtor de frutas do país, o que faz a região ser apontada como o “Brasil que deu certo”. Nos dias de hoje, de cada 100 kg de manga que o Brasil exporta 80 kg saem dessa região, de cada 100 kg de uva exportados, 97 saem do mesmo pólo. São milhões de dólares que vêm para a região. Hoje já são mais de 100.000 ha, irrigados quando somados os projetos governamentais e os projetos particulares e ainda se encontra em fase de implantação o Projeto Pontal no município de Petrolina que aumentará ainda mais a produção agrícola irrigada da região do Vale do são Francisco.

 É pena que todo esse progresso custe tão caro ao meio ambiente, pois não se teve ainda a preocupação de harmonizar o progresso com um ambiente equilibrado por meio de projetos de desenvolvimento sustentável, para que o homem possa produzir seus bens de consumo sem degradar tanto a natureza a ponto de exterminar a biodiversidade, podendo levar o planeta ao “leito de morte”. Só com a sensibilização buscando a consciência de todos os seres humanos é que teremos a garantia da vida continuar existindo na Terra.

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1.Pesquisa do Jornal do Comercio – Recife PE, Agosto e Setembro/2000

2. Fonte: Revista Com Você, setembro/outubro de 2001 – (Antonio Simões) pág 22 e 23.

3. Pesquisa feita pelo Jornal do comercio - Recife divulgada em oito edições no Período de 27/08 a 03 0-9/2000.

 Cangaço 

A História do Brasil é marcada por muita violência desde o seu inicio quando os portugueses começaram a invadir o território. Primeiro foram os conflitos entre invasores que queriam aquí se instalar e os nativos que não queriam deixar. Esforço esse que não valeu muita coisa para eles. Depois mais conflito entre invasores na disputa pela posse do território, ou pelo menos quem ficaria com a maior parte. Quase quatrocentos anos mais tarde, surge um fenômeno social caracterizado pelo banditismo resultado da intensa miséria e injustiça social no sertão nordestino, suas origens remontam aos anos de 1877 e 1879, época em que uma grande seca assola o nordeste. Grupos armados começam a praticar assaltos em lojas e fazendas e distribuir com os flagelados. Entre os principais lideres, destaca-se Antonio Silvino que chegou a ser chamado de “governador do sertão”.

          Até sua captura em 1914 mobilizou as policias dos estados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e Pernambuco, atacando cidades, fazendas e tropas do governo.

           Capturado Antonio Silvino, dois anos mais tarde é a vez do surgimento do bando de Virgulino Ferreira, o Lampião em “1916. Natural de Vila Bela Pernambuco (hoje Serra Talhada) nascido em 07 de julho de 1897, após passar por grandes conflitos a família Ferreira teve que ir embora de Vila Bela para o Estado de Alagoas, mas seu principal inimigo, Zé Saturnino, através de cartas começou a incitar o tenente Lucena, da policia alagoana, a perseguir e fazer pirraça à família Ferreira, resultando isso na invasão da policia no sitio deles e matando o velho José Ferreira. Em conseqüência sua mãe Maria Sulena da Purificação esposa da vítima, logo morreu também. Dessa forma Virgulino passa a atribuir a morte dos pais aos seus inimigos pernambucanos. Daí, foge com seus irmãos: Antonio, Livino, Ezequiel, João Ferreira, Maria, (conhecida como Mocinha), Angélica, Virtuosa e Anália, para o interior e se junta aos grupos de “bandidos”, pois para ele, (segundo a história) vingar a morte dos pais virou questão de honra. A partir daí, para os Ferreiras não existis mais lei, nem ordem escrita por homens de paletó e gravata. Virgulino Ferreira da Silva empunhou-se de rifle e partiu para a vingança, inicialmente no bando de Sinhô Pereira onde demonstrou ser um grande líder, pouco tempo depois assumiu o comando geral passando a formar o seu próprio grupo e ser chamado de LAMPIÃO por causa do seu gatilho rápido”. (www.lampiaovirtual.cjb.net). (1)

          Por volta de (1918-1919), começa a ganhar fama na região. Ao contrário dos seus antecessores o grupo de Lampião fica famoso em todo o sertão nordestino mais por sua truculência do que por sua generosidade. Em 12 de Abril de 1926 Lampião recebeu o titulo de capitão, com incumbência de combater a Coluna Prestes. Pelo menos essa era a idéia inicial de um certo Dr. Floro Bartolomeu, mas o combate nunca aconteceu, apesar de Lampião ter ficado muito bem equipado com armas e munições financiados pelo governo, o que depois serviu para enfrentar os que o perseguiu durante 21 anos. 

         Apesar das várias tentativas para acabar com o cangaço somente em “28 de julho de 1938, numa quinta-feira, na Grota de Angicos, quando todos já haviam levantado, quando Lampião apareceu para a realização do Oficio de Nossa senhora. Em seguida, arrumaram-se para o café e ainda houve tempo para que fizessem. Na véspera, muitos beberam. A bebedeira fora geral e vários se excederam”(www.lampiaovirtual .cjb.net) (2).

        Presume-se que tenha sido daí que os cangaceiros  passaram a ser alvo fácil para uma tropa sob o comando de um certo capitão Bezerra, conseguiu surpreender os cangaceiros na fazenda dos Angicos-SE onde onze deles foram mortos, entre os quais, Lampião e sua companheira Maria Bonita. Suas cabeças foram decaptadas e expostas na frente da Prefeitura de Piranhas AL e depois levadas para o museu da faculdade de Medicina da Bahia, onde passaram muitos anos na conserva mergulhadas em formol; Em 1940 encerrou-se o ciclo do cangaço no Nordeste com a morte do ultimo cangaceiro sobrevivente. O curisco. (3)

 Por mais que se discuta tem sido difícil determinar (o que representou realmente Lampião para o povo nordestino Herói ou bandido?) Dizem que ele tirava de quem tinha para dar a quem não tinha. Será que isso foi realmente verdade? E se foi verdade, será que é correto tirar os pertences de alguém para dar a outro? Ou será que Lampião nunca fez isso e as pessoas ficam imaginando que poderia ter sido assim e querem transformar essa imaginação em verdade? Bem, uma coisa é certa: para a época em que ele viveu, quando se usava espingarda soca-soca no lugar dos AR-15 de hoje e se locomovia a cavalo e em jégue, no lugar dos aviões bombardeiros de hoje e ainda é de se admirar que ele tenha passado dez anos para ser capturado pela policia, ou ele era muito esperto ou a policia era muito lerda. Se bem que a coisa deviria ser proporcionalmente igual a hoje. Quando O bando de Lampião começou a usar espingarda soca-soca a policia da época ainda usava estilingue e andava a pé enquanto os cangaceiros andavam a calo ou em jégue.

Em meio a historias do cangaço existem algumas estórias, principalmente de Lampião. Dizem os mais velhos que Lampião andou muito por essas bandas aterrorizando o povo da época, mas ainda nos dias de hoje não é muito difícil encontrarmos alguém que afirma ter conhecido o rei do cangaço e mais ainda, alguns têm a petulância de dizer que ajudou o pai a brigar com Lampião e venceram. É como diz o ditado “o boi solto se lambe todo”. Em algumas das estórias de Lampião há uma idéia de que ele realmente era um justiceiro. Vamos relembrar algumas delas: 

Dizem que um certo dia, Lampião e seu bando estavam com muita fome e não tinham nada para comer. De repente, surge na frente uma casa, era a casa de uma senhora viúva, Lampião e seu bando se aproximam e a senhora embora bastante nervosa os recebeu. Lampião por sua vez disse que ela não se preocupasse, que nada de mau iriam lhe fazer, só queria que ela matasse algumas de suas galinhas para saciar a fome de sua tropa. E assim a pobre senhora tratou de obedecer às ordens do capitão, matou as galinhas e fez a comida, mas com o nervosismo, esqueceu de colocar sal. Serviu a comida e todos começaram comer sem falar nada inclusive o próprio Lampião, mas um de seus cabras, muito petulante gritou: - a comida ta sem sal! . Nessa hora a coitada velhinha quase morreu de medo e o sujeito morreu de verdade porque Lampião o obrigou a comer bem rapidinho um litro de sal grosso, daquele que usavam na época para ração de bode, boi e jegue. (4) 

Numa outra oportunidade o bando encostou-se à casa de uma senhora para beber água. “O Capitão Lampião percebeu que aquela senhora estava chorando muito. Percebendo ele, que não era por causa da presença do seu bando perguntou o motivo pelo qual ela chorava tanto, respondeu a senhora que estava sendo humilhada por sujeito rico da redondeza que havia desonrado sua filha e ainda lhe provocava indo todos os dias a sua casa possuí-la contra sua vontade. Assim sendo, o Capitão resolveu esperar o sujeito para dar-lhe boas vindas. Deste modo, ordenou a tropa a se esconder nas proximidades da casa e ficou na tocaia aguardando o rapaz, não demorou muito o sujeito apareceu e foi logo entrando casa adentro para abraçar a moça como fazia todos os dias. Desta feita o dito cujo foi surpreedido por um abraço de Lampião e seus cabras. Quando tentou correr já era tarde demais, a cabroeira encostou e sob o comando do seu capitão fizeram a festa. Levaram o sujeito para um local próximo, onde havia uma broca (área com a vegetação roçada), pronta para queimar, lá escolheram o melhor tronco de baraúna entre muitos que lá existiam, encostaram o sacripanta e utilizando-se de um prego de caibro e martelo, pregaram no tronco a parte mais preciosa que ele tanto estava utilizando, deram uma faca cega nas mãos do infeliz, tocaram fogo nas moitas em volta do tronco e foram embora. Daí, ninguém sabe se o sujeito morreu queimado ou se utilizou à faca”. (5)  Essas são as estórias que o povo conta, mentira ou verdade, ele não está aquí mesmo para contestar. 

Em torno figura de Lampião ainda hoje chegam até nós muitas histórias e estórias engraçadas, cujos relatos são feitos normalmente por verdadeiros “sabichões” que contam coisas sobre o rei do cangaço que nem ele mesmo soube que aconteceu. Quando estivemos percorrendo o trecho de Itaparica – PE até Piranhas, em Alagoas, levantando dados que fazem parte deste trabalho, fomos acompanhados por certo guia turístico, de lá da região. Em certos momentos o sujeito mentia que nem cachorro que acoa preá ganhava dele. Num dado momento ele levou o grupo a um local onde parecia haver umas trilhas que levavam a algumas cavernas que se avistava de longe, notando ele que a turma estava bastante empolgada soltou o verbo: - “Olhem aquí senhoras e senhores estamos agora nas trilhas por onde passaram Lampião, Maria Bonita e seu bando, era naquelas cavernas que estamos vendo em nossa frente que eles se escondiam quando estavam sendo perseguidos pela volante do capitão Bezerra”. Mas, o rapaz não parava de falar, se esforçava tanto pra falar bonito que esquecia de raciocinar. Um dos nossos colegas muito empolgado perguntou: - Mas isso é verdade mesmo que nós estamos pisando nas mesmas trilhas que Lampião pisou e estamos na frente das cavernas onde ele se escondeu com seu bando?  Ele –É verdade verdadeira senhoras e senhores, foi por essas trilhas que Lampião passou e se escondeu ali, exatamente ali naquelas cavernas. Se não se escondeu é porque era burro, pois, ali é um ótimo lugar para se esconder. Conclui o rapaz.

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 1. Site www.lampiaovirtual .cjb.net

 2. Site www.lampiaovirtual.cjb.net

 3.Almanaque Abril Cultural/1993

 4.Estória que o povo conta

 5.Estória que o povo conta.

 

Chegada do homem branco

            A exploração do Vale do São Francisco se deu lentamente pelos portugueses e brasileiros miscigenados de (mistura de índios, negros e brancos). Inicialmente, foi a caça aos metais preciosos. Isso custou um preço muito alto para os nativos que eram chamados de “índio”, eram catequizados pelos jesuítas para serem escravizados com o apoio da corte que favorecia os invasores, a que a Coroa portuguesa concedendo grandes áreas de terra chamadas de “sesmarias” o que deu origem aos latifúndios existentes até hoje, iniciados na região pelo pecuarista português, Garcia D‘Ávila que resolveu deixar o recôncavo baiano, onde explorava a criação de gado “malabar” para vir explorar o Vale do São Francisco desenvolvendo a mesma atividade a partir de 1561 conforme mencionado  anteriormente. 

O principal meio de transporte, na época, era através da navegação, facilitando o transporte de gente e de mercadorias. Isso rolou até os anos cinqüenta do século passado. Os barcos navegavam na maior parte do rio São Francisco, só respeitavam onde tinha muitas quedas d‘água. A estrada era o rio. A introdução da criação de gado, portanto se deu nesse período, ou seja, na segunda metade do século XVI, 1561, por Garcia D‘Ávila e cresceu em função da corrida do ouro no alto São Francisco e ficou a pecuária em destaque até meados do século XX. O gado era básico, era o negocio da época. O transporte era feito em grandes boiadas pelas estradas, a longa distância, como por exemplo, de Salvador a Recife. 

A agricultura só surgiu, pra valer, na Bacia do São Francisco, depois que foram construídas as primeiras estradas rústicas o que contribuiu para o fluxo migratório do litoral para o Vale do São Francisco e vice-versa. Por, pelo menos, três séculos, só havia boi no Vale do São Francisco, e era a atividade econômica de peso. Por isso mesmo, até hoje, o animal ficou associado à cultura da região. Na caatinga e no cerrado, o gado era criado solto, cabendo aos vaqueiros proteger o rebanho e fazer deslocamento em busca de novas pastagens e água.

            Nas margens do rio viviam os pobres que sobreviviam da atividade agrícola rudimentar e bastante reduzida. Na época das cheias plantavam arroz, feijão, milho, batata e outros. Na beira do rio havia fartura, na baixa das águas os solos das margens ficavam enriquecidos com o húmus, que favoreciam o desenvolvimento das plantações. Com a construção das rodovias, a agricultura também foi virando negócio lucrativo. E foi aí que os ribeirinhos foram perdendo suas terras para os latifúndios. Os beiradeiros foram sendo empurrados para o centro da caatinga, onde a luta pela sobrevivência é mais difícil: chove pouco, não tem água corrente e na maioria dos lugares nem subterrânea,  a maior parte dos solos são de péssima qualidade, quando se encontra água no subsolo, além de pouca quantidade ainda é  salgada, precisa se matar o máximo de vegetação nativa para se colher o mínimo de mantimento. E, finalmente, tudo é terrivelmente difícil.  

            A sorte de muitos sertanejos foi o bode que se destaca como um dos principais meios de sobrevivência para todos aqueles que se predispõem a criá-los no Nordeste. Vindos do Oriente, o bode se adaptou muito bem no semi-árido, não tem exigência com comida, traça tudo que vem pela frente: Folha, casca e nó.  Quando as matas do bioma caatinga eram conservadas e não eram cercadas por todos os lados, o bode era criado solto e havia fartura na mesa do pobre Nordestino, hoje já não é mais bem assim, o pobre cria por ali meia dúzia de “gatos pingados”, mas quem come..., Bem, quem come é quem tem dinheiro para comprar nas mesas dos restaurantes e churrascarias. Para o criador hoje é melhor vender, pois, o bode também está virando coisa de rico e se não fosse o bode à miséria no nordeste era bem maior.           

            Com a introdução da agricultura moderna nos anos sessenta, a região deu um salto de produção. No inicio havia fartura. Nos anos setenta a caatinga já produzia uva e vinho de qualidade, todos plantavam cebola, melancia, arroz, tomate para a industria e tantas outras culturas de cunho comercial. Surgiu a agroindustria e criou ilusões de muita fartura e oferta de empregos, os produtores foram contratados para produzir para empresas. Muitos largaram suas próprias terras e viraram empregados porque acreditavam no novo tempo. Os antigos ribeirinhos que vivem hoje nos confins da caatinga não conseguem mais criar animais soltos, pois a maioria das propriedades pertence aos latifundiários que as contorna com suas cercas sem fim enquanto esperam a revalorização das mesmas mais tarde, ou quem sabe, a chegada de um grupo de generosos sem-terra para invadi-la e depois ser indenizado pelo governo.           

            Nos anos oitenta o gado lá para as bandas de Minas Gerais já não andava mais solto por causa da invenção do plantio de eucalipto e pinos financiado pelo governo federal e também com a proliferação do cultivo da soja. Depois de mais de dez anos a agricultura moderna mostra seus resultados, a quebradeira dos pequenos agricultores. Aqueles que plantavam melão, melancia, cebola, alho e outras culturas muitos venderam suas terras para pagar financiamentos de bancos e viraram bóias-frias. Vale salientar que nem mesmo os grandes produtores têm sido todos bem sucedidos, é uma questão conjuntural do país. A maioria das terras estão parcial ou completamente degradadas. Envenenadas devido ao uso exagerado de agrotóxico, esturricadas pelo uso inadequado de máquinas e insumos artificiais, salinizadas devido ao uso inadequado da irrigação. Quem fez contratos com indústria a maioria quebrou. Quem continuou utilizando-se da extensão rural implantou monocultura acabou com seu solo, envenenou as águas, ficou mal de saúde e os rios de toda a bacia também, ficou dependente do mercado acabou indo a falência.“O agribusiness chega ás margens do Rio São Francisco e sem terra, sem emprego, sem perspectiva, o nordestino abandona a região”. (1)

Injustiças

            O Brasil tem dado prova de ser um país injusto e o Vale do São Francisco tem se apresentado como modelo dessa injustiça. Com a valorização dos produtos da irrigação no mercado nacional e internacional, as terras também foram valorizadas. Que bom! Mas não ficaram com seus donos, foram vendidas para quem tinha dinheiro para explorá-las. E assim, pararam nas mãos de poucos que as exploram até hoje na monocultura da manga, coco e goiaba para exportação. “Quem não sabe falar inglês, não tem cinco mil dólares para investir na terra e mais cinco para administrar a exportação é marginalizado”(Ferro, 2001). (2)

            Muita festa, muita zoada na véspera, e durante o ano de 2001, quando o rio São Francisco completava 500 anos do seu “descobrimento”, queriam até presenteá-lo com um projeto novo de transposição de suas águas para os necessitados do Ceará, Rio Grande do Norte, Paraíba e parte de Pernambuco, perenizando vários rios da bacia do Norte/nordeste. Uma idéia genial, levar água para quem tem sede e residem  cerca de 700 quilômetros de distância. Nada mais humano, só que mais humano ainda teria sido se os grandes mentores desse mísero projeto de 2001 que faz parte de um grupo de vários deles que já foram inventados no decorrer da historia mais recente do Velho Chico. Não tivessem esquecido de incluir os ribeirinhos que passam sede a menos de 30 (trinta) quilômetros de suas águas. Nós, particularmente, conhecemos inúmeros casos onde as pessoas escavam buracos com 70 (setenta), 80 (oitenta) palmos de profundidade e nem sempre conseguem água de boa qualidade para suprir suas necessidades.

            Comemoraram o aniversário dos 500 anos de descobrimento do rio São Francisco, de repente o rio começa a secar. Alarme geral e não era falso, vem o racionamento de energia e projeto de transposição vai para o fundo do baú, só não sabemos até quando, haja barulho com o movimento em prol de sua revitalização, pareceu que tudo ia ser diferente, caíram as chuvas, aumentou o nível do rio, acabou a racionamento de energia, apagou o “fogo do bagaço”.

            Questão de justiça: “Daí de comer a quem tem fome, daí de beber quem tem sede”, mas, “Mateus, primeiro os teus”.

 Gente do Vale

Estudos arqueológicos dão conta de que antes da vinda dos índios do litoral para o vale, muito antes do descobrimento do Brasil. Há cerca de 40.000 anos já habitavam por essas bandas vários povos indígenas que receberam denominações genéticas pelos invasores e estudiosos como foi caso dos Tapuias e os Aimorés. Definiram as famílias como “Cariri” presentes desde o Ceará até a Paraíba. O arco que é formado pelo rio São Francisco foi habitado pelo grupo Dzubukuá-kariri na divisa de Pernambuco com a Bahia. Os Proká e os Pankararu viviam onde, hoje, se localizam os municipios de Paulo Afonso-BA e Petrolândia-PE. Na altura dos atuais municipios de Juazeiro-BA e Petrolina-PE, com concentração maior na desembocadura do rio Salitre, no São Francisco, há registros dos povos Okrem, Skrakrinha, Tamakim, Karipós, Masakará e Pimenteira. Um pouco mais ao sul, habitavam os Payayá.

Karipós era o nome de Santa Maria da Boa Vista, municipio que cedeu parte de seu território para dar origem ao municipio de Petrolina.

No Planalto da Borborema ao norte do Sertão do São Francisco, há registros de mais povos indígenas, mais precisamente nas Serras do Araripe e dos Carirís: Txukaiana, Icó, Kanindé, Payaku, Inhamum, Xukuru e Calabaça.

Conta-se que a Bahia de Todos os Santos foi povoada inicialmente pelos Tapuia, tempos depois foram expulsos pelos Tupinaés, que tinham descido do sertão á procura de

terra na província. Os Tupinambá que vieram de fora do São Francisco teriam desalojado os Tupinaé.

Centenas de povos como: Coroados, Tuxá, Vermelho, Karirí, Caiapó, Chacriabá, Rodelas, Tapuás, Gamelas e principalmente os Jês. Os Tupis depois de expulsar os Gês, e perder a batalha travada com os conquistadores terminaram perdendo suas terras. (3)

Com a invasão dos portugueses, a chegada dos negros e outros povos no Brasil, resultou numa enorme mistura de raças dando origem aos povos do Brasil e do Vale do São Francisco: Mulato, resultante da mistura de negro com branco português; Cafuso, resultante da mistura de negro com índio e Mameluco, resultante da mistura de índio com branco português.Toda essa missigenacão que se propagou cada vez mais, deu origem ao caboclo do sertão com um pouco de sangue de cada raça. O povo do Vale da São Francisco é representado pelos seus descendentes: os vaqueiros, pescadores, agricultores e remeiros. Hoje poucos têm terra na beira do rio, a maioria deixou de ser proprietário e passou a ser empregado.

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1.Dossiê 500 anos do São Francisco – Fernando Ferro e Pinheiro, Brasília-DF/2002 pg. 60, 61, 62, 63 e 64.

2 .Dossiê 500 anos do São Francisco, 2002 – Fernando Ferro, trecho na integra.,pg. 63 e 64).

3-Dossiê 500 do São Francisco – Fernando Ferro e Pinheiro, Brasília – DF/2002 pg. 65, 66,67 e 68

 

 

 SUMÁRIO

 

 
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